Eugénio Costa Almeida* | opinião
Inicialmente, o tema que esta
semana iria abordar era outro, mais concretamente, sobre a liberdadede
circulação dentro dos Estados lusófonos da CPLP.
Mas, ao contrário do que se
costuma dizer, o Homem pensa, e executa, desta vez, o cronista pensou – e penso,
que pensava bem – mas algo mais alto, não me deixa executar. Pelo
menos por agora.
Outros factores, agora mais
importantes, tornaram-se mais relevantes.
Desde que o Homem começou a
falar, que ao despedir-se, usava sempre uma expressão que desejava algo de bom
para os dias vindouros para si e para o despedido.
A partir de uma certa altura, com
o advento da religião, em particular, no caso dos que professam o monoteísmo, a
frase de despedida passou a ser «Vá com Deus» ou agregar a «Se Deus quiser»; e,
por vezes, as respostas eram «Oxalá» ou «Assim Deus o queira».
Com maior ou menor certezas
léxicas, com maior ou menor corruptela, as frases seriam e eram assim. E
assim tem sido até aos dias de hoje.
Tem sido, de facto – pelo menos
na língua portuguesa eu é que nos entendemos – estas as expressões. Tem sido…
Só que, tal como nas indústrias,
nas tecnologias, também as expressões linguísticas evoluem.
E hoje, já não devemos dizer «Se
Deus quiser», mas outras e bem sombrias expressões: «Se Trump e
Kim Jong-un quiserem» ou, mais recentemente, «Se Trump e
Putin quiserem»!
No primeiro caso, era a eventual
possibilidade de os dois líderes decidirem optar pela via da guerra, para ver
quem tinha o botão maior – leia-se, por outras palavras, quem perdia o
juízo primeiro.
No segundo caso, o mais recente, deve-se
à senil ideia do senhor Trump que pensa poderbombardear a
Síria para castigar Bashar Hafez al-Assad, devido a um
eventual ataque, que as forças militares deste líder sírio, teriam efectuado com
armas químicas sobre o seu Povo.
Compreende-se que, caso se
confirmem as suposições – mas com leituras claras e independentes – que os
prevaricadores sejam criminal e duramente castigados. No seria o primeiro caso.
Mas os outros não foram sujeitos a ataques militares, mesmo que cirúrgicos para
isso. Foram apanhados e julgados e Tribunais Superiores, alguns internacionais,
criados para estes casos de extermínio ou massacres.
Só que no caso presente, o senhor Trump está
a ir longe demais nas suas suposições e nas suas directrizes –
leiam-se, tweets – quanto a um eventual ataque à Síria para castigar o “Animal”
(sic) de al-Assad. Ainda assim, eu quero acreditar que estes tweets têm como instigadores alguns
dos falcões que, pretensamente, o assessoram, como, por exemplo,um dos ideólogos
da guerra do Iraque na era Bush, entrou para a equipa de Trump há dias,
o senhor John Bolton, ou o «Senhor Guerra», e – creio que
ainda é – investigador de um dos mais aureolados think-tanks conservadores
dos EUA, o American Enterprise Institute.
É que o senhor Trump e
o Pentágono têm de compreender que as réplicas russas de que, em caso de ataque
– mesmo que pretensamente cirúrgicos – estes não terão quaisquer problemas em
ripostar e abater os mísseis que sejam enviados pela marinha ou aviação norte-americana,
são pertinentes e compreensíveis.
Não é porque desejem salvaguardar
a integridade física de Bashar al-Assad – também, – ou as suas
foças armadas, nomeadamente, a aviação síria. É que as foças russas que apoiam
o regime de Bashar al-Assad estão no meio, no centro, deste
vulcão. E um ataque ao vulcão seria um ataque às forças russas. E as vítimas
que daí resultassem seriam não só sírias como russas. Logo…
E o interessante é a tentativa do
senhor Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, incitar
o senhor Trump a atacar a Síria, que, além de apoiada pelos russos,
também é apoiada pelos iranianos – o que, para o inquilino da Casa Branca, é
ouro sobre azul, dado a longuíssimo litígio que existe entre Teerão e
Washington; uma dolorosa e histórica mágoa norte-americana poderia ser limpa…
Ora, quer russos, quer iranianos,
têm apoiado as actuais políticas de Erdogan. Estranho? Não,
penso que esta atitude do líder turco, prender-se-.á com os
curdos. Porque no caso do ataque norte-americano, estes teriam de retirar
algum do seu apoio aos curdos sírios o que tornariam, estes, mais frágeis,
face às pretensões hegemónicas e expansionistas do líder turco contra os curdos.
Pois é por causa disto e porque
nem o senhor Trump parece saber o que quer – dai acreditar que estará
a ser pressionado pelos falcões que julgam ser a Síria, o mesmo que o Iraque –
como mostra o seu tweet de hoje (ontem) de manhã «“Nunca disse quando
é que um ataque à Síria iria acontecer. Pode ser muito em breve, ou então não
tão cedo, de todo!”
Daí que, se estiverem a ler
este texto, é porque Trump e Putin assim o quiseram; o que
me leva a terminar com…
Até para a semana, se Trump e
Putin quiserem!
*Investigador do Centro de
Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e Pós-Doutorando da
Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**
** Todos os textos por mim
escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado
Eugénio
Costa Almeida, opinião | em Vivências
Press News | 13.04.2018
*Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico
angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e
Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais - nele
poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a
actividade académica, social e associativa.
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