domingo, 31 de dezembro de 2017

Angola: Lundas prometem manifestação contra precárias condições de saúde

População diz que os dois hospitais da região estão sem condições de atendimento. Desde setembro, dezenas de crianças já morreram. O Governo classifica o caso como epidemia de malária, mas organizações locais discordam.

Os moradores da região das Lundas, no leste de Angola, estão assustados com a quantidade de crianças que têm morrido desde setembro. O Governo angolano classifica a situação como epidemia de malária, facto que as autoridades e organizações locais discordam devido aos sintomas.

De acordo com os líderes locais, pelo menos oito crianças estão a morrer por dia apenas na localidade de Cafunfo, no município de Cuango, na província da Lunda Norte. A localidade conta com cerca de 70 mil habitantes.

Os moradores decidiram realizar uma manifestação na véspera do Natal (24.12) para protestar contra a precária situação que têm enfrentado nos últimos tempos: os dois hospitais da região estão sem condições de atendimento devido à falta de higiéne e carência de medicamentos.

Até os três cemitérios da cidade estão cheios de pequenas valas prontas a receber um elevado número de vítimas diariamente, principalmente crianças. Para Enoque Jeremias, diretor da Associaçao para Promoção de Desenvolvimento Social, o número de menores com idades de 0 a 14 anos que não resistiu aos sintomas de febre alta impressiona até quem trabalha há anos na região.

"Houve um tempo em que estavam a morrer entre oito e 15 crianças por dia, assim, invariavelmente. Um dia morria cinco, em outro dia oito ou 15, sucessivamente. Essa situação se repetia, no dia-a-dia até que ficou difícil calcular quantas mortes, ninguém consegue definir o número exato de crianças que já morreram", detalha Enoque Jeremias.

Governo face à situação

População e grupos de apoio social mostram-se impotentes face ao fenómeno. A ministra da Saúde de Angola, Sílvia Lutucuta, esteve no local recentemente para a entrega de 17 ambulâncias à Administração do Cuango, facto que, para os moradores, não ajudou muito devido a condição precária das estradas.

"As ambulâncias estão aqui, mas não sabemos o que fazer, porque os carros não podem ir a longas distâncias, as estradas não suportam", sublinha Jeremias.

No periodo de uma semana de investigação, as autoridades de saúde angolanas reconheceram oito mortes na localidade que é tida como endémica em períodos como este. Para Enoque Jeremias, a situação melhorou um pouco no início do corrente mês de  dezembro, mas ainda parece longe uma resposta adequada para as crianças que ainda necessitam de tratamento.

O Governo atribui parte da gravidade da situação à forma como as famílias lidam com crenças religiosas para a cura da doença, uma posição que, segundo o  deputado da UNITA, Joaquim Nafoia, não faz grande sentido.

"Este surto foi provocado por neglicência, porque está a chover, a população está a consumir água imprópria, já que não existe aqui nesta região sistema de água canalizada. A população consome água dos três rios que aqui passam e são circundados pelas usinas, há muito lixo acumulado por todos os cantos, incluindo nos rios", pontua o deputado.

 "E a gente pode ver que há aterros sanitários nas nascentes destes rios. O lixo escorre para baixo do solo e a população vai acarretar lá a água para o consumo", descreve Nafoia, quem completa que o Hospital Regional de Cafunfo (o principal da região) não tem corrente elétrica, nem água potável e as casas de banho estão entupidas.

Situação degradante de todas as formas

O resultado  da investigação epidemiológica, promovida a este propósito, refere tratar-se de malária associada a anemia severa, por falta de saneamento do meio e constantes chuvas.

O  inquérito  sustenta  que situações de género aconteceram em períodos homólogos dos anos anteriores. Cuango e Cafunfo são importantes zonas angolanas de exploração mineira. Por isso, entre as vítimas, para além de crianças  angolanas, também estrangeiras, filhas de refugiados e imigrantes da República Democrática do Congo.

Richard Furst | Deutsche Welle

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