O novo líder será o primeiro,
desde a Revolução Cubana, com outro sobrenome e representando uma geração mais
jovem do que aquela que pegou em armas para derrubar a ditadura de Fulgencio
Batista (1952-1959) e desafiar os Estados Unidos (EUA), estabelecendo um regime
socialista a 150 quilômetros de sua costa
A Assembleia Nacional de Cuba se
reuniu nesta quarta-feira para escolher o próximo presidente da ilha caribenha
que, nas últimas seis décadas, foi governada pelos irmãos Castro: Fidel, que
morreu aos 90 anos, e Raúl, que prometeu se aposentar aos 86. O novo líder será
o primeiro, desde a Revolução Cubana, com outro sobrenome e representando uma
geração mais jovem do que aquela que pegou em armas para derrubar a ditadura de
Fulgencio Batista (1952-1959) e desafiar os Estados Unidos (EUA), estabelecendo
um regime socialista a 150 quilômetros de sua costa.
O novo presidente de Cuba assume
em um momento delicado. A Venezuela, que fornece petróleo e sustentava o regime
cubano; hoje enfrenta grave crise econômica, marcada pela hiperinflação, o
desabastecimento e o isolamento internacional.
Com a mudança de governo em 2017,
os Estados Unidos recuaram no processo de reaproximação; primeiro passo para o
fim do bloqueio econômico; comercial e financeiro que continua impondo à ilha.
O presidente norte-americano, Donald Trump, (eleito também com o voto dos
cubanos; que imigraram para os EUA e que exigem a derrubada do comunismo na
ilha); limitou viagens e investimentos (dos norte-americanos) em Cuba.
Raúl Castro
Raúl Castro diz que foi eleito
presidente para “defender, manter e continuar aperfeiçoando o socialismo cubano,
e não para destruí-lo”.
A eleição representa o fim de uma
era, mas muitos observadores acham que; na prática, pouca coisa mudará na vida
dos 11,5 milhões de cubanos: o Partido Comunista de Cuba (PCC); continua sendo
o único e Raúl Castro seu chefe.
– O Partido Comunista é o órgão
máximo de decisão política; de acordo com a Constituição cubana. Raúl Castro
deixa a presidência do país; mas não o cenário politico – disse à Agência
Brasil Erika Guevara-Rosas, diretora para as Américas da Anistia
Internacional; uma organização de defesa dos direitos humanos.
“Lamentavelmente, Cuba continua sendo um país que violenta, de forma massiva,
as liberdades civis, políticas e de expressão.” Cuba é o único país do
continente que não permite acesso oficial à Anistia Internacional.
A expectativa é de que o cargo
seja ocupado pelo atual vice-presidente, Miguel Díaz-Canel, de 57 anos, que
nasceu depois da revolução, não usa farda, mas defende os ideais do Partido
Comunista Cubano (PCC), onde atua desde jovem. “Sou como muitos neste país”,
disse Díaz-Canel. “Formamos parte de uma geração que nasceu nos anos 60 e
agradecemos muito toda a formação e as possibilidades brindadas pela revolução.
Tivemos a oportunidade de participar dos processos de decisão nas organizações
de base estudantis e da juventude”.
Reformas
Só houve uma sucessão
presidencial na Cuba revolucionária e ela foi programada. Em 2006, Fidel Castro
entregou o comando do país ao irmão caçula; primeiro interinamente, depois
oficialmente. Fidel estava doente e morreu 10 anos depois. Nos últimos 12 anos,
Raúl Castro adotou algumas medidas de abertura. Meio milhão de cubanos hoje
trabalham no setor privado.
Desde 2013, quem quiser pode
deixar o país, sem precisar de autorização para viajar ou ter que fugir de
barco, numa perigosa travessia para a costa da Flórida. A compra e venda de
imóveis e carros, mesmo limitada, foi permitida. E a Internet chegou à ilha,
onde existem mais de 600 áreas publicas com conexão wifi.
Cenário internacional
No cenário internacional, Cuba
participou da 7ª Cúpula das Américas em 2015. Foi a primeira reunião de líderes
dos 35 países do Continente Americano com a participação do governo cubano; que
até então tinha sido vetada pelos Estados Unidos. A notícia foi o histórico
aperto de mão entre Raúl Castro e o então presidente norte-americano, Barak
Obama; marcando a reaproximação dos dois países, depois de mais de meio século
de guerra fria.
Apontada como responsável por
disseminar revoluções comunistas na região; Cuba patrocinou o acordo de paz
entre o governo colombiano de centro-direita, do presidente Juan Manuel Santos,
e os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Sete mil
rebeldes entregaram as armas; depois de 50 anos de conflito, para formar um
partido político, que este ano disputou as primeiras eleições legislativas.
Com a morte de Fidel em 2016, a
pergunta era sobre o futuro do país. Raúl Castro propôs ao partido limitar a
idade (70 anos) e o mandato (dois períodos de cinco anos) dos dirigentes do
PCC; além de uma reforma constitucional. E anunciou que deixaria a presidência,
por decisão própria, em abril deste ano.
Renovação
Para ex-combatentes da revolução,
o sucessor de Raúl Castro representa a renovação da cúpula do regime comunista
cubano, mas a continuidade de seus ideais. Alejandro Ferras Pellicer, de 94
anos, aposta nesta nova geração que, ao contrário da anterior, nasceu com
direito à educação e que, segundo ele, estará mais preparada – intelectualmente
e tecnologicamente – para lutar por uma sociedade mais igualitária.
Raúl Castro sinalizou, em mais de
uma ocasião, que a ideologia não está em jogo – não importa quem seja o novo
presidente de Cuba ou que pressões ele terá de enfrentar. “O substituto de
Fidel só pode ser o Partido Comunista”, disse, quando os cubanos tentavam
imaginar o futuro sem o pai da revolução.
O analista politico cubano Rafael
Hernández acredita que o novo governo enfrentará pressões internas por
mudanças, porque as expectativas de melhores condições de vida vêm de longa
data e cresceram com o tempo. Segundo ele, apesar de Cuba enfrentar hoje uma conjuntura
internacional menos favorável, a ilha não está na mesma encruzilhada dos anos
90, quando a União Soviética (principal fornecedora de petróleo a Cuba e
financiadora de partidos comunistas no hemisfério internacional) se dissolveu
em 15 repúblicas separadas – entre elas, a Rússia.
– Nesses 60 anos, Cuba demonstrou
ser capaz de sobreviver a várias crises; até à pior delas, nos anos 90,
quando muitos pensavam que ficaria isolada e seria obrigada a mudar – disse, em
entrevista à Agência Brasil, o analista político argentino Rosendo Fraga.
“Com a saída de Castro, uma nova geração subirá ao poder. Mas a renovação será
feita para manter o mesmo sistema em vigor”.
Correio do Brasil, com ABr –
de Havana
Na foto: O novo líder será o primeiro,
desde a Revolução Cubana
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