quarta-feira, 14 de março de 2018

Implicações dos novos sistemas de armas da Rússia


Andrei Martyanov,  Unz Review*

Durante a guerra russo-georgiana de agosto de 2008, as operações do 58º Exército da Rússia foram definidas como “coerção para a paz”. É definição adequada, que faz lembrar o que estava então realmente em jogo. Os russos venceram aquela guerra e, sim, realmente coagiram a Geórgia a adotar comportamento muito mais pacífico. Em termos Clausewitzianos, os russos alcançaram o principal objetivo da guerra, dado que compeliram o inimigo a atender o desejo da Rússia. Os russos, como mostram os eventos dos últimos 19 anos, já não têm ilusões sobre a possibilidade de algum tipo de conduta civilizada razoável do Ocidente como um todo, menos ainda dos EUA, que continuam a viver na bolha que os isola das vozes exteriores da razão e da paz. O currículo global dos EUA das últimas décadas não exige quaisquer altas elaborações: é currículo de repetidos desastres militares e humanitários.

O discurso de Vladimir Putin, dia 1/3/2018 à Assembleia da Federação Russa não tratou das próximas eleições presidenciais, como sugerem muitos no Ocidente obcecados com eleições. A fala de Putin teve o objetivo de coagir as elites norte-americanas, se não para a paz, pelo menos para alguma forma de sanidade – aquelas elites que estão atualmente completamente isoladas das realidades geopolíticas, militares e econômicas de um mundo que está emergindo. Como no caso da Geórgia em 2008, a coerção baseou-se no poder militar.

O Exército Russo pré-Shoigu [general Serguey Shoigu[1]], com todas as deficiências reais e sabidas, precisou de apenas cinco dias para liquidar a força georgiana treinada e parcialmente equipada pelos EUA – a tecnologia, o pessoal e a arte operacional do Exército Russo foram simplesmente melhores. Obviamente, esse tipo de cenário não é concebível entre Rússia e os EUA; vale dizer, não é… a menos que o mito da superioridade tecnológica dos EUA tenha esvaziado como bolha de sabão.

A maioria das elites do poder nos EUA jamais prestaram um dia de serviço militar na vida, nem nunca frequentaram instituições acadêmicas militares sérias. Sua única expertise em questões tecnológico-militares e geopolíticas é limitada, no pior cenário, a um ou dois ‘seminários’ sobre armas atômicas. No melhor dos casos, por mais que se esforce, o Serviço de Pesquisa do Congresso simplesmente não tem a qualificação mínima indispensável para compreender a complexidade e a natureza de uma força militar; muito menos é capaz de compreender o serviço que presta esse tipo de força. Simplesmente não têm pontos de referência.

Mesmo assim, por mais que sejam produto da cultura norte-americana de propaganda pop-militar (PPM), propaganda e pornografia militar – essa coleção de advogados, ‘cientistas políticos’, sociólogos e jornalistas que dominam a cozinha estratégica norte-americana, e que vivem de cozinhar, em regime non-stop, as doutrinas geopolíticas e militares mais delirantes –, os norte-americanos com certeza entendem alguma coisa, quando veem os seus entes queridos com um alvo desenhado ou na testa ou nas costas.

A mensagem de Putin aos EUA foi extremamente simples: fez os EUA lembrarem as incontáveis vezes em que se recusaram até a ouvir o que os russos tinham a dizer sobre a posição da Rússia no Tratado dos Mísseis Antibalísticos [ing. ABM Treaty]. Como escreveu Jeffrey Lewis, num momento de surpreendente sobriedade da revista Foreign Policy:

“A verdadeira origem da nova geração de bizarras armas nucleares russas não está na mais recente Nuclear Posture Review, mas na decisão do governo George W. Bush, em 2001, de retirar os EUA do Tratado dos Mísseis Antibalísticos; e no fracasso bipartidáriodos dois governos, de Bush e de Obama, que absolutamente não conseguiram dedicar atenção significativa às preocupações dos russos ante os mísseis de defesa dos EUA. Putin disse claramente em seu discurso: “Durante todos esses anos, desde a saída unilateral dos EUA, do Tratado dos Mísseis Antibalísticos, trabalhamos sem descanso em armas e equipamentos avançados, que nos levaram a descobertas indispensáveis para desenvolver novos modelos de armas estratégicas. Esses feitos tecnológicos agora estão aí. Infelizmente, nós não conseguimos os feitos diplomáticos de que precisávamos.”

A mensagem de Putin foi clara: “Ninguém quis conversar conosco sobre o xis da questão da nossa segurança nacional. Ninguém quis nos ouvir. Agora, nos ouvirão.”

Desse ponto em diante, a fala de Putin só pode ser descrita como um confronto militar tecnológico, Stalingrado contra Pearl-Harbor. As ramificações estratégicas dos mais novos sistemas de armas que Putin apresentou são imensas. De fato, têm peso histórico decisivo. Claro, muitos especialistas norte-americanos, como se devia esperar, trataram de reduzir o evento o mais possível, que não passaria de evento de autopromoção, exatamente o que qualquer ‘especialista’ da comunidade militar teria de dizer. Outros não foram tão longe, e vários, sim, nem tentaram disfarçar o susto. A impressão geral hoje, um dia depois da apresentação de Putin, pode ser descrita, em termos simples, do seguinte modo: o degrau que separa os mísseis dos EUA e da Rússia, é real; mas não é um degrau, sequer algum mero gap; trata-se de uma ravina, em termos tecnológicos é uma fissura abissal.

Paradoxalmente, o abismo nem está onde muitos até já admitiram que estaria –, no míssil balístico RS-28 Sarmat, cuja existência e características prováveis e aproximadas eram mais ou menos conhecidas já há anos. Claro que se trata, inegavelmente, de realização tecnológica impressionante, um míssil balístico que não só tem alcance praticamente ilimitado, mas que, além disso, é capaz de manobrar e definir trajetórias que tornam inúteis todas as defesas com mísseis antibalísticos. Afinal, ser atacado a partir do polo sul, por um míssil que viajará sobre toda a América do Sul, absolutamente não é evento que os militares dos EUA tenham meios para neutralizar. E sem esses meios eles continuarão ainda por muitos e muitos anos.

O mesmo se pode dizer do sistema de planador-asa hipersônica (alcança velocidade Mash 20), chamado Avangard, que já está sendo produzido em série, desenvolvimento completamente surpreendente – os EUA têm programa semelhante para esse tipo de armas, mas ainda não conseguiram fazer sua asa voar; essas ideias circulam nos EUA desde meados dos anos 2000s, sob o guarda-chuva do programa PGS (ing. Prompt Global Strike). Ah, sim, são conquistas tecnológicas dos russos, de gigantesca importância, que Jeffrey Lewis chama de “bizarras”, apenas para não confessar que “nós não temos nada que sequer se aproxime disso”. Mas esse não é, até aqui, o real choque que o discurso provocou. Vários dos meus artigos sobre esse recurso trataram precisamente da área na qual os EUA estão muito gravemente atrasados: os mísseis cruzadores, todos eles. Previ há muito tempo que o real declínio militar dos EUA viria precisamente desse lado. Hoje é absolutamente claro que a Rússia está em posição de gigantesca vantagem militar-tecnológica em mísseis cruzadores e aerobalísticos, décadas à frente dos EUA nesse campo crucial.

Muitos especialistas ocidentais discutiam esses sistemas exóticos e sem dúvida surpreendentes projetados e construídos para transportar e ‘entregar’ armas atômicas em qualquer ponto do globo e com a mais alta precisão. Mas a maioria dos que são realmente profissionais lá estavam, sem respirar, de queixo caído, embasbacados, de olhos postos no míssil “Adaga” [ru. Kinzhal]. Essa, sim, é a arma que muda definitivamente o jogo, em termos geopolíticos, estratégicos, operacionais, táticos e psicológicos. Já se sabia há algum tempo que a Marinha Russa já estava usando um míssil revolucionário, q alcança velocidade Mach8, o míssil antinavios 3M22 Zircon. Por mais impressionante e virtualmente não interceptável por qualquer das defesas conhecidas que seja o Zircon, o Adaga [Kinzhal] é simplesmente espantoso, tais as suas capacidades para combate.

O Adaga [Kinzhal] baseia-se muito provavelmente no padrão do míssil Iskander; alcança Mash10, é altamente dirigível e manobrável. Esse míssil aerobalístico com alcance de 2.000 quilômetros, transportado por jatos do tipo MiG-31, simplesmente reescreveu o manual da guerra naval conhecido hoje. É arma que torna obsoletas as frotas e combatentes de superfície. Não, você não está lendo errado. Nenhuma defesa aérea ou sistema antimísseis que há hoje no mundo é capaz de obter qualquer vantagem no confronto com o míssil Adaga [Kinzhal] (talvez com a exceção do futuro S-500, especialmente projetado para interceptar alvos hipersônicos). Dito com a máxima clareza: faltam ainda décadas, antes que surja o antídoto para o míssil Adaga [Kinzhal].

Mais especificamente: nenhum sistema moderno ou hoje viável de defesa aérea usado por qualquer das frotas da OTAN pode interceptar sequer 1 (um) míssil que tenha essas características. Uma salva de 5-6 desses mísseis garante a destruição de qualquer porta-aviões e respectivo Grupo de Combate de destroieres e cruzadores, por exemplo. E tudo isso sem usar munição nuclear.

O emprego de tal arma – detalhe importante, especialmente porque agora sabemos que já há uma delas voando no Distrito Militar Sul da Rússia –, é muito simples. O ponto-alvo mais provável de mísseis lançados dos MiG-31s estará nas águas internacionais do Mar Negro, o que implica dizer que todo o Mediterrâneo Ocidental estará fechado para qualquer tipo de navios ou grupos de navios de superfície.

A Rússia também pode fechar completamente o Golfo Persa. Pode também criar vastíssima zona ‘fechada’ no Pacífico, áreas nas quais os jatos MiG-31 para mísseis balísticos estacionados em Yelizovo na [península de] Kamchatka ou da Base Aérea Centralnaya Uglovaya em Primosrky Krai poderão patrulhar grandes distâncias sobre o oceano.

Vale ressaltar que a atual plataforma de transporte e lançamento do míssil Adaga [Kinzhal] é o MiG-31 – possivelmente o melhor jato interceptador de toda a história. Obviamente, a capacidade do jato MiG-31 para alcançar altas velocidades supersônicas (que ultrapassa em muito M=2) é fator chave no lançamento.
Mas não importa quais sejam os procedimentos para lançar essa arma aterrorizante, as consequências estratégicas imediatas de o míssil Kinzhal, a Adaga, tornar-se operacional são as seguintes:

Finalmente descartam-se os porta-aviões para a prateleira de instrumento cuja única serventia é projetar poder contra adversários fracos e sem defesas, e para bem longe das áreas marítimas da Rússia, sejam o Mediterrâneo, o Pacífico ou o Atlântico Norte. Significa também uma zona completamente fechada, à qual deixam de ter acesso todos os destroieres e cruzadores equipados com Aegis33 da Marinha dos EUA, cruciais para o escudo dos chamados “Mísseis Balísticos de Defesa” que são cruciais para os norte-americanos;

O míssil Adaga [Kinzhal] torna completamente inúteis e obsoletos os grupos clássicos de combate com porta-aviões e respectiva escolta de destroieres e cruzadores [ing. Carrier Battle Groups (CBGs)], que se tornam imprestáveis como principal força de ataque contra adversário de igual força ou de força semelhante. Também deixa completamente sem defesas qualquer navio de combate de superfície, sejam quais forem suas capacidades para defesa antiaérea e antimísseis. O míssil Adaga [Kinzhal] anula completamente as centenas de bilhões de dólares que foram investidos naquelas plataformas e armas. E elas agora, de repente, tornam-se nada além de alvos gordos e pesadões, completamente desprotegidos, sem qualquer defesa. Todo o conceito de Batalha Ar-Mar, que também atende pelo nome de Joint Concept for Access and Maneuver in the Global Commons (JAM-GC) [Conceito Conjunto para Acesso e Manobra nos Comuns Globais], que é a pedra de toque da dominação global pelos EUA, torna-se também repentinamente inútil. Pode-se chamar de catástrofe doutrinal e fiscal completa
O controle sobre os mares e negação de acesso aos mares [ing. Sea Control and Sea Denial] muda completamente de natureza e as duas partes misturam-se. Quem controle essas armas, é simplesmente ‘dono’ de vastos espaços nos mares cobertos pelo alcance do míssil Kinzhal e das unidades que os transportam. Esse controle também remove completamente qualquer apoio de superfície, crucial para os submarinos em todos os casos, expondo-os à aviação e às naves de superfície de Patrulha/Guerra Antissubmarinos [ing. Patrol/ASW]. O efeito é multiplicativo e é profundo.

Rússia tem muito desses transportadores-lançadores – o programa de modernização dos jatos MiG-31s para mísseis balísticos está já há anos funcionando a pleno vapor, e as unidades de frente de combate da Força Aérea russa vêm recebendo considerável influxo desse tipo de aeronave. É claro hoje o motivo pelo qual foi acionado esse processo de modernização – o motivo pelo qual os russos estavam convertendo os MiG-31 para mísseis balísticos, em plataformas de lançamento do Adaga [Kinzhal]. Como já ensinava o major-general de Marinha James L. Jones, em público, em 1991, depois da 1ª Guerra Mundial: “Para pôr a correr em pânico um grupo de combate de porta-aviões e tudo, basta alguém incendiar uma meia dúzia de barris de petróleo sobre a água, em volta deles.

” O míssil Adaga [Kinzhal] efetivamente remove para longe qualquer força de superfície não suicida; remove-a para milhares de quilômetros de distância, bem longe das praias russas; e torna irrelevante toda a capacidade que ela tenha. Em linguagem de leigos, significa apenas uma coisa – todo o componente de superfície da Marinha dos EUA vira força-zero, boa só para desfilar nos dias de festa e exibir bandeirão nas praias próximas e no litoral de países fracos e subdesenvolvidos. E está provado que tudo isso pôde ser feito com apenas uma mínima fração dos custos astronômicos das plataformas e armas norte-americanas.

É muito difícil, nesse momento, prever o efeito de médio e longo prazo, nos EUA, do discurso de Putin. Pode-se prever bem mais facilmente que usarão o clichê, muito batido e já semimorto, da “assimetria”. Mas esse clichê não se aplica. O que aconteceu dia 1º de março desse ano, com o anúncio e a exibição das novas armas russas não é fenômeno de “assimetria”: foi a exibição concreta, q ninguém pode dizer que não viu, de um novo paradigma, completamente novo, na concepção da guerra, na tecnologia militar e, como consequência, também na estratégia e no trabalho operacional. Se o paradigma é novo, então já não se aplicam as velhas regras e os velhos saberes.

Os EUA não estavam e não estão preparados para o que veio, apesar de muitos profissionais competentes, inclusive nos EUA, terem alertado sobre um novo paradigma militar-tecnológico que estava em construção, mas cujas vozes naufragaram na completa miopia e húbris doentia dos norte-americanos para tudo que tenha a ver com militares e militarismos. Como o coronel Daniel Davies teve de admitir:

“Por mais justificado que o orgulho possa ter sido naquele momento, o orgulho rapidamente se converteu na mais insuportável arrogância. Hoje, essa arrogância é perigo mortal para a nação. Nada provavelmente exemplifica melhor essa ameaça, que o sistema disfuncional de compras do Pentágono.”

É prudente prever hoje, considerado o pano de fundo de uma abordagem geral da guerra pelos norte-americanos, que não haverá resposta tecnológica sensível dos EUA, à Rússia, em futuro hoje previsível. Os EUA simplesmente não têm recursos, exceto pôr a rodar as engrenagens das máquinas de distribuição de notícias – o que terminará de levar os EUA e as empresas de mídia à bancarrota.

Mas há a questão de que os russos sabem disso; e de que o discurso de Putin não visou a ameaçar diretamente os EUA. Fato é que os EUA estão hoje realmente simplesmente vulneráveis, sem qualquer defesa, diante do arsenal de armas hipersônicas que a Rússia trouxe. Mas a Rússia não persegue o objetivo de destruir os EUA.

As ações da Rússia são ditadas por um único objetivo: dar um tranco, meter um trabuco no nariz de um bêbado armado com dois punhais que está aos pulos num bar apinhado de gente, para obrigá-lo a parar de pular, entregar os punhais e ouvir o que outras partes tenham a dizer. Em outras palavras, a Rússia entrou armada de pistola numa briga de faca. Porque esse parece o único modo de lidar, hoje, com os EUA.

Se o tranco e a demonstração da superioridade militar-tecnológica dos russos terá ou não qualquer efeito, não se sabe. Mas os russos sempre fizeram saber que seu principal objetivo, desde o início, foi conseguir que uma conversa racional e sensível sobre a nova ordem mundial brotasse entre atores geopolíticos decisivos. O mundo já não tem como continuar pagando por vozes cada vez mais rasas, de autopromoção a golpes sempre da mais baixa provocação, por gente que nem percebe o que faz e que ameaça a estabilidade e a paz do mundo.

A autoproclamada hegemonia dos norte-americanos foi furada e murchou como bexiga colorida, acabou, pelo menos por algum tempo, desmascarada precisamente no ponto mais sensível para qualquer hegemon real ou suposto – no campo militar. Putin só teve de discursar, para demonstrar o bom velho truísmo de Al Capone, que sabia que sempre se consegue mais e mais depressa, com uma palavra gentil e uma arma, do que só com a palavra gentil. Afinal de contas, ninguém mais que a Rússia insistiu em usar só a palavra gentil. Mas não funcionou. A culpa é, toda, dos próprios EUA.

[1] Sergey Kuzhugetovich Shoygu, 62 anos é general de Exército e desde 2012 é ministro da Defesa da Rússia. É nascido na remota República da Tuva, na Sibéria, cuja população é praticante de um xamanismo animista e do budismo tibetano – o que várias vezes gerou comentários venenosos no ‘ocidente’. Interessante, sobre Shoigu e suas religiões, lê-se em “Hoje aconteceu algo extraordinário” (13/5/2015, The Saker, traduzido em Redecastorphoto), em artigo sobre o Desfile da Vitória, em Moscou:

“O dia de hoje passará à memória da Rússia como celebração realmente histórica da vitória sobre a Alemanha nazista. O desfile – o mais bonito que já vi (infelizmente, só por vídeo, não pessoalmente) – foi soberbo e pela primeira vez incluiu o Exército Chinês de Libertação Popular. Não há dúvida de que vimos ali a história, enquanto se ia escrevendo. Mas aconteceu outra coisa hoje, também absolutamente extraordinária: o Ministro da Defesa da Rússia, Sergey Shoigu, fez o sinal da Cruz (foto), antes do início das celebrações. (…) Significa que Shoigu converteu-se à religião ortodoxa russa? Não necessariamente. O budismo é muito aberto a todas as outras religiões e não vejo contradição alguma no gesto do ministro. O fato de o primeiro alto membro do governo russo a iniciar o desfile do Dia da Vitória fazendo o sinal da Cruz e pedindo a ajuda de Deus ser budista é, em si mesmo, evento extraordinário (e cobre de vergonha os seus predecessores declarados oficialmente “ortodoxos”, que nunca fizeram coisa semelhante). Só imagino o horror, o escândalo, o desespero que o gesto de Shoigu está provocando na “inteligência” liberal russa pró-EUA e nas capitais ocidentais. Ao pôr-se, pessoalmente e toda a Rússia, nas mãos de Deus, Shoigu declarou guerra espiritual, cultural e civilizacional contra o Império. Só por isso, já entrou para a história como um dos maiores homens da Rússia.”

Traduzido por Vila Vudu

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