Manuel
Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião
Com
impulsos vindos de abril surge-nos, neste início de maio, um significativo
conjunto de mensagens e ações que nos trazem alguma esperança. É certo que
também se observa casos de persistência na manutenção de medidas de exceção
adotadas em nome da crise, e que a perspetiva de futuro da Direita encalhou nos
anos negros de 2011 a 2014.
O
movimento sindical, muito em particular a CGTP-IN e os seus sindicatos, têm
desenvolvido um trabalho de formulação de propostas e de ação reivindicativa
com resultados importantes: no Acordo Coletivo de Trabalho entre a Associação
Portuguesa dos Industriais de Calçado e a Federação dos Sindicatos dos
Trabalhadores Têxteis, Vestuário de Calçado; nos call center; no setor da
vigilância; na ANA Aeroporto; na Transtejo/Soflusa; nos Correios; na hotelaria,
nas grandes superfícies e em outros setores e empresas do privado, mas também
na Administração Pública, inclusive nos setores da educação e da saúde.
Não
estamos perante um cenário reivindicativo generalizado e muito menos perante
uma conflitualidade que justifique a politicamente patética afirmação de
Assunção Cristas, feita para "comemorar" o 1.º de Maio, quando clamou
contra a "diabolização dos empresários". Mas vai emergindo uma
postura de não acomodação por parte dos trabalhadores que é muito saudável.
Nos
discursos sindicais do 1.º de Maio, estiveram presentes temas prementes para os
trabalhadores e para uma estratégia de desenvolvimento do país: a luta pelo
emprego e contra a precariedade; a exigência de melhor distribuição da riqueza,
combate às desigualdades e valorização dos salários; a necessidade de
efetivação da negociação coletiva. Reclamou-se do Governo, com objetividade,
uma calendarização de compromissos com vista ao cumprimento das promessas por
ele feitas e das justas expectativas criadas.
O primeiro-ministro, António Costa, publicou no DN, no dia 1.º de Maio, um oportuno artigo com referências a objetivos a cumprir nas políticas de emprego, de combate à precariedade e de reforço da negociação coletiva, que se espera estejam bem presentes nas práticas governativas. Também nas últimas semanas têm sido produzidos por analistas económicos (p.e. Sarsfield Cabral, na Rádio Renascença, a 29 de abril) comentários que, partindo de dados de relatórios recentes de diversas instituições, alertam para os discursos enviesados que têm predominado na abordagem dos efeitos da globalização, das tecnologias, da organização produtiva ou das desigualdades.
O primeiro-ministro, António Costa, publicou no DN, no dia 1.º de Maio, um oportuno artigo com referências a objetivos a cumprir nas políticas de emprego, de combate à precariedade e de reforço da negociação coletiva, que se espera estejam bem presentes nas práticas governativas. Também nas últimas semanas têm sido produzidos por analistas económicos (p.e. Sarsfield Cabral, na Rádio Renascença, a 29 de abril) comentários que, partindo de dados de relatórios recentes de diversas instituições, alertam para os discursos enviesados que têm predominado na abordagem dos efeitos da globalização, das tecnologias, da organização produtiva ou das desigualdades.
Observemos
entretanto as mensagens da Direita. Passos Coelho, perante alguns objetivos que
o Governo e forças de Esquerda têm enunciado e que poderão ser executados pelo
Banco de Portugal (BdP), grita aqui-d"el-rei que o Governo está a assaltar
a casa-forte. Ora, o único acionista do BdP é o Estado, são os portugueses que
produzem riqueza e pagam impostos. Por outro lado, o BdP está obrigado a um
conjunto de procedimentos, designadamente, na aquisição de títulos da dívida
pública portuguesa, em contrapartida dos quais recebe juros do Estado
português.
Embora
o BdP, como banco central, não possa ser comparado a um banco normal (público
ou privado), é contudo interessante registar que Passos Coelho defende o
"direito inalienável" de uma assembleia-geral de um banco poder fixar
os dividendos a distribuir aos seus acionistas, mas quando o único acionista do
BdP coloca a possibilidade de receber dividendos pelos juros que ele (Estado)
pagou a esse mesmo banco para diminuir sacrifícios dos portugueses, acha isso
um assalto. Acresce que, como o dinheiro nunca fica parado, Passos prefere que
ele entre no mercado ao serviço de uma qualquer especulação, a que sirva os
interesses do país.
Assunção
Cristas, por seu lado, chamou "cunha dos sindicatos" à possibilidade
de estes participarem em negociações para travar a precariedade. Para ela,
quando patrões e algum sindicato assinam acordos que prejudicam os
trabalhadores, isso é diálogo social e é natural; quando sindicatos participam
em comissões para definir processos de integração de precários na Administração
Pública, isso são cunhas e é anormal.
A
Direita encontra-se muito para lá da verdade, mas há dinâmicas positivas na sociedade
portuguesa.
*
Investigador e professor universitário
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