quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

QUO VADIS ANGOLA?!...



Martinho Júnior | Luanda
  
Tenho-me batido por um renascimento africano que exige a redescoberta, por parte dos africanos, de si próprios e do universo que lhes é próximo, valorizando seu espaço vital, por que para um renascimento, necessário se torna fazer as abordagens antropológicas!...

Tenho vindo a propor uma GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL em Angola e em África, partindo do relacionamento das questões que se prendem ao que é físico-geográfico-ambiental, com incidência na água interior, com as questões humanas!...

Essa abordagem contribui para abrir um caminho a processos de inteligência capazes de absorver o conhecimento investigativo, científico e de segurança essencial às projecções viradas para os próximos séculos!...

Todavia continuo a esbarrar com a indiferença das mentes formatadas por interesses capitalistas que afectaram África e se esbatem, por exemplo, no sudeste de Angola: os angolanos foram a correr integrar-se nos projectos do KASA-TFCA, criando Parques Nacionais e Coutadas no Cuando Cubango, mas demonstram poucos sinais de vocação para antes do mais garantir controlo, segurança e conhecimento próprio sobre a REGIÃO CENTRAL DAS GRANDES NASCENTES, vital para Angola, como os GRANDES LAGOS são vitais para África!...

O peso da mentalidade colonial faz-se sentir, por que o capitalismo estimula-o dentro e fora das fronteiras continentais e a eclosão da escravatura na Líbia, é um corolário que demonstra a perversidade da NATO e do AFRICOM ao serviço da hegemonia unipolar, vandalizando África, tirando partido de seu estado de prostração numa ultra periferia económica e humana e do facto de a esmagadora maioria dos africanos se encontrarem nos países que ocupam a cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano!

Por conseguinte no que a Angola diz respeito, parece-me pertinente que este assunto seja levantado em função do movimento de libertação em África, do MPLA, por múltiplas razões, mas sobretudo por que na sua cultura há espaço para o entendimento perceptivo de quais foram as geoestratégias coloniais relativamente a Angola (a que estamos ainda presos) e quais podem vir a ser as geoestratégias do futuro, fora das concepções programáticas levadas a cabo pelo colonialismo sobretudo entre 1961 e 1974.

Essa nova fórmula de entendimento tenho vindo a referir como uma GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, alicerçada também a partir do contraditório a Savimbi, por que o conhecimento que ele utilizou para fazer a guerra e a barbárie, é inestimável para se construir a civilização e a paz!

De facto as geoestratégias colonialistas entre 1961 e 1974, assim como o sequencial de Savimbi (pelo retardamento que ele provocou), implicaram a projecção dos polos de desenvolvimento (segundo Walter Marques) e a edificação infraestrutural e estrutural do país, que conduziram a uma malha político-administrativa mais apertada (acompanhando a maior densidade populacional em habitat disperso) de ocupação no triângulo que tem por base toda a costa atlântica, a oeste e vértice na REGIÃO CENTRAL DAS GRANDES NASCENTES, a região mais próxima do oceano e sem contacto directo com as fronteiras.

Implicaram também a sua geoestratégia no plano de “contra subversão” que enquadrou o papel de Savimbi, colocando-o mesmo a leste desse triângulo ocidental do quadrilátero angolano, de forma a reforçar os obstáculos à penetração do MPLA, algo que foi sempre retido por Savimbi ao longo de sua restante vida, para definir suas geoestratégias primeiro com as ligações ao “apartheid”, depois sobretudo com a ligação a Mobutu.

A GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL leva isso em consideração reportando esse passado indexado à barbárie, de forma a aproveitar para a paz, para a civilização e a favor dos mais legítimos interesses de Angola e do povo angolano, enquanto garantia a muito longo prazo, (próximos séculos), a sabedoria que Savimbi utilizou, inculcado no e pelo colonialismo, para fazer a guerra, sobreviver o mais tempo possível e implementar todo o tipo de subversão contra Angola!

Creio que a inteligência que foi da barbárie (e pretende-se que seja do passado), se deva reverter a favor da inteligência da civilização (presente e futuro) e isso passa por um reequacionamento do espaço angolano que efectivamente não foi feito por razões óbvias nem em tempo colonial, nem em tempo de pressão do “apartheid”, nem em tempo da “guerra dos diamantes de sangue”, por que com a guerra jamais se poderia iniciar uma independência, uma soberania e uma segurança dessa natureza e com os possíveis enquadramentos de sustentabilidade que propicia!

A interpretação que proponho reforça a lógica com sentido de vida, a identidade nacional, a planificação para a diversificação da economia, a necessidade de tornar o desenvolvimento sustentável (não esbanjando nem prejudicando os recursos e tirando substancial partido dos que são renováveis) e permite libertarmo-nos paulatinamente das geoestratégias que advêm do passado de assimilação, criado por aqueles que chegaram por mar ao território de Angola e fizeram a abordagem a partir duma visão de domínio com penetração do litoral para o interior, quando agora é necessário em paz fazer-se a abordagem no sentido de se diminuírem as assimetrias e providenciar-se a ocupação sobretudo dos triângulos leste e sul do quadrilátero angolano!

Por outro lado, quer em Angola, quer no continente, a dialética entre os desertos quentes e inóspitos e as regiões de água interior que propiciam espaço vital e a riqueza biológica, continuando-se a reflectir nas sociedades humanas, obrigam-nos a colocar independência, soberania e segurança da paz noutros termos que introduzem os próprios africanos na potencialidade das equações antropológicas do seu próprio renascimento e de sua própria autoria, contrastando com as filosofias, doutrinas e ideologias“sopradas” pelos interesses externos dominantes e sempre presentes em África!

Martinho Júnior - Luanda, 27 de Novembro de 2017

Imagens

Mapas de África e de Angola, espelhando a dialética entre os desertos e a água interior, no caso angolano influindo directamente nas regiões de ocupação e de intervenção do espaço nacional.

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