O
ativista angolano Rafael Marques criticou hoje a manutenção na prisão dos 17
cidadãos jovens condenados por rebelião e associação de malfeitores, alegando
tratar-se de uma "manobra de diversão" para perpetuar no poder a família
do Presidente de Angola.
Contactado
telefonicamente desde Lisboa pela agência Lusa, Rafael Marques disse a partir
de Luanda que a "ditadura está a transformar-se em dinastia", através
da prisão de "inocentes", de forma a "vitimizar" José
Eduardo dos Santos, que, cada dia que passa, "se torna no inimigo" do
povo.
"Pode-se
dizer que há uma ditadura em Angola. Essa ditadura quer transformar-se numa
dinastia e está a prender indivíduos inocentes para tentar vitimizar o
Presidente, que é o principal agressor neste momento e que, a cada dia que
passa, se vai tornando no inimigo do povo angolano", afirmou.
A
20 de junho de 2015, uma operação do Serviço de Investigação Criminal (SIC) fez
em Luanda as primeiras detenções deste processo, que mais tarde ficaria
conhecido como "15+2", em alusão aos 15 ativistas que ficaram meio
ano em prisão preventiva e duas jovens que aguardaram o julgamento em
liberdade, constituídas arguidas em setembro.
Todos
foram condenados por rebelião e associação de malfeitores e encontram-se
atualmente a cumprir penas de prisão efetiva até oito anos e meio, facto que,
para Rafael Marques serve de pretexto ao regime e família de José Eduardo dos
Santos para se manter no poder.
"O
Presidente criou aqui uma grande diversão com a prisão destes rapazes e,
estando há 36 anos no poder, conseguiu lançar algumas dúvidas sobre se havia
tentativas para o derrubar ou não. E com isso conseguiu instalar a filha
(Isabel dos Santos, na presidência da Sonangol). Isto foi uma grande manobra de
diversão", insistiu.
"Estes
jovens estão a pagar por uma manobra de diversão para o Presidente estender o
seu mandato ou entregá-lo à sua filha. É a partir deste prisma que temos de ver
a questão. Eles (jovens ativistas) cometeram algum crime? Nenhum",
acrescentou.
Para
Rafael Marques, as mudanças que estão a ocorrer em Angola limitam-se à
"transferência de poderes do Estado para a família do Presidente e para os
seus colaboradores mais próximos".
"Neste
momento, o país está a ser gerido por um Governo paralelo e é uma prática que o
Presidente vem mantendo ao longo dos anos, só que este deverá ser o Governo com
mais poderes. A filha, neste momento, é efetivamente copresidente. O
vice-Presidente, Manuel Vicente, desapareceu das atividades públicas, agora só
se ouve falar na filha e no Presidente", argumentou.
As
críticas do ativista angolano voltaram-se também para a própria sociedade civil
de Angola, defendendo que as mudanças políticas só ocorrerão se forem resultado
da pressão popular.
"Neste
momento, a sociedade angolana continua a acobardar-se, a evitar assumir a
defesa dos direitos de cidadania, dos direitos civis e políticos de uma forma
mais agressiva, então estes jovens correm o risco de ficar mais algum tempo (na
prisão)", disse.
Salientando
que, apesar de tudo, não acredita que os 17 ativistas detidos cumpram a
totalidade da pena de prisão, Rafael Marques salientou que Angola vive um
momento que constitui "um grande teste à sociedade civil angolana".
"Ou
a sociedade se levanta para defender estes jovens, ou corremos o risco de
aceitarmos, e mais uma vez sermos subjugados, por uma família que é
antipatriótica e que não tem os interesses deste país nas suas ações diárias. É
um teste ao ativismo, à capacidade de os angolanos defenderem a Justiça e os
Direitos Humanos. O Presidente está a provar que continua a ter uma sociedade manietada
e que pode fazer aquilo que bem entende", concluiu.
JSD
// VM - Lusa
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