A
irracionalidade de uns quantos mostra a que ponto o futebol dos milhões faz
sobressair a animalidade de pacatos cidadãos em condições normais. Porque os
árbitros erram (errare humanu est) nas decisões ou porque no ângulo de visão
dos que assistem vêem faltas sem que considerem o ângulo de visão dos árbitros.
Para complicar, as televisões apresentam registos em outros ângulos diferentes
dos árbitros e mostram que realmente era penalti (por exemplo), só que na posição
do árbitro essa falta não é visível e não é marcada. Tomada de consideração
pela posição do árbitro e dos jogadores, associada ao ângulo de visão do juiz
de campo, somada a tolerância, é o que falta nos que assistem aos encontros de
futebol – que é aquilo que estamos a abordar de nossa lavra e em abertura ao
artigo que se segue, ilustrativo da irracionalidade que demonstra que também
homens e mulheres são animais irracionais quando as situações assim se proporcionam.
Ainda
mais irracional é fora de campo, depois das iras de momento passarem, ameaçarem
os árbitros de represálias contra eles e/ou familiares. É na verdade um ato
criminoso, desprovido de racionalidade. Próprio de mentes criminosas que
merecem estar enjauladas em vez de se passearem e viverem em comunidade. Pensem
nisso. Pensem também que o desporto só é são quando prevalece a sanidade
mental, dos jogadores e daqueles(as) que assistem e apoiam as suas equipas. Isto
vale em qualquer modalidade desportiva como em tudo na vida. Sermos pessoas,
humanos e racionais, civilizados, é o que nos diferencia dos animais. (MM / PG)
Queixas
por ameaças e agressões a árbitros duplicaram em relação à época anterior
Luciano
Gonçalves, presidente da APAF, revela que já foram feitas 52 participações.
Jorge Ferreira é a vítima mais recente
A
Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) já apresentou esta época 52
participações por delitos cometidos contra equipas de arbitragem, um número
que, segundo Luciano Gonçalves, presidente daquele organismo, "mais do que
duplica as registadas no período homólogo da época passada". Aliás, em
toda a temporada 2015/16 "foram feitas entre 26 e 28 participações ao
Ministério Público, à PSP e à GNR".
Ao
DN, o dirigente dos árbitros revelou que "esse número abrange desde os
escalões distritais até aos campeonatos profissionais" e dizem respeito a
"agressões, carros de árbitros danificados e ameaças".
Neste
número avançado por Luciano Gonçalves já se incluem as situações mais
mediáticas resgistadas neste ano, como a invasão ao centro de treinos dos
árbitros na Maia, no início de janeiro, e os atos de vandalismo na madrugada de
ontem, em que elementos alegadamente afetos à claque SuperDragões fizeram
inscrições no estabelecimento comercial do pai de Jorge Ferreira, em Fafe.
Refira-se que este foi o árbitro que na terça-feira dirigiu o Estoril-Benfica
para a Taça de Portugal, que terminou com um golo obtido em fora de jogo por
Mitroglou, que ditou o triunfo dos encarnados.
Jorge
Ferreira garantiu ontem ao DN que este caso "está entregue aos advogados
que, em sintonia com a APAF e o Conselho de Arbitragem, vão agir em
conformidade". Luciano Gonçalves confirmou este facto, acrescentando que
"será entregue uma participação ao Ministério Público".
O
árbitro Jorge Ferreira não quis alongar-se sobre o caso envolvendo o seu pai,
remetendo para as declarações que havia prestado à Fafe TV, quando admitiu
estar de "consciência tranquila", mas revelando alguns receios:
"Temo um bocadinho pela minha família, pelo meu pai, pelo meu filho, por
todos." O árbitro da Associação de Futebol de Braga lamentou ainda que se
tenham "atingido determinadas situações que não se coadunam com a
realidade", mostrando-se convencido de que os atos de vandalismo têm a ver
com a sua arbitragem no jogo da Amoreira. "Nem me passa pela cabeça outra
coisa. É triste. É lamentável que as pessoas sejam cobardes, seja de que clube
for. Não estou a colocar em causa seja que clube for. Está lá escrito. Neste
momento sinto-me triste. Uma pessoa não pode continuar a vida, o
trabalho", sublinhou.
"Saberemos
dizer basta"
Luciano
Gonçalves afirmou ao DN que a situação que envolveu a família de Jorge Ferreira
"é mais uma que envergonha o futebol português". E deixou uma
certeza: "Todos temos de pensar bem aquilo que podemos fazer para alterar
este estado de coisas."
O
presidente da APAF deixou a garantia que, apesar dos casos que têm sucedido
ultimamente, "os árbitros estão tranquilos e descansados". Mas deixou
um aviso: "A arbitragem tem tido calma durante todo este processo mas
saberemos quando o momento de dizer basta." Ainda assim, o dirigente
escusou-se a especificar qual será o limite a que estará sujeita a paciência
dos árbitros de primeira categoria. "Queremos mais calma e tranquilidade no
futebol, mas se isso não acontecer é preciso fazer alguma coisa",
acrescentou ao DN.
Questionado
sobre as declarações de Luís Filipe Vieira que, em entrevista à CMTV, revelou
ter-se reunido com o Conselho de Arbitragem para falar sobre os "indícios
públicos de condicionamento e intimidação" aos juízes, Luciano Gonçalves
recusou-se a dizer se esta é uma situação que se enquadra nesse cenário:
"Não faço quaisquer comentários sobre o que disse o presidente do Benfica,
senão amanhã teria de comentar aquilo que dizem outros clubes."
Em
comunicado, a APAF repudiou ao início da tarde de ontem os incidentes que
envolveram Jorge Ferreira, responsabilizando os "agentes desportivos e
alguns comentadores que intervêm em representação dos clubes e cujo principal
objetivo é criar pressão, justificar resultados e levantar suspeições".
Aquele organismo defende que as pessoas em causa "não têm noção do grave
problema que estão a criar ao futebol português, criando desta forma uma onda
de violência moral e física, sem fim à vista".
Carlos
Nogueira – Diário de Notícias
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