Em Londres, o Presidente de
Moçambique defendeu o fim da suspensão da ajuda por parte das instituições de
Bretton Woods. Nyusi foi apelativo, afirmando que o povo será sacrificado se o
país continuar sem apoio.
Filipe Nyusi está em Londres para
participar da Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Commonwealth. Antes
disso o Presidente participou nesta terça-feira (17.04.) num encontro
subordinado ao tema "Promoção da paz sustentável, democracia e desenvolvimento
inclusivo em Moçambique", promovido pelo Instituto Real de Relações
Internacionais (Chatham House).
No evento, o Presidente
moçambicano defendeu que a responsabilidade pelas dívidas ocultas avaliadas em
1,7 mil milhões de euros e contraídas pelas empresas estatais Ematum, MAM e
Proindicus "deve ser partilhada" com os credores, os bancos Credit
Suisse e o VTB.
Entretanto, as dívidas foram
contraídas com o aval do Governo, mesmo que sem debate no Parlamento, numa
clara violação da lei. A pergunta que a DW África colocou ao economista Alfredo
Mondlane é se faz sentido este posicionamento do representante de um Estado
responsável?
"Faz sentido, sim, em
querermos pedir responsabilidade. Contudo é questionável dizer o que é
partilhar responsabilidades com os bancos. Penso que nesta perspetiva os bancos
têm responsabilidade no sentido de ajudar o Governo a encontrar a melhor
solução, não têm responsabilidade de isentar o Governo do serviço da dívida,
temos de distinguir isso", responde o economista.
Responsabilidade do Estado vs
responsabilidade de agentes do Governo
Roberto Tibana é outro economista
moçambicano que não tem dúvidas que do lado dos credores houve uma
responsabilidade nos empréstimos duvidosos. Mas ele ressalva que o facto não
anula a responsabilização do lado moçambicano e faz questão de diferenciar
alguns aspetos.
Segundo ele, "não podem
dizer que a responsabilidade é de Moçambique, isso é dizer que é
responsabilidade do Estado. Mas não é responsabilidade do Estado, é
responsabilidade daqueles agentes que violaram as lei do Estado para irem
fazer uma coisa da qual hoje, a posteriori, eles vêm responsabilizar o
Estado."
Filipe Nyusi questionou a falta
de sensibilidade dos credores, o desrespeito pelas regras e ainda o facto
dos credores não terem tomado em conta que Moçambique é um país pobre, numa
clara assunção de que estaria incapacitado para assumir uma tal dívida.
O povo é o "Ás" de
Filipe Nyusi
O Presidente de Moçambique
garante que as dívidas são assumidas pelo Estado moçambicano, mas que estão a
ser negociadas, e defendeu o levantamento da suspensão da ajuda ao país pelo
Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial.
E Filipe Nyusi, de forma
apelativa, usou o nome do povo, alertando que se não houver partilha
de responsabilidades a população será sacrificada.
Mas o economista Alfredo Mondlane
considera que essa foi uma cartada apelativa mal jogada por Nyusi:
"Penso que o Presidente da
República pode estar a ter uma abordagem menos feliz. Parece-me que houve um
desvio da aplicação, o que tornou os projetos inviáveis. E aí não é possível
responsabilizar os bancos e falar-se de partilha de responsabilidades se houve
falta de transparência."
E a responsabilidade de
Nyusi?
E a falta de transparência
continua a ser o "calcanhar de Aquiles" deste caso. Enquanto o
Governo não esclarecer os contornos deste caso e o Ministério Público não abrir
um processo que culmine com responsabilizações, o caso continuará sem desfecho.
E o economista Roberto Tibana
recorda que o próprio Presidente da República é peça fundamental para
esclarecer este caso: "Lembre-se que ele era o ministro da Defesa e uma
das coisas que têm de ficar esclarecida é exatamente o que aconteceu com
os tais 500 milhões de dólares que dizem que foram para o Ministério da Defesa.
Mas ele era o ministro da Defesa, então onde fica a responsabilidade dele? Ele
ainda não explicou isso. E a responsabilidade dele neste Governo em garantir
que isso seja explicada também ainda não assumiu."
Enquanto isso, o Governo
moçambicano tem andado em "operações de charme" a nível externo para
reconquistar apoio financeiro e investimento.
Mas para Tibana "uma
operação de charme que não resolva, que não voe nas asas de uma solução deste
problema fundamental interno de responsabilização e esclarecimento interno não
vai ter sucesso."
Nádia Issufo | Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário