O ministro da Defesa, ao não
confirmar nem desmentir o anúncio da recuperação do material roubado em Tancos,
permite concluir que apenas um cabo, um sargento e um capitão serão
responsabilizados.
AbrilAbril | editorial
Deu uma nova «brisa à vela» do
caso de Tancos. Não é a primeira vez e talvez não seja a última. Tudo o que
importa já foi escrito: do não se saber exactamente o que tinha sido surripiado
até ao aparecimento de uma lista; do estado das instalações até à mudança de
instalações; da suspensão de comandantes (figura estranha) até à sua
reconfirmação e recente nomeação para o curso para oficial general; do
conhecimento há muitos anos do estado das instalações a que anteriores
responsáveis políticos e militares não passaram cartão; da falta de efectivos
para cuidar das guardas e da existência de efectivos para irem frequentar
formação para combater incêndios; do gravoso desaparecimento (com informação
aos aliados e tudo) até à conclusão de que afinal não era assim tão grave
porque era material com defeito; do milagroso telefonema a dar conta do achado,
com prémio, e o natural regozijo – sim, porque ninguém quer que material
daquela natureza, mesmo com defeito, ande por aí –; do incompreensível resgate
do material por parte das Forças Armadas sem «passar cavaco» ao Ministério
Público, que tinha aberto processo e constituído equipa para investigar o
crime; da dificuldade deste mesmo Ministério Público e da Policia Judiciária em
acederem ao referido material localizado, até às noticias recentes que dizem
que, afinal, parece haver material em falta; das declarações que, perante tal
questão, dizem que compete ao Ministério Público esclarecer já que o processo
está em segredo de justiça.
Por fim, o décimo apelo do
Presidente da República para que tudo seja esclarecido e mais uns soundbites do
PSD e do CDS-PP que, quando no Governo, nada fizeram para cuidar do estado de
degradação das instalações, já para não falar (não vem aqui ao caso) do seu
contributo para a degradação mais geral das Forças Armadas, em vários planos.
Como se verifica, sem sermos
exaustivos, de tudo já se escreveu e disse. A única coisa que falta referenciar
é quem levou o material do paiol de Tancos, havendo, contudo, quem desde o
início tenha dito, com convicção, que tudo não passaria de um problema de
inventário.
O apuramento do que ocorreu e de
quem praticou o crime em nada bule com o apuramento dos responsáveis que,
ocupando determinado tipo de cargos ao longo dos anos e tendo conhecimento das
debilidades nada fizeram, potenciando o que veio a ocorrer. Teria sido
pedagógico. Mas esta é, porventura, uma opinião estranha nos tempos que correm.
Instalou-se a política de uma mão lava à outra. A frontalidade deu lugar à
frugalidade. Os valores propiciadores da coesão passaram a ser de geometria
variável.
Daí que, a partir das afirmações
do ministro da Defesa Nacional na Comissão parlamentar de Defesa, não
confirmando nem desmentido, antes pelo contrário, as afirmações feitas
pelo chefe do Estado-Maior do Exército na conferência de imprensa em
que anunciou a recuperação do material roubado, e refugiando-se na investigação
do Ministério Público, possamos concluir que todas responsabilidades ficarão
nos ombros dos militares já castigados: um cabo, um sargento e um capitão!
O assunto é sério mas a época da silly
season não ajuda. Até lá o melhor é redescobrir os livros de «Onde
está Wally?».
Na foto: O ministro da Defesa,
Azeredo Lopes, na cerimónia de despedida do grupo de 108 militares do Regimento
de Artilharia N.º 4, da Brigada de Reacção Rápida, que partiram para a Lituânia
para integrar a força Light Artillery Battery/Assurance Measures 2016, bateria
disponibilizada para a NATO. 29 de Junho de 2016. CréditosMário Cruz /
Agência Lusa
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