Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Foram
publicadas as contas mais recentes do Novo Banco. Trazem duas reservas por
parte da auditora (PWC) que não são de menosprezar. A primeira decorre da
exposição do Novo Banco ao antigo BESA. Lembram-se com certeza que o BES era o
dono do BESA, e que o BESA devia muito dinheiro ao BES por ter andado a fazer
empréstimos sem garantia a figuras que se suspeita serem próximas do regime
angolano. Tanto assim é que José Eduardo dos Santos pôs o Estado angolano a
garantir essa dívida de 3300 milhões de euros. Pois bem, a verdade é que, no
fim, o BES e o BESA faliram e a garantia sumiu-se.
Quando
o BESA foi transformado em Banco Económico, um banco público angolano, a dívida
foi reestruturada, e passou a 838 milhões. Do lado de cá, o Banco de Portugal
resolveu passar essa dívida para o Novo Banco, que é agora credor do Banco
Económico. Acontece que a PWC duvida que este empréstimo venha a ser pago, já
que o banco angolano não publica contas desde que foi criado. Dos 838 milhões,
o Novo Banco só tem provisões para 82,8 milhões.
A
segunda reserva é sobre os 1183 milhões que o Novo Banco contabiliza como
ativos por impostos diferidos, ou seja, os prejuízos fiscais passados que o
banco prevê que venham a deduzir aos lucros futuros. Segundo a PWC, a
probabilidade de o banco vir a gerar lucros suficientes para abater estes
prejuízos em impostos é mínima.
No
total, o buraco pode chegar aos 1900 milhões. A surpresa não é grande, e ambos
os problemas eram mais ou menos previsíveis no momento em que o Banco de
Portugal resolveu incluir estes ativos no perímetro do Novo Banco, em vez de os
deixar no "BES mau". Porque é que o fez? Para ajudar a criar a
narrativa do anterior Governo, que a resolução do BES tinha sido exemplar e sem
custos para os contribuintes. Não só teve custos na altura como deixou outros
tantos, escondidos, para quem viesse a seguir.
Agora
que o mal está feito, e que o Novo Banco nos lembra um filme que já vimos, só
nos restam duas opções. Pagar para vender ou pagar para mandar.
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