quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Moçambique | RENAMO acusa polícia de perseguição por "motivações políticas"


Maior partido da oposição moçambicana diz que apoiantes e candidatos da RENAMO estão a ser perseguidos pela PRM, que acusa de estar ao serviço da "agenda eleitoral" da FRELIMO. Partido no poder e polícia negam acusações.

A RENAMO afirmou esta quinta-feira (30.08) que tem vindo a acompanhar com apreensão e preocupação os últimos desenvolvimentos políticos no país, em que é notória a perseguição e impedimento dos militantes e candidatos do partido de realizar atividades políticas.

"Estas ações contrariam não só o espírito de diálogo em curso para a consolidação da paz como também viola de forma flagrante a constituição e as leis do país, que preconizam as liberdades de reunião, de associação, de expressão e de movimentação, assim como a liberdade de participação política em ambiente tranquilo e democrático", sublinhou o líder interino do partido, Ossufo Momade.

Falando numa teleconferência a partir da Gorongosa, Momade exemplificou que o cabeça de lista da RENAMO na cidade de Maputo, Venâncio Mondlane, e outros membros do partido foram impedidos pela polícia de realizar as suas actividades políticas nos dias 18, 22 e 28 do corrente mês nos bairros de Xipamanine, Unidade 7 e Aeroporto.

O coordenador interino da RENAMO disse que Venâncio Mondlane foi ainda intimado a comparecer na Procuradoria da cidade de Maputo, a 20 de agosto, para responder num processo e quatro dias depois o partido recebeu da Comissão Nacional de Eleições (CNE) uma deliberação que o exclui da lista desta formação desta formação política. "Claramente, todas estas ações têm motivações políticas com vista a prejudicar a RENAMO", afirmou Ossufo Momade.

O coordenador interino da RENAMO denunciou, igualmente, que o cabeça de lista do seu partido para a cidade de Quelimane, Manuel de Araújo, foi vítima, na semana passada, de uma suposta destituição do cargo de Presidente do Conselho Municipal pela Assembleia local, decisão que afirma ter sido apadrinhada pelo Conselho de Ministros.

Escoltas só para a FRELIMO?

Ossufo Momade disse ainda que, um pouco por todo o país, a polícia tem vindo a impedir a apresentação pública dos cabeças de lista, bem como dos demais candidatos da RENAMO, quando a mesma corporação é publicamente vista a escoltar e a guarnecer comícios de campanha eleitoral do partido no poder, a FRELIMO.

Segundo o líder interino, na ótica da RENAMO, não se percebe que o partido cujo Governo se encontra a negociar a paz, descentralização e reintegração das forças residuais da RENAMO nas forças de defesa e segurança use precisamente estas mesmas forças como braço armado para impedir a participação democrática e pacífica do maior partido da oposição nos processos eleitorais.

"Como acreditar na sinceridade de um Governo que na mesa do diálogo promete paz, reconciliação, descentralização e reintegração social [das forças armadas residuais da RENAMO], mas que na prática quotidiana demonstra tamanha intolerância política e uso abusivo das forças de defesa e segurança para impedir a participação do seu interlocutor no processo eleitoral?", questiona.

O coordenador interino da RENAMO pergunta ainda com quem a FRELIMO pretende competir nas eleições, se muito antes delas não deixa ninguém fora das suas fileiras realizar contactos com potenciais eleitores.

Ossufo Momade apela aos militantes e candidatos da RENAMO para não se deixarem intimidar e reitera o compromisso do seu partido em manter o diálogo político visando alcançar a paz efetiva e a verdadeira reconciliação nacional.

FRELIMO e polícia negam acusações

O porta-voz da FRELIMO, Caifadine Manasse, nega as acusações e afirma que o seu partido está focado nas eleições. "Distanciamo-nos destas acusações que estão a ser feitas pela RENAMO e continuamos mais uma vez a exortar para que a liderança da RENAMO se preocupe um pouco mais com o assunto da paz, porque essa é que é a nossa agenda da estabilidade", sublinha. "É preciso não criar manobras dilatórias e avançar para processos eleitorais e não tentarmos arrasta", diz Caifadine Manasse.

O porta-voz do Comando Geral da Polícia, Claúdio Langa, nega igualmente as acusações da RENAMO: "Todo o tipo de manifestação de grupo de cidadaos ou partidos politicos deve ser feito dentro do princípio da legalidade. Como policia somos apartidários."

Leonel Matias (Maputo) | Deutsche Welle

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