Amnistia Internacional recomendou
a suspensão imediata das atividades de exploração mineira de areias pesadas
pela empresa chinesa Haiyu, em Nagonha, a cerca de 180 quilómetros da cidade de
Nampula.
A Amnistia Internacional (AI)
denuncia que a exploração de areias pesadas em Nagonha pela empresa chinesa
Haiyu colocou toda uma aldeia costeira com mais de mil pessoas em sério risco
de ser arrastada para o oceano Índico.
Segundo um relatório divulgado esta
quarta-feira (28.03) em Maputo, as práticas da Haiyu na região de Nagonha
transformaram a topografia da área e afetaram o sistema de drenagem das zonas
húmidas com impactos negativos sobre o ambiente e a população local.
No relatório "As nossas
vidas não valem nada - O Custo humano da exploração mineira chinesa em Nagonha,
Moçambique", a Amnistia Internacional denuncia que a empresa chinesa Haiyu
não realizou uma avaliação adequada do impacto ambiental nem consultou a comunidade
antes de estabelecer as suas atividades, apesar dos requisitos da legislação
local nesse sentido.
Inundações deixaram 290 sem teto
O documento mostra por exemplo,
com base na análise de imagens de satélite, testemunhos dos residentes de
Nagonha e provas de peritos ambientes, como as operações da Haiyu contribuíram
provavelmente de forma significativa para inundações súbitas registadas em 2015
na aldeia. Estas inundações destruíram 48 casas e deixaram 290 pessoas sem
teto.
A comunidade, que depende muito
da pesca, perdeu também recursos naturais vitais proporcionados pelas zonas
húmidas locais, nomeadamente água potável, plantas medicinais, lagoas para
pescar, frutos silvestres, medicamentos tradicionais e lenha.
Intervindo durante a cerimónia de
lançamento do relatório, Lopes Cocotela Vasco, líder tradicional de Morrua,
local onde está instalada o projeto, não escondeu o seu desalento. "Para
ser franco essa empresa não observou as regras da nossa lei, sobretudo não se
fez consulta comunitária naquela comunidade. Nós de Morrua só carregamos o peso
porque não fomos ouvidos."
Inação do Governo
A Amnistia Internacional lamenta
que apesar das inundações, as autoridades moçambicanas continuam a não
regulamentar o setor, o que contribui para os riscos continuados das operações
mineiras da empresa para a aldeia.
"A inação do Governo deixou
os residentes de Nagonha à mercê de uma empresa que dá a prioridade à busca do
lucro e negligência a vida das pessoas", afirmou Deprose Muchena, Diretor
Regional da Amnistia Internacional para a África Austral.
"A Amnistia Internacional
apela ao Governo moçambicano para investigar as ações desta mineradora em
particular aquelas que põem em causa a legislação do país e a vida da
população. Apelamos, igualmente, ao Governo para assegurar que a comunidade de Nagonha
está a ser compensada pelos danos causados pela mineradora".
A Aministia Internacional
recomenda ainda que o Governo de Moçambique ratifique imediatamente o pacto
internacional sobre os direitos económicos, sociais e culturais, e assegure a
provisão dos serviços básicos aos residentes de Nagonha. Recomenda também ao
Governo para realizar urgentemente inspeções ambientais, sociais e de direitos
humanos legalmente exigidas a todas as operações mineiras realizadas pela
empresa Haiyu e disponibilizar as suas conclusões para consulta pública.
Recomendações ao Parlamento
Por outro lado, a Aministia
Internacional recomenda ao Parlamento para assegurar a incorporação na
legislação nacional de boas práticas e diretrizes internacionais para mineração
de areias nas áreas do litoral, em particular nas zonas húmidas costeiras.
O Parlamento deverá igualmente
tomar medidas de modo a assegurar que as empresas que atuam no país pratiquem
diligência devida e adequada em matéria de direitos humanos em todas as suas
operações e publiquem os seus relatórios.
Comentando o relatório da Amnistia
Internacional, Fatima Mimbire, do Centro de Integridade Pública (CIP) afirmou
que "os resultados do estudo demonstram claramente que o setor extrativo
está a ser muito mal gerido no país, que as instituições não estão a cumprir
com aquilo que são as suas obrigações, os seus deveres, nomeadamente garantir
que as empresas cumpram a lei, fiscalizar a ação das empresas de modo a
verificar se todos os instrumentos, todas as boas práticas estão a ser
implementadas ou não".
Leonel Matias (Maputo) Deutsche
Welle
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