Martinho Júnior | Luanda
1- Longe vão os tempos da
administração republicana de Ronald Reagan, todavia, desde então, a fermentação
do capitalismo neoliberal não deixou de ocorrer, agora com uma outra “maturidade”,
temperada por um exercício que já leva três décadas de múltiplas experiências e
práticas “laboratoriais”, em “estado de globalização”!
Se antes (desde 11 de Setembro de
1973 no Chile) o deslumbramento se limitava aos iluminados da escola de
Chicago, com o “mestre”Milton Friedman à cabeça, as elites intelectuais ao
serviço da aristocracia financeira mundial desde 1985 que não se coibiram de se
ir reforçando de doutrinas que se complementam numa amálgama que vai sendo
aplicada onde quer que seus interesses e conveniências se façam sentir,
particularmente quando os “alvos” são ricos de matérias-primas e
mão-de-obra barata e não possuam elites garantidamente agenciadas no governo de
turno.
Assim vimos desfilar Leo Strauss,
Gene Sharp, George Soros, Francis Fukuyama, cada um respondendo aos quesitos
filosóficos e práticos indispensáveis ao domínio e seus instrumentos, de que é
emanação sempre com alinhamento republicano “in”, como o agora detido Paul
Manafort.
2- Se Frank Charles Carlucci em
Portugal foi indispensável para a aristocracia financeira mundial
instrumentalizar o “Arco de Governação” (ele foi um intermediário
entre Henry Kissinger e o general Spínola, no âmbito do Le Cercle – http://moversandshakersofthesmom.blogspot.com/2008/09/frank-c-carlucci-iii.html),
graças aos seus privilegiados laços com os fundamentos e a decorrência do golpe
do 25 de Novembro de 1975 (os spinolistas sem Spínola), entre eles Mário
Soares, Paul Manafort, o submarino republicano de Ronald Reagan, com uma
experiência de dez anos antes dessa “essencial conexão”, foi uma das “pontes” para
a deriva neoliberal em Portugal e em África, “behind the scenes”.
Nessa deriva, um dos mais
consumados alinhamentos foi entre os clãs de Soares e o de Savimbi, cuja “vitalidade” sobreviveu
ao fim do “apartheid” não por acaso: aproveitou o que de clandestino
foi possível do Exercício Alcora na África do Sul, em Angola e no Zaíre de Mobutu
para, entre inspectores da PIDE/DGS “refugiados” em Pretória e
agentes saídos do colonialismo, criar os fundamentos do choque neoliberal, no
âmbito da Iª Guerra Mundial Africana, ou seja, da “guerra dos diamantes de
sangue” que, tão bem se aplicou a partir dos ganhos de Bicesse (31 de Maio
de 1991).
Foi para isso que também serviu o
general Charles Alan “Pop” Frazier, um dos estrategas do Exercício
Alcora e um dos principais membros do Le Cercle na África do Sul (https://www.news24.com/Columnists/GuestColumn/declassified-apartheid-profits-le-cercle-the-phantom-profiteers-20171026).
É evidente que, desalojado
o “perigo vermelho” do “Arco de Governação” em Portugal e
com as transformações da superestrutura ideológica do estado angolano, a
terapia neoliberal tinha todas as condições de ser alimentada depois desse
choque, em múltiplos expedientes que se entrelaçaram: desde as parcerias
público-privadas, até aos mais íntimos processos de “neo” assimilação.
O submarino republicano Paul
Manafort, agora detido por mal parada correlação de forças sócio-políticas
entre democratas e republicanos nos Estados Unidos (https://observador.pt/2018/06/15/ex-diretor-da-campanha-de-trump-paul-manafort-preso-enquanto-espera-julgamento/),
em função dos resíduos das tensões com base nas campanhas presidenciais de
Donad Trump e de“Killary” Clinton, bem pode evocar seus “bons
ofícios”, “patrióticos” ofícios de pelo menos quatro décadas, por
dentro das mais sensíveis nervuras republicanas, mas não pode escapar de ser
uma pedra potencial a sacrificar, ou um trampolim para o sacrifício de outras
mais (até para a aristocracia financeira mundial a coisa está difícil e o
monstro parece começar a estar a devorar alguns dos seus mais dilectos filhos).
Se a visão protecionista do “excêntrico” republicano
Donald Trump é uma anomalia para com um neoliberalismo que promoveu a hegemonia
unipolar global a ponto de minar todos os emergentes agora despertos e bem
vivos depois da lástima que foi uma travessia de deserto, as correntes que
ganharam força ao serviço da aristocracia financeira mundial nas três últimas
décadas parecem querer domar os excessos do seu próprio “efeito boomerang” próximas
das articulações do poder em concorrência à Casa Branca.
3- A “residência na Terra” para
estes fiéis servidores da cor do silêncio do império da hegemonia unipolar,
está a ser atravancada e os fiéis servidores até parece que se vão acotovelando
face à história e à “justiça”, no rescaldo dos seus tão “bons
ofícios”!
À falta de espaço, sinais há que
também vai faltando o oxigénio para alguns corredores de fundo, ainda que sejam
submarinos, habituados a todo o tipo de escafandros e de meio ignotos, meio
escondidos ancoradouros.
Em Portugal, alguns dos vínculos
do submarino republicano têm vindo a espaços à tona da informação pública.
A jornalista Cátia Bruno lembra
assim (https://observador.pt/especiais/manafort-soares-e-dias-loureiro-os-lacos-a-portugal-do-homem-de-trump-que-se-move-na-sombra/):
…“Os homens de Reagan, the best
that money can buy.
Corria o ano de 1985 quando Paul
Manafort pôs o pé pela primeira vez em Portugal. Na televisão passava a novela
A Sucessora (ainda faltavam dois anos para Roque Santeiro) e nas rádios
ouvia-se Dunas, dos GNR, enquanto o país recuperava de um resgate do FMI
imposto por um governo de bloco central, liderado por Mário Soares.
O primeiro-ministro finalizaria
também nesse mesmo ano a adesão de Portugal à CEE — como os próprios GNR tinham
pedido em tempos –, e colocava em marcha a preparação da sua candidatura às
presidenciais do ano seguinte, naquela que viria provavelmente a ser a campanha
mais apaixonada de que há memória no nosso país.
Mas antes disso, ainda na
primavera de 1985, Manafort chegaria a Lisboa com o objetivo de prestar
assistência a essa candidatura presidencial de Mário Soares, segundo o relato
de Rui Mateus, fundador do PS caído em desgraça.
O próprio Soares confirmaria mais
tarde que Manafort, acompanhado do seu sócio Lee Atwater, esteve em São Bento e
na sua casa de Nafarros. Mas os relatos dos dois homens diferem quanto ao grau
de envolvimento dos consultores norte-americanos, como ambos se lhes referem.
Contactado pelo
Observador, o próprio Paul Manafort declinou comentar o tema, através do
seu assistente. No entanto, o seu antigo sócio Charles Black não teve problemas
em confirmar que Manafort teve de facto uma ligação a Portugal: Fizemos
trabalho de consultoria política para o partido do senhor Soares numa das
vossas eleições, no passado, confirmou por e-mail o consultor que auxiliou as
campanhas dos presidentes Ford, Reagan, Bush pai e Bush filho e que mais
recentemente colaborou com John McCain na sua tentativa presidencial.
O Paul é que tratou de todo o
trabalho, eu não estive envolvido. Por isso, não sei pormenores.
Mas vamos por partes.
O que dizem os relatos de Rui
Mateus e de Mário Soares?
Mateus, fundador do PS e antigo
colaborador de Soares, mais conhecido pelo seu envolvimento no caso do Fax de
Macau, publicou em 1996 o polémico livro Contos Proibidos, onde colocava Soares
em causa em vários episódios.
Nele, Mateus — cujo paradeiro
atual é desconhecido –, refere várias vezes o nome de Manafort, frequentemente
apelidado de homem do Reagan.
O primeiro episódio que escreve
refere-se à chegada de Manafort na tal primavera de 1985, a propósito das
eleições presidenciais:
[Soares] Dir-me-ia para falar com
o Carlucci sobre a questão falada no Hotel Madison durante a visita oficial aos
EUA, quando este lhe sugerira o recurso a apoio técnico de uma empresa
especializada em eleições.
Carlucci, com quem aliás mantinha
contactos regulares, dir-me-ia que sim, que se lembrava e que me iria pôr em
contacto com uns homens do Reagan que eram the best that money can buy.
Lee Atwater telefonar-me-ia
poucos dias depois e combinou-se organizar uma visita a Portugal para, em
contacto com Soares, discutirem o assunto.
Lee Atwater e Paul Manafort, dois
dos proprietários da empresa de Relações Públicas Black, Manafort, Stone &
Kelly chegariam a Lisboa num voo da TWA às 7h30 de domingo, dia 3 de
Março. Na parte da tarde eu próprio os iria buscar ao hotel Meridien para
depois os levar a uma longa conversa com Mário Soares, na sua casa de Nafarros.
O próprio Mário Soares confirmaria esta parte da história à
jornalista Maria João Avillez, dizendo que a indicação dos dois nomes partiu de
facto do antigo embaixador norte-americano Frank Carlucci:
É exacto, isso sim, que Carlucci
me indicou dois nomes de americanos, com larga experiência nessas matérias, e
que ele dizia serem grandes especialistas em impor a imagem dos candidatos…,
confirmou o antigo Presidente.”
Continua
Martinho Júnior - Luanda, 16 de
Junho de 2018
Imagens:
Há 40 anos Paul Manaford “estreou-se” com
a administração republicana do Presidente Ford;
Paul Manafort com os Presidentes
republicanos Ronald Reagan e George Bush (pai), impulsionando a globalização
neoliberal;
Paul Manafort ao serviço da
candidatura republicana de Donald Trump;
Acusação contra Paul Manafort;
Twitter de Donald Trump sobre a
corrente situação do ancoramento do submarino.
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