Pedro Santos Guerreiro | Expresso
| opinião
À hora da missa, António Costa
mudou de assunto. Substituiu ministros queimados ou inúteis. E amanhã há
Orçamento. O governo está pronto para outra – para outra campanha eleitoral
Estávamos nisto da despedida de
Joana Marques Vidal e do despedido Azeredo Lopes, nisto de analisar um
Orçamento que distribui méritos por parceiros políticos e que vai ser discutido
na base do “é eleitoralista/não é eleitoralista”, nisto de Tancos, nisto da
Saúde e dos professores e dos impostos e do défice e... Estávamos e já não
estamos, não da mesma maneira. Porque António Costa não mudou apenas de
ministros, mudou de assunto. Hoje há remodelação, amanha há Orçamento e daqui a
nada estamos em campanhas eleitorais, três em 2019.
Uma remodelação desta envergadura é uma vassourada em descontentamentos, mas é também uma chicotada muito mais do que psicológica: é política.
Os descontentamentos começam por ser do próprio primeiro-ministro, e ele saberá quais, mas eram também dos tutelados. Os quatro ministros de saída tinham já pavios curtos, ou porque os foram queimando ou porque nunca os acenderam. No primeiro caso estavam Azeredo Lopes e Adalberto Campos Fernandos, no segundo estavam Caldeira Cabral e Castro Mendes.
Azeredo demitiu-se com pouca autoridade e até respeito dos militares, e envolto em conspirações, ou dele ou contra ele. Desvalorizou o assalto a Tancos até ao limite do intolerável, esquivando-se tanto às balas que acabou por se esquivar das suas próprias funções. Quando as armas foram recuperadas, a farsa abateu-se sobre ele. Pode mesmo nunca ter sabido de nada, nem sequer de ser ministro.
Adalberto Campos Fernandes foi uma deceção, por entrar como um ministro preparadíssimo e sair com uma ação política submissa ao ministro das Finanças e com um discurso de negação de problemas evidentes na Saúde. No fim, a argumentação já parecia cólera e a Saúde era só dinheiro, falta de dinheiro. Os médicos e os enfermeiros hoje cantam vitória, mas nem sabem porquê, apenas sobre quem.
Manuel Caldeira Cabral foi um menino simpático, que estranhamente nunca foi capaz de ter marca nem evidência de mérito numa economia em crescimento invulgar e com acelerada quebra de desemprego. Não teve protagonismo nem política pública, foi um ministro desconhecido, mais talhado para a universidade que para a ação. Mal se deu por ele, mal se dará pela falta dele.
Filipe Castro Mendes teve a vantagem política da desvantagem da governação. Quem não faz nada não corre riscos e quem diz simpatias não gera polémicas. O primeiro-ministro deve ter adorado o silêncio ao princípio, pois assim se poupou às rabanadas de um setor vivaz mas pouco vivo. O ministro foi útil em ser inútil, mas o vazio criou a câmara de eco para o grito desse vazio. A Cultura é Ministério mas não existiu.
Varridos os descontentamentos, entram nomes politicamente mais fortes, que herdam um Orçamento em que não intervieram. Não vêm pois mudar as políticas, porque já não podem alterá-las profundamente, mas vêm para mudar a sustentação política das suas áreas e reforçar o alinhamento com o primeiro-ministro, de quem são próximos.
Graça Fonseca vai ter um Orçamento aumentado, mais em percentagem do que em valor, e Gomes Cravinho é experiente e respeitado, dele se pretendendo pelo menos a serenidade de quem entra com folha limpa num terreno cheio de sujidade. Marta Temido é uma surpresa, sendo cedo para avaliar sequer o que dela se pode esperar. Pedro Siza Vieira será o que já era, ministro da Economia, e deixará de ser o que não podia ser, o homem da energia, onde tinha incompatibilidades com origem na sua experiência profissional, o da ligação às empresas. É um homem tecnicamente muito forte e politicamente muito próximo do primeiro-ministro. Passa a pasta da energia a Matos Fernandes, o ministro do Ambiente que é muito mais forte do que o seu sorriso permanente sugere.
Não é uma equipa de sonho, é uma equipa para um ano de eleições. Daqui a um ano terão passado três, culminando na mais importante, as legislativas. Toda a ação do primeiro-ministro converge para robustecer a posição do governo para que o PS vença essas eleições. Começou este domingo com uma remodelação que vira a página das polémicas que consumiam o governo e continua amanhã na apresentação de uma proposta de um Orçamento do Estado, com mais dinheiro nos bolsos dos portugueses e menos défice nos cálculos das Finanças. Porque Mário Centeno, esse, permanece no centro de tudo. Esse só ele se remodelará, não antes de entregar contas públicas equilibradas, com mais receita pública a legitimar mais despesa pública. Deste outubro de Orçamento ao próximo outubro das legislativas vai ser um ano de arromba. António Costa já distribui as peças e já está a comer as doze passas. Feliz ano novo.
Uma remodelação desta envergadura é uma vassourada em descontentamentos, mas é também uma chicotada muito mais do que psicológica: é política.
Os descontentamentos começam por ser do próprio primeiro-ministro, e ele saberá quais, mas eram também dos tutelados. Os quatro ministros de saída tinham já pavios curtos, ou porque os foram queimando ou porque nunca os acenderam. No primeiro caso estavam Azeredo Lopes e Adalberto Campos Fernandos, no segundo estavam Caldeira Cabral e Castro Mendes.
Azeredo demitiu-se com pouca autoridade e até respeito dos militares, e envolto em conspirações, ou dele ou contra ele. Desvalorizou o assalto a Tancos até ao limite do intolerável, esquivando-se tanto às balas que acabou por se esquivar das suas próprias funções. Quando as armas foram recuperadas, a farsa abateu-se sobre ele. Pode mesmo nunca ter sabido de nada, nem sequer de ser ministro.
Adalberto Campos Fernandes foi uma deceção, por entrar como um ministro preparadíssimo e sair com uma ação política submissa ao ministro das Finanças e com um discurso de negação de problemas evidentes na Saúde. No fim, a argumentação já parecia cólera e a Saúde era só dinheiro, falta de dinheiro. Os médicos e os enfermeiros hoje cantam vitória, mas nem sabem porquê, apenas sobre quem.
Manuel Caldeira Cabral foi um menino simpático, que estranhamente nunca foi capaz de ter marca nem evidência de mérito numa economia em crescimento invulgar e com acelerada quebra de desemprego. Não teve protagonismo nem política pública, foi um ministro desconhecido, mais talhado para a universidade que para a ação. Mal se deu por ele, mal se dará pela falta dele.
Filipe Castro Mendes teve a vantagem política da desvantagem da governação. Quem não faz nada não corre riscos e quem diz simpatias não gera polémicas. O primeiro-ministro deve ter adorado o silêncio ao princípio, pois assim se poupou às rabanadas de um setor vivaz mas pouco vivo. O ministro foi útil em ser inútil, mas o vazio criou a câmara de eco para o grito desse vazio. A Cultura é Ministério mas não existiu.
Varridos os descontentamentos, entram nomes politicamente mais fortes, que herdam um Orçamento em que não intervieram. Não vêm pois mudar as políticas, porque já não podem alterá-las profundamente, mas vêm para mudar a sustentação política das suas áreas e reforçar o alinhamento com o primeiro-ministro, de quem são próximos.
Graça Fonseca vai ter um Orçamento aumentado, mais em percentagem do que em valor, e Gomes Cravinho é experiente e respeitado, dele se pretendendo pelo menos a serenidade de quem entra com folha limpa num terreno cheio de sujidade. Marta Temido é uma surpresa, sendo cedo para avaliar sequer o que dela se pode esperar. Pedro Siza Vieira será o que já era, ministro da Economia, e deixará de ser o que não podia ser, o homem da energia, onde tinha incompatibilidades com origem na sua experiência profissional, o da ligação às empresas. É um homem tecnicamente muito forte e politicamente muito próximo do primeiro-ministro. Passa a pasta da energia a Matos Fernandes, o ministro do Ambiente que é muito mais forte do que o seu sorriso permanente sugere.
Não é uma equipa de sonho, é uma equipa para um ano de eleições. Daqui a um ano terão passado três, culminando na mais importante, as legislativas. Toda a ação do primeiro-ministro converge para robustecer a posição do governo para que o PS vença essas eleições. Começou este domingo com uma remodelação que vira a página das polémicas que consumiam o governo e continua amanhã na apresentação de uma proposta de um Orçamento do Estado, com mais dinheiro nos bolsos dos portugueses e menos défice nos cálculos das Finanças. Porque Mário Centeno, esse, permanece no centro de tudo. Esse só ele se remodelará, não antes de entregar contas públicas equilibradas, com mais receita pública a legitimar mais despesa pública. Deste outubro de Orçamento ao próximo outubro das legislativas vai ser um ano de arromba. António Costa já distribui as peças e já está a comer as doze passas. Feliz ano novo.
Foto: António Costa, fotografado
em agosto no Terreiro do Paço pelo Expresso – Ana Baião
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