Em vésperas da
apresentação do Orçamento do Estado, os habituais avisos do
FMI servem ao Governo do PS para tentar transformar
qualquer pequeno avanço, mesmo a contragosto, numa grande vitória.
AbrilAbril | editorial
O último relatório do
Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre Portugal,
revelado a pouco mais de um mês de 15 de Outubro, data
limite para a entrega do Orçamento do Estado para 2019
pelo Governo, não traz nada de novo.
Os dados objectivos de evolução
da economia e do emprego já não permitem repetir os alertas
catastrofistas, mas o FMI continua a deixar «avisos» e «recomendações».
Pela imprensa, sabemos que um dos pés da troika está preocupado com o
descongelamento das progressões nas carreiras da Administração Pública,
com o peso dos salários dos trabalhadores do sector público ou
com o regime para as longas carreiras contributivas. Em sentido inverso, o
que o FMI receita é um acelerar da «consolidação das contas públicas»
e uma «reforma da Função Pública». Basta lembrar os anos da troika para
entender o que desejam Christine Lagarde e Vítor Gaspar.
Mas, no
quadro político actual, estes relatórios (como o da
recente avaliação pós-troika da Comissão Europeia) assumem uma dupla
função. Para além da eficácia enquanto elemento de pressão e
chantagem sobre o País, estes permitem ao Governo do PS ensaiar um limpar
de face perante as suas próprias insuficiências. Ao não ir tão longe
quanto podia e se exigia, o Executivo responderá que foi mais
longe que o FMI e as instituições europeias queriam, tantas
vezes forçado por um quadro político em que depende de
outros para a aprovação do Orçamento.
No entanto, não será o jogo
de enganos e aparências que dará resposta aos problemas do País. Para
cortar com o rumo que foi e continua a ser «recomendado» por estas
instituições, não basta dizer que se tomaram algumas medidas a
contragosto das principais potências e dos
interesses económicos que representam.
Quando os governantes e os
dirigentes do PS se orgulham dos ganhos de causa perante a
política das inevitabilidades e do inflexível directório europeu, não
dizem que bloquearam avanços de maior alcance precisamente por
terem aceitado os principais constrangimentos impostos ao País.
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