sábado, 28 de maio de 2016

O ESTIGMA



 Rui Peralta, Luanda 

A França é um exemplo “sui generis” nos processos de descolonização encetados no pós-II Guerra Mundial. Esta potência colonial descolonizou, no sentido de outorgar a independência formal às suas colónias mantendo, no entanto, a sua forma de actuar e de interpretar o mundo exterior, ou seja, manteve inalterável a sua estrutura cultural colonizadora. A França pertencia á relação colonial e ignorou esse processo em termos internos, não efectuou qualquer processo de aculturação no que respeita ao seu passado colonial. Um exemplo disso é a forma como trata, actualmente, as suas ex-colónias africanas, hoje países formalmente independentes. E um exemplo histórico maior é o facto de, durante a guerra da Argélia, a França ter evitado, “in extremis”, que os generais da “guerra suja” na Argélia – traumatizados pelos acontecimentos na Indochina – tomassem o Poder na metrópole.

Esta é uma das muitas razões porque a França não está em posição de inventar ou reinventar ideias e projectos que sejam viáveis para um relacionamento soberano com os Estados africanos. Todo o relacionamento da França com África (e em particular com as suas ex-colónias) está enlameado por essa cultura colonial que a democracia francesa nunca conseguiu sublimar. No entanto não é apenas este relacionamento França/África que é vitimado pelo facto de culturalmente a elite francesa não se ter “auto-descolonizado” em termos culturais.

É vitimada a própria democracia francesa, presentemente em permanente Estado de emergência, com problemas enormes com as comunidades imigrantes e com os trabalhadores franceses numa luta pela sobrevivência contra uma reforma laboral que é um instrumento de regressão das regras sociais. A França neoliberal - que estigmatiza imigrantes árabes e africanos, estigmatiza os seus próprios trabalhadores e conduz ao ostracismo, através do Estado de emergência, os seus cidadãos - é a extensão da França colonial. E o combate ao terrorismo assentou como uma luva nas pretensões neocoloniais e imperiais atlantistas.

Falar de terrorismo não é só falar do islamismo mas, também, referir a política externa ocidental que eliminou milhões de pessoas e destruturou sociedades inteiras em África e no Médio-Oriente. Falar de combate ao terrorismo implica analisar a aliança histórica das grandes potências do Ocidente com os regimes obscurantistas dos Estados do Golfo. O combate ao terrorismo não conduz a lado algum – apenas ao esmagamento dos direitos individuais e sociais, como acontece na França e na Bélgica - se não for um combate ao fascismo, às causas profundas do integrismo e do obscurantismo. Não se trata apenas der um combate entre um técnico digital que controla drones e alta tecnologia militar e um bárbaro que procede por decapitação e por actos de extinção indiscriminada.

Este conjunto de políticas criou uma terrível desordem em África. A Líbia é, hoje, um país governado por milícias de onde partem todo o tipo de violências incontroladas em benefício do terrorismo em todo o continente. Mali e Nigéria vêem os seus projectos de desenvolvimento afectados. Nos últimos anos a actividade de bandos fascistas islâmicos ceifou a vida a dezenas de milhares de pessoas. A União Europeia, preocupada com os êxodos migratórios e com a instabilidade que a NATO criou ao invadir a Líbia subvenciona os Estados do Magrebe para que façam o papel de guarda-fronteiras e impeçam a circulação, mediante detenções e torturas. Esses milhões de euros que subvencionam a repressão poderiam ser utilizados em projectos de desenvolvimento nas regiões de origem do êxodo. Mas não.

As oligarquias africanas, maioritariamente de origem colonial, transnacionalizaram-se. Os seus interesses não estão limitados aos seus países de origem, nem mesmo ao continente africano. Os seus capitais estão colocados na banca externa, os seus planos de saúde são em clinicas privadas nos USA e Europa e os seus filhos são educados na Europa e nos USA. Esta estrutura de relacionamentos permite às oligarquias tecerem redes de interesses, garantindo o status-quo nos seus países e dominando os respectivos aparelhos de Estado, impedindo que qualquer projecto de desenvolvimento seja desencadeado a montante ou a jusante dos seus interesses. Copiam os muros com que os seus sócios europeus e norte-americanos se protegem.

África não necessita de muros. Deve olhar para esta Europa das barreiras sociais como um exemplo a não seguir. África deve transformar-se num amplo espaço de circulação sem fronteiras internas, um espaço sem muros. E isto implica uma análise objectiva do que aconteceu com a Europa. Implica, portanto, um diálogo soberano, sem estigmas, com a Europa. Não com A, B ou C e entre A, B ou C, mas entre África como um todo e a Europa da U.E.

Urge, a bem de todos, para acabar com os estigmas.

Angola. Diplomatas consideram que África continua refém dos interesses externos



As “ingerências externas” fizeram novamente parte do discurso governamental. Oposição fala de “elites que se perpetuam no poder”

A diplomacia nacional considerou que África continua refém dos critérios e prioridades de intervenção dos parceiros externos, dificuldades que influenciam de forma negativa o seu crescimento sustentável.

A situação foi descrita pelo secretário de Estado do Ministério das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, no seu discurso de abertura de uma conferência para assinalar, na quarta-feira, o Dia de África, que trouxe à capital o ex-primeiro ministro de Cabo Verde, José Maria Neves.

O governante angolano lamentou ainda que os actuais recursos da União Africana sejam extremamente limitados, sendo as fontes externas a alternativa para a execução dos vários programas e projectos iniciados pelos órgãos da organização.

“Esta situação torna a nossa organização continental vulnerável às manobras externas e levanta a questão da preservação das independências e soberanias africanas”, disse Manuel Augusto.

Acrescentou que enquanto permanecer esta situação “haverá o risco potencial do surgimento de conflitos incitados a partir do exterior”.

“É imperativo que África identifique fontes inovadoras de financiamento para impulsionar o seu processo de integração económica e política”, referiu o secretário de Estado angolano.

Manuel Augusto enumerou grandes problemas que o continente africano ainda enfrenta, relativamente ao crescimento demográfico, globalização, escassez de recursos financeiros, ineficiência das economias, falta de contribuição dos Estados-membros, resolução, gestão e prevenção de conflitos, ingerência externa, terrorismo, entre outros.

“É imperativo que construamos um continente unido e forte, onde os povos partilhem uma identidade africana comum, evitando deste modo que ingerências externas nos levem à fragmentação e separação”, frisou.

O secretário de Estado reafirmou que a diplomacia angolana vai continuar a criar condições para enfrentar os grandes desafios internacionais e a aprofundar as relações político-diplomáticas, de cooperação económica, científica, técnica com os parceiros internacionais em geral.

A conferência em torno de uma análise da “África do Século XXI” teve como oradores, além de José Maria Neves, o jurista Carlos Feijó e o padre e professor universitário Jerónimo Cahianga.

A oposição 

A UNITA lamentou  que África continue com problemas por resolver depois de ultrapassado o colonialismo e conquistada a independência, por falta de vontade política da maior parte das elites dirigentes.

Numa declaração alusiva ao dia de África, o partido critica as elites que se perpetuam no poder durante décadas, tornando-se incapazes de construir sociedades justas, equilibradas e reconciliadas.

Para a UNITA, este quadro afecta profundamente a vida de milhões de africanos que vivem abaixo dos níveis de pobreza, enquanto elites minoritárias de dirigentes do continente continua a enriquecer-se cada vez mais.

“O caso angolano é paradigmático e ilustra bem a situação de muitos países africanos, vítimas da longevidade de poderes autocráticos, violadores dos direitos humanos, que promovem a má governação, a corrupção, o nepotismo, a exclusão, a intolerância, a má gestão e os desvios do erário público e a chamada acumulação primitiva da riqueza”, lê-se no documento.

Também a CASA-CE criticou que, decorridos 53 anos, os valores que inspiraram a criação da União Africana e os principais objectivos preconizados, ainda não tenham sido alcançados na maior parte dos países africanos.

A CASA-CE sublinha que centenas de anos após África ter sido colonizada pela Europa, o continente continua a ser adiado, “sem perspectiva que visa modificar num curto espaço de tempo o quadro sombrio em que estão mergulhados a maioria dos seus países, apesar das enormes potencialidades económicas existentes”.

“O Conselho Presidencial da CASA-CE considera que a África deve aprofundar e concretizar os parâmetros da democracia pluralista, constituindo instituições fortes e credíveis, capazes de impedir a eternização do poder político pelos líderes africanos”, destaca a nota.

Lusa, em Rede Angola – Foto: Manuel Augusto secretário de Estado das Relações Exteriores / Santos Pedro/JAImagens

Filho de presidente da Guiné Equatorial pode ser julgado na França por lavagem de dinheiro



Paris, 26 Mai (Reuters) - Promotores franceses pediram que o filho do presidente da Guiné Equatorial seja julgado por suposta lavagem de dinheiro, afirmou nesta quinta-feira um representante da promotoria de crimes financeiros.

Teodorin Obiang, filho do presidente Teodoro Obiang, apelou no ano passado para que as acusações fossem retiradas com base em imunidade diplomática, mas o Judiciário definiu na época que elas tinham relação "exclusivamente com a sua vida privada na França", e não com as suas funções oficiais.

Os juízes decidirão em um mês se levam o caso ao tribunal, disse o representante da promotoria à Reuters. Emmanuel Marsigny, seu advogado, declarou à Reuters que eles estavam analisando a acusação.

Obiang é o segundo vice-presidente do pequeno país da África central, onde a maioria da população vive na pobreza, apesar das ricas reservas de petróleo. Ele também enfrenta acusações por lavagem de dinheiro nos Estados Unidos.

Ele nega irregularidades e diz que a sua situação financeira, que o permitiu comprar um imóvel luxuoso em Paris, um avião e carros, é resultado de negócios exitosos e legítimos.

O caso contra Teodorin Obiang é parte de uma ampla investigação francesa sobre lavagem de dinheiro, que tem também como alvo as famílias do presidente morto do Gabão, Omar Bongo, e do presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso. Juntos, eles são suspeitos de terem 63 propriedades de luxo em Paris e cerca de 200 contas bancárias.

Em 2013, Obiang quase foi preso em Salvador, onde passou o Carnaval, quando a Justiça francesa expediu um mandato de prisão internacional contra ele no mesmo processo por ter faltado a uma audiência. Ao saber da decisão, o vice-presidente Guiné Equatorial voltou imediatamente a seu país, de onde não poderia ser deportado.

Reuters, em Swissinfo

Ban Ki-Moon pede responsabilidade na Guiné-Bissau para evitar mais violência



O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, apelou na sexta-feira à noite aos protagonistas da crise política na Guiné-Bissau para que ajam de "forma responsável" para evitarem uma "escalada de violência".

Em comunicado, Ban Ki-Moon manifestou-se "muito preocupado" com a crise política guineense, considerando que esta "afeta gravemente o funcionamento das instituições do país e ameaça o seu desenvolvimento socioeconómico".

O responsável apelou "a todos os protagonistas políticos a acabar urgentemente com o impasse, no interesse da população e respeitando a Constituição do país".

Ban Ki-Moon saudou o "profissionalismos das forças armadas guineenses e o cumprimento do seu dever" e apelou para que continuem "a agir de forma responsável".

O Presidente guineense, José Mário Vaz, demitiu a 12 de maio o Governo do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), liderado pelo veterano Carlos Correia, alegando falta de apoio parlamentar e nomeou Baciro Djá para o cargo, na quinta-feira.

Esta nomeação foi contestada nas ruas por populares e pelo PAIGC, que não reconhece o novo Governo.

Baciro Djá já tinha sido nomeado para o cargo a 20 de agosto de 2015, após o Presidente ter demitido o Governo liderado por Domingos Simões Pereira, mas acabaria por apresentar a demissão dias depois, a 09 de setembro, quando o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) da Guiné-Bissau considerou inconstitucional a sua nomeação.

Na altura, os juízes do STJ afirmaram num acórdão que cabe ao PAIGC, vencedor das eleições de 2014, indicar o primeiro-ministro e não ao Presidente.

No entanto, no decreto que nomeia Baciro Djá pela segunda vez, José Mário Vaz justifica-se dizendo que, agora, o partido que venceu as eleições já não tem maioria no parlamento.

Um grupo de 15 deputados, em que se inclui Baciro Djá, afastou-se do PAIGC e juntou-se ao maior partido da oposição, Partido da Renovação Social (PRS), para formar uma nova maioria.

O chefe de Estado foi eleito em 2014 pelo PAIGC, mas depois de eleito revoltou-se contra a liderança daquela força política.

Lusa, em Notícias ao Minuto

PAIGC acusa autoridades da Guiné-Bissau de impedirem saída de militantes da sede do partido



O PAIGC acusa as forcas de defesa e segurança da Guiné-Bissau de impedirem a saída de alguns militantes e dirigentes da sede do partido, depois dos confrontos da última noite.

Em comunicado, o secretariado do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) refere que a sede está "cercada pelas forças militares, impedindo entradas e saídas", numa situação que considera abusiva.

Dezenas de pessoas que se concentraram à porta da sede do PAIGC na quinta-feira atiraram pedras contra o Palácio Presidencial, contíguo, e queimaram pneus nas imediações, quando a Presidência anunciou a nomeação de Baciro Djá como novo primeiro-ministro.

Forças e segurança e militares evacuaram a área durante a noite e voltaram a fazer o mesmo durante o dia de hoje, em que Baciro Djá foi empossado.

Elementos do executivo demitido - quase todos afetos ao PAIGC - continuam a ocupar as salas do Palácio do Governo onde prometem permanecer por tempo indeterminado como protesto contra uma nomeação que consideram inconstitucional.

O partido recusa-se a reconhecer qualquer novo governo que não seja da sua iniciativa enquanto força vencedora das últimas eleições legislativas.

MB/LFO // EL - Lusa

Portugal. O FINANCIAMENTO DE COLÉGIOS PRIVADOS



Miguel Caetano, opinião*

O debate em torno do financiamento de colégios privados com fins lucrativos pelo estado português é um dos mais intelectualmente desonestos e superficiais dos últimos anos.

O argumento supremo invocado para justificar o financiamento desses colégios em situação de redundância comparativamente a escolas públicas é, como não poderia deixar de ser, o da qualidade: basicamente, invoca-se que os contribuintes portugueses devem apoiar esses colégios porque a educação que eles proporcionam aos seus alunos é de uma qualidade superior à da escola pública situada a menos de um quilómetro.

A questão é que o argumento que está aqui em causa representa quanto a mim um autêntico quebra-cabeças lógico: porque razão é que se deve financiar com dinheiros públicos colégios com fins lucrativos? Porque os alunos saem de lá melhor preparados. E porque é que isso acontece? Porque são colégios privados. Mas se são privados e visam obter lucro, então porque carga de água necessitam do dinheiro dos contribuintes para sobreviverem?

Em suma: analisando a questão em pormenor, não parece existir qualquer razão ontológica que impeça que as escolas pertencentes à rede pública não ofereçam a mesma educação de qualidade que os colégios privados. Mais ainda: pode muito bem ser que esse dinheiro que os contribuintes gastam com colégios privados possa ser mais bem empregue na ampliação e renovação da rede de ensino público.

Esta discussão é superficial sobretudo porque confunde um sintoma com uma causa: o facto dos colégios privados ministrarem um ensino supostamente de maior qualidade não deve ser atribuído ao seu estatuto de entidades com fins lucrativos - MUITO PELO CONTRÁRIO! Se mais não fosse, a própria necessidade da existência de contratos de associação entre o Estado português e as empresas responsáveis por esses colégios para a sobrevivência de muitos destes últimos revelaria que a educação de qualidade não é e nem pode ser lucrativa!

É claro que aquilo que entendemos por "qualidade" é muito relativo, dependendo na prática da interpretação subjetiva de cada pessoa. Para uns, pode ser uma excelente média nos exames nacionais; para outros pode ser uma variedade de matérias extracurriculares; para outros ainda pode ser piscinas e ginásios olímpicos, spas, transportes pagos de casa para o colégio e do colégio para casa, etc. Mas enveredar por essa discussão já seria entrar num nível mais avançado. Para todos os efeitos, entendamos provisoriamente por qualidade como sendo uma combinação de todas essas definições, com especial ênfase para a primeira delas.

Nesse sentido, é fácil constatar pela consulta dos estatutos dos colégios, bem como da Constituição da República Portuguesa que:

1) o fim último de maior parte dos colégios privados não é uma noção mistificadora de "qualidade" mas sim a obtenção de lucros para os seus acionistas;

2) o fim último das escolas públicas não é a qualidade enquanto ideal místico mas sim cumprir a obrigação imposta ao Estado pela CRP de proporcionar uma rede de ensino o mais universal, aberta e gratuita possível.

Como se pode ver, a qualidade resume-se a um atributo mistificador que, na sua aceção maioritária - maior desempenho escolar -, resulta não raras vezes de uma consequência a posteriori fortuita, não podendo ser acorrentada de forma essencialista a um ou outro sistema de ensino. Isto porque nem colégios privados nem escola pública têm como missão última proporcionar um ensino de qualidade.

Obviamente que para além do ensino privado com fins lucrativos e do ensino público, poderemos sempre também falar de um ensino cooperativo e/ou sem fins lucrativos, proporcionado por associações locais ou organizações não-governamentais. Ainda que esse tipo de ensino seja quanto a mim mais merecedor do financiamento público do que empresas com fins lucrativos, mesmo nesse caso teremos que ter o cuidado de evitar que o contribuinte acabe por financiar propaganda religiosa, política ou qualquer outro tipo de ideologia que se desvie da missão universalista e aberta do sistema de ensino público.

Esta discussão em torno dessa mistificação chamada qualidade é aliás igualmente válida para outros domínios tradicionalmente financiados pelo Estado como os transportes ou as bibliotecas. A diferença é que alguém que viesse a terreno defender a suspensão dos planos de ampliação e renovação da rede pública de transportes coletivos (metropolitano, caminhos de ferro e serviços rodoviários) de modo a financiar os serviços privados de transporte de uma empresa como a Uber apenas porque estes são mais confortáveis, rápidos e asseados seria encarado como um autêntico idiota, quando não mesmo um palhaço.

O mesmo se diga aliás de alguém que defendesse o fim das verbas destinadas anualmente pelo orçamento de Estado às bibliotecas municipais e universitárias para que, em troca, o Estado passasse a oferecer mensalmente a todos os cidadãos nacionais um cheque-brinde no valor de 100 euros para a aquisição de livros na Amazon apenas porque as bibliotecas públicas não dispõem de todas as obras que constam dos programas das cadeiras dos cursos superiores das universidades públicas... :o)


Portugal. ENSINO PRIVADO, UM NEGÓCIO DE EX-POLÍTICOS QUE TODOS SUSTENTAMOS?



Ver vídeo
Ministério da Educação acusado de mau uso de dinheiros públicos

Colégios privados financiados pelo Estado poderão ter sido favorecidos. fonte

Descubra nesta compilação de vídeos:

- Como os seus impostos são esbanjados, em luxos privados?

- Como sustentar um grupo (GPS) com mais de 50 negócios em áreas diferentes, com dinheiros públicos que entram através de mais de 20 colégios privados, para que nenhuma se afunde, convém manter algumas que sirvam de porta de entrada de dinheiro público, esse poço inesgotável de dinheiro fácil.

- Como os políticos ou deputados fazem pela vida, unidos PS, PSD, etc.

- Como se criam escolas com o direito de escolher alunos de elite e rejeitar alunos fracos?

- Como pode o estado financiar escolas que violam o principio básico da educação? A educação é para todos.

- Como é que os directores destas escolas se transformam em poderosos coleccionadores de luxos incalculáveis.

Queira ter a bondade de navegar neste mar de corrupção, pode mesmo sentir-se enjoado com tanta falta de vergonha e promiscuidade, entre politica e negócios.

O Ministro da Educação tem o desplante de afirmar, no video, que defende os colégios privados, porque é uma questão de liberdade? 

É liberdade rejeitar alunos mais fracos ou com necessidades especiais?

É liberdade abusar dos professores e fazer chantagem com eles?

É liberdade dar mais turmas aos privados e retirar ao público?

É liberdade abandonar escolas que já todos pagamos e sustentar as privadas que teremos que pagar?

É liberdade ele, o ministro, decidir isso por nós, pelos nossos filhos e pelos nossos professores?

Sempre se soube, e é inegável... onde começa a liberdade de uns, acaba a de outros.

A liberdade dos colégios privados, não pode acabar com a liberdade e a democratização do ensino. Não pode prejudicar os mais pobres e desfavorecidos, no acesso à educação. Não pode ser um mero negócio lucrativo, nas mãos de ex políticos sem escrúpulos, que visam o lucro acima da formação base, dos futuros portugueses... os abusadores, não podem impor regras à margem da lei.

Resumo do video

Com a desculpa de que não há vagas para os alunos no público, constroem-se colégios privados. Na verdade as escolas públicas ficam com várias vagas por preencher, escolas com capacidade para mais turmas, apenas lhe atribuem as que convém aos privados, para os alunos serem empurrados para o privado. Assim estes, ficam com o direito a receber mais subsídios do estado, pois recebem 85 mil euros de subsidio por turma!!

O que é uma boa desculpa para haver cortes no público e dar mais dinheiro aos privados.

O grupo GPS exemplifica como os nossos pobres deputados são livres de construir impérios na maior das impunidades e ás custas do poder público que ganharam, das influências que exerceram e dos dinheiros públicos que distribuíram.

Impérios privilegiados que sufocam a livre concorrência e a economia... torna-se cada vez mais claro que são apenas uns poucos que, possuem o direito de dominar todos os sectores e todas as empresas, em Portugal.

António Calvete dono do império, foi deputado do PS, integrou a comissão parlamentar e um ano depois cria o grupo GPS. Espantoso? 

Para o grupo chamou mais pessoas influentes de vários partidos, desde deputados secretários de estado, antigos directores regionais de educação, etc.

Esta é mais uma prova de que os partidos estão na verdade unidos numa só missão... aviar-se e roubar o mais que puderem. Nos bastidores, são todos amigos e companheiros do saque.

Domingos Fernandes, secretário de Estado da Administração Educativa de António Guterres, Paulo Pereira Coelho, secretário de Estado da Administração Interna de Santana Lopes e secretário de Estado da Administração Local de Durão Barroso, (envolvido em casos de corrupção) 

José Junqueiro, deputado do PS.

Todos foram consultores do grupo GPS.

José Manuel Canavarro, secretário de Estado da Administração Educativa de Santana Lopes, José Almeida, director Regional de Educação de Lisboa do mesmo governo.

Manuel António Madama, da escola de S. Mamede possui 80 carros, entre eles Jaguar Porsche, Rolls royce, Mercedes BMW, limusina Volkswagen, etc, etc. O filho António Madama, também alto cargo (boy) junto do pai, possui 17 carros.

José Canavarro e José Almeida ainda no poder e 5 dias antes das eleições que os iriam fazer perder o poder, deram autorização para a construção de 4 novos colégios. 

O desespero de favorecer amigos que os iriam albergar em bons tachos, após o mandato, foi exercido até ao ultimo momento em que lhes é dado o direito de abusar do poder público.

Ambos se recusaram a ser entrevistados e negaram ter dado autorização... apesar de no video serem apresentadas as suas assinaturas a provarem o contrário.

O GPS construiu um império com mais de 50 outras empresas, além dos 26 colégios, em diversos ramos.

-GPS mediação de Seguros
-Gtelecomunicações
-MultiGPS - Multimédia
-Galevete e Galvete Imobiliária
-Agência de Viagens D. João V
-Criartimagem publicidade (já envolvida em escândalos de subsídios e outros)
-Restpresso actividades hoteleiras
-GPS comércio supermercados

"Auditorias detectam taxa de matrícula ilegal nos colégios do grupo GPS. Alunos que frequentavam a escolaridade obrigatória eram obrigados a pagar taxa de dez euros. Ministério manda devolver montantes às famílias." fonte

O governo não precisa de dizer que vai acabar com o ensino gratuito... pura e simplesmente fará para que isso aconteça.

O governo não precisa de dizer que vai acabar com o apoio público aos idosos, lares etc... pura e simplesmente cria as condições para isso e acontecerá.

O governo não precisa de dizer que vai acabar com a saúde pública... basta continuar no percurso que nos tem imposto, que lá chegaremos.

Até a justiça se transforma num grande negócio privado, que enriquece politicos

Todos sabemos que a intenção é destruir definitivamente os serviços públicos, que na óptica deles gastam demasiados impostos, e depois não sobra para eles e para sustentar as suas fundações, as suas PPP, as suas empresas subsidiadas pelo estado, os seus subsídios e reformas, etc.

É ainda claro que lhes convém aniquilar as pequenas e médias empresas, para permitir que o nosso pequeno mercado português, fique à mercê dos grandes e poderosos gananciosos insaciáveis, amigos de, e ex políticos.

"Maiores fortunas de Portugal cresceram 18% em 2011. Os ricos de Portugal estão mais ricos, segundo a lista das maiores fortunas do País elaborada pela Revista Exame. As fortunas dos 25 mais ricos de Portugal cresceram 17,8% em 2011 face ao ano passado" fonte 

"(...) a riqueza das maiores fortunas em Portugal também cresceu em 2012. Mais concretamente 13%," fonte

"Mota Engil escapa à crise"
"Jerónimo Martins acelera 4,5%, Lisboa lidera ganhos na Europa" (eu avisei)
"Quase 6.700 empresas foram à falência em Portugal em 2012." fonte
Amorim duplica fortuna e é o mais rico do país em 2013. fonte
Enquanto o governo corta no público, aumenta o financiamento aos privados. Como pode constatar no video.
*- Educação: "Governo corta o triplo do que a troika mandou. "
*- SNS: "A ‘troika’ mandou cortar 550 milhões e o Governo cortou mais 650 milhões e este ano vai cortar mais”, sublinhou.
*- Portugal reduziu em mais de 5% dos funcionários públicos entre dezembro de 2011 e setembro de 2012. Superando, assim, em mais do dobro a meta anual imposta pelo memorando da troika. 

Para conhecer mais profundamente o caso GPS, veja este video, onde também é denunciada a forma como as escolas privadas poupam dinheiro, rejeitando alunos problemáticos ou com deficiência, e explorando os professores... dinheiro que poupam para poder esbanjar em luxos.


Portugal. Estivadores e operadores chegam a acordo para fim da greve



Depois de 15 horas reunidos, sindicato dos estivadores e operadores portuários entenderam-se. A greve foi desconvocada. O acordo já foi assinado. Ameaça de despedimento coletivo também caiu.

Não foi preciso recorrer a um plano B. Os estivadores e os operadores portuários entenderam-se em relação a vários pontos. A começar pela admissão de trabalhadores portuários. O acordo prevê que a PORLIS "não poderá admitir mais trabalhadores, devendo a situação dos atuais ser resolvida no prazo máximo de dois anos". Serão, ainda, admitidos "23 trabalhadores nos quadros da ETPL - Empresa de Trabalho Portuário de Lisboa - no prazo máximo de dois anos".

O fim da greve foi anunciado pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, que disse que o pré-aviso de greve que estava em vigor será suspenso "de imediato".

O entendimento apareceu só ao fim de quinze horas de negociações no Ministério do Mar. A ministra Ana Paula Vitorino considera que o acordo entre estivadores e operadores portuários é equilibrado.

O entendimento ainda terá de ser confirmado em plenário pelos estivadores. Essa luz verde terá de ser dada no prazo de máximo de 24 horas, de acordo com o documento assinado.

O sindicato dos estivadores e os operadores portuários chegaram ainda a um compromisso para que, no prazo de 15 dias, seja assinado "um novo contrato coletivo de trabalho" que traduza os termos do acordo alcançado esta sexta-feira. O novo contrato "deverá ter um prazo de vigência de seis anos, comprometendo-se o Sindicato dos Estivadores, durante o referido prazo, a recorrer a uma comissão paritária em caso de incumprimento".

Na quinta-feira, o primeiro-ministro tinha estabelecido esta sexta-feira como a data limite para que as partes em conflito no Porto de Lisboa se entendessem. António Costa tinha prometido que iria ser feito "um grande esforço negocial" ao longo de toda esta sexta-feira, mas acrescentou que "há limites para tudo, e se a solução não for uma solução negociada, terá que ser encontrada outra solução".

Rui Tukaiana - TSF

Brasil. A CAPACITAÇÃO DA RUA PARA VIRAR O JOGO



O Congresso não é a assembleia da nação. Não a representa. Lutar pelo mandato de Dilma é reconstruir nas ruas a agenda do desenvolvimento e da democracia.

Saul Leblon – Carta Maior, editorial

Uma das tarefas cruciais da política –sua própria razão de ser-  é captar a totalidade de um momento histórico para daí tirar as consequências teóricas, programáticas e organizativas.

Sem isso a coisa não vai, desanda do entusiasmo à prostração, da mobilização ao cansaço e daí à dispersão.

O golpe de 12 de maio encerra todas as contradições de um ajuntamento no qual a cota de  vigarice e corrupção está precificada na elevada resiliência de Eduardo Cunha no ministério interventor.

Moro, Lava Jato, togas foram apenas adereços de mídia do enredo, mas seu verdadeiro lastro histórico não pode ser subestimado.

A virulência, a abrangência do desmonte promovido na institucionalidade econômica e democrática extrapolam o lado caricatural de captação imediata incontornável.

Para que não se subestime o grau de desassombro que a sua superação requer, a  compreensão da ruptura enfrentada pelo país exige atenção à encruzilhada estrutural que alimentou e alimenta a fornalha golpista.

A maquinaria do crescimento brasileiro travou.

Um ciclo de expansão liderado pelo consumo chegou ao fim com a saturação do crédito e do endividamento das famílias assalariadas.

Do lado externo, a mais longa e abrangente crise do capitalismo desde 1929, mantém obstruído o canal do crescimento via exportações.

Um novo estirão de expansão do PIB escapa a automatismos de mercado.

Religar a máquina do desenvolvimento na sétima maior economia do planeta requer uma repactuação da sociedade e um reposicionamento estratégico no adverso quadro de uma industrialização declinante, sem que o país tenha atingido o grau de riqueza capaz de prover investimentos, oportunidades e empregos dignos com base apenas no setor de serviços.

É um pouco o que dizia Celso Furtado: contradições históricas nos impõem padrões de consumo e desafios de desenvolvimento de países ricos, sem que tenhamos a riqueza deles para recorrer.

Isso não legitima a rendição à dependência voluntária –de indigência social e sociológica intrínseca-- cujo corolário acaba sendo arrochar a população porque o país real não cabe no equilíbrio fiscal.

O Brasil tem desafios gigantescos, mas a economia tem densidade sabida e riqueza acumulada para dar conta de um futuro melhor, desde que bem distribuída.

O país é líder mundial em frentes estratégicas, como a agrícola; concluiu sua urbanização; tem sistemas de saúde, educação e previdências públicas implantados; estrutura tributária montada; dispõe de bancos estatais potentes; seu Estado, apesar das distorções conhecidas, é dotado de esferas de excelência; sua base industrial foi erodida, mas continua superior à média dos emergentes, exceto China; tem o trunfo estratégico de um impulso industrializante precioso condensado no pré-sal e na expertise da Petrobras (cujo desafio financeiro é compensado pela competitividade de custos operacionais reduzidos, fruto de liderança tecnológica mundialmente reconhecida).

O fato de vivermos um divisor histórico do desenvolvimento para o qual não existem respostas prontas, apenas magnifica o papel da democracia, e a urgência de seu salto participativo, nas escolhas que vão modelar o futuro nacional.

Metas, prazos, salvaguardas, concessões e conquistas desdobradas no tempo terão que ser negociadas amplamente para reforçar a margem de manobra da economia e do Estado e desenhar o passo seguinte da nação.

Trata-se de uma operação essencialmente política. Irrealizável sem democracia ativa e Estado indutor.

A obsessão dos detentores da riqueza, desde 2013/14, quando os contornos do impasse se evidenciaram, tem sido a de impedir que essa travessia se dê no campo aberto da democracia, do voto e da rua.

Um erro dramático do PT foi embarcar nesse comboio de pseudo acomodação a frio, do qual saltou muito tardiamente, quase sem tempo de se preparar para o embate violento que viria, como de fato veio.

O golpe de Estado que espreme o Brasil desde 12 de maio cobra a fatura desse erro histórico.

Seu objetivo, insista-se, é devolver a pasta de dente ao tubo. Ou seja, reverter os avanços sociais de dimensões épicas conquistados desde 2003, em que a fome foi vencida (a taxa de insegurança alimentar caiu de 10% da população para 1%); a miséria foi reduzida a 2,5%; cerca de 40 milhões de pessoas deixaram a pobreza e o mercado de consumo de massa tornou-se hegemônico, abarcando mais de 50% da população --se fosse um país estaria dentro do G-20.

Revogar esse passo para a construção de uma democracia social efetiva é o mutirão ao qual se debruçam os ministros interventores do golpe, empenhados em sucessivos anúncios de decapitação de políticas, dissolução de estruturas, extinção de programas, revogação de direitos, depreciação de ganhos e ameaças aos assalariados.

Trata-se de fazer o Brasil novo caber no orçamento velho, desguarnecido da tributação da riqueza corrente e da taxação do privilégio acumulado.

Enquanto o crescimento econômico sustentou a expansão da receita fiscal, foi possível promover uma política de investimentos pesados, com forte geração de empregos e combate às desigualdade, sem atritos virulentos com os interesses cristalizados.

Quando o lubrificante da expansão econômica minguou, a fricção progrediu rapidamente para o conflito aberto –este que catalisou novos e velhos adversários e recuperou bandeiras do senso de oportunidade conservador, empunhadas pelos justiceiros de ocasião.

Quem ouve alarido pelo rádio do carro sente-se conduzido a uma viagem de volta a um futuro que bordeja o clima político de 1964, com direito a pitadas de guerra fria a cargo do ‘chanceler’ José Serra e o seu ‘novo’ Itamaraty  -- que transita num planeta ‘sem ideologia’, mas declaradamente inspirado nos paradigmas de Macri  e Peña Nieto, com pitadas de Guerra Fria.

Sob essa espuma correntezas poderosas arrastam e arrasam a nação em duas frentes indissociáveis.

A mais visível e furiosa, processa a purga ideológica da sociedade e do Estado, cavalgando um revanchismo truculento, que não poupou nem o mordomo preto, petista, há oito anos alocado no Palácio do Planalto.

Média de 100 demissões por dia compõe a contabilidade da caçada a tudo o que se move à esquerda do que hoje se conceitua como sendo a norma, o fim da ideologia, o crepúsculo do gênero, o ‘partidarismo’ etc

Extinguir o Ministério da Cultura –de enorme visibilidade e acanhado orçamento—foi uma ação consciente, informa colunista do jornal Valor, inscrita nas milícias precursoras do golpe.

‘O MinC era um bunker irrecuperável da esquerda’ –foi a avaliação dos que usurparam o lugar da Presidenta mandata por 54 milhões de votos.

Extinga-se.

Revogar 11 mil novas unidades contratadas do Minha Casa, Minha Vida, entidades, foi outro tiro de revanche.

Alvos: o MTST e seu aguerrido dirigente, Guilherme Boulos.

Assim por diante.

Na rotina da extinção em massa de cargos,  pastas, conselhos e secretarias identifica-se o claro vezo de interditar as vozes dos pequenos, dos humildes, dos subalternos negros, deficientes, mulheres, jovens, povos indígenas, pequenos agricultores, pescadores, idosos etc que nos últimos anos arejaram um pouco o ambiente político no interior do Estado brasileiro, ampliando o círculo de decisão das políticas sociais e de desenvolvimento.

Mas não é esse –ainda--  a correnteza mais truculenta em curso.

Desde a primeira hora do assalto ao mandato da Presidente Dilma Roussef o que se anuncia é que a tesoura –se preciso ancorada no cassetete, no gás pimenta, no lança-bombas, no Estado policial, enfim— será o grande instrumento de política econômica dos interventores.

Os alvos das tesouradas vão do SUS à aposentadoria, do Bolsa Família ao Minha Casa, passando pelo ensino público, tudo convergindo para o grande núcleo dos antagonismos contra os quais se move a retroescavadeira do ajuste de contas golpista.

Ou seja: os direitos universais previstos na Constituição Cidadã de 1988.

‘Em um determinado momento, vamos ter que repactuar, como aconteceu na Grécia’, sinalizou de forma pouco sutil o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

Os direitos universais não cabem na contabilidade conferida pela aritmética do golpe, que tem no interesse rentista seu principal fundamento macroeconômico.

‘Hoje, 90% do déficit nominal de R$ 600 bilhões decorre de gastos com juros’, disparou o próprio Serra, dirigindo um tiro de bazuca em Henrique Meirelles, interventor da Fazenda, no lugar de quem gostaria de estar.

Em vez de servir à conspiração, Serra deveria ter organizado o apoio tucano a Dilma em 2013 quando derrubou o juro e quase foi derrubada pela Febraban, o sindicato dos bancos.

Serra e o PSDB são patronos da lógica segundo a qual o SUS terá que diminuir de tamanho, a universidade pública terá que ser paga, os idosos do campo terão que morrer à míngua, os miseráveis do Bolsa Família terão que provar que estão à beira da inanição etc  para que a plutocracia local e estrangeira mantenha suas burras em regime de engorda, sem risco.

A purga constitucional, porém, pode levar mais tempo do que o mercado financeiro consente. Razão pela qual o núcleo duro do golpe, composto de seus pares, não hesita: o arrocho entregará este ano números palatáveis espremendo-se a boca do caixa.

Como?

Sem descontar a inflação, nem os investimentos nas metas de superávits em vias de serem anunciadas. Cortes nominais.  Amparados em projeções terroristas. Que tomam o pagamento das pedaladas de 2015 como norma, e desenham sua evolução em 2016, ganhando assim a folga para o trunfo da ‘responsabilidade fiscal do golpe’.

O vale tudo inclui, ainda, a alienação de fatias privatizáveis do patrimônio público (bancos estatais, por exemplo) e, claro,  a última e mais preciosa joia da coroa: as reservas consolidadas do pré-sal. Pedro Parente, o gerente do apagão tucano de 2001, que custou tres pontos no PIB, assume a Petrobrás para apagar o pré-sal do horizonte das esperanças nacionais.

Não há negociação.

O que se desenha é uma política de ocupação ortodoxa, de dureza cinematográfica –pouco sensível ao impacto repulsivo que a supremacia da ganancia endinheirada causa à nação.

Esses ingredientes ajudam a qualificar a natureza despudoradamente antissocial e antinacional do golpe.

Mas a real extensão do que trincou, caducou e esgotou na vida política vai além disso.

E deve ser encarado de frente. Sob risco de se ordenar uma resistência assentada em agenda e força desprovidas de aderência à efetiva encruzilhada brasileira.

Assim como a suposta frivolidade de Maria Antonieta não informa a composição de estruturas e forças que efetivamente redundaram na Revolução Francesa, ou a hipertrofia de Rasputin na intimidade dos Romanovs, não esclarece o processo revolucionário de 1917, personagens como Temer, Jucá, Serra, Gilmar, Cunha, Moro, Aécio, FH, Alexandre de Moraes e assemelhados sugerem, mas não expressam a essência completa do que se passa no Brasil nesse momento.

Em primeiro lugar, o que esgotou como espaço de negociação foi o sistema político brasileiro, incapaz de oferecer protagonistas, espaços e canais à renovação do pacto do desenvolvimento.

Não basta opor a isso o bordão da reforma política. É preciso qualifica-la e organizar a força capaz de fazer dessa bandeira mais do que uma retórica protelatória.

O golpe institucional deixou definitivamente gravado em pedra e cal: o Congresso brasileiro não é a assembleia da nação.

Não a representa.

Trata-se de um instrumento político da direita, do dinheiro, da vigarice.

Mas não rasga dólares, nem tem tendências suicidas.

Ou seja, esse congresso que não representa da sociedade não tem qualquer interesse em representa-la.

Ao contrário.

Todas as tentativas de se oxigenar a democracia brasileira –facilitar os plebiscitos, romper o oligopólio midiático,  favorecer canais ecumênicos de informação e participação etc--  foram rechaçados ou adormecem no índex da supremacia parlamentar conservadora.

O golpe em curso é o derradeiro lance na rota de colisão  entre uma Constituição socialmente progressista e o paradoxo de um sistema político desenhado para engessa-la.

O que a fusão dos interesses plutocráticos locais e internacionais busca agora é calafetar essa falha.

Ou seja, retificar o flanco que a derrubada da ditadura abriu em meados dos anos 80, quando a  ascensão de um movimento de massas vitorioso obrigou a elite a engolir o escopo social vitorioso na Constituinte de 1987.

O interregno neoliberal implantado pelo PSDB  nos anos 90 só foi possível dissimulado na catártica operação de guerra de um país unido contra a hiperinflação.

Nunca mais as urnas endossaram  o lacto-purga neoliberal, sucessivamente derrotado em 2002, 2006, 2010 e 2014 –quando a coalizão conservadora decidiu-se então pelo golpe.

Curto e grosso: sem um movimento de massa de apelo semelhante ao das mobilizações pela redemocratização, com sua contrapartida constituinte, a marcha regressiva não será revertida de forma suficiente à repactuação de  um novo ciclo de desenvolvimento, com reformas que sustentem a democracia social prevista em 1988.

A crise estrutural persistirá enclausurando o país entre o caos econômico e a ditadura política.

Isso é um enunciado geral.

É preciso debulhar seus grãos, sem o que não haverá mingau, só prostração.

Os 180 dias que nos separam da votação final do dito impeachment formam o prazo de capacitação para um outro enredo histórico.

Significa que a agenda dos 180 dias não pode ser apenas exclamativa, protelatória e nem mesmo exclusivamente de mobilizações esparsas.

Ela precisa ser or-ga-ni-za-ti-va e programática.

A frente ampla que Lula acalenta pode ser o ponto de fusão capaz de dar à rua a sua consequência.

Qual?

Ser o chão fértil da semeadura de uma  base organizada em Comitês de Resistencia e Luta pelo mandato de Dilma, que desde logo funcionarão como embriões de comitês para as eleições municipais deste ano, sedimentando a pactuação programática para 2018 e para a Constituinte reformuladora do sistema político, tributário e  de comunicação.

O Brasil necessita urgentemente viabilizar esse novo braço coletivo. Que seja maior do que a soma das partes, capaz de sacudir o torpor da esquerda, afrontar a soberba da direita e empolgar a sociedade com o poder da democracia de dizer não ao mercado.

O conservadorismo, guardadas as devidas proporções, resolveu reeditar aqui o 1984 inglês.

Aquele que passou à convenção dos valores mercadistas como o ano em que o neoliberalismo veio à luz, graças à derrota sangrenta imposta por Margareth Thatcher à greve de mineiros de carvão.

O desafio da frente ampla progressista é não permitir que 2016 seja o 1984 brasileiro.

Se o golpe destruir  o potencial ordenador que a pujança do mercado de massa exerce nas balizas do desenvolvimento, abrem-se as portas para a mexicanização da economia.

A saber: mão de obra barata e pobreza sem fim; abertura comercial desenfreada e desmonte de políticas soberanas de desenvolvimento.

Nem Brics, nem pré-sal, nem integração latino-americana, avisa o ‘chanceler’ do golpe, interventor no Itamaraty, José Serra.

Maquiladoras, Alca, desigualdade, gangues, anomia. Revogada a estaca estruturante da centralidade nos direitos da população, tudo o mais escorre com a água do banho.

Políticas sociais, previdência universal, valorização do salário mínimo, SUS etc

Não há tempo para ingenuidade.

A velocidade espantosa com que as coisas se dão exige respostas de uma prontidão engajada e corajosa.

Lênin classificava esse tipo de ofensiva como ‘formas científicas de extrair o suor ’.

Assim como a reengenharia dos anos 80, o assalto ao suor do povo brasileiro é vendido à opinião púbica como um poderoso impulso ao crescimento e à criação de vagas.

Na verdade,  a gigantesca engrenagem supranacional do capital cuida de tomar de volta tudo aquilo que transgrediu os limites da democracia política formal, em direção a uma verdadeira democracia econômica e social, desde 2003.

Preconiza-se em seu lugar um paradigma de eficiência feito de desigualdade ascendente, que condiciona o futuro da sociedade e  a abrangência do seu desenvolvimento.

A tensão parece ter chegado ao seu nível máximo.

As ruas e o golpe são a expressão de contradições que já vazaram dos limites da institucionalidade disponível.

Lutar pelo mandato da Presidenta Dilma hoje é reconstruir a agenda do desenvolvimento e da democracia nas ruas. E isso pode ser liderado por Lula --com ou sem direitos políticos.

O resto é arrocho e opressão.

Após estupros coletivos, ONU pede 'tolerância zero' a violência contra mulheres no Brasil



Opera Mundi, São Paulo

Em nota, ONU Mulheres se solidariza com adolescentes vítimas e solicita que questão de gênero seja incorporada na investigação, processo e julgamento dos casos

A ONU Mulheres no Brasil pediu nesta quinta-feira (26/05) "tolerância zero" a todas as formas de violência contra as mulheres após os recentes casos de estupro coletivo no país.

Em comunicado, a entidade se solidariza com as duas adolescentes que, recentemente, foram vítimas de estupro coletivo no Brasil. No Rio de Janeiro, uma jovem de 16 anos foi estuprada por mais de 30 homens, enquanto outra, de 17, foi violentada por cinco no município de Bom Jesus, no Piauí.

A entidade solicita também que a questão de gênero seja incorporada na investigação, processo e julgamento dos casos para evitar a “revitimização” e a culpabilização das jovens.

Leia a nota na íntegra:

Nota pública da ONU Mulheres Brasil sobre estupros coletivos

A ONU Mulheres Brasil se solidariza com as duas adolescentes vítimas de estupro coletivo: uma, no Rio de Janeiro, violada por mais de 30 homens, e outra, em Bom Jesus (PI), vitimada por cinco homens. Além de serem mulheres jovens, tais casos bárbaros se assemelham pelo fato de as duas adolescentes teriam sido atraídas pelos algozes em tramas premeditadas e terem sido violentamente atacadas num contexto de uso de drogas ilícitas.

Nesse sentido, a ONU Mulheres solicita, aos poderes públicos dos estados do Rio de Janeiro e do Piauí, que seja incorporada a perspectiva de gênero na investigação, processo e julgamento de tais casos, para acesso à justiça e reparação às vítimas, evitando a sua revitimização. Alerta, ainda, que uma das formas com que a revitimização acontece é pela exposição social da vítima e dos crimes, incluindo imagens e vídeos em redes sociais e demais meios de comunicação, em ações de violação do respeito e da dignidade das vítimas, entre eles a falta de privacidade, a culpabilização e os julgamentos morais baseados em preconceitos e discriminações sexistas.

Como crime hediondo, o estupro e suas consequências não podem ser tolerados nem justificados sob pena do comprometimento da saúde física, mental e emocional das mulheres, as quais devem dispor de todas as condições para evitar a extensão do sofrimento das violências perpetradas. Deste modo, urge a plena aplicação da Lei 12.845/2013 de atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual, com profilaxia de gravidez e antirretrovirais, em consonância com normativas internacionais a exemplo da Declaração sobre a Eliminação das Nações Unidas sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

Por fim, a ONU Mulheres reforça a necessidade de garantia e fortalecimento da rede de atendimento a mulheres em situação de violência e de órgãos de políticas para as mulheres e profissionais especializadas e especializados em gênero em todas as esferas governamentais, para o pleno acolhimento às vítimas, primando pelo cumprimento de protocolos, pela celeridade e pela humanização nos procedimentos de saúde, assistência psicossocial e justiça em todas as etapas do atendimento às vítimas e seus familiares, assim como a rigorosa punição dos agressores. À sociedade brasileira, a ONU Mulheres pede a tolerância zero a todas as formas de violência contra as mulheres e a sua banalização.

Nadine Gasman
Representante da ONU Mulheres Brasil

Foto: Midia Ninja

Em julgamento histórico, Argentina condena oficiais envolvidos na Operação Condor



Opera Mundi, São Paulo

Tribunal de Buenos Aires condenou o último presidente do regime ditadorial do país, Reynaldo Bignone, a 20 anos de prisão por crimes de lesa-humanidade

A Justiça argentina declarou culpados, nesta sexta-feira (27/05), 15 oficiais por participação na Operação Condor, cooperação entre regimes autoritários da América do Sul entre as décadas de 1970 e 1980 para combate à “subversão” nos países. 

O tribunal de Buenos Aires condenou o último presidente do período ditatorial do país, Reynaldo Bignone (1982-1983), a 20 anos de prisão por crimes de lesa-humanidade. O ex-mandatário de 88 anos atualmente cumpre pena em uma penitenciária por diveros delitos.

Além dele, outros 16 militares - 15 argentinos e um uruguaio, o coronel Manuel Juan Cordero  - foram julgados por sequestro, tortura e desaparecimento forçados. Catorze foram condenados e receberam penas que variam entre oito e 25 anos de prisão, incluindo Cordero, pela privação ilegítima de liberdade do filho e da nora do poeta uruguaio Juan Gelman. Dois militares foram absolvidos. 

Cerca de 220 testemunhas foram ouvidas durante os três anos de audiências, das quais 133 participaram a partir do exterior, por meio de videoconferências.

Do total de 105 vítimas da Operação Condor que integram esse processo, iniciado há 17 anos, há 45 uruguaios, 22 chilenos, 15 paraguaios, 13 bolivianos e 10 argentinos. 

A Operação Condor foi uma rede de repressão política e troca de prisioneiros formada pelos serviços de inteligência das ditaduras do Cone Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai), que perdurou entre as décadas de 1970 e 1980.

Em entrevista à Agência Brasil, a advogada do Cels (Centro de Estudos Legais e Sociais) da Argentina, Luz Palmas Zaldua, afirmou que  “o julgamento é histórico” por causa de seu alcance regional. “É a primeira vez que julgamos um sistema criminal, armado para fazer desaparecer pessoas, em vários países”, afirmou. 

Foto: Agência EFE

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