José Pedro Sambu,
juiz-conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) da Guiné-Bissau foi
eleito presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) numa lista apoiada
pelos deputados do PAIGC e PRS.
A lista encabeçada por Pedro
Sambu obteve 94 votos dos 102 deputados que compõem o Parlamento guineense,
anunciou o líder do hemiciclo, Cipriano Cassamá, que saudou "a cooperação
e entendimento" entre os dois principais partidos no órgão.
Além de José Pedro Sambu, que era
secretário executivo da CNE, a lista inclui o juiz desembargador Mpaby Kaby,
que é agora o novo secretário executivo. Os juízes de direito, Felisberta Vaz e
Idrissa Djaló, são os secretários executivos adjuntos da nova equipa. Vaz, juíza
de direito no tribunal regional de Bissau é nova na CNE já que Djaló, fazia
parte da anterior direção.
A nona legislatura, profundamente
marcada pela crise que durou três dos seus quatros anos de vigência, termina no
dia 23 deste ms de abril. Aos jornalistas, Pedro Sambú, novo presidente da CNE,
indica que de imediato vai iniciar a implementação do cronograma eleitoral, que
passa necessariamente, pela atualização dos cadernos eleitorais, que deverão
estar prontos no mês de maio.
"O que estamos a pensar
organizar com o Gabinete do Apoio ao Processo Eleitoral (GETAP) é a atualização
do recenseamento. Como sabem é a GETAP que faz o recenseamento, mas a CNE tem a
função de fiscalizar. Estamos com problemas de Kits e estamos a aguardar a
chegadas de Kits". Pedro Sambu acrescentou que até ao momento só tem o
apoio financeiro do governo guineense no valor de um milhão de dólares.
Pedido de desculpas ao povo
No discurso do encerramento dos
trabalhos da sessão extraordinária do Parlamento guineense, que não se reunia
desde janeiro de 2016, devido as divergências entre os dois principais partidos
políticos do país, PAIGC e PRS, o presidente da ANP Cipriano Cassamá, pediu
desculpa ao povo guineense pela recorrente instabilidade e salientou que no
impasse político vivido "não há vencedores e nem vencidos".
"Volto a pedir do fundo do
meu coração que ponhamos a mão na nossa consciência para pedirmos desculpa ao
nosso povo pelos períodos recorrentes de instabilidade política, cuja
responsabilidade é de todos nós, políticos, e assumirmos aqui solenemente que
tudo faremos para que nunca mais aconteçam no nosso país situações como estas
que paralisaram as nossas vidas e as nossas instituições cerca de três
anos", afirmou Cipriano Cassamá.
"Lembremo-nos que não há
neste processo nem vencedores e muito menos vencidos", sublinhou, apelando
ao grupo dos deputados dissidentes do PAIGC para regressarem ao partido,
conforme previsto no Acordo de Conacri.
Agradecimentos à comunidade
internacional
No discurso, Cipriano Cassamá
agradeceu à comunidade internacional por "todos os esforços
empreendidos" para a saída da crise. "Espero que continue a apoiar o
país nos seus esforços de reconciliação, na realização de eleições legislativas
e no seu processo de desenvolvimento económico", disse.
Cipriano Cassamá pediu aos
deputados guineenses para devolverem ao povo o "direito de sonhar e
renovar a esperança num futuro de progresso e bem-estar económico e
social".
"Vamos enterrar o machado de
guerra e erguer bem alto a voz da reconciliação, do companheirismo para que
possamos todos caminhar rumo à definitiva estabilização social e política no
nosso país", salientou.
Prolongamento da legislatura
Entretanto, o Parlamento
prorrogou a atual legislatura que termina no próximo dia 23, por mais seis
meses, até a realização de eleições legislativas previstas para 18 de novembro.
Cipriano Cassamá, anunciou que 93
dos 95 deputados presentes na sala, votaram a favor da prorrogação da
legislatura, uma disposição que só terá força de lei se for promulgada pelo
Presidente guineense, José Mário Vaz.
Enquanto isso, os dois principais
partidos políticos no parlamento, o PAIGC e PRS, congratularam-se com os
progressos alcançados, na base de entendimento, para o fim da crise.
Certório Biote, líder da bancada
parlamentar do PRS, a segunda força política do país, disse que com os
consensos alcançados, a crise está a chegar ao fim.
"A crise que abalou o país
quase três anos está chegando pouco a pouco ao seu término. É prova
inequívoca que os guineenses podem entender-se através do diálogo franco.
O que vimos hoje foi um diálogo franco entre os dois grandes partidos. Nota-se
que tudo quanto nos preocupava está ultrapassado e falta apenas a formação
do Governo para realizarmos as eleições. O mais importante é que estamos a nos
entender sobre as questões nacionais".
Califa Seidi, líder da bancada
parlamentar do PAIGC, explicou por seu lado, que se optou pela prorrogação
da legislatura para que o Parlamento possa acompanhar a implementação do Acordo
de Conacri e fiscalizar as leis.
"Sem a prorrogação da
legislatura teríamos dificuldades em acompanhar a implementação do Acordo
de Conacri. A Assembleia Nacional Popular também assinou o acordo e temos
pacotes de reformas que devem ser implementadas, mas antes têm passar pelo
Parlamento".
Vários círculos políticos e da
sociedade civil criticaram o prolongamento da legislatura, considerando a iniciativa
dos deputados de inconstitucional.
ANP sem sessões durante quase 3
anos
Recorde-se que o hemiciclo do
Parlamento da Guiné-Bissau estava encerrado há quase três anos devido a
divergências profundas entre as duas principais bancadas, a do PAIGC e a do
PRS.
A reabertura do Parlamento
guineense ocorre depois do consenso alcançado entre PAIGC, PRS e Presidente
guineense no sábado em Lomé, Togo, e que vai culminar com a realização de
eleições legislativas a 18 de novembro.
No sábado (14.04), durante a
cimeira extraordinária dos chefes de Estado e de Governo da Comunidade
Económica dos Estados de África Ocidental (CEDEAO) já tinha sido anunciado que,
após a nomeação do novo primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes, o
Parlamento seria reaberto a 19 de abril.
A Guiné-Bissau vive uma crise
política desde a demissão, por José Mário Vaz, em agosto de 2015, do Governo
liderado pelo antigo primeiro-ministro Domingos Simões Pereira, do PAIGC,
vencedor das legislativas de 2014.
Desde as eleições legislativas de
2014, a Guiné-Bissau já vai no sétimo primeiro-ministro, que terá como
principal objetivo organizar as legislativas.
Braima Darame (Bissau), Agência
Lusa | Deutsche Welle
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