Nas redes sociais as chamadas
“fake news” vão desde a montagem de fotografias, à publicação de
pseudo-estatíticas, passando por truncagem de vídeos ou criação de sites
aparentemente noticiosos
Brasil está a viver o maior crime
eleitoral de sempre via redes sociais. Só agora é que se começa a perceber a
verdeira dimensão da “bolha” criada nos últimos três anos pela militância
pró-Bolsonaro”, afirma João Nuno Martins, coordenador de uma equipa que
monitoriza os grupos pró-bolsonaro no WhatsApp com o objetivo de os denunciar à
justiça.
“É uma forma de ativismo e de
acção política, no fundo é exercer cidadania”, explica o produtor artístico que
divide o seu tempo entre Lisboa e o Rio de Janeiro. Salienta que o grupo que
coordena “não tem qualquer ligação a partidos políticos”. Depois da produção
musical em Portugal, João Nuno Martins alargou o seu campo de acção na área de
produção artística e capitalizou a experiência com colaborações com o colectivo
brasileiro MidiaNinja, entre outros. Um “abrir de horizontes” que o levou a
criar o FrontFiles.com, um plataforma global de apoio ao jornalismo
independente, com material editorial de imagens, vídeo e ilustração.
“É apenas a ponta do icebergue o
caso de empresários a financiarem ilegalmente campanhas no WhatsApp
pró-Bolsonaro revelado pelo Folha de São Paulo na semana passadam acrescenta. O
ativista lembra os contactos entre Flávio Bolsonaro – filho do candidato - e
Steve Bannon, o estratega da campanha ou a entrada da Cambridge Analytica no
Brasil, com um dos diretores a dizer que era possível eleger deputados quase a
100% com recurso às redes sociais.
Nas redes sociais as chamadas
“fake news” vão desde a montagem de fotografias, à publicação de
pseudo-estatíticas, passando por truncagem de vídeos ou criação de sites
aparentemente noticiosos, por exemplo. (ver exemplos aqui) https://www.tercalivre.com.br/quadrilha-detida-sacando-68-milhoes-para-haddad/
https://cesarweis.com/incrivel-gleisi-hoffmann-preve-um-atentado-contra-haddad-e-ja-sabe-o-culpado-bolsonaro/?fbclid=IwAR3X3IWxrUsvjLm-1tvDF41RGdImd_LQgDxPxlfsP-AyCrL1NJlS7OF6hxg
https://cesarweis.com/incrivel-gleisi-hoffmann-preve-um-atentado-contra-haddad-e-ja-sabe-o-culpado-bolsonaro/?fbclid=IwAR3X3IWxrUsvjLm-1tvDF41RGdImd_LQgDxPxlfsP-AyCrL1NJlS7OF6hxg
Para João Nuno Martins, dentro
das redes sociais, o WhatsApp é a ferramenta mais poderosa. “Criam-se grupos
privados onde só se entra por convite, com o que se geram bolhas pró-Bolsonaro
que se mantiveram desconhecidas até agora. Uma espécie de realidade
alternativa”, explica. As redes sociais são alimentadas por máquinas e por um
“exército de voluntários” que revela grandes conhecimentos tecnológicos e de
produção de conteúdos.
“Identicamos os 'bot' (robots que
difundem informações falsas sem intervenção humana) e os números associados a
contas reais com 'fake news. Arquivamos o histórico de chat, imprimimos as
conversas, e compilamos as notícias falsas”, afirma.
“O material recolhido é depois
encaminhado por advogados para a Procuradoria Geral da República, para juízes
do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal para os induzir a
abrir investigações”, acrescenta.
A disseminação de notícias falsas
e a difamação são considerados crime pela legislação brasileira. O
financiamento empresarial de campanhas eleitorais nas redes sociais é igualmente
crime pois está proibido desde 2015, data a partir da qual candidatos e
partidos apenas podem contar com fundos públicos para as suas campanhas
eleitorais.
CÉLULA E INFILTRADOS
“O nosso grupo é composto por
pessoas que não se conhecem umas à outras. Somos uma espécie de “célula”.
Nasceu espontaneamente através de grupos de esquerda, ganhou dimensão e
começámos a planear estratégias”, afirma. A equipa cooordenada pelo produtor
artístico tem atualmente 48 pessoas que monitorizam a atividade de mais de 500
grupos de apoiantes do candidato de extrema-direita.
Ao infiltrarem-se num grupo
pró-Bolosnaro, os ativistas assumem várias identidades. Com base na cartilha
pregada por Jair Bolsonaro, assumem a pele de militantes de ultra-direita,
defendendo a esterilização dos pobres, o fim das regalias das empregadas
domésticas ou apelando para a liberalização do uso de armas, por exemplo.
Outros, assumem-se como eleitores indecisos que querem consolidar a sua escolha
nas urnas. “O objetivo é o de estimular o debate e, se possível, tentar alterar
a percepção das pessoas face ao radicalismo do candidato e virar votos. Por
vezes o debate aquece de tal forma, que as pessoas assustam-se e saem do
grupo”.
João Nuno Martins exemplifica com
experiências pessoais como ter-se passado por empresário num grupo de
camionistas e “o único patrão presente tornou-se logo sindicalista",
chegando a pedir ao ativista no “chat" privado para “moderar o discurso
para não afastar as pessoas”.
João Nuno Martins sabe da
existência de pelo menos duas dezenas de grupos a funcionarem com objetivos
iguais aos do seus. “Existem também uma multidão de “solitários” empenhado na
descoberta de notícias falsas”, acrescenta.
REDES SOCIAIS FERVEM NO BRASIL
“Empresários bancam campanha
contra o PT” foi o título da manchete de sexta-feira passada do Folha de São
Paulo, com pacotes de mensagens a serem comprados a 12 milhões de reais (cerca
de 2,8 milhões de euros). O caso revelado pelo Folha levou a Procuradora-geral
da República, Raquel Dodge a pedir à Polícia Federal para investigar
as empresas.
O candidato do Partido dos
Trabalhadores (PT), Fernando Haddad em conjunto com os partidos que o apoiam
entraram também com ações junto da justiça eleitoral e do próprio Supremo
Tribunal Federal a pedir a impugnação da candidatura de Jair Bolsonaro. Pouco
satisfeito com a situação, o candidato de extrema-direita ameaçou esta semana
que irá cortar o financiamento federal ao jornal se for eleito e são conhecidas
ameaças a vários jornalistas.
O WhatsApp anunciou entretanto
que fechou
centenas de milhares de contas falsas no Brasil, mas que não é exequível aplicar mais filtros tecnológicos a menos de uma semana das eleições.
Já o Facebook, proprietário do
WhatsApp, anunciou a criação de uma “sala de guerra” para combater a
disseminação de notícias falsas no Brasil e anunciou ter fechado mais de 500
perfis e páginas falsas. Antes da reportagem do Folha sobre o WhatsApp, a
imprensa brasileira tinha revelado que o crescimento
do apoio a Jair Bolsonaro na primeira volta coincidiu com o roubo dos
dados de mais de 43 milhões de utilizadores do Facebook.
Hélder C. Martins | Expresso
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