Manlio Dinucci*
A seguir à Segunda Guerra
Mundial, as tropas aliadas ocuparam o continente europeu. Se a França e a
Rússia se retiraram, hoje, os Estados Unidos da América e o Reino Unido
conservam aí uma parte das suas tropas. Desde há um ano, o Pentágono, prevendo
uma guerra mundial contra a China e contra a Rússia, utiliza as suas numerosas
bases em Itália para aumentar, de maneira maciça, o armazenamento das suas
armas na Europa, incluindo bombas atómicas.
No dia 8 de Agosto de 2018 fez
escala no porto de Livorno, o navio Liberty Passion (Paixão pela
Liberdade) e no dia 2 de Setembro, o Liberty Promise (Promessa de
Liberdade), que serão secundados, no dia 9 de Outubro, pelo Liberty Pride (Orgulho
da Liberdade). Os três navios regressarão a Livorno, sucessivamente, nos dias
10 de Novembro, 15 de Dezembro do corrente ano e em 12 de Janeiro de 2019. São
navios Ro-Ro enormes, com 200
metros de comprimento e 12 pontes, cada um capaz de
transportar 6500 automóveis. Mas eles não carregam carros, mas tanques de
guerra. Fazem parte de uma frota norte-americana de 63 navios pertencentes a
empresas privadas que, por conta do Pentágono, transportam armas continuamente
num circuito mundial entre os portos dos EUA, para o Mediterrâneo, Médio
Oriente e Ásia. A escala principal do Mediterrâneo é Livorno, porque o seu
porto está ligado à base americana limítrofe de Camp Darby.
Qual é a importância da base foi
recordado pelo coronel Erik Berdy, comandante da guarnição estacionada em
Itália, do Exército dos EUA, numa visita recente ao jornal "La Nazione " em Florença. A base
logística, situada entre Pisa e Livorno, é o maior arsenal dos EUA fora da
pátria. O Coronel não especificou qual é o conteúdo dos 125 bunkers em Camp Darby. Pode
ser estimado em mais de um milhão de projécteis de artilharia, bombas para
aviões e mísseis, além de milhares de tanques, veículos e outros materiais
militares. Não se pode excluir que nessa base estiveram, estão ou podem vir a
estar, no futuro, bombas nucleares.
Camp Darby - sublinhou o coronel
- desempenha um papel fundamental, reabastecendo as forças terrestres e aéreas
dos EUA num espaço de tempo muito mais curto do que seria necessário se elas
fossem abastecidas vindo directamente dos USA. A base forneceu a maioria das
armas para as guerras contra o Iraque, Jugoslávia, Líbia e Afeganistão. Desde
Março de 2017, com os grandes navios que fazem escala mensalmente em Livorno,
as armas de Camp Darby são continuamente transportadas para os portos de Aqaba
na Jordânia, Jeddah na Arábia Saudita, e outras escalas a Sul, para serem
usadas pelas forças americanas e pelas forças aliadas nas guerras na Síria, no
Iraque e no Iémen.
Na sua viagem inaugural, o Liberty
Passion desembarcou desembarcou em Aqaba, em Abril de 2017, 250 veículos
militares e outros materiais. Entre as armas que todos os meses são
transportadas por mar, de Camp Darby a Gedda, certamente há também bombas
americanas para os aviões que a aviação saudita emprega (como evidenciado por
provas fotográficas) para matar civis no Iémen. Há também sérios indícios de
que, na ligação mensal entre Livorno e Gedda, os grandes navios também
transportam bombas aéreas fornecidas pela RWM Itália (Radioactive Waste Management),
de Domusnovas (Sardenha), para a Arábia Saudita, para a guerra no Iémen.
Como resultado do aumento do
trânsito de armas de Camp Darby, já não é suficiente a ligação por canal e
estrada, da base com o porto de Livorno e com o aeroporto de Pisa. Portanto,
foi decidida uma reorganização maciça da infraestrutura (confirmada pelo
Coronel Berdy), que compreende uma via férrea nova. O plano envolve o abate de
1.000 árvores numa área protegida, mas já foi aprovado pelas autoridades
italianas. Tudo isto não basta. O Presidente do Conselho Regional da Toscana,
Giani (Pd), ao receber o Coronel Berdy, prometeu “promover a integração entre a
base militar dos EUA de Camp Darby e a comunidade que a circunda”. Posição
substancialmente partilhada pelo prefeito de Pisa, Conti (Lega) e pelo de
Livorno, Nogarin (M5S). Este último, ao receber o coronel Berdy e depois o
Embaixador americano Eisenberg, hasteou na Câmara Municipal, a bandeira com
estrelas e riscas.
Manlio Dinucci* | Voltaire.net.org | Tradução Maria Luísa de
Vasconcellos | Fonte Il Manifesto
(Itália)
* Geógrafo e geopolítico. Últimas
publicações : Laboratorio
di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di
viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte
della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016.
Na foto: Lewis Eisenberg foi o
presidente do porto de New York, que vendeu o World Trade Center precisamente
antes dos atentados de 11de Setembro, a fim de que os mesmos pudessem ser
organizados aí. Hoje, desempenha o cargo de Embaixador dos Estados Unidos, em
Roma, e transforma a península num arsenal USA.
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