segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Em Itália, o maior barril de pólvora USA


Manlio Dinucci*

A seguir à Segunda Guerra Mundial, as tropas aliadas ocuparam o continente europeu. Se a França e a Rússia se retiraram, hoje, os Estados Unidos da América e o Reino Unido conservam aí uma parte das suas tropas. Desde há um ano, o Pentágono, prevendo uma guerra mundial contra a China e contra a Rússia, utiliza as suas numerosas bases em Itália para aumentar, de maneira maciça, o armazenamento das suas armas na Europa, incluindo bombas atómicas.

No dia 8 de Agosto de 2018 fez escala no porto de Livorno, o navio Liberty Passion (Paixão pela Liberdade) e no dia 2 de Setembro, o Liberty Promise (Promessa de Liberdade), que serão secundados, no dia 9 de Outubro, pelo Liberty Pride (Orgulho da Liberdade). Os três navios regressarão a Livorno, sucessivamente, nos dias 10 de Novembro, 15 de Dezembro do corrente ano e em 12 de Janeiro de 2019. São navios Ro-Ro enormes, com 200 metros de comprimento e 12 pontes, cada um capaz de transportar 6500 automóveis. Mas eles não carregam carros, mas tanques de guerra. Fazem parte de uma frota norte-americana de 63 navios pertencentes a empresas privadas que, por conta do Pentágono, transportam armas continuamente num circuito mundial entre os portos dos EUA, para o Mediterrâneo, Médio Oriente e Ásia. A escala principal do Mediterrâneo é Livorno, porque o seu porto está ligado à base americana limítrofe de Camp Darby.

Qual é a importância da base foi recordado pelo coronel Erik Berdy, comandante da guarnição estacionada em Itália, do Exército dos EUA, numa visita recente ao jornal "La Nazione" em Florença. A base logística, situada entre Pisa e Livorno, é o maior arsenal dos EUA fora da pátria. O Coronel não especificou qual é o conteúdo dos 125 bunkers em Camp Darby. Pode ser estimado em mais de um milhão de projécteis de artilharia, bombas para aviões e mísseis, além de milhares de tanques, veículos e outros materiais militares. Não se pode excluir que nessa base estiveram, estão ou podem vir a estar, no futuro, bombas nucleares.

Camp Darby - sublinhou o coronel - desempenha um papel fundamental, reabastecendo as forças terrestres e aéreas dos EUA num espaço de tempo muito mais curto do que seria necessário se elas fossem abastecidas vindo directamente dos USA. A base forneceu a maioria das armas para as guerras contra o Iraque, Jugoslávia, Líbia e Afeganistão. Desde Março de 2017, com os grandes navios que fazem escala mensalmente em Livorno, as armas de Camp Darby são continuamente transportadas para os portos de Aqaba na Jordânia, Jeddah na Arábia Saudita, e outras escalas a Sul, para serem usadas pelas forças americanas e pelas forças aliadas nas guerras na Síria, no Iraque e no Iémen.

Na sua viagem inaugural, o Liberty Passion desembarcou desembarcou em Aqaba, em Abril de 2017, 250 veículos militares e outros materiais. Entre as armas que todos os meses são transportadas por mar, de Camp Darby a Gedda, certamente há também bombas americanas para os aviões que a aviação saudita emprega (como evidenciado por provas fotográficas) para matar civis no Iémen. Há também sérios indícios de que, na ligação mensal entre Livorno e Gedda, os grandes navios também transportam bombas aéreas fornecidas pela RWM Itália (Radioactive Waste Management), de Domusnovas (Sardenha), para a Arábia Saudita, para a guerra no Iémen.

Como resultado do aumento do trânsito de armas de Camp Darby, já não é suficiente a ligação por canal e estrada, da base com o porto de Livorno e com o aeroporto de Pisa. Portanto, foi decidida uma reorganização maciça da infraestrutura (confirmada pelo Coronel Berdy), que compreende uma via férrea nova. O plano envolve o abate de 1.000 árvores numa área protegida, mas já foi aprovado pelas autoridades italianas. Tudo isto não basta. O Presidente do Conselho Regional da Toscana, Giani (Pd), ao receber o Coronel Berdy, prometeu “promover a integração entre a base militar dos EUA de Camp Darby e a comunidade que a circunda”. Posição substancialmente partilhada pelo prefeito de Pisa, Conti (Lega) e pelo de Livorno, Nogarin (M5S). Este último, ao receber o coronel Berdy e depois o Embaixador americano Eisenberg, hasteou na Câmara Municipal, a bandeira com estrelas e riscas.

Manlio Dinucci* | Voltaire.net.org | Tradução Maria Luísa de Vasconcellos | Fonte Il Manifesto (Itália)

* Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016.

Na foto: Lewis Eisenberg foi o presidente do porto de New York, que vendeu o World Trade Center precisamente antes dos atentados de 11de Setembro, a fim de que os mesmos pudessem ser organizados aí. Hoje, desempenha o cargo de Embaixador dos Estados Unidos, em Roma, e transforma a península num arsenal USA.

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