Martinho Júnior | Luanda |
Alguns
de “nova geração” julgam que antes de 1985 não havia esforços de luta
pela ética, pelo rigor, nem havia todavia combate à corrupção, esquecendo-se
que para se construir socialismo o grau de exigência é maior, por que tem de
haver coerência histórica e dialética face aos desafios que são encarados de
outra maneira, mas tornam-se bem identificáveis e claros, por que implicaram
deveres e práticas revolucionárias clarividentes, lúcidas e constantes!...
Em
socialismo tem de haver coerência em relação à construção da própria sociedade,
quando das palavras obrigatoriamente se tinha de passar aos actos e
quando “de peito feito”, por via da situação continuada da luta contra
o “apartheid”, se exclamava alto e bom som que “o mais importante é
resolver os problemas do povo”, “Angola é trincheira firme da revolução em
África” e “na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul está a
continuação da nossa luta”!...
Aqueles
que alimentaram substantivamente essa trilha foram muitos deles
politicamente "trucidados" e assim desapareceu o Partido do
Trabalho, alterou-se profundamente para pior o carácter da Segurança do Estado
e, em Bicesse, finalmente pôs-se fim às gloriosas FAPLA, provavelmente por que
o Comandante-em-Chefe de então não fez parte do grupo de Comandantes que
assinaram, no seguimento da Conferência de Lusaka, a sua proclamação!...
Foi
não só Savimbi que ganhou imenso espaço nas disputas que então surgiram sobre
as áreas diamantíferas, a ponto de poder levar a cabo a "somalização" de
Angola durante dez sangrentos anos, a ponto de fazer surgir um
contraditório “contra-natura”, entre os que se barricavam para fazer a
inesperada guerra nos rendimentos do petróleo, contra ele que se barricava nos
rendimentos dos diamantes, mas ganhou espaço também o clube dos umbigos grandes
de outros, auto apelidando-se como os 100 (novos) "ricos", por
que perdendo-se os aliados históricos do movimento de libertação em África (à
excepção de Cuba), após Bicesse se escancararam as portas de Angola ao
capitalismo neoliberal que estimulou a barbárie nas relações humanas,
culminando com a terapia que está identificável e visível país fora,
tornando a especulação e a corrupção num cancro dilacerante, bárbaro e
continuado que parece não ter fim!...
A
desvalorização, ou mesmo o pendente colapso da moeda angolana, está intimamente
associado a isso, quando se retira o Kwanza da produção nacional, do trabalho,
dos circuitos económicos mais florescentes, da indexação dele ao padrão ouro,
para colocá-lo nos espaços dum simples papel-moeda inscrito na sua própria especulação,
nos nocivos tráficos de variada natureza (de moeda, de diamantes, de droga…),
na posse de quem alimenta compadrio, corrupção, ingerência e manipulação, como
mercenários agentes de interesses externos a Angola e como sempre ávidos de
rapina!...
Sempre
considerei que pessoas com essa apetência são a outra face da mesmíssima moeda
que motivava os “revolucionários da ocasião”, cujo espectro de mobilização
se estendia a franjas de algumas sensibilidades sócio-políticas correntes!
…De
facto o primeiro acto de corrupção tem que ver com o fim das potencialidades
socialistas, para que nascesse um capitalismo cujo única e irremediável
desembocadura é a “crise que estamos com ela”, ela própria espelho dos
parâmetros da crise global contemporânea!
Que
é feito dos "trucidados" de então?...
Por
que mesmo dando “oficial e eleitoralmente” inicio à luta contra a
corrupção, até agora se tem sido incapaz de reconhecer os que, sendo parte
integrante da história do MPLA, estando alguns deles vivos, foram "trucidados" apenas
por que procuraram ser patriotas dignos, íntegros, incorruptíveis e fieis?...
Acaso
se acha que este assunto deva continuar a ser tabu, não deva ser levantado, a
fim de não quebrar unidade e coesão?...
Acaso
se acha que o aparente silêncio de muitos desses vivos que atravessaram
desertos de mais de 30 anos, não teve em conta a necessidade de se cultivar
paz, identidade nacional, unidade e coesão?
Se
assim for que paz, unidade e coesão se pretende e até onde irá de facto a luta
contra a corrupção?
Ficar-se-á
a solução pela folhagem, passará para o tronco, alcançará as raízes
equacionadas dos problemas?
Apesar
das muitas perguntas intensas que se têm de fazer, próprias das consciências
incomodadas com os processos antropológicos e históricos contemporâneos numa
África subdesenvolvida e ultraperiférica em relação ao sistema económico
globalizado, não há que conceder mais espaço aos acomodados da terapia
neoliberal, aos processos de assimilação por eles cultivados em benefício de
ingerências e manipulações vindas de fora!...
Que
tudo isso se faça de acordo com a pedagogia que patriota algum pode subverter: “de
Cabinda ao Cunene e do mar ao leste, um só povo, uma só nação”!
Martinho Júnior - Luanda, 15 de Dezembro de 2017
Martinho Júnior - Luanda, 15 de Dezembro de 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário