sábado, 28 de maio de 2016

Angola. Diplomatas consideram que África continua refém dos interesses externos



As “ingerências externas” fizeram novamente parte do discurso governamental. Oposição fala de “elites que se perpetuam no poder”

A diplomacia nacional considerou que África continua refém dos critérios e prioridades de intervenção dos parceiros externos, dificuldades que influenciam de forma negativa o seu crescimento sustentável.

A situação foi descrita pelo secretário de Estado do Ministério das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, no seu discurso de abertura de uma conferência para assinalar, na quarta-feira, o Dia de África, que trouxe à capital o ex-primeiro ministro de Cabo Verde, José Maria Neves.

O governante angolano lamentou ainda que os actuais recursos da União Africana sejam extremamente limitados, sendo as fontes externas a alternativa para a execução dos vários programas e projectos iniciados pelos órgãos da organização.

“Esta situação torna a nossa organização continental vulnerável às manobras externas e levanta a questão da preservação das independências e soberanias africanas”, disse Manuel Augusto.

Acrescentou que enquanto permanecer esta situação “haverá o risco potencial do surgimento de conflitos incitados a partir do exterior”.

“É imperativo que África identifique fontes inovadoras de financiamento para impulsionar o seu processo de integração económica e política”, referiu o secretário de Estado angolano.

Manuel Augusto enumerou grandes problemas que o continente africano ainda enfrenta, relativamente ao crescimento demográfico, globalização, escassez de recursos financeiros, ineficiência das economias, falta de contribuição dos Estados-membros, resolução, gestão e prevenção de conflitos, ingerência externa, terrorismo, entre outros.

“É imperativo que construamos um continente unido e forte, onde os povos partilhem uma identidade africana comum, evitando deste modo que ingerências externas nos levem à fragmentação e separação”, frisou.

O secretário de Estado reafirmou que a diplomacia angolana vai continuar a criar condições para enfrentar os grandes desafios internacionais e a aprofundar as relações político-diplomáticas, de cooperação económica, científica, técnica com os parceiros internacionais em geral.

A conferência em torno de uma análise da “África do Século XXI” teve como oradores, além de José Maria Neves, o jurista Carlos Feijó e o padre e professor universitário Jerónimo Cahianga.

A oposição 

A UNITA lamentou  que África continue com problemas por resolver depois de ultrapassado o colonialismo e conquistada a independência, por falta de vontade política da maior parte das elites dirigentes.

Numa declaração alusiva ao dia de África, o partido critica as elites que se perpetuam no poder durante décadas, tornando-se incapazes de construir sociedades justas, equilibradas e reconciliadas.

Para a UNITA, este quadro afecta profundamente a vida de milhões de africanos que vivem abaixo dos níveis de pobreza, enquanto elites minoritárias de dirigentes do continente continua a enriquecer-se cada vez mais.

“O caso angolano é paradigmático e ilustra bem a situação de muitos países africanos, vítimas da longevidade de poderes autocráticos, violadores dos direitos humanos, que promovem a má governação, a corrupção, o nepotismo, a exclusão, a intolerância, a má gestão e os desvios do erário público e a chamada acumulação primitiva da riqueza”, lê-se no documento.

Também a CASA-CE criticou que, decorridos 53 anos, os valores que inspiraram a criação da União Africana e os principais objectivos preconizados, ainda não tenham sido alcançados na maior parte dos países africanos.

A CASA-CE sublinha que centenas de anos após África ter sido colonizada pela Europa, o continente continua a ser adiado, “sem perspectiva que visa modificar num curto espaço de tempo o quadro sombrio em que estão mergulhados a maioria dos seus países, apesar das enormes potencialidades económicas existentes”.

“O Conselho Presidencial da CASA-CE considera que a África deve aprofundar e concretizar os parâmetros da democracia pluralista, constituindo instituições fortes e credíveis, capazes de impedir a eternização do poder político pelos líderes africanos”, destaca a nota.

Lusa, em Rede Angola – Foto: Manuel Augusto secretário de Estado das Relações Exteriores / Santos Pedro/JAImagens

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