terça-feira, 19 de abril de 2016

Portugal. VELHOS PROBLEMAS NO NOVO BANCO



Mariana Mortágua – Jornal de Notícias, opinião

Foram publicadas as contas mais recentes do Novo Banco. Trazem duas reservas por parte da auditora (PWC) que não são de menosprezar. A primeira decorre da exposição do Novo Banco ao antigo BESA. Lembram-se com certeza que o BES era o dono do BESA, e que o BESA devia muito dinheiro ao BES por ter andado a fazer empréstimos sem garantia a figuras que se suspeita serem próximas do regime angolano. Tanto assim é que José Eduardo dos Santos pôs o Estado angolano a garantir essa dívida de 3300 milhões de euros. Pois bem, a verdade é que, no fim, o BES e o BESA faliram e a garantia sumiu-se.

Quando o BESA foi transformado em Banco Económico, um banco público angolano, a dívida foi reestruturada, e passou a 838 milhões. Do lado de cá, o Banco de Portugal resolveu passar essa dívida para o Novo Banco, que é agora credor do Banco Económico. Acontece que a PWC duvida que este empréstimo venha a ser pago, já que o banco angolano não publica contas desde que foi criado. Dos 838 milhões, o Novo Banco só tem provisões para 82,8 milhões.

A segunda reserva é sobre os 1183 milhões que o Novo Banco contabiliza como ativos por impostos diferidos, ou seja, os prejuízos fiscais passados que o banco prevê que venham a deduzir aos lucros futuros. Segundo a PWC, a probabilidade de o banco vir a gerar lucros suficientes para abater estes prejuízos em impostos é mínima.

No total, o buraco pode chegar aos 1900 milhões. A surpresa não é grande, e ambos os problemas eram mais ou menos previsíveis no momento em que o Banco de Portugal resolveu incluir estes ativos no perímetro do Novo Banco, em vez de os deixar no "BES mau". Porque é que o fez? Para ajudar a criar a narrativa do anterior Governo, que a resolução do BES tinha sido exemplar e sem custos para os contribuintes. Não só teve custos na altura como deixou outros tantos, escondidos, para quem viesse a seguir.

Agora que o mal está feito, e que o Novo Banco nos lembra um filme que já vimos, só nos restam duas opções. Pagar para vender ou pagar para mandar.

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