Martinho Júnior | Luanda
1- No momento em que o executivo
que em resultado das eleições de finais de 2017 se vai instalando no aparelho
de estado, no momento em que é levado à Assembleia Nacional a discussão e a
votação sobre o Orçamento Geral do Estado para 2018, no momento em que o
Presidente João Lourenço multiplica as declarações de luta contra a corrupção e
procura impedir a falência das depauperadas finanças nacionais, há notícias de
fontes fidedignas que reportam que há “canais” que continuam a fazer
sair do país para o exterior de avultadas quantias na escala de largos milhões
de dólares, sem sinais de haver qualquer espécie de contenção, fiscalização, ou
medidas preventivas para fazer face a essa “hemorragia”!
As notícias necessitam como é
lógico de serem verificadas e confirmadas por outras fontes, mas sobretudo e
necessariamente pelos organismos responsáveis que devem promover o
enfrentamento decisivo em relação a esse tipo de situações que continuam a
arrastar-se, particularmente desde os picos oportunistas e mercenários
dos “deslumbramentos” após 2002.
A contaminação dos organismos
financeiros por “correntes” que correspondem aos estímulos
especulativos e gananciosos típicos dos impactos do capitalismo neoliberal e na
esteira do controverso, falacioso e informal “projecto dos 100
novos-ricos”, indicia continuar resguardando-se em enredos montados de forma
nada transparente e de lesa pátria que urge detectar fiavelmente e a saber
neutralizar.
É evidente que de pouco vai valer
a urgência em colocar dentro do país os milhares de milhões de dólares
que dele saíram em condições ainda por avaliar, se continuarem a existir “canais” forjados
nesse tipo de “experiências” e com “engodos” que
fermentaram há mais duma década, ou seja, se no estado que se pretende de rigor
enquanto fiel depositário dos interesses de todo o povo angolano, prevalecerem
impunemente os tecidos cancerosos de máfias que o tentam subverter nos seus
procedimentos justos e subvertê-lo na sua mais intrínseca legitimidade.
2- O “paraíso perdido” a
que me refiro, não é logicamente um caso conhecido ou reconhecido como tal
pelos interesses da“civilização judaico-cristã ocidental”, ou pelos seus meios
de comunicação elitistas, uma parte deles filtrados até pelo “Bilderberg”.
Para os dessa “civilização” os
assuntos africanos “in”, sintomaticamente não fazem parte das agendas
voltadas para o combate aos“paraísos fiscais e financeiros” que escapam às
atenções directas do âmbito dos Estados Unidos e da União Europeia, até por que
em África, em conformidade com o enorme espaço de cobertura duma moeda com as
características neocoloniais do Franco CFA, é um assunto tabu abordarem-se
os “paraísos” que surgiram dentro do espaço continental.
Essa situação que se constata
nos “media de referência ocidentais” no fundo dão consistência a
tiradas depreciativas, ou mesmo racistas, como a do presidente Trump sobre
África e o Haiti, aliás dando sequência a outra similar antes pronunciada pelo
presidente Bush em relação aos “obscuros rincões do mundo”!
Também é tabu abordar que os
procedimentos que estabelecem os nexos de algumas elites africanas recorrendo
aos “paraísos fiscais e financeiros”, resultam de “ensinamentos” decorrentes
dos impactos do capitalismo neoliberal à escala global nos termos de algumas
das características da sua própria “terapêutica assimiladora”, que no caso
angolano tão “eficientemente” foram fomentados pela social-democracia
à portuguesa e copiados para além dela, seja por via dos bancos de
conveniência, seja através de alguns dos canais da “inteligência
económica” com peso nos relacionamentos bilaterais e para além deles.
Essa foi uma vocação para dentro
de Angola, que alguns da “nova elite” angolana aproveitaram para
instalar também noutras direcções suas mercenárias e antipatrióticas
conveniências!
3- O “paraíso perdido” a
que me refiro é a Guiné Equatorial, que em 2014 entrou na CPLP sob incentivo
angolano que eu próprio também defendi e defendo.
De facto o argumento em abono da
entrada da Guiné Equatorial na CPLP afigura-se-me sustentável, tendo em conta
que a CPLP não pode nem deve ser encarada apenas como uma modesta organização
internacional de países que se expressam na língua portuguesa comum, até por
que as ilhas de Fernando Pó, (hoje baptizada de Bioko) e Ano Bom (que envolvem
São Tomé e Príncipe com seus mares territoriais), assim como vastos territórios
no Golfo da Guiné, já um dia foram colonizados por Portugal e serviram de entrepostos
pelas piores razões.
Urge integrar agora pelas
melhores razões!
O que abona o argumento para a
entrada da Guiné Equatorial na CPLP prende-se além do mais às medidas
potenciais de projecção à escala global duma CPLP que se deve também arrojar
nos processos de globalização, não se reduzindo aos falantes actuais do português,
mas abrindo-se a traços culturais que acompanharam (e acompanham) a expressão
portuguesa ao longo de cinco séculos, que até servem para alguns efeitos e
alguns retrógrados não querem para este.
Por outro lado, urge gerar uma
organização muito mais forte, ampla e ao mesmo tempo intensa nos seus laços,
vinculando as“culturas encadeadas” latino-ibéricas, africanas e
americanas, correspondendo ainda aos fenómenos disponíveis da globalização, um
pouco à imagem e semelhança das comunidades francofone e “Commonwealth”!...
Sob os pontos de vista de
integração cultural, nos processos emergentes e progressistas potencialmente
disponíveis para os abrangidos pelas falas decorrentes do português, do
castelhano, do galego, do catalão, do andaluz… não faz sentido a tacanhez
mental com aproveitamento sócio-político conservador ou mesmo retrógrado, por
parte dos elementos decisórios que a seu tempo se têm vindo a manifestar dentro
e fora duma CPLP própria “dos pequeninos” em tempo de internacional
cavaquismo!
De facto para culturas
singularmente tão próximas dentro e fora do espaço ibérico, se levarmos em
conta a riqueza “em espiral” em que essas falas se inserem, assim
como sua enorme potencialidade entre as expressões globais, é necessário
através delas responder às amplas necessidades de integração que as catapultam
para as grandes plataformas típicas do século XXI!
4- O que está subjacente contudo
nos relacionamentos Angola – Guiné Equatorial tendo em conta as notícias
colhidas a que me reporto, subjacência essa aproveitada por algumas das “correntes” instaladas
pelos impactos neoliberais com reflexos perniciosos no sistema financeiro
angolano como na formação de suas “novas elites”, é o facto desses “canais” se
assemelharem a autênticas“válvulas de escape” de impunidade, desafiando as
medidas que um estado de rigor se propõe executar num momento em que se torna
necessário fazer face à calamidade da crise artificiosamente formatada pela
aristocracia financeira mundial reitora da hegemonia unipolar que por tabela
atinge Angola e também a Guiné Equatorial, potentados africanos do petróleo.
A fazer fé nas notícias, que uma
vez mais julgo ser necessário e urgente verificar e confirmar, quem, como,
quando, para onde e por quê continuam algumas “correntes” a esvair Angola
financeiramente, utilizando o “paraíso perdido” da Guiné Equatorial?
Mercenários e piratas financeiros
de lesa-pátria até onde e até quando?
Martinho Júnior - Luanda, 20 de Janeiro de 2017
Imagens:
Planisfério com os países
componentes da CPLP;
Mapa antigo reflectindo a
influência portuguesa no Golfo da Guiné;
Pormenor de Malabo, capital da
Guiné Equatorial, vista do mar;
Edifício do Banco Nacional da
Guiné Equatorial.
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