segunda-feira, 25 de abril de 2016

Portugal. 25 de Abril. Milhares de pessoas desfilam em Lisboa em tempos de "esperança"




Uma janela de esperança que se abre com o novo ciclo político foi como os líderes do PCP e do BE descreveram as comemorações do 25 de abril, no início do desfile que reúne milhares de pessoas em Lisboa.

Vários milhares de pessoas descem a avenida da liberdade no dia em que se assinalam os 42 da revolução de Abril, a primeira comemoração depois de quase cinco anos de governação PSD-CDS.

Em declarações aos jornalistas, o secretário-geral do partido comunista, Jerónimo de Sousa, admitiu que a data de hoje tem outra importância política, agora que o país tem um governo socialista apoiado pela esquerda parlamentar.

Na opinião de Jerónimo de Sousa, há "uma janela de esperança" que se abre, depois de muitos anos de austeridade que deixou os portugueses a viver "com muitas dificuldades".

Para o líder do Partido Comunista, as comemorações de hoje "são diferentes para melhor", já que no ano passado o país estava confrontado "com um Governo com uma política de exploração e de empobrecimento".

"Perante um Presidente da República q ue apoiou até à última instância esse mesmo Governo, em que tanta luta o nosso povo travou sem o resultado concreto que era a demissão do Governo", criticou.

"Neste Abril que celebramos agora, podemos dizer que está longe de ser a política que recupera os valores de Abril, mas como que se abriu uma janela de esperança, dando mais força a quem luta", acrescentou.

Questionado sobre se o Presidente da República poderá colaborar nesta mudança, Jerónimo de Sousa disse que ainda é cedo para fazer essa avaliação, mas frisou que Marcelo de Rebelo de Sousa é, sem dúvida, diferente do anterior Presidente, Cavaco Silva, cujos discursos eram "de crispação" e "ameaçadores".

"Há que esperar para ver, mas registo as diferenças em relação ao ano passado", disse Jerónimo de Sousa.

Também a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, concordou que o país vive um tempo de mudança política, apontando que o dia de hoje é de celebração e lembrando que há 42 anos o país vivia uma guerra colonial e vivia em ditadura.

"Há todo um país novo graças a uma revolução, graças a quem acreditou que não há impossíveis e construiu uma realidade, julgo, única do nosso país, e que às liberdades fundamentais da democracia juntou o Estado Social (...), o que cria condições de igualdade", apontou.

No entanto, frisou que "o país sofreu muito nos últimos anos" e que "há muita gente hoje" que se sente excluída destas comemorações e não tem razões para celebrar a Revolução de Abril, pelo facto de não ter emprego, viver em precariedade ou estar na pobreza.

"Quando vimos à rua para comemorar a democracia, vimos sobretudo também com a consciência do que há para fazer, porque onde há miséria não há democracia e não há liberdade", defendeu Catarina Martins.

A líder do Bloco de Esquerda sublinhou que "há novas condições políticas no país", mas defendeu que as mudanças feitas entretanto, desde o salário mínimo nacional à reposição dos valores das prestações sociais, são poucas.

"Precisamos de muito mais e é por isso que hoje é muito bom estarmos a celebrar o 25 de Abril, não com saudades do que fomos, mas com imensa responsabilidade do que sabemos que temos de fazer para a democracia, para a liberdade, para a igualdade serem palavras que tenham significado real de tantos quantos vivem no nosso país", defendeu Catarina Martins.

Na Avenida da Liberdade, o desfile decorreu com milhares de cidadãos que não quiseram deixar de assinalar esta data da história do país, que marca a transição para a democracia.

Eram cerca de 17:00 quando a frente do desfile chegou à Praça do Rossio, onde depois tiveram lugar os discursos no palco montado para o efeito.

SV // JLG - Lusa

Portugal. O MEU 25 DE ABRIL



Rui Sá* – Jornal de Notícias, opinião

inha dez anos no 25 de Abril. Do fascismo nada sabia. Mesmo coisas que se passavam lá por casa e às quais eu era nitidamente "poupado". Só depois da Revolução soube que o meu tio Victor tinha vivido escondido, para não ser preso, na cave do prédio onde habitávamos. Ou que o meu irmão Henrique tinha sido expulso por motivos políticos do Liceu D. Manuel II. Nem entendia a razão pela qual o carteiro nos tinha alertado de que "podíamos ser presos", quando o meu amigo Jorge trouxe dezenas de autocolantes redondos, de cores berrantes, que diziam "basta" a várias coisas - e que tinha encontrado no chão da "Praça" quando vinha com a mãe, que trabalhava lá no prédio. Sabia que o meu irmão Tocas, sempre que havia manifestações, tinha tendência a ser detido - mas isso apenas me fazia querer pertencer aos "estudantes" contra os polícias, nas nossas brincadeiras. Tinha ouvido falar de um tal de "Palma Inácio", que tinha sido preso, mas, entendendo que ele era "bom", não sabia os motivos da sua prisão. E muito menos entendi as razões pelas quais o meu pai me disse para bater palmas apenas com os dedos indicadores quando lhe disse que todos os meninos da minha escola iam aplaudir o presidente Américo Thomaz, que ia inaugurar as novas instalações do Instituto de Cegos.

Foi com esta inocência que no dia 25 de Abril de 1974 fui para a Escola Gomes Teixeira. No mesmo dia em que o meu irmão Henrique ia para o Liceu Garcia de Orta de fraque e cartola porque uns alunos tinham sido castigados por irem com roupa "pouco digna"... Naquela altura, não tínhamos televisão em casa. E não era costume ouvir rádio àquelas horas da manhã.

A normalidade desse dia começou a ser posta em causa quando muitos pais começaram a ir buscar os filhos. Sem que ninguém nos dissesse porquê. Até que, já éramos poucos os que lá estavam, um professor nos disse que em Lisboa uns militares se tinham revoltado contra o Governo. Lá fui para casa, sem saber se aquilo era bom ou mau. Em frente ao Liceu D. Manuel II, constatei que os estudantes se amontoavam no espaço em frente ao liceu, que me parecia fechado, o que aumentou a minha apreensão. Mas, chegado ao prédio onde vivia, outro caso verdadeiramente anormal: a janela escancarada e o meu pai à janela! Olhei para ele e nunca mais esquecerei o sorriso com que me olhou. Pelo conforto que me transmitiu e, soube-o a partir daí, porque o 25 de Abril era uma coisa "boa"!

Do fascismo nada sabia. Só após a Revolução soube que o meu tio Victor tinha vivido escondido, para não ser preso. E não entendi por que o meu pai me disse para bater palmas apenas com os dedos indicadores, quando lhe disse que o Américo Thomaz ia à minha escola...

*Engenheiro

Portugal. 25 de Abril. PS diz que Marcelo fez aviso sério à "oposição sem critério"



O presidente do PS, Carlos César, considerou hoje "muito importante" o discurso do chefe de Estado, dizendo que constituiu aviso sério a uma oposição "sem critério" que recusa consensos essenciais, numa alusão crítica ao PSD.

Carlos César falava aos jornalistas após o discurso do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no encerramento da sessão solene comemorativa dos 42 anos do 25 de Abril de 1974 na Assembleia da República.

"O PS entendeu o discurso do Presidente da República como um aviso muito sério àqueles que, persistindo numa oposição sem critério, recusam os consensos que são essenciais para o progresso e para o desenvolvimento económico e social do país e para a sua defesa nos contextos internacional e europeu", declarou o presidente do PS, numa primeira crítica à linha seguida pelo PSD.

Confrontado logo a seguir com o teor do discurso proferido pela ex-ministra da Justiça e deputada do PSD Paula Teixeira da Cruz, que atacou a lógica de funcionamento da atual maioria governamental de esquerda, Carlos César "recusou-se a comentar os adjetivos marginais" dessa intervenção, alegando que esses mesmos adjetivos "apenas têm conteúdo retórico".

"No essencial, o 25 de Abril representa a capacidade de nos sabermos unir naquilo que for essencial e de divergirmos com a cordialidade e a ética que a democracia e a liberdade nos sugerem. O PSD de hoje, infelizmente, é um partido muito distante desses critérios e desses valores, mas irá certamente convergir e entender que ser partido da oposição não é ser um partido contra Portugal e contra as instituições", reagiu.

Para Carlos César, o PSD está a fazer um caminho de aproximação a esses valores caraterísticos do normal convívio democrático "demasiado devagar, como se percebeu, aliás, de forma implícita, do conteúdo do discurso do senhor Presidente da República".

"Mas nós, PS, esperamos pelo PSD e por todos aqueles que na sociedade portuguesa querem trabalhar em conjunto", afirmou ainda o líder da bancada socialista.

Carlos César fez também questão de caraterizar como "muito importante" o discurso proferido pelo Presidente da República na sessão solene do 25 de Abril na Assembleia da República.

"O Presidente da República acentuou junto dos portugueses duas direções e dois sentimentos essenciais: Por um lado, o reconhecimento que o Portugal que nasceu com Abril é um Portugal de esperança e que recuperou mazelas e injustiças que pontuaram nas últimas décadas que precederam a revolução libertadora; por outro lado, teve uma mensagem muito clara de que é necessário que os portugueses no seu conjunto e as suas instituições representativas saibam convergir naquilo que é essencial para o progresso do país", acrescentou o presidente dos socialistas.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. 25 de Abril. PCP NOTA DIFERENÇAS ENTRE MARCELO E CAVACO



O secretário-geral do PCP afirmou hoje que o seu partido está disponível para consensos desde que sejam positivos para o povo português e registou a diferença entre o Presidente da República e o seu antecessor.

"Quando se fala em consensos tem de se saber o seu conteúdo. Da nossa parte, tendo em conta a nova solução política, daremos sempre os consensos àquilo que for positivo para os trabalhadores, o país e o nosso povo", afirmou Jerónimo de Sousa, após a sessão parlamentar comemorativa da "Revolução dos Cravos".

O líder comunista descreveu que há um "esforço neste momento", considerando ser "necessária uma nova política", mas esse "caminho" ainda agora começou e, "mais do que os consensos", há que tentar perceber como se poderá construir "algo de diferente, procurando resolver os problemas do país".

Marcelo Rebelo de Sousa aconselhara cada um dos dois modelos alternativos de governação a demonstrar humildade e competência, mas defendeu que tem de haver unidade no essencial, apontando a saúde como uma área de fácil convergência, "um primeiro passo" para "consensos setoriais de regime" noutros domínios como o sistema político, o sistema financeiro, a justiça ou a segurança social.

"Fazer o reconhecimento da diferença desta sessão do 25 de Abril em relação a outras sessões. Diferentemente se valorizou o 25 de Abril, a Constituição e creio que foi resultado da nova correlação de forças existente na Assembleia da República", acrescentou, reconhecendo que o discurso do Chefe de Estado "foi diferente do seu antecessor em sessões anteriores".

"De facto houve aqui uma diferença", disse Jerónimo de Sousa.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. 25 de Abril. MADRUGADA INCOMPLETA



Inês Cardoso* – Jornal de Notícias, opinião

Cerca de 4,5 milhões de portugueses nasceram - nascemos - depois da madrugada em que emergimos da noite e do silêncio. Mas continuamos à espera de dias inteiros e limpos. Sem memórias vividas de um dia 25 longo e frenético. Mas, pior, nem sempre despertos para uma liberdade eternamente incompleta.

Enquanto mais de um quinto dos portugueses viver no limiar da pobreza. O desemprego atingir 622 mil pessoas e milhares de outras mantiverem vínculos laborais precários, desempenhando funções que não são devidamente remuneradas.

Enquanto as ruas estiverem habitadas por gente sem rosto, sem abrigo e sem futuro. Ou o acesso à educação for diferenciado e limitado por razões financeiras.

Enquanto vítimas de violência doméstica, de bullying ou de qualquer forma de violência não tiverem respostas adequadas por parte do Estado. Crianças institucionalizadas não conhecerem o direito a uma família. Idosos forem abandonados sem assistência. Ou doentes sem recursos não conseguirem aceder a cuidados de saúde plenos.

Enquanto houver mulheres com remunerações mais baixas do que as de homens, desempenhando exatamente as mesmas funções. Houver pessoas discriminadas pela orientação sexual, o estilo de vida ou seja por que razão for.

Enquanto gestores, políticos ou banqueiros com comportamentos abusivos e que delapidam bens comuns não tiverem uma resposta diligente e eficaz da justiça. Enquanto houver tráfico de influências, compadrio e cunhas.

Enquanto houver quem não consiga fazer-se ouvir. Mas também enquanto destruirmos o valor da palavra dos outros. Deixarmos, sem contestação, que nos limitem a liberdade. Encararmos agressões à democracia e às causas públicas com apatia. Ou perdermos o respeito pela diferença e a capacidade de debater ideias.

Enquanto tudo isto for verdade, Abril estará por cumprir. E estará sempre, como um caminho que exige passos sobre si mesmo.

Celebrar Abril é recordar que a liberdade é uma conquista permanente. Uma inquietação que não nos larga. Não uma data, uma cor política ou uma história. Mas uma responsabilidade tremenda que a todos, a cada um, nos foi aberta. E nos é diariamente entregue.

*Subdiretora

Portugal. 25 de Abril. O QUE DISSE MARCELO



Marcelo frisa que tem mandato mais longo e sufragado

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, frisou hoje que o seu mandato é, por natureza, "mais longo e mais sufragado do que os mandatos partidários", salientando que "não depende de eleições intercalares".

O chefe de Estado fez esta afirmação quando analisava as atuais circunstâncias políticas, defendendo que o país precisa de estabilidade, na parte final do seu discurso na sessão solene comemorativa do 25 de Abril, na Assembleia da República.

Marcelo Rebelo de Sousa questionou se Portugal vai "prosseguir em clima de campanha eleitoral", se "os consensos setoriais de regime são impossíveis" e se "a unidade essencial entre os portugueses é questionada".

Depois, afirmou: "A resposta a estas três questões só pode ser negativa para os portugueses e, em particular, para o Presidente da República, cujo mandato nacional é, por sua própria natureza, mais longo e mais sufragado do que os mandatos partidários. E não depende de eleições intercalares".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Marcelo identifica dois modelos de Governo, mas pede unidade

O Presidente da República considerou hoje que há neste momento dois modelos alternativos de governação, aconselhando cada um a demonstrar humildade e competência, mas defendeu que tem de haver unidade no essencial.

No seu primeiro discurso do 25 de Abril, que no final recebeu palmas vindas de todas as bancadas e foi aplaudido de pé por PSD, PS e CDS-PP, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a apontar a saúde como uma área de fácil convergência.

O chefe de Estado reafirmou que esse poderá ser "um primeiro passo" para "consensos setoriais de regime" noutros domínios como o sistema político, o sistema financeiro, a justiça ou a segurança social.

O Presidente da República declarou que, "felizmente, quanto aos grandes objetivos nacionais, há um larguíssimo acordo entre os portugueses", acrescentando: "Felizmente também, há no nosso país, neste momento, dois caminhos muito bem definidos e diferenciados quanto à governação, ao modo de se atingir as metas nacionais".

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "cada um desses caminhos é plural, mas querendo ser alternativo ao outro" e tem "lideranças e propostas próprias, clarificação esta muito salutar e fecunda".

"A democracia faz-se de pluralismo, de debate, de alternativa. Assim, quem se pretenda alternativa, de um lado e de outro, demonstre, em permanência, a humildade e a competência para tanto", aconselhou.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. Ferro frisa que democracia exige poder judicial e comunicação social respeitáveis



O presidente da Assembleia da República considerou hoje essencial para a democracia um poder judicial "respeitado" e "prestigiado" e uma comunicação social "pluralista" e respeitadora das regras deontológicas, defendendo ainda Portugal a "uma só voz" na Europa.

Ferro Rodrigues falava na sessão solene comemorativa do 25 de Abril na Assembleia da República, num discurso em que saudou os "capitães de Abril" e evocou a memória de Salgueiro Maia, Melo Antunes e Marques Júnior.

O presidente da Assembleia da República levantou as bancadas da maioria de esquerda quando se dirigiu ao regresso ao parlamento dos representantes da Associação 25 de Abril: "Que bom é ver-vos de volta a esta casa que é também a vossa casa: A casa da Democracia", disse.

A meio do seu discurso, o primeiro que fez enquanto presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues deixou uma das suas mensagens mais significativas ao advertir para que se olhe com atenção para os níveis "de confiança de todas as instituições, e não apenas para as instituições políticas, porque uma democracia não se faz só de partidos e deputados".

"Uma democracia faz-se também de um poder judicial respeitável e prestigiado. Uma democracia necessita de uma comunicação social pluralista e respeitadora das regras deontológicas", salientou o presidente da Assembleia da República.

Ainda neste ponto relacionado com a saúde das instituições do Estado Português - e com os principais representantes das autoridades judiciais a escutarem-no nos lugares de honra colocados no centro do hemiciclo -, Ferro Rodrigues sustentou a tese de que "o exercício de funções públicas em órgãos de soberania, na Presidência [da República], no parlamento, no Governo, nos tribunais, bem como o ofício de informar a opinião pública, são tarefas da maior delicadeza que obrigam a um sentido de responsabilidade social permanente".

"Não se pode esperar dos portugueses respeito por quem não se dê ao respeito ou por quem não respeite as regras e as normas do Estado de Direito democrático. A democracia é acima de tudo um regime de regras e de valores", acentuou o antigo secretário-geral do PS.

Ferro Rodrigues elogiou em seguida as recentes iniciativas legislativas para a reforma do sistema eleitoral, designadamente iniciativas para o reforço da transparência no exercício de cargos públicos.

"Independentemente do mérito das propostas políticas de cada Grupo Parlamentar, há aqui um sinal de inquietação e de inconformismo, uma preocupação com a qualidade da democracia e o combate à corrupção", advogou.

Na sua intervenção, o presidente da Assembleia da República deixou também um apelo para que os titulares de órgãos de soberania tenham o objetivo de "falar a uma só voz na Europa".

A uma só voz "em nome da Europa que queremos: uma Europa mais centrada na solidariedade social do que nas décimas das finanças públicas", especificou.

Ferro Rodrigues fez então uma crítica, em forma de pergunta, ao percurso neoliberal da União Europeia ao longo dos últimos anos.

"Como é possível que depois da brutal crise financeira de 2007-2008, os pilares do pensamento que a gerou - desregulamentar, liberalizar, privatizar, flexibilizar - ainda não tenham sido definitivamente relativizados e apagados, apesar de todo o arrependimento que então nos chegava do FMI (Fundo Monetário Internacional), do Banco Mundial, da OCDE e da própria União Europeia?", questionou, aqui numa nota mais ideológica.

A nível nacional, o presidente da Assembleia da República defendeu a reforma do sistema político, mas também deixou a mensagem aos diferentes grupos parlamentares para que abandonem "a ideia de que tudo começa e acaba na produção de nova legislação".

"Porque não olharmos para os instrumentos que já temos à nossa mão e que não implicam necessariamente mais leis? Porque não trazer mais a revolução digital para dentro da democracia?", perguntou ainda o presidente do parlamento, citando, a este propósito, um dos seus antecessores no cargo, Almeida Santos, antigo presidente honorário do PS que se bateu para que a Assembleia da República liderasse "o processo de adesão das instituições do Estado às novas tecnologias da comunicação".

"Importa sermos capazes de sair destas paredes e continuarmos o projeto sempre inacabado do aperfeiçoamento da democracia. Precisamos de continuar a ser um Parlamento à altura do nosso tempo", acrescentou, dizendo que levará o tema a conferência de líderes.

PMF // SMA - Lusa

COMEMORAMOS ABRIL. REDUZIMOS AS POSTAGENS




Em Portugal, hoje, é um dia muito especial, celebra-se o 25 de Abril, Dia da Liberdade conquistada em 1974. As comemorações acontecem por todo o país. Um mar de gente invade as ruas e manifesta-se afirmando Abril. Este é que é o verdadeiro Abril em Portugal.

Devido à participação nas comemorações o Página Global vai ter de interromper o ritmo de publicações normal, sendo provável que as postagens sejam apresentadas em número muito mais reduzido durante grande parte do dia. Tentaremos recuperar alguma normalidade no período noturno. Comemoramos Abril, reduzimos as postagens.

Agradecemos a compreensão. Esperamos que volte sempre. (PG)

25 DE ABRIL, SEMPRE! A DIREITA RESSABIADA NO PARLAMENTO



São várias as comemorações do 25 de Abril por todo o país, ressalta de todas elas a sessão solene ainda a decorrer na Assembleia da República, no parlamento, onde os eleitos pelos portugueses tecem os discursos alusivos.

Alusões que exibem sem rodeios as reações ressabiadas de uma direita neoliberal a roçar o neofascismo, até a uma esquerda, suporte do governo PS, que reafirma Abril e faz notar os retrocessos infligidos pelo governo de Passos Coelho / Paulo Portas durante os quatro anos passados. Retrocessos com o apoio do maior desastre político, económico e suspeitosamente mafioso de nome Cavaco Silva, recentemente apeado da Presidência da República. Por quatro anos, pelo menos, a negação de Abril ocupou os poderes e votou à miséria mais de dois milhões de portugueses, incluindo os que se viram na necessidade de abandonarem o país e emigrarem.

Preferimos a página da TSF para trazer aqui o apontamento sobre as comemorações a decorrerem na Assembleia da República. De notar a presença dos militares de Abril, os militares da Revolução dos Cravos, da revolução do povo em 1974. Militares que não compareceram nas comemorações na AR durante a vigência do governo que escalavrou a democracia e a Constituição, vulgarmente chamado de governo de Passos, de Portas e de Cavaco.

Resumos do constante na página da TSF é o que apresentamos em seguida. Recomendamos que visitem a fonte para obter o pleno da reportagem da equipa TSF. Acompanhem ali a emissão em direto se essa for a vossa preferência. (PG)

25 de abril, sempre!

42 anos depois, o Parlamento assinala o 25 de abril, com a tradicional sessão de discursos. Maior expectativa reside na intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa, a primeira como Presidente da República.

PSD faz a crítica mais dura à esquerda. E diz que quer consensos

Paula Teixeira da Cruz é a escolhida do PSD. Começa pelos heróis desconhecidos de abril, mas rapidamente passa à palavra "Democracia". "A palavra às vezes mostra-se de aparente normalidade, de efeito anestesiante que por vezes a corrói."

A indiferença corroi a democracia. A coisa pública é de todos, não apenas de alguns, muitas vezes para fins ilegítimos.

A intolerância. Para os que transportam diferenças, para com o direito à liberdade de expressão, para os que pensam de maneira diferente.

A banalização dos conceitos. Quantas vezes não se evoca liberdade e democracia em nome de práticas intoletrantes, subversivas e iníquas. Em nome de interesses instalados e obscuros. 

João Torres, PS: Um jovem socialista propõe outros 3 d's

Uma outra estreia num 25 de abril: João Torres, da JS, é quem fala pelos socialistas, começando pelo "obrigado" aos militares de abril, que hoje voltaram às comemorações.

A primeira nota é de ataque aos off-shores: "Não podemos aceitar como normal o que não o é".

Outra contra a emigração forçada, "refugiados da nossa incapacidade económica e social". E contra o emprego precário.

A voz dos jovens, clara o deputado, pede resultados da ação governativa. "Inquestionável vontade de devolver esperança, de recuperar a Europa. Um novo ideal de justiça". E pede uma "sociedade decente, fundada em três D: defender, dinamizar, desafiar." Desafiar a cartilha neoliberal, acrescenta.

O cravo no peito não é condição suficiente para cumprir abril. "É dar a todos a igualdade de oportunidades. A liberdade e a igualdade não nos afastam, aproximam-nos".

Jorge Costa, do Bloco, critica a Europa

A democracia encolhe-se perante a UE. A irresponsabilidade da Europa empurra o país para ser "colónia de dívida". Critica Draghi, que veio recomendar novas leis eleitorais. 

CDS: "Não podemos repetir os erros do passado"

Nuno Magalhães começa por recordar os que foram perseguidos, "antes do 25 de abril e durante o PREC (uma farpa ao PCP). Fala dos erros que se lamentam que o país tenha cometido nos últimos 15 anos, base do sofrimento registado desde o eclodir da crise. 

CDS ataca Plano de Estabilidade

"É pouco credível nas projecções, é pouco prudente nas finanças públicas, é pouco ambicioso na confiança", sublinha Nuno Magalhães, acrescentando que o documento é também "muito preocupante quanto ao investimento, ao crescimento e à esperança de emprego".

Representantes da Associação 25 de Abril assistem à sessão

Rita Rato, do PCP: PCP ataca a direita. E marca terreno

Rita Rato fala pelo PCP. Tem 33 anos, fala agora daquele dia em abril e dos dias que se seguiram, quando o PCP era maior do que hoje. 

E depois ataca os últimos anos de governação PSD e CDS. "A derrota significa uma vitória da Constituição, repondo os valores políticos e sociais que desprezou". Por um país mais justo, para cumprir abril. "Quando comemoramos 42 anos da revolução, reafirmamos o compromisso de sempre", diz a deputada: que os direitos sociais sejam assegurados.

José Luís Ferreira do PEV: Verdes otimistas. "Já estivemos mais longe de abril"

Agora é a vez de José Luís Ferreira, um histórico dos Verdes, que regressa a 1974 para lembrar os sonhos de liberdade e de paz. "Era uma vontade grande grande que ali estava".
Chegamos ao resto do nosso futuro, com o desejo de um país mais justo, que não passe pela destruição de riqueza.

"Já estivémos mais perto de abril, também já estivémos mais longe"

"Pode ser tímido, mas não deixa de ser um regresso, desde logo à normalidade constitucional: a constituição voltou a ser respeitada, sem ingerências. Um regresso ao respeito pelas pessoas. Discutimos quanto se devolve às pessoas, discutimos qual vai ser o universo das pessoas isentas de taxas moderadoras. É o regresso da nossa soberania. É o regresso dos militares de abril à casa da Democracia".

André Silva do PAN em estreia no 25 de Abril:  Índice médio de felicidade, mote do PAN

André Silva, do PAN, com cravo na lapela, sobe ao plenário.

"Não vemos a democracia como algo estático", diz o deputado estreante no 25 de abril.

"A realização e felicidade não pode ser proporcional à sua capacidade produtiva". André Silva pede que se mudem os indicadores do sucesso público, para "reescrever o destino em direção a uma sociedade mais equitativa. O exemplo vem do reino do... Butão:

"A única maneira de sustentar uma ilusão é quando é partilhada por todos".


PORTUGAL, HOJE É 25 DE ABRIL. SEMPRE! - vídeo


OBIANG JÁ É AFIRMADO “CLARO VENCEDOR DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS” PELO REGIME



Obiang junto à mesa de voto
A página oficial do governo do ditador Obiang afirma-o como claro vencedor das eleições presidenciais após cerca de duas horas do encerramento das urnas de voto, o que não é novidade. Muito menos num regime cujo eleito conta sempre com mais de 90% dos votos e que está no poder há 37 anos, após um golpe de estado que depôs o ditador Matias (tio de Teodore Obiang) com rios de matanças e sangue à mistura.

Sem surpresas, os equatoguineenses podem contar com mais sete anos de presidência Obiang, mais sete anos de ditadura acalentada por vários países do mundo e pela CPLP. Falta saber se Obiang tem por intenção voltar a candidatar-se após estes próximos sete anos na presidência, em que prefaz 44 anos no poder ditatorial daquele país pseudo-democrático e pseudo-lusófono. Se voltar a candidatar-se, então podem contar com pelo menos 51 anos de regime Obiang na Guiné Equatorial - se não morrer entretanto, por doença, por velhice, obviamente.

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NA GUINÉ EQUATORIAL FORAM UMA FARSA E OCORRERAM INCIDENTES

Em despacho de notícia da agência de notícias EFE, veiculado pela Agência Lusa, é referido que as eleições PRESIDENCIAIS NA GUINÉ EQUATORIAL DECORRERAM SEM INCIDENTES, o que contraria o constante em página institucional do regime de Obiang, assim como em notícia da Lusa que pode ler em Página Global sob o título “Militares mantêm cerco a sede de partido da oposição na Guiné Equatorial”. Durante três dias cerca de 200 pessoas estiveram cercadas sem possibilidade de se abastecerem de água e géneros alimentícios e ainda agora assim continuam, por alegadamente terem sido protagonistas de atos de desordem e de violência. Essa mesma referência consta na página institucional do regime, como já assinalámos.

Não deixa de ser bizarro que a EFE, depois a Lusa, elaborem notícia de uma normalidade que não existiu e que é desmentida pelas circunstâncias. Poderá corresponder à realidade que o ato de votar, nas secções de voto, decorreu com normalidade, porém, isso não invalida nem corresponde à verdade que as eleições decorreram “sem incidentes”. Existiram e são comprovados pelo próprio regime e pela notícia da Lusa que já referimos.

Enquanto a contra-informação em respeito à preferência de Obiang corre pelo mundo, os opositores do regime narram situação contrária à descrita pelas agências de notícias. Isso mesmo já o Página Global estava a elaborar quando despencou a notícia da Efe / Lusa de uma normalidade que não existiu como é comum num país realmente democrático. Estranhamente, ou talvez não, apesar de a Guiné Equatorial pertencer à CPLP, nenhum órgão de informação português se dignou fazer in loco a cobertura jornalística deste período eleitoral, nem ao menos no dia das eleições, o que não acontece, por exemplo, com Timor-Leste e outros países lusófonos, da CPLP – que se expressam em português nos seus órgãos de comunicação social, enquanto que a Guiné Equatorial não.

Como afirmámos anteriormente, já estávamos a elaborar um texto alusivo aos incidentes ocorridos na Guiné Equatorial. É esse mesmo texto que passamos a apresentar. O contraditório é evidente. Parece não ser difícil concluir onde falta a verdade sobre a realidade equatoguineense e todo este processo eleitoral que deixa muito a desejar naquilo que se espera num regime realmente democrático. Sabemos: com mais ou menos elevado débito de democracia estão vários países que compõem a CPLP e a Guiné Equatorial é um deles, o de maior débito. (PG)

REALIDADE DE DÉBITO DEMOCRÁTICO DO REGIME DE OBIANG EXPÕE A FARSA ELEITORAL

Era mais que previsível a trama do séquito do ditador Obiang nestas pseudo-eleições presidenciais para se fazerem perdurar nos poderes do país. O domínio de Obiang sobre a Guiné Equatorial é constante e acontece desde há 37 anos. As eleições são uma farsa composta por inúmeras ilegalidades e, se necessário, prisões e assassinatos de opositores. Hoje foi mais um dia de pseudo-eleições presidenciais em que Teodore Obiang sai vencedor. Os resultados não poderiam, como nunca puderam, ser diferentes nem desfavoráveis ao ditador.

Nos cadernos eleitorais somente 300 mil cidadãos estão inscritos. Apesar de existirem muitos outros cidadãos em idade de votar. O total de cidadãos ascende atualmente a 800 mil. Os opositores ao regime de Obiang afirmam que “os eleitores inscritos são escolhidos como numa peneira, apesar de nem assim Obiang conseguir a totalidade dos votos expressos”.

Como se não bastasse, Obiang tomou a decisão de ordenar aos militares o cerco à sede do partido opositor Cidadãos pela Inovação. O pretexto para o cerco que já acontece há três dias é a acusação do cometimento de desordens e violências. Mais de 200 pessoas estão cercadas e encerradas dentro das instalações daquela sede partidária sem a possibilidade de irem votar. Também não têm podido abastecer-se de água nem de alimentos. O cerco mantém-se e as carências dos militantes e simpatizantes daquele partido vão aumentando de dia para dia. Temem o que possa vir a acontecer após o dia de eleições e a infalível reeleição de Teodore Obiang na manutenção do cargo de presidente da República.

De acordo com testemunhos as alegadas desordens de há três dias foram somente a concentração para um pequeno comício de pendor contestatário da declaração de invalidade da candidatura de Gabriel Nse Obiang Obono do partido Cidadãos pela Inovação. Concentração que foi vulnerável a agitadores (alguns do exército e da polícia, vestidos à civil) que começaram a causar distúrbios por entre a assistência quando o candidato invalidado e líder do partido falava aos seus apoiantes.

Na página institucional do regime é declarado que “a junta eleitoral condena os atos violentos perpetrados pelo CI” – Cidadãos pela Inovação. E que “o ambiente de harmonia com que o governo da República da Guiné Equatorial está levando o atual processo eleitoral não é compartilhado por outros atores políticos, que por encontrarem-se fracassados, optaram por revoltas e provocações”.

Em comentário sugerido pelo Página Global à fonte que descreveu o incidente e a atual situação no país, relativa a este dia eleitoral e ao afirmado oficialmente, foi declarado em tom de lamento que “na Guiné Equatorial todos sabem que é o regime de Obiang quem manda, o regime de Obiang que vence e o regime de Obiang que os prende, os espanca ou assassina, dificilmente existe quem seja opositor e se atreva a enveredar pela violência ou por distúrbios. Essa é um argumentação repleta de mentira. Quem causou os distúrbios foram os homens de Obiang numa estratégia que já conhecemos muito bem e que nem neste período eleitoral nos permitiu ter uma pausa que se parecesse com alguma tolerância democrática. De um ditador como Obiang não podemos esperar outra atitude que não seja ditatorial e de esquemas que visem a sua manutenção no poder.” (PG)

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