Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias
Andámos os últimos cinco anos a
recuperar o emprego destruído nos cinco anos anteriores. Não é coisa pouca,
ainda que a tarefa esteja incompleta, uma vez que, como sempre, a destruição
foi mais eficaz que a reconstrução.
Segundo o estudo do Observatório
sobre Crises e Alternativas (que pode ler mais à frente), na tempestade de 2008 a 2013, desapareceram
700 mil postos de trabalho. Depois, entre 2013 e 2018, veio a bonança, e
recuperaram-se 450 mil. Num caso como no outro, cruzam-se governos de
diferentes cores. PS e PSD, partidos dominantes, partilham responsabilidades no
pior e no melhor. Sendo que o melhor, não é assim tão bom. É verdade que a
economia cresce, que se recupera emprego, mas os salários ficaram congelados. Na
verdade, segundo os mesmos especialistas (e outros, como a OCDE), o valor médio
dos salários varia entre a estagnação e a redução. E o cenário poderia ser
pior, não fosse o aumento do salário mínimo nacional dos 485 euros de 2013,
para os 580 euros de 2018. Há duas explicações imediatas para esta divergência
entre maior criação de riqueza e menor distribuição de riqueza. A primeira,
diz-nos que os setores onde o emprego mais cresceu estão entre os que pagam
pior (empresas de trabalho temporário; restauração; comércio a retalho;
alojamento). A segunda, que os que entram no mercado de trabalho ganham
salários mais baixos do que os que saíram. Fica explicado porque se diz que,
pela primeira vez, os filhos vão viver pior que os pais. Como se fica a
perceber melhor uma outra estatística sombria: o número de pessoas em risco de
pobreza ou exclusão social está a diminuir, ainda que lentamente (serão cerca
de 2,4 milhões de pessoas, quase um em cada quatro portugueses), mas o número
de pessoas que, mesmo trabalhando, continua pobre, está a crescer (serão cerca
de meio milhão). A continuar assim, vai ser preciso alterar a expressão
"trabalhar para aquecer" para "trabalhar para empobrecer".
* Chefe de Redação
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