Dezenas de manifestantes
protestaram na sexta-feira (6), em Maputo, contra os assassinatos de vozes
críticas em Moçambique e os ataques contra a liberdade de pensamento. E
exigiram que os autores dos crimes sejam punidos.
Canções, poemas, mensagens,
discursos e outras formas espontâneas de expressão de opinião caracterizaram a
vigília promovida por organizações da sociedade civil, em protesto contra
ataques à liberdade de expressão no país.
Os manifestantes deploraram a aparente
impunidade dos autores e mandantes destes atos que ameaçam a democracia no país
e exigiram que sejam levados à barra dos tribunais.
"Estamos tristes porque
sentimos que as nossas liberdades, os nossos direitos estão gradualmente a
ser-nos retirados", afirmou Fernando Gonçalves, presidente do Instituto de
Comunicação da África Austral (MISA-Moçambique).
"Este é o momento de dizer
basta. Viemos aqui precisamente para transmitir uma mensagem clara e sem
ambiguidades de que queremos as nossas liberdades de volta", sublinhou
Fernando Gonçalves.
O presidente do
MISA-Moçambique também classificou como um "ato de terrorismo" a
violência usada contra quando as pessoas que usam o seu direito à expressão.
A força do argumento
Sendo um país democrático,
Moçambique devia estar aberto ao debate aberto e frontal de ideias, disse Bruno
Zita, da Ordem dos Advogados. "Queremos um Moçambique onde impera a força
do argumento e não o argumento da força", defendeu.
"Alguns de nós têm que cair
para que isto um dia seja um país limpo", afirmou Roberto Tibana, um dos
participantes na vigília.
Para a diretora
da organização não-governamental Fórum Mulher, Nzita de Deus, não é
silenciando as pessoas que os moçambicanos vão parar de falar: "Em algum
momento nós acabaremos por romper com estas correntes que estão a tentar
colocar-nos. As mordaças que nos colocam não se vão perpetuar."
O último ato de violência
relacionado com o exercício da liberdade de imprensa atingiu o
jornalista e comentador Ericino de Salema, raptado e agredido por
desconhecidos no passado dia 27.
Instada a comentar estes atos de
violência, a comentadora do programa televisivo "Opinião no feminino"
Alda Salomão disse à DW África que se sentia atacada, magoada e triste, mas ao
mesmo tempo encorajada a continuar. "Só a continuidade irá ajudar-nos a
evoluirmos para um patamar e um cenário em que a diferença de opiniões é aceite
como normal, natural e até desejável", declarou.
Protestos em todo o país
A vigília promovida esta
sexta-feira (06.04) em Maputo é o início de um movimento que vai cobrir todo o
país, explicou o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Jornalistas,
Eduardo Constantino.
"As violações aos direitos
humanos, à liberdade de expressão não acontecem tão somente na capital do país,
mas também nas capitais provinciais, nos distritos, localidades, aldeias por ai
adiante", lembrou.
A vigília teve lugar no recinto
da Sede do Sindicato Nacional de Jornalistas, próximo do local onde o
jornalista Ericino de Salema foi raptado.
Na terça-feira (03.04),
organizações da sociedade civil entregaram uma
petição ao Parlamento em que apelam à intervenção daquele órgão para
se pôr fim aos ataques à liberdade de expressão.
Leonel Matias (Maputo) | Deutsche
Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário