O
Jornal de Angola retoma hoje as críticas a Portugal, afirmando que "custa
ver tanta falta de vergonha", a propósito da divulgação pela comunicação
social do processo na Justiça portuguesa envolvendo o vice-Presidente angolano,
Manuel Vicente.
A
posição é apresentada como "simples nota de rodapé" no espaço semanal
de opinião do diretor do jornal, detido totalmente pelo Estado angolano,
assinado hoje pelo diretor adjunto, Victor Carvalho, intitulado "Palavras
desadequadas" e essencialmente dedicado a críticas ao líder da UNITA,
Isaías Samakuva, o maior partido da oposição.
No
artigo do Jornal de Angola é sublinhada a "justeza da nota de
protesto" que o Ministério das Relações Exteriores angolano emitiu, na
sexta-feira, sobre o "modo como as autoridades portuguesas divulgaram um
suposto caso de Justiça" envolvendo o vice-Presidente da República, Manuel
Vicente.
"A
maneira leviana como as autoridades portuguesas 'permitiram' a fuga de
informação que levou para a imprensa lusa esta 'notícia', é a confirmação
daquilo que aqui já havia sido dito sobre a existência de uma campanha
internacional especialmente orquestrada para denegrir a imagem de Angola e dos
seus principais dirigentes neste ano de eleições", lê-se no artigo.
O
Ministério Público português acusou formalmente, há cerca de uma semana, entre
outros, o vice-Presidente de Angola (e ex-presidente da Sonangol) Manuel
Vicente, no âmbito da "Operação Fizz", relacionada com corrupção e
branqueamento de capitais, quando ainda estava na petrolífera estatal.
Este
artigo do Jornal de Angola acrescenta: "Apesar de estarmos preparados para
isso, a verdade é que nos custa ver tanta falta de vergonha, sobretudo vinda da
parte daqueles que se dizem nossos amigos".
O
jornal estatal angolano tinha já feito manchete, na edição de sábado, com a
ameaça às relações entre os dois países que este caso representa, a propósito
do comunicado emitido no dia anterior pelo Ministério das Relações Exteriores
que classificou como "inamistosa e despropositada" a forma como as
autoridades portuguesas divulgaram a acusação do Ministério Público de Portugal
ao vice-Presidente de Angola.
A
diplomacia angolana, nesse comunicado, protestou veementemente contra as
referidas acusações, "cujo aproveitamento tem sido feito por forças
interessadas em perturbar ou mesmo destruir as relações amistosas existentes
entre os dois Estados".
No
documento do Ministério, refere-se que as autoridades angolanas tomaram conhecimento
"com bastante preocupação, através dos órgãos de comunicação social
portugueses", da acusação do Ministério Público português "por
supostos factos criminais imputados ao senhor engenheiro Manuel Vicente".
Para
o Governo angolano, a forma como foi veiculada a notícia constitui um
"sério ataque à República de Angola, suscetível de perturbar as relações
existentes entre os dois Estados".
"Não
deixa de ser evidente que, sempre que estas relações estabilizam e alcançam
novos patamares, se criem pseudo-factos prejudiciais aos verdadeiros interesses
dos dois países, atingindo a soberania de Angola ou altas entidades do país por
calúnia ou difamação", sublinha a nota.
O
Governo português está desde 2016 a preparar a visita oficial do
primeiro-ministro António Costa a Angola, prevista para a próxima primavera.
Contudo,
já esta semana, a visita da ministra da Justiça portuguesa, Francisca Van
Dunem, a Angola, que deveria ter começado na quarta-feira, foi adiada
"sine die", no dia anterior, "a pedido das autoridades
angolanas, aguardando-se o seu reagendamento", anunciou em comunicado o
Ministério da Justiça português.
Lusa, em Notícias ao Minuto
*Artigo do Jornal de Angola incluso no PG sob o título PALAVRAS
DESADEQUADAS
Sem comentários:
Enviar um comentário