População diz que os dois
hospitais da região estão sem condições de atendimento. Desde setembro, dezenas
de crianças já morreram. O Governo classifica o caso como epidemia de malária,
mas organizações locais discordam.
Os moradores da região das
Lundas, no leste de Angola, estão assustados com a quantidade de crianças que
têm morrido desde setembro. O Governo angolano classifica a situação como
epidemia de malária, facto que as autoridades e organizações locais discordam
devido aos sintomas.
De acordo com os líderes locais,
pelo menos oito crianças estão a morrer por dia apenas na localidade de
Cafunfo, no município de Cuango, na província da Lunda Norte. A localidade
conta com cerca de 70 mil habitantes.
Os moradores decidiram realizar
uma manifestação na véspera do Natal (24.12) para protestar contra a precária
situação que têm enfrentado nos últimos tempos: os dois hospitais da região
estão sem condições de atendimento devido à falta de higiéne e carência de
medicamentos.
Até os três cemitérios da cidade
estão cheios de pequenas valas prontas a receber um elevado número de vítimas
diariamente, principalmente crianças. Para Enoque Jeremias, diretor da
Associaçao para Promoção de Desenvolvimento Social, o número de menores com
idades de 0 a 14 anos que não resistiu aos sintomas de febre alta impressiona
até quem trabalha há anos na região.
"Houve um tempo em que
estavam a morrer entre oito e 15 crianças por dia, assim, invariavelmente. Um
dia morria cinco, em outro dia oito ou 15, sucessivamente. Essa situação se
repetia, no dia-a-dia até que ficou difícil calcular quantas mortes, ninguém consegue
definir o número exato de crianças que já morreram", detalha Enoque
Jeremias.
Governo face à situação
População e grupos de apoio
social mostram-se impotentes face ao fenómeno. A ministra da Saúde de Angola,
Sílvia Lutucuta, esteve no local recentemente para a entrega de 17 ambulâncias
à Administração do Cuango, facto que, para os moradores, não ajudou muito
devido a condição precária das estradas.
"As ambulâncias estão aqui,
mas não sabemos o que fazer, porque os carros não podem ir a longas distâncias,
as estradas não suportam", sublinha Jeremias.
No periodo de uma semana de
investigação, as autoridades de saúde angolanas reconheceram oito mortes na
localidade que é tida como endémica em períodos como este. Para Enoque
Jeremias, a situação melhorou um pouco no início do corrente mês de
dezembro, mas ainda parece longe uma resposta adequada para as crianças que
ainda necessitam de tratamento.
O Governo atribui parte da
gravidade da situação à forma como as famílias lidam com crenças religiosas
para a cura da doença, uma posição que, segundo o deputado da UNITA,
Joaquim Nafoia, não faz grande sentido.
"Este surto foi provocado por
neglicência, porque está a chover, a população está a consumir água imprópria,
já que não existe aqui nesta região sistema de água canalizada. A população
consome água dos três rios que aqui passam e são circundados pelas usinas,
há muito lixo acumulado por todos os cantos, incluindo nos rios", pontua o
deputado.
"E a gente pode ver
que há aterros sanitários nas nascentes destes rios. O lixo escorre para
baixo do solo e a população vai acarretar lá a água para o consumo",
descreve Nafoia, quem completa que o Hospital Regional de Cafunfo (o principal
da região) não tem corrente elétrica, nem água potável e as casas de banho
estão entupidas.
Situação degradante de todas as
formas
O resultado da investigação
epidemiológica, promovida a este propósito, refere tratar-se de malária
associada a anemia severa, por falta de saneamento do meio e constantes chuvas.
O inquérito
sustenta que situações de género aconteceram em períodos homólogos dos
anos anteriores. Cuango e Cafunfo são importantes zonas angolanas de exploração
mineira. Por isso, entre as vítimas, para além de crianças
angolanas, também
estrangeiras, filhas de refugiados e imigrantes da República Democrática do
Congo.
Richard Furst | Deutsche Welle
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