segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Zanga de "comadres" põe a nu fragilidades da "Operação Fizz"


Andreia Sampaio* | Jornal de Angola | opinião

A Procuradoria Geral da República portuguesa emitiu, na sexta-feira, dia 2 de Fevereiro, um mandado para que Manuel Vicente, supostamente de viagem a Portugal, pudesse ser notificado e apresentasse comprovativo da sua residência no país.

Acontece que Manuel Vicente viajou, sim, mas para São Tomé e mais uma vez a justiça portuguesa pôs a nu debilidades que não a elevam ao patamar de ‘superioridade moral’ que muitos insistem em lhe atribuir.

E se o delírio que se apossou do Procurador que, no último fim-de-semana, “surpreendeu” o Eng.º Manuel Vicente nas margens do rio Tejo diz bem da credibilidade da justiça em Portugal, as sucessivas violações processuais e as permanentes fugas de informação confirmam quão nebulosa é a sua administração naquele país. 

Uma nebulosidade que, ao salpicar os corredores da PGR, dos tribunais e de alguns escritórios de advogados, não deixa de destapar a teia de promiscuidade prevalecente neste reino.

Orlando Figueira, procurador, e Paulo Blanco, advogado, partilham em comum uma mesma convicção: o Engº Manuel Vicente nada tem a ver com o alegado caso de corrupção que envolve o ex-procurador agora acusado de ter arquivado e, posteriormente, destruído documentos em troca de dinheiro. 

Ao arquivar o processo, fê-lo com a anuência dos seus superiores hierárquicos e não parece  ter havido violação processual alguma ou obstrução à justiça. 

Tanto mais que outros processos relativos a angolanos envolvidos igualmente na compra de apartamentos no mesmo edifício, acabaram por ter, sem quaisquer sobressaltos, o mesmo destino.

Já relativamente à destruição de documentos, só e unicamente Orlando Figueira pode responder por esta acusação.

Mas Paulo Blanco e Orlando Figueira não sendo conhecidos de longa data, chegaram, porém, a partilhar em comum um outro traço: a interesseira e circunstancial “amizade”.

Partilharam, por essa via, laços de inegável cumplicidade. Em questões profissionais e até mesmo na vida privada, embora, com esta última, ninguém aparentemente tenha nada a ver. É assunto privado.

A partir do momento, porém, em que o trabalho, envolvendo processos relativos à aquisição de apartamentos de figuras públicas angolanas, foi  transferido para a casa do Oeste de um  dos mais mediáticos protagonistas da “Operação Fizz”– Paulo Blanco –, o caso muda de figura. E muda de figura porque, com essa transferência mais intimista, facilmente se percebe que, entre ambos, afinal, havia inclusive relações “de pijama”, conforme troca de correspondência entre Orlando Figueira e Paulo Blanco apreendida pelos oficiais do TIC – Tribunal de Instrução Criminal –no escritório deste último.

Dessa troca de correspondência percebe-se ainda que as suas relações passam também por um mundo de códigos onde imperam informação privilegiada, influência, percentagens e “premiações”.

Relações que podem culminar com a montagem de um esquema em que os “prémios” podem não ter sido mais do que somas em dinheiro obtidas sob a ameaça do prosseguimento de inquéritos criminais, reais ou fictícios, instaurados a figuras públicas e a políticos angolanos.

Mas entre ambos um grão de areia pode ter encravado a engrenagem. Orlando Figueira, desde o início do julgamento, que guardava a sete chaves o código de três outras figuras citadas nos seus apontamentos pessoais como podendo estar envolvidas também neste processo.

O seu “amigo” do Oeste, Paulo Blanco, tratou agora de descodificar esses nomes e, ao destapar o mistério, pôs completamente a descoberto Orlando Figueira perante o tribunal... 

Com esta descodificação ficou a saber-se que alcunhas como “Ricky Martin”, “Loira” e “Meia Branca” referem-se, respectivamente, ao procurador Ricardo Matos, à advogada Ana Bruno, e ao procurador Rosário Teixeira.

Com a descodificação, Orlando Figueira passa a estar remetido a uma situação tão embaraçosa que o juiz Alfredo Costa não hesitou em proferir, de forma contundente, esta séria advertência: “Você está aqui a responder por crimes gravíssimos e fez disto um segredo dos deuses... Estas situações em tribunal não abonam a favor de quem as produz”...

O rol de desentendimentos não se fica por aqui. Quebrada a sintonia entre ambos, Orlando Figueira, em plena sessão de audiência, acusou Paulo Blanco de estar “a lavar roupa suja” e este, ao devolver a farpa, qualificou aquele de “falso amigo”.

Tudo a propósito de documentos sigilosos que Orlando Figueira diz ter entregue a Paulo Blanco, que nega redondamente tê-los recebido. E assim se conhecem os “amigos”...

*Jurista

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