Martinho Júnior, Luanda
Há
precisamente cinco anos começou a saga dos refugiados de guerra Mediterrâneo
adentro, uma saga inaugurada a partir da Líbia, na altura no encalço sobretudo
das portas da Europa mais à mão e a norte, as ilhas italianas de Lampedusa ou
da Sicília, ou mesmo a ilha de Malta.
Eram,
como inúmeras vezes foi lembrado, “danos colaterais” provocados pela
briosa, libertadora e tão democrática campanha da NATO naquela “primavera” mágica
de 2011…e se morressem no mar, como haveria de acontecer afinal com tantos e
tantos em perdidas estatísticas, não passariam jamais dessa catalogação de “imprevisíveis
danos colaterais”…
Além
disso, naquela altura eram em sua grande parte africanos que preenchiam os “danos” e
o melhor era mesmo eles morrerem longe e quantos mais, melhor, conforme muitos
dos esclarecidos comentadores do diário italiota “Il Giornale”…ficava-lhes
mesmo a matar essa do rótulo de “danos colaterais”, um rótulo feito à medida,
até parece feito por alfaiate!
Agora
a tão civilizada e democraticamente representativa União Europeia, ciosa de
suas humanidades, dos direitos afins e de suas brilhantes campanhas no
ultramar, entre as modernas“coloridas revoluções” e “primaveras
árabes” fechou as portas da “fortaleza”, recorrendo ao expediente da
limpeza migratória desse tão escrupuloso Erdogan, varredor de fronteiras,
distraído traficante de petróleo roubado e polivalente revitalizador do Daesh,
da Frente Al Nushra e de outros “moderados”, lá pelas Sírias e Iraques
pestilentos e mais além nos Afeganistões, nos Iémens, noutros confins, noutras
regiões obscuras, noutros covis de fieis-infiéis!…
Agora,
a Grécia rendida ao “diktat” das oligarquias europeias, endividada
sem limites e esvaída no que à sua própria independência e soberania diz
respeito, tornou-se a sentinela interna da“fortaleza”, enquanto a Turquia é
sentinela externa e nos limites da coutada.
Agora
o que é certo, cinco anos depois e para segura protecção da União Europeia, é
que não haverão mais “danos colaterais” no Mediterrâneo, graças a tão
civilizados ofícios nos marítimos campos de batalha, quanto nos governos e suas
diplomacias!... Finalmente conseguiu-se fechar as portas da União Europeia e
montar a guarda para fazer face à avalanche humana de estranhos costumes e
opções!
Mediterrânica
vitória da “garbosa armada” da NATO e os mouros que fiquem lá longe
pela Anatólia “a ver navios”, pois o codicioso Erdogan foi pago para isso
e para muito mais… às tantas pago até para benevolentemente experimentar umas
bombazitas nucleares “tácticas”, para participar na festa do aquecimento
global e na caridosa missão de reduzir a população mundial que teimosamente não
pára de crescer!
Cinco
anos depois o planeta trágico-cómico está mesmo quente, minha gente, embora
hajam tantos a confirmar, “a pés juntos” ou no fundo do mar, que não,
que esta ainda não é a IIIª Guerra Mundial, pois falta sempre mais qualquer
coisinha para que o seja!...
Os
sábios europeus reflectem em suas filosofias que só será IIIª Guerra Mundial
quando ela sacudir a União Europeia, o que foi evitado finalmente com a vitória
da Armada da NATO no mar e por que essas peripécias de Paris, de Bruxelas e de
outras capitais, são ninharias que passam bastando para tal chorar vergado sob
seu próprio umbigo.
Constatem
quanto o mundo progrediu e se tornou cada vez mais feliz e democrático de há
cinco anos a esta parte:
RAPIDINHAS
DO MARTINHO – 15
MARTINHO
JÚNIOR
“DANOS
COLATERAIS”
As
Decisões do Conselho de Segurança da ONU, perdendo-se a oportunidade para o
cessar-fogo, o diálogo entre as partes e as obrigações perante o povo líbio e
os largos milhares de trabalhadores migrados que viviam naquele país, directa
ou indirectamente estão na origem de mais miséria e morte num espectro que
alastra para lá das fronteiras do conflito e se estende por diversas regiões,
inclusive Mediterrâneo dentro.
Os
resultados da ingerência militar na Líbia são cada vez mais contraditórios aos
seus propósitos: é este um dos preços do petróleo que os países produtores
estão a pagar, em nome da cobiça anglo-saxónica!
De
quem é a responsabilidade directa duma situação como esta?
Sendo
de Kadafi na sua quota-parte, dos rebeldes (uns verdadeiros, cada vez menos
verdadeiros, outros agentes do império) a responsabilidade alastra à medida da
miséria e da morte, para outros intervenientes que tendo tido a oportunidade de
outras alternativas, escolheram uma vez mais a pior delas, por que como Hitler
não sabem fazer melhor!
Sílvio
Berlusconi, Sarkozy, Cameron e Obama têm cada vez mais quota-parte de
responsabilidade, por cada um dos inocentes que encontram fim perante a
inevitabilidade do pântano que se soma a outros muitos mais pântanos em que
todos nós cidadãos do mundo amantes da vida, estamos a cair, mesmo que os
“danos colaterais” tenham sido produzidos não em nosso nome!
Os
dirigentes africanos que votaram a favor da Resolução 1973, têm também sua
quota-parte de responsabilidade, ao não assumirem de forma prevenida outra
disposição senão aquela que aceitou o enredo das potências ocidentais e, por
fim, da OTAN.
África
está a pagar mais barbaridades, a juntarem-se às muitas outras barbaridades que
tem vindo a sofrer ao longo de séculos e, tendo sido o berço da humanidade,
está também a tornar-se, um pesadelo e um sepulcro das esperanças que deveriam
alimentar a humanidade!
OTAN
FORA DE ÁFRICA JÁ! - PAZ SIM, NATO NÃO!
Martinho
Júnior - 9 de Maio de 2011
“Naufrágio
em Lampedusa: leitores do “Il Giornale” fazem apologia à morte de imigrantes”
Direção
do “Il Giornale” divulgou uma nota, na qual se dissocia dos
comentários deixados por seus leitores sobre o naufrágio de um barco de
imigrantes em Lampedusa.
Lampedusa,
7 de abril de 2011 - "Esperamos que não encontrem outros com
vida", "Pena, muitos sobreviveram", "Naufrágio de
um barcone? Quem se importa?" - estes foram alguns comentários
deixados por leitores do "Il Giornale" no site da empresa
sobre a notícia da tragédia ocorrida ontem em Lampedusa, onde uma embarcação
com 300 migrantes afundou.
A
apologia à morte de imigrantes feita pelos leitores do “Il Giornale” levou
a redacção do jornal a emitir uma nota - mas só no final da tarde –
dissociando-se dos comentários expressos. "Il Giornale.it se dissocia
e considera deplorável, de maneira mais absoluta, alguns comentários escritos
pelos leitores sobre este artigo. Devido o conteúdo ofensivo, muitos
comentários foram removidos. Convidamos todos os leitores a manter o debate
sobre um plano mais civil e sem provocações gratuitas", diz a nota.
A
precária embarcação de migrantes e refugiados, principalmente somalis,
bengalis, sudaneses e eritreus, proveniente da Líbia, afundou a 65 quilómetros
da Ilha de Lampedusa, em águas territoriais de Malta. A Guarda Costeira
italiana e pescadores sicilianos conseguiram salvar, até o final da tarde de
ontem, 50 das 300 pessoas que estavam a bordo do barco. Segundo informações da
Organização Internacional da Imigração (OII), entre os imigrantes estavam cinco
crianças e 40 mulheres, das quais apenas duas sobreviveram.
A
porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Unhcr),
Laura Bodrini, entrevistada pela Rádio Vaticana, disse que o número de mortos
pode chegar a 200. "Os sobreviventes chegaram em Lampedusa com o
terror no rosto, em estado de choque", disse Bodrini, informando que uma
das duas mulheres sobreviventes está grávida.
A
Guarda Costeira da Itália investiga as circunstâncias do naufrágio. Segundo as
primeiras informações divulgadas, o barco havia partido da Líbia há pelo menos
dois dias. Sobreviventes contaram aos representantes da OII que eles
conseguiram nadar até os barcos de socorro que se aproximavam, mas vários
outros se afogaram porque não sabiam ou não conseguiam nadar.
O
capitão de um pesqueiro siciliano, que conseguiu resgatar três pessoas, disse
que a cena foi impressionante. "Foi terrível. As cabeças dos
náufragos ficavam fora da água e depois afundavam. Todos gritavam por
socorro", relatou Francesco Rifiorito à Ansa.
Imagem - Mapa
da Grécia: uma miragem perdida (e proibida) para os “danos colaterais”.
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