Cristina
Ferreira - Público
O
ex-ministro da Economia desempenhou funções na administração do BES e do BES
África e o seu nome consta da ES Enterprise, que consta nos Panama Papers.
Manuel
Pinho, ex-ministro da Economia de José Sócrates, é um dos nomes que constam da
lista dos fluxos financeiros da ES Enterprise, um veículo sombra do Grupo
Espírito Santo/Banco Espírito Santo (GES/BES), que servia para pagamentos a
colaboradores ou a entidades terceiras e cuja abrangência o Ministério Público
investiga desde o final de 2014.
Através
da ES Enterprise terão passado cerca de 180 mil euros destinados a Manuel
Pinho, apurou o PÚBLICO. A alegada remuneração pode estar associada à
actividade do economista no universo GES, onde trabalhou durante cerca de duas
décadas, desempenhando cargos executivos ao mais alto nível, nomeadamente de
administrador do BES. As suas funções como gestor da instituição liderada por
Ricardo Salgado foram interrompidas em 2005 após ser nomeado ministro da
Economia de José Sócrates. Em Julho de 2009, Pinho demitiu-se do governo
socialista depois de, no quadro de um debate do estado da nação, ter dirigido
um gesto de corninhos à bancada
comunista, considerado insultuoso. Um ano depois, foi convidado para
dar aulas numa universidade em Nova Iorque, num seminário sobre energias
renováveis sector patrocinado por uma doação de três milhões de euros da EDP.
Após
a passagem pelo Governo, regressou ao universo Espírito Santo para assumir
funções de vice-presidente da holding BES África. Criada em 2009, com um
capital social de 50 mil euros, esta sociedade concentrava as participações do
grupo no BESA (BES Angola) no Banco Marocaine (BMCE), no Aman Bank da Líbia e
no BES Cabo-Verde.
O
PÚBLICO já tinha noticiado em Novembro de 2014, que a ES Enterprise era usada pela família
Espírito Santo como saco azul, designadamente para fazer despesas não
documentadas, e de onde terão transitado fundos provenientes de Angola. O nome
desta empresa surge referenciada na mega investigação a que se deu nome de Panama
Papers, e a que se associam oExpresso e a TVI. E em Dezembro de 2014, era
mencionado pelo PÚBLICO, noutro texto, que tinham passado pelo veículo do GES,
ES Enterprise, e que nunca constou dos organigramas oficiais, verbas que totalizavam 300 milhões de
euros.
Desde
Junho de 2015 que o PÚBLICO tem tentado, por diversas vezes, quer por sms, por
mensagem de voz, ou mesmo contactando a sua advogada, obter um comentário de
Manuel Pinho sobre o tema mas este nunca esteve disponível para o fazer. Neste
domingo, voltou a insistir através de mensagem escrita, mas sem resultado.
Já
o Ministério Público inquirido em Julho pelo PÚBLICO sobre a presença de Manuel
Pinho, entre outros, na lista de movimentos financeiros da ES Enterprise
respondeu “que o processo ES Enterprise estava em investigação” e que “não
deixará de investigar todos os factos com relevância criminal que cheguem ao
seu conhecimento”.
Recentemente,
Manuel Pinho surgiu envolto numa outra polémica judicial, esta relacionada com
o facto de reclamar do Novo Banco uma reforma antecipada negociada com Salgado
(a que teria direito desde os 55 anos) de3,5 milhões de euros de compensações até
à idade da reforma (65 anos). Esta verba era o resultado, não de ter sido
vice-presidente do BES África, mas do exercício de funções de administrador
executivo no BES durante dez anos anos.
A
20 de Abril de 2015, Manuel Pinho entrou com um processo em tribunal a reclamar
o pagamento de 1,8 milhões de euros, accionado contra o Novo Banco (ex-BES) e o
Novo Banco África (ex-holding BES África). Em 2014 recebia um vencimento
mensal do BES África de quase 40 mil euros.
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Na
foto: Em Julho de 2009, Pinho demitiu-se do governo socialista depois de, no
quadro de um debate do estado da nação, ter dirigido um gesto de corninhos à
bancada comunista / Nelson Garrido
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