Negar
as “aparições” não é novidade, por parte de ateus e de agnósticos como eu.
Novidade, isso sim, é ouvir vozes da própria Igreja negá-las
Alfredo
Barroso | jornal i | opinião
A
liberdade e a democracia em que vivemos há mais de 40 anos permitem que eu
afirme, sem cometer qualquer sacrilégio, que o “Milagre de Fátima” nunca
existiu. É produto do analfabetismo, ignorância e crendice de três crianças
aterrorizadas pela imagem de um Deus cruel, vingativo e castigador, tal como
lhes era apresentado pela pregação constante do terrível conteúdo do livro
“Missão Abreviada”, do padre Couto, publicado em 1859, destinado
“particularmente (ao) povo de aldeia” para “despertar os descuidados, converter
os pecadores e sustentar o fruto das missões”.
A
própria Igreja começou por não dar crédito à narrativa das “aparições”,
sobretudo à conversa de Lúcia – os seus primos Francisco e Jacinta nunca
abriram a boca – com uma Nossa Senhora “sem cabelo e sem orelhas” à vista, que
falava português fluentemente e que Lúcia ganhou o hábito de interpelar com um
“Vossemecê que me quer?” quando ela lhe “aparecia”. E a verdade é que a Igreja
só reconheceu oficialmente a primeira “aparição” – houve imensas, como se sabe
– 13 anos depois, em 1930, na onda do golpe militar do 28 de Maio (de 1926) e
já com Salazar no poder, a preparar a institucionalização do regime ditatorial
do Estado Novo. O “milagre de Fátima” tornou-se uma arma de arremesso contra a
República, a liberdade e a democracia, contra o ateísmo e o comunismo, numa
clássica aliança entre “a espada e o hissope” sob a égide do ditador Salazar.
Negar
as “aparições” não é novidade, por parte de ateus e de agnósticos como eu.
Novidade, isso sim, é ouvir vozes da própria Igreja negá-las. Como é o caso do
professor universitário Anselmo Borges, padre da Sociedade Missionária
Portuguesa, ao afirmar, em entrevista ao “Expresso”: “É evidente que Nossa
Senhora não apareceu em Fátima. Uma aparição é algo objectivo.” Acrescentando,
mais adiante: “É necessário evangelizar Fátima, ou seja, trazer uma notícia
boa. Porque, mesmo para aquelas crianças, aquela não foi uma notícia boa: que
mãe mostraria o inferno a uma criança?” Fê-lo a mãe de Lúcia! Mostrou-o aos
filhos, influenciada pela descrição feita no livro “Missão Abreviada”. Assim:
“O Inferno é uma cova de bichos e uma fogueira muito grande e quem faz pecados
e não se confessa vai para lá e fica sempre a arder, sem nunca de lá sair.”
Isto ainda antes das “aparições”!
Mais
significativas, todavia, por se tratar do bispo-delegado do Conselho Pontifício
para a Cultura do Vaticano, são as recentes declarações de D. Carlos Azevedo
feitas aos jornais “Expresso” e “Público”. Diz ele que “Nossa Senhora não
aprendeu português para falar com Lúcia” e que “a presença de Maria não vem do
céu por aí abaixo”. Quanto aos três pastorinhos, diz que “as crianças tiveram
um carisma profético” (seja lá isso o que for) e que não houve “aparições”, mas
sim “visões”: “Esse é o termo exacto. As visões, de vários tipos, são fenómenos
místicos, espirituais, não físicos.” E explica que “precisamos de usar a
linguagem exacta para não cair no ridículo”. Pobre irmã Lúcia!
Poderia
pensar-se que estas declarações seriam arrasadoras para as absurdas, delirantes
e ridículas “Memórias da Irmã Lúcia”, que esta pobre mulher (sequestrada pela
Igreja desde a infância, depois de os primos terem morrido) terá redigido por
imposição do bispo de Leiria, a quem ela se dirige nos seguintes termos:
“Obedeço (…) à vontade de Vossa Excelência Reverendíssima, que, para mim, é a
expressão da vontade de nosso bom Deus.” Mas não, o bispo-delegado para a
Cultura, D. Carlos Azevedo, não vai nisso. Seria estultícia da sua parte
derrubar o grande pilar em que assenta o embuste de Fátima. E até diz isto: “A
própria Lúcia, ao longo das suas memórias, vai interpretando, ganhando cultura
espiritual e teológica que não tinha aos dez anos.” O bispo-delegado também
delira!
D.
Carlos Azevedo considera mesmo “espantoso como crianças daquela idade, num
lugar sem cultura teológica, recebem uma mensagem com uma densidade tão forte e
implicações tão grandes na história da humanidade”. Aqui, o bispo-delegado
parece imbuído do espírito infernal da já referida “Missão Abreviada”. Não o
escandaliza nem espanta – ao contrário do que sucedeu ao padre Mário de
Oliveira – que “aquela Senhora que as crianças dizem ver e ouvir, nos dias 13
dos meses de Maio a Outubro de 1917, apesar de se dizer vinda do céu, isto é,
de Deus, não tenha aparecido para as libertar do medo e convidá-las à alegria
de viver. Pelo contrário, começa por lhes anunciar, às duas mais novinhas e
também mais aterrorizadas, que brevemente as vai levar para o céu, maneira
eufemística de dizer que elas vão morrer antes do tempo”. Para serem
“santificadas” cem anos depois. Perante o Papa Francisco, o Presidente Marcelo e
a oportuna “tolerância de ponto” de António Costa…
*Escreve
à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990
2 comentários:
Mas é claro que o Milagre de Fátima tem de ser negado. Afinal ele é dos "três F" (Futebol, Fado e Fátima), tão lamentados pelos comunistas. Resta continuar a negar, e a negar por tempo indefinido. Mais fácil acreditar que o marxismo é uma "ideologia inofensiva", que nenhum problema criou.
PAI, EU TE BENDICO POR ESCONDERES ESTAS COISAS AOS SE JULGAM SÁBIOS E AS REVELASTE AOS VERDADEIRAMENTE SIMPLES. OBRIGADO PAI. AMEN!
Enviar um comentário