Ana Alexandra Gonçalves* | opinião
O neoliberalismo deu à luz
gerações de frustrados, despidos de qualquer esperança num futuro melhor para
si e para os seus, empenhados em dirigir a revolta contra os que lutam politica
e democraticamente contra as desigualdades, sempre na expectativa do regresso
de um pai que os proteja e que lance luz sobre um mundo que já não compreendem
e que lhes causa tanto sofrimento. É também desta forma que se explica a
ascensão dos movimentos fascistas.
De resto, essas gerações que
outrora se sentiam confortavelmente nas classes médias ou com esperanças de vir
a entrar nesse clube, agarram-se agora ao primeiro ditador boçal,
invariavelmente armado com um discurso simplório, mas pejado de ódio, um ódio que
é simultaneamente um sucesso precisamente por ser um ódio contra si próprio.
Por outro lado, o terreno não
podia ser mais propício ao regresso do fascismo: a tecnologia cria a ideia de
desenvolvimento e de mais informação. Pelo caminho não existe cultura democrática,
apenas órfãos da História, com gente adulta transformada em crianças que seguem
radicalmente os pais, chegando mesmo a abandonar os seus egos para andar atrás
de quem lhes promete a ruptura.
Que não subsistam dúvidas: o
neoliberalismo deu um forte contributo para o enfraquecimento massivo não só
das democracias (que não resistem a níveis elevados de desigualdade social),
mas também da auto-estima de demasiada gente.
E perante o regresso do fascismo,
promovem-no ou silenciam-se, um pouco à semelhança das elites alemãs que,
desvalorizando Hitler, julgavam que o conseguiam controlar. Enganaram-se. Para
desgraça de todos.
*Ana Alexandra Gonçalves |
Triunfo da Razão
Imagem: Guernica, Pablo Picasso. "O quadro que lutou e luta contra o fascismo".
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