Martinho Júnior | Luanda
COMPASSO QUARTO DE QUATRO
PEQUENOS COMPASSOS DE DECIFRAGEM HISTÓRICA
O MPLA na universidade da vida de
António Agostinho Neto, permitiu assim ao esclarecido e vanguardista dirigente
António Agostinho Neto, assumir o comando da estratégia forjada em
plena luta armada, por que, com consciência crítica e dialética, estava apto a
saber optar, saber como ir, quando ir, com quem ir, assim como saber traçar
quer os objectivos tácticos, quer os estratégicos, respondendo antecipadamente
ao caminho do porvir!
Precisamente desse modo António
Agostinho Neto, comandante, dirigente, estratega e audacioso profeta, avaliava
também o peso específico da aprendizagem dos seus companheiros de luta, como
avaliava o momento das hesitações, derivas e até traições de alguns deles,
sabendo o que isso significava, inclusive em função dos processos de
inteligência inimiga (colonial, do “apartheid”, ou neocolonial) por detrás
e acima das tramas, dos traumas e de suas cabeças.
António Agostinho Neto respondeu
por exemplo, com a clarividência dum sábio ao momento histórico do “Vitória
ou Morte”, que sendo táctico foi também estratégico, por se tornar tão decisivo
para a afirmação das opções quando em 1965 o Che inaugurava a informal linha da
frente em luta contra a internacional fascista, colonialista e neocolonialista
na África Austral!
Os Programas Mínimo e Máximo do
MPLA têm muito que ver com essa vontade esclarecida, pertinaz e indómita, capaz
de discernir com tanta clarividência entre a estratégia e a tática do
movimento de libertação, como entre o que é da civilização e o que à barbárie pertence,
nesse e com esse caminho de libertação fluindo tão sujeito a riscos, armadilhas
e penosas provas.
No cadinho dessa vontade foi
portanto possível avaliar e definir o momento táctico, entre as
estratégias sequenciais do Programa Mínimo e do Programa Maior, que António
Agostinho Neto, apoiado pelos revolucionários e progressistas de todo o mundo e
seus mais fieis companheiros de luta, fez coincidir com o momento da
independência nacional de Angola a 11 de Novembro de 1974 e com o
socialismo emergente que, por amor ao seu povo e estreita identidade para com
ele, quis dar ignição.
Esse socialismo forjado na luta,
entre o fragor das guerras que em nome da libertação de África haveriam que ser
travadas, foi vitorioso nelas e deveria ter a sua justa oportunidade histórica
que lhe tem sido diminuída com a vulnerabilidade patenteada pelo socialismo de
outros, à excepção de Cuba, enquanto lógica com sentido de vida e na paz!
A bandeira da independência e do
socialismo de Angola, foi erguida por todas essas mãos confluentes dos seus
companheiros de luta, combatentes e aliados e por mim próprio, juntando a elas
as minhas modestas mãos!
É essa a bandeira que continua a
flutuar nos mastros mais altos de todo o país e sobre a fortaleza de São
Miguel, hoje tornada Museu Militar, ainda que a oportunidade da paz com
socialismo tivesse sido tão vilipendiada pelo processo histórico global contemporâneo!
Com as minhas mãos limpas, o meu
coração ardente de combatente fiel e a cabeça fria da sua inteligência e de sua
clarividência estratégica e tática, sou testemunho vivo e protagonista dessas
tantas tão heroicas quão clarividentes vontades reunidas no e em torno do
movimento de libertação em África, do MPLA e de António Agostinho Neto.
À distância de pouco mais de 40
anos, nenhum deserto ardente pôde incinerar esse santuário sagrado que reside
na memória dos seus companheiros, na minha memória e na densidade dos
ensinamentos de António Agostinho Neto, cultivado aberta ou secretamente mesmo
sob o terrível sopro do capitalismo neoliberal que se abateu sobre Angola como
sobre o mundo, finda a aliança com aqueles socialistas que deixaram de o ser, sabendo
que não pode deixar de ser uma aliança com aqueles que o continuam a ser!
A hipocrisia e o cinismo
social-democrata na sua pequenez e nos conteúdos mesquinhos de sua vassalagem
ao império da hegemonia unipolar, à barbárie reprodutora de caos, terrorismo,
desigualdades, injustiças sociais e opressão, não me poderão alguma vez
confundir “contra as cordas”, nem por isso me podem assimilar, nem vencer
os que se assumindo ideologicamente imprescindíveis em seus santuários vitais,
em Angola só o poderão assim ser na corrente que António Agostinho Neto um dia
em África deu à ignição!
Não podem vencer aqueles que com
o povo despertam em cada 100 anos, quando se desperta o povo do outro lado do
Atlântico sul, o povo bolivariano e de Marti nas Américas!
A libertação de África das trevas
para que foi lançada, quando ela é uma via socialista inerente à lógica com
sentido de vida, é uma profícua inspiração renascentista para o berço de toda a
humanidade e um factor decisivo para a preservação da espécie e do respeito
devido à Mãe Terra!
O sinal aberto ao despertar não
se vai apagar, por que está entranhável à ânsia de liberdade e avidez de futuro
dos povos!
O pensamento estratégico e
táctico de António Agostinho Neto, a sua memória e os seus ensinamentos, Fukuyama
algum pode assim alguma vez apagar!
Ao não se honrar o passado e a
nossa história, ao não se evocarem a memória e os ensinamentos de António
Agostinho Neto, ao se perder da clarividência socialista para se implantar a
hipocrisia e o cinismo social-democrata, ou uma metamorfose elitista de última
geração, quanto Angola, quanto África tem perdido de sua identidade, dignidade
e coerência histórica e antropológica, quanto tem perdido de força anímica
capaz de ampla mobilização, para levar por diante a longa luta contra o
subdesenvolvimento?
Martinho Júnior - Luanda, 11 de Agosto de 2018
Fotos:
- Conferência histórica alusiva aos
55 anos do MPLA, no dia 7 de Dezembro de 2011; intervenção do camarada
comandante Dibala, um dos comandantes de coluna que assinou a proclamação das
FAPLA e apoiaram fielmente António Agostinho Neto na Conferência de Lusaka,
quando o império fazia mais um esforço para neutralizar o MPLA na África
Austral (Exercício Alcora); foto tirada por mim nesse evento;
- Estátua que evoca António
Agostinho Neto, na Praça Nobre da cidade do Huambo; foto por mim tirada a 17 de
Junho de 2011.
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