Amnistia
Internacional acusa o governo de usar julgamentos com “motivações políticas” ou
acusações de difamação e leis de segurança nacional para suprimir os direitos
humanos.
O
descontentamento social e os protestos decorrentes do agravamento da crise
económica no país, provocada pela quebra nas receitas do petróleo, foram
silenciados pelo governo e com violação de direitos, acusou a Amnistia
Internacional (AI).
A
informação consta do relatório anual de 2016 daquela organização, divulgado
hoje e que recorda que o agravamento da crise “desencadeou aumentos de preços
para alimentação, saúde, combustível, recreação e cultura”.
“Isto
levou a manifestações contínuas de descontentamento e restrições aos direitos à
liberdade de expressão, associação e reunião pacífica. O governo usou o sistema
de Justiça e outras instituições do Estado para silenciar a dissidência”, lê-se
no relatório da AI.
A
organização acrescenta que o direito à moradia e o direito à saúde também
“foram violados” em 2016, recordando que o Comité de Direitos Económicos,
Sociais e Culturais das Nações Unidas chegou a expressar “preocupação com
medidas de austeridade regressiva” decididas pelo governo.
“Incluindo
a alocação insuficiente de recursos para o setor de saúde”, refere a Amnistia.
Angola
registou em 2016 epidemias de febre-amarela e de malária, com milhares de
pessoas afectadas e alertas para falta de medicamentos e material básico nos
hospitais do país.
O
relatório da AI aponta ainda que prisões arbitrárias, julgamentos com
“motivações políticas” ou acusações de difamação e leis de segurança nacional
“continuaram a ser utilizadas para suprimir defensores dos direitos humanos,
dissidentes e outras vozes críticas” do governo.
Ainda
assim, a Amnistia destaca que a libertação de “prisioneiros de consciência” –
casos em Luanda, com o grupo dos 17 activistas condenados e depois libertados,
e em Cabinda, com o activista Marcos Mavungo – foram “passos positivos”, mas
sublinha que os ganhos “continuam frágeis sem uma reforma legislativa
estrutural” e o “total compromisso” com os padrões internacionais de defesa dos
direitos humanos.
O
caso de Rufino António, de 14 anos, morto a tiro em Viana, arredores de Luanda,
por militares, durante um protesto contra a demolição da casa dos pais, é
também recordado pela organização. Ocorrido em Agosto último, é apontando como
um exemplo da violação do direito à habitação, face aos vários casos de
despejos forçados e ocupação de terras no país.
“Os
suspeitos do homicídio ainda não tinham sido levados à Justiça no final do ano
[2016]”, critica a AI, sobre o caso deste adolescente.
A
aprovação, em Novembro, no parlamento, de um novo pacote legislativo para
regular a comunicação social é ainda visto pela organização como uma ameaça à
liberdade de expressão.
Lusa,
em rede Angola
Sem comentários:
Enviar um comentário