sábado, 10 de fevereiro de 2018

DIAMANTES: UM MUITO SENSÍVEL INDICADOR SOCIAL PARA ANGOLA – III

Martinho Júnior | Luanda

A RENÚNCIA IMPOSSÍVEL
Negação (continuação)

Quero ascender, subir
elevar-me até atingir o Zero
e desaparecer.
Deixai-me desaparecer!

Mas antes vou gritar
com toda a força dos meus pulmões
para que o mundo oiça:

- Fui eu quem renunciou à Vida!
Podeis a continuar a ocupar o meu lugar
vós os que mo roubastes

(continua)


10- A fragilização imposta a Angola, que levou aos termos do Acordo de Bicesse, abriu caminho aos impactos do capitalismo neoliberal, ao choque que haveria de ser protagonizado por Savimbi, assim como à terapia que se lhe sucederia.

As políticas económicas do Prêmio NobelMilton Friedman e da Escola de Economia de Chicago ganharam importância nos países com modelos de livre mercado não porque eram populares, mas através de impactos sobre a psicologia social, com desastres ou perturbações diante do choque e a confusão dos traumatizados cidadãos para fazer reformas impopulares, de acordo com os padrões de domínio sustentado pela aristocracia financeira mundial.

Essa síntese não inibe o facto de que, em suporte desse “eixo”, a hegemonia unipolar tenha vindo a agregar um leque cada vez mais diversificado de doutrinas, ideologias e práticas, que lhe possibilitam hoje aplicar as mais díspares “ementas” ali, onde determinou os alvos.

Foram essas as políticas que a aristocracia financeira mundial impôs ao mundo e também a Angola enquanto “minas de Salomão”, com o colapso do socialismo.

Saído da prisão e amnistiado a 18 de Março de 1991, procurei a sobrevivência minha e da minha família recorrendo a familiares e amigos de 1992 até 2009, em relação a alguns dos quais tenho dívidas de incalculável valor, impossíveis de alguma vez pagar…

Com a crescente “somalização” de Angola a partir de 1992, procurei apesar disso e em fidelidade para com meus compromissos históricos, dar o meu apoio no sentido de defender a independência e a soberania angolana face ao choque, movendo mundos e fundos para dar apoio ao Estado-Maior Geral das FAA, a partir dos meus locais de trabalho, fazendo deles outra inusitada trincheira de luta, especialmente entre Agosto de 1998 e Março de 2000!

O apoio foi feito num contentor que existiu para o efeito dentro da WAPO, empresa de aluguer de veículos que era propriedade do cidadão francês e antigo diplomata, Jacques Rigaud!

Associaram-se ao projecto dois camaradas: José Herculano Pires, “Revolução” e Alberto José Barros Antunes Baptista, “Kipaka”, com a seguinte distribuição de tarefas:

“Revolução” – pesquisa de dados operativos e ligações “no terreno” no Bié, informação e expedientes de contra inteligência;

“Kipaka” – apoio em novas tecnologias, pesquisa de dados e actividades de inteligência externa;

Eu próprio – pesquisa de dados, informação e análise, actividades de inteligência externa.

Decidi não mais fazer operações militares, nem de segurança, nem sequer de contra inteligência dentro do território nacional, pois não podia permitir alguma vez mais que houvesse gente com interpretações que não correspondessem nem às minhas convicções, nem ao sentido de minhas práticas voltadas para o imenso resgate que há a realizar, com lógica com sentido de vida, em benefício do povo angoanoe dos povos de África!

“No terreno” o camarada “Revolução” organizou um sistema de conexões que possibilitaram um manancial muito sensível de informações, que foram bem geridas e aplicadas enquanto esteve em vida o camarada general Simeone Mucuni.

Essas informações possibilitaram o incremento da defesa da cidade do Kuito, o “municiamento” da Operação Restauro e nas primeiras pistas depois da tomada do Andulo (acontecimentos muito próximos da “Zona Estratégica” de Savimbi, rica em diamantes, situada na bacia do Cuanza, compreendendo as áreas municipais de Nharea, Camacupa e Cuemba).

Em termos de informação e análise houve a possibilidade de avaliar a extensão da “guerra dos diamantes de sangue”, considerada como “guerra mundial africana”, trabalhando-se na pesquisa de dados em suporte do EMG das FAA, sob o comando do camarada general João de Matos.

Efectivamente ganhou-se a noção do encadeado dos problemas que se abateram sobre os Grandes Lagos, o Zaíre e Angola, muito antes de que tivesse sido produzido o Relatório Fowler, a 10 de Março de 2000, um relatório especialmente crítico aos nexos do cartel dos diamantes e isso por que, para se avaliar os dispositivos militares e de inteligência de Savimbi, só havia que se procurar onde ele havia implantado as explorações de diamantes, a partir das quais ele articulava “no terreno” a disseminação defensiva e ofensiva do seu sistema.

 Se não houvesse primeiro a noção da localização físico-geográfico dos interesses de Savimbi nessas explorações, teria sido muito difícil avaliar onde ele tinha os dispositivos de inteligência e militares, seria como “procurar uma agulha no palheiro”…

Quando se procedeu nessa conformidade, sabia-se que ao se procurar retirar a Savimbi o poder sobre essa articulação que criou dentro e fora das fronteiras de Angola (no Zaíre associado aos interesses do clã de Mobutu), estava-se a abrir caminho para que outros interesses, ainda que passassem a ficar identificados com as aspirações de paz, prevalecessem nos seus objectivos privados, colocando-se eles próprios em novos termos ao dispor das geoestratégias do cartel, logo que Savimbi fosse derrotado e foi precisamente isso que aconteceu.

De qualquer modo havia que libertar Angola da teia urdida nos termos do choque neoliberal do após Bicesse, pois Savimbi havia conseguido levar o país à contradição antagónica entre duas barricadas artificiosamente “recriadas”: o governo suportado pelo sector do petróleo e ele próprio intimamente associado ao sector dos diamantes, ainda que o cartel sempre tivesse a preocupação de fazer prevalecer a imagem de que os negócios dos diamantes eram um simbolismo para as vias de paz (inclusive durante a IIª Guerra Mundial, ainda que o cartel tenha negociado diamantes com os nazis, a partir dos seus interesses nas então colónias do Congo e de Angola).

11- Em dois livros em que sou co-autor, vem espelhado uma parte do conhecimento adquirido, reproduzido também em parte em alguns números do extinto semanário “Actual”, quanto mais tarde na Internet, quer no Pagina Um Blogspot, quer no Página Global Blogspot.

Os livros são “Ouro & Diamantes: Poder, sangue e corrupção” e “Séculos de solidão – Angola do colonialismo à democracia – cronologia histórica baseada numa pesquisa analítica” e os co-autores são respectivamente o António José Guerra Gaspar Borges e Leopoldo Martinho Baio.

Em ambos os livros identifico-me com o pseudónimo Martinho Júnior em atenção ao nome escolhido pelo camarada “Revolução”quando iniciei a colaboração no “Actual” em Abril de 1998, mas também com o nome próprio, pois considero que o pseudónimo não me dá direito a “clandestinidade” alguma.

Na introdução do “Ouro & Diamantes: Poder, sangue e corrupção”, revela-se:

“O objectivo do presente trabalho centra-se na actividade das corporações mineiras em geral, origem de polémicas acerca das grandes alterações ambientais que a sua acção provoca, mas também no desprezo a que votam os legítimos interesses das populações locais que, alegadamente, desrespeitam e, particularmente, pela acção das multinacionais que, a partir de finais do século XIX, se vêm dedicando à mineração, especialmente dos diamantes e do ouro.

Falar deles e da influência que, desde o surgimento das primeiras civilizações, sempre exerceram no homem (muito especialmente durante o último século), não faria qualquer sentido omitir o que foi e continua a ser a “dinastia” Oppenheimer, e o papel quase exclusivo que representou para o ciclo de produção dos minérios ditos preciosos a partir do último quarto do século XIX, quando Ernest Oppenheimer partiu para a África do Sul como representante, em Kimberley, da casa alemã de Anton Dunkelsbuhler.

A história dos Oppenheimer constituirá, portanto, ao longo das sucessivas gerações (Ernest, Harry, Nick e Jonathan Oppenheimer) como que a espinha dorsal da saga da exploração e comercialização dos minérios preciosos e, consequentemente, do presente trabalho”…

Na Apresentação de “Séculos de solidão – Angola do colonialismo à democracia – cronologia histórica baseada numa pesquisa analítica” , os autores começam por considerar:

“O Actual publicou, desde o ano 2002, uma série de artigos em que, fruto de investigações, abordavam temas que mantêm-se historicamente actuais e manter-se-ão em aberto, pois de acordo com a nossa óptica de abordarmos a conjuntura global, para muitos pouco ortodoxa mas “actualizada” e verificável, parece-nos justo realçar que os vínculos multifacetados da aristocracia financeira mundial, em direcção à conjuntura da África Austral e Central, estão longe de esgotarem o espaço crítico de opinião que merecem, pelo rasto que eles têm deixado na vida, na morte e na sorte de milhões de seres de toda a vasta Região da África Sub Sahariana e em nós próprios.

O estado angolano, particularmente após o enfraquecimento dos seus instrumentos de poder, a partir de 1985, começando pela desarticulação dos seus serviços de segurança, não pôde escapar à regra e tem sido alvo das mais variadas manipulações e ingerências, agravadas durante praticamente toda a década de 90 do século XX, pela lógica da guerra em que não teve outra alternativa senão envolver-se, de que muito dificilmente encontrou saída, à custa de cedências de que ainda se nos afigura prematuro completamente avaliar”…

Em ambos os casos está evidente quanto em nome duma civilização, a “civilização judaico-cristã ocidental”, foi possível disseminar tanta barbárie face às mais legítimas aspirações do povo angolano e de outros povos africanos à paz, à liberdade, à democracia e ao desenvolvimento sustentável, em pé de igualdade com outras nações e outros povos da Terra.

Esse é um dos mais escondidos e controversos frutos que se tornaram possíveis disseminar da árvore do capitalismo com a Revolução Industrial no continente ultra periférico que é África!

Com pouco mais de 40 anos, Angola independente e soberana foi devassada durante a década de 90 do século XX de tal maneira que o choque neoliberal obrigou a Savimbi organizar as suas fileiras recorrendo à exploração dos diamantes, face ao estado angolano, que se barricou nos interesses sobre a exploração do petróleo, na maior das transversalidades até hoje experimentadas pelo povo angolano.

O colapso do socialismo em Angola foi em si outro processo de solidão, por que a sua substituição pelo universo das possibilidades quase única e exclusivamente abertas à privatização no sector dos diamantes na esteira da terapia própria do capitalismo neoliberal, transfere os processos contraditórios internos para a transversalidade manipulada ao dispor do cartel e do seu elitismo, intimamente integrados nos expedientes que servem ao poder dominante da aristocracia financeira mundial.

É evidente contudo que só se começou a abrir a janela do comportamento do cartel e seus afins em relação à época de terapia neoliberal, quando em função do processo Kimberley se passou a certificar os diamantes desde a sua origem, como garantia de que eles não eram mais fruto da subversiva e sangrenta actividade de algum senhor de guerra…

Foi assim que com isso se pretendeu afastar o fantasma do socialismo, que aparentemente apagado pelos poderosos holofotes da ribalta, só sobrevive algures num recôndito reduto, por que a resistência alguns querem que só exista em função da lógica com sentido de vida, inerente às necessidades cada vez mais sentidas de sobrevivência das espécies e do respeito que o homem deve à Mãe Terra.

Esse expediente coincidiu em tempo com o trágico fim de Savimbi em 2002, na sequência aliás das alterações profundas que ocorreram na RDC e nos Grandes Lagos.

O espaço da barbárie é ainda de tal modo intenso, que em termos de sua própria sustentabilidade, a civilização é para os mais vulneráveis povos que habitam o planeta, apenas um minúsculo ponto que se adivinha num horizonte carregado de transversais precariedades!

Martinho Júnior - Luanda,10 de Fevereiro de 2018


Dos livros cujas capas molduram esta intervenção:

1- Glitter & Greed: The Secret World of the Diamond Cartel Paperback – April 1, 2007 – by Janine Farrell-Robert (Author)
Rare, romantic, and forever: The diamond industry depends on these myths to reap billions of dollars of profit. This sensational investigation explodes such fallacies and reveals how multimillion-dollar advertising campaigns create the impression of rarity and romance. It reveals a very secret and unromantic world, one that is dominated and controlled by a handful of mighty corporations.
With Leonardo DiCaprio's movie The Blood Diamond making more people than ever aware of the seamy side of the diamond trade, Janine Roberts' explosive exposé, taking us through seven decades of intrigue and manipulation, is the right book at the right time.

2- Blood Diamonds, Revised Edition: Tracing the Deadly Path of the World's Most Precious Stones Paperback – April 3, 2012 – by Greg Campbell.
First discovered in 1930, the diamonds of Sierra Leone have funded one of the most savage rebel campaigns in modern history. These blood diamonds” are smuggled out of West Africa and sold to legitimate diamond merchants in London, Antwerp, and New York, often with the complicity of the international diamond industry. Eventually, these very diamonds find their way into the rings and necklaces and brides and spouses the world over.
Blood Diamonds is the gripping tale of how diamond smuggling works, how the rebel war has effectively destroyed Sierra Leone and its people, and how the policies of the diamonds industryinstitutionalized in the 1880s by the De Beers cartelhave allowed it to happen. Award-winning journalist Greg Campbell traces the deadly trail of these diamonds, many of which are brought to the world market by fanatical enemies. These repercussions of diamond smuggling are felt far beyond the borders of the poor and war-ridden country of Sierra Leone, and the consequences of overlooking this African tragedy are both shockingly deadly and unquestionably global.
In this newly revised and expanded edition, investigative journalist Greg Campbell returns to West Africa ten years later to reveal how despite widespread exposure to the corruption and greed of the diamond trade, it continues unabated as the region struggles politically, ecologically, and economically.

3- Les Gemmocraties. L’économie politique du diamant africain – François Misser, Olivier Vallee
Parmi toutes les grilles de lecture possibles des événements africains, le contrôle du trafic du diamant explique nombre d’alliances et de conflits entre acteurs, de revirements et de faits ponctuels. C’est ce que tente cet ouvrage pionnier en la matière, qui analyse les gemmocraties, les régimes fondés sur le contrôle de ces précieuses pierres. Les auteurs y étudient les circuits parcourus par le diamant depuis les gisements en Afrique (tout en mentionnant les autres continents) jusqu’à la mise sur le marché de gros. Des circuits qui ressemblent à un vaste entonnoir : une base très large en Afrique sub-saharienne (Afrique du Sud, Botswana, Zaïre, Angola, Sierra Leone) et un goulot très étroit formé de la Central Selling Organisation (CSO), contrôlée par la multinationale anglo-américaine De Beers. La ville belge d’Anvers joue un rôle unique au monde dans ce commerce, mais les milieux français proches de l’Afrique ont leur part du gâteau. – André Linard

4- Mercenaires S.A – Philippe Chapleau, François Misser.
Les auteurs ont mené une enquête sur un phénomène qui a toujours existé, mais évolue beaucoup : le recours à des mercenaires. Aujourd’hui, il s’agit moins de baroudeurs « à la Bob Denard » que d’entreprises ayant pignon sur rue, notamment grâce à la facette « honorable » de leurs activités : les opérations de gardiennage, protection et sécurité.
Il en résulte un ouvrage très documenté et inquiétant. Pas tellement en raison du recours aux soldats de fortune, qui exercent « l’autre plus vieux métier du monde ». Mais à cause de la faiblesse croissante des Etats et de leurs moyens d’action, inversement proportionnelle à l’organisation, à la sophistication et à la qualification d’Executive Outcomes, Defence Systems Ltd., et autres MPRI. Certes, des Etats continuent d’envoyer des mercenaires intervenir discrètement là où c’est nécessaire. Mais des entreprises, des armées, des organisations humanitaires (non gouvernementales ou du système onusien) font désormais aussi appel à leurs compétences de même que, à l’occasion, des organisations criminelles internationales tels les cartels de Cali et de Medellin. Et les essais de réglementation internationale restent sans effet. D’où l’inquiétude qui sous-tend l’ouvrage : après l’économie, après la culture, la violence légitime, en principe monopole des Etats, n’est-elle pas aussi en passe d’être privatisée et « globalisée », portant ainsi un coup de plus au contrôle démocratique ? – André Linard

5- Angola – Séculos de solidão – Do colonialismo à democratização.
Séculos por que em imensas regiões, África era um continente impenetrável, opaco e quase apenas povoado de rotinas palúdicas nas artes vivenciais dos homens e até nas guerras entre irmãos…
E esse tempo mede-se em solidão, nos termos da antropologia humana, não só nas duas estações tropicais de cada ano, mas também do que emergiu do adobe esventrado, ou da palha ensopada, ou da expressão das recém-chegadas granadas, apenas um pouco para além das histórias típicas da luta pela sobrevivência com os pés gretados e empoeirados, sulcando a cadência de séculos!... É Angola…
 E nós mesmos estivemos e estamos por dentro desse colapso húmido, ou abrasador de lava pungente, como pequenos náufragos clamando pela nossa mãe, porventura saltando só agora do berço da própria…
Podemos assim confessar, ganhando fôlego, que (sobre)vivemos aos dois tempos antagónicos como muito poucos tiveram tão sensível quão palpável oportunidade de (sobre)viver, com a convicção humilde, singular, dolorosa, mas ardente, de que Angola vai perenemente renascer e vencer o opróbrio de “Séculos de solidão”!... – dos co-autores.

A consultar de Martinho Júnior:
Do “apartheid institucional” ao “apartheid social” – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/07/do-apartheid-institucional-ao-apartheid.html

A consultar:

“FIZZ” E “LEX” NASCERAM EM ANGOLA MAS FORAM ADOPTADOS EM PORTUGAL


A corrupção está na ordem do dia em Portugal, graças aos escândalos designados por “Operação Fizz” e “Operação Lex”. Mas, de facto, a verdadeira origem destes processos está em Angola, onde o assunto vem sendo esquecido e silenciado!

Paulo de Morais* | Folha 8 | opinião

Os processos criminais Fizz e Lex são gémeos, constituem duas faces da mesma moeda. Em ambos, os principais acusados são magistrados portugueses, nomeadamente o procurador Orlando Figueira, na Fizz; e o Juiz Rui Rangel, no caso Lex. Os magistrados são acusados de terem proferido decisões favoráveis em vários processos, em particular naqueles em que estão ou estiveram envolvidos Manuel Vicente e Álvaro Sobrinho, angolanos todo-poderosos.

Estes estarão alegadamente implicados em sistemas múltiplos de branqueamento de capitais. Capitais que o ex-vice presidente de Angola Vicente e o ex-banqueiro Sobrinho transferiram para Portugal, nomeadamente adquirindo imóveis luxuosos. Capitais que, como sabemos, foram obtidos no imparável carrossel de corrupção, em Angola, à custa da miséria e da fome dum povo que sofre amargamente.

Os processos originais nasceram porque nem Vicente nem Sobrinho (assim como muitos dos seus parceiros de negócios) conseguem explicar cabalmente a origem legal do capital mobilizado para estes investimentos imobiliários milionários. Obviamente, o facto de não conseguirem esclarecer a origem legal leva à conclusão de que, simplesmente, as suas fortunas foram obtidas de forma ilícita e corrupta, em Angola.

A origem dos capitais de Manuel Vicente está mais do que desvendada: tem origem nos recursos petrolíferos que deveriam ser utilizados em benefício dos angolanos, mas têm sido retidos por poucas famílias, com Vicente a ocupar neste grupo privilegiado um lugar de destaque. Já, por outro lado, Álvaro Sobrinho conseguiu um predomínio na finança, em Angola e Portugal. Contribuiu, de forma destacada, para a falência do Banco Espírito Santo em Portugal e o seu congénere BES (Angola). Conseguiu protecção por parte do ex-presidente Eduardo dos Santos, da sua família, dos militares e do MPLA – uma protecção ilimitada. Obteve-a a troco da concessão de créditos sem garantias aos mais altos dignitários de Angola (com o actual presidente João Lourenço incluído). E tornou-se, com estas moscambilhas e outras de igual jaez, multimilionário, um dos angolanos mais ricos.

Para Álvaro Sobrinho e Manuel Vicente, a intervenção dos Tribunais portugueses e as acusações de que foram alvo constituíram surpresa – habituados que estão a uma dócil justiça angolana, maleável e submissa aos poderosos. Como foram apanhados pela Justiça, terão tentado subornar os actores da Justiça portuguesa, nomeadamente procuradores e juízes.

O procurador Orlando Figueira, o juiz Rui Rangel e os seus eventuais cúmplices estão agora a contas com a Justiça. E bem. Estão acusados e espera-se que tenham um julgamento justo, a que qualquer cidadão deve ter direito num estado de direito democrático. Mas confiemos também que os processos originais de branqueamento de capitais provenientes da corrupção em Angola não sejam esquecidos.

Mais do que os processos em si, é importante desmascarar e desmontar todo um sistema, através do qual o dinheiro sujo das fortunas dos apaniguados do regime corrupto de Eduardo dos Santos, tem chegado a Portugal e, a partir daí, à Europa. Lisboa transformou-se nos últimos anos numa enorme lavandaria de dinheiro dos angolanos menos sérios (e mais ricos). Estes não só contaminam os negócios imobiliários (e outros) portugueses com esquemas de corrupção e branqueamento de capitais – como conseguem até estender a sua “longa manus” ao sistema judicial português.

A lavagem de dinheiro é a mais peculiar forma de exportação e contaminação de corrupção – modalidade em que o regime angolano se especializou. A contaminação é, aliás, uma das principais características da corrupção. Seja qual for a sua origem, mormente em Luanda, o fenómeno dissemina-se em todos os países com quem os corruptos interajam. De Timor ao Brasil, passando pela Guiné Equatorial ou por Portugal, a podridão propaga-se – chegando mesmo aos Tribunais superiores portugueses. É bem sabido que, quando se juntam maçãs podres e maçãs boas… nunca são as podres que ficam boas!

* Presidente da Frente Cívica

Intelectuais de Cabinda "estão-se a render" ao MPLA?


Um “erro crasso” e “rendição”. É assim que o jornalista angolano, Orlando Castro, classifica em entrevista à DW África, a integração do Padre Casimiro Congo no novo Governo provincial de Cabinda.

Na quinta-feira (08.02), o governador de Cabinda Eugénio César Laborinho, anunciou que o Padre e ativista Casimiro Congo vai ser o novo secretário provincial de Educação, Ciência e Tecnologia de Cabinda. Também, surpreendeu as pessoas ao indicar para assumir a pasta da Saúde, Maria Carlota Ngombe Victor Tati, esposa do deputado independente pela UNITA, Raúl Tati. Na sequência do anúncio, surgiram várias reações de diversos setores da sociedade a criticar, em particular, o Padre Congo por ter aceitado o cargo e deixar de lado a sua luta pela independência de Cabinda.

Para o jornalista e analista angolano, Orlando Castro, estas nomeações "é uma jogada do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), versão João Lourenço”. Ele considera que para aqueles que sempre defenderam a "autonomia" e a "independência" de Cabinda foi "um erro crasso esta rendição ao MPLA”. Por outro lado, defende que "do ponto de vista de Angola, das virtudes e da generosidade que o João Lourenço está a fazer em relação a Cabinda, entendendo Cabinda como uma província de Angola, até pode ser bom”.

DW : As recentes nomeações para o Governo provincial de Cabinda estão a dar que falar. Como é que interpreta as escolhas do Governo?

Orlando Castro (OC) : Interpreto como uma jogada de mestre do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), versão João Lourenço. É uma forma de a massa cinzenta intelectual de Cabinda ter atirado a toalha ao chão, rendendo-se ao poder do MPLA ou ao poder de Angola.

DW :  Estas nomeações podem indicar uma nova abordagem de João Lourenço em Cabinda, mas de uma forma negativa?

OC : Numa forma negativa na perspetiva dos cabindas que sempre defenderam o caminho da independência, como foi o caso do Padre Casimiro Congo. E portanto, neste sentido, dos que defendem a autonomia até a independência de Cabinda, acho que foi um erro crasso esta rendição ao MPLA. Do ponto de vista de Angola, das virtudes e da generosidade que o João Lourenço está a fazer em relação a Cabinda, entendendo Cabinda como uma província de Angola, até pode ser bom. Acredito que venha a ser bom. Há, de facto, uma colisão entre estas duas teses. A tese dos que defendiam a independência, como foi o caso do Padre Congo, não se coaduna com esta aceitação de um cargo de um Governo que ele chamava de colonial. O Padre Casimiro Congo dizia que o MPLA, Angola no caso, era potência ocupante de Cabinda. E portanto, para esta gente que defendia isto, aceitar estes cargos é uma rendição.

DW : Nas redes sociais, as nomeações já estão a gerar alguma contestação. Entende portanto que os cabindas, principalmente os mais críticos, têm razão para estarem apreensivos?

OC: Têm nesta perspetiva, digamos política, em relação àquele território. E estão sempre em confronto estas duas teses. Do ponto de vista da população, que aceita, se é que aceita, pacificamente, ser uma província de Angola, isto até poderá ser bom, porque o MPLA está com uma nova filosofia em relação ao território e pode melhorar as condições de vida do povo de Cabinda, o crescimento económico pode ser mais sustentável e pode haver uma grande evolução em Cabinda, isso é um aspeto. Do aspeto histórico, que por acaso é o que eu perfilho, que Cabinda não faz parte de Angola, aí perdem toda a razão. Alias, já houve casos antecedentes: Bento Bembe também tinha estas ideias e depois foi "comprado" pelo MPLA e passou a integrar o Governo. O que nós estamos a assistir, é que as pessoas com mais capacidade intelectual e política de Cabinda a renderem-se às mordomias que o regime do MPLA lhes vai dando.

Raquel Loureiro  Deutsche Welle

CHINA | É mais grave ser homossexual do que fugir aos impostos


No Continente, fugir aos impostos é mais grave do que bater na mulher, mas menos grave do que a homossexualidade. As conclusões são do estudo “The Ethics of Tax Evasion: An Empirical Study of Chinese Opinion”, do académico Robert W. McGee que já está a trabalhar noutra versão que inclui Taiwan e Hong Kong.

O objetivo do novo estudo é comparar as opiniões sobre a fuga aos impostos de Taiwan, Hong Kong e do Continente. Macau ficou de fora por não terem sido realizados no território inquéritos da World Values Survey, nos quais se baseia o académico. O novo estudo tem como ponto de partida as perguntas: se a visão sobre o crime difere entre os territórios; se os mais velhos e mais novos, homens e mulheres têm uma posição diferente; se a forma como se encara o delito mudou ao longo dos anos e, caso tenha mudado, em que sentido. 

Robert W. McGee decidiu avançar com a pesquisa depois de ter realizado um estudo semelhante, mas só sobre o continente. McGee e Zhaoxu Liu, ambos da Fayetteville State University, na Carolina do Norte (EUA), decidiram avançar com “The Ethics of Tax Evasion: An Empirical Study of Chinese Opinion” por constatarem que existem poucos estudos sobre a forma como a população chinesa encara a fuga aos impostos em termos éticos.

“Decidi realizar um estudo sobre a China porque não é um país ocidental. Queria perceber se a visão sobre a fuga aos impostos era muito diferente”, explica Robert W. McGee, depois de notar que praticamente todos os inquéritos que conduziu até hoje foram realizados em países ocidentais e que a bibliografia que encontrou sobre o assunto também tinha apenas fontes do ocidente.

Participaram 1885 indivíduos de várias partes do Continente no inquérito, publicado em finais de 2016, a partir de informação recolhida por investigadores que contribuíram para o World Values Survey (uma rede global de académicos de Ciências Sociais), em 2012. Ainda que a amostra esteja muito aquém da população do Continente – atualmente com 1,3 mil milhões de habitantes, o académico garante que os resultados são “altamente fiáveis”. 

Robert W. McGee realça que os investigadores procuraram recolher informação de um grupo diversificado de pessoas com base na idade, género, condição social, nível salarial e localização geográfica, entre outros critérios. O objetivo era ter pluralidade para que os resultados fossem consistentes, válidos e pudessem ser sintomáticos da visão nacional. 

“Em estatística não é necessário inquirir uma larga percentagem da população para que se obtenham resultados fidedignos. Muitos inquéritos válidos foram conduzidos com base numa amostra de apenas 300 a 500 participantes. Esta amostra tem 1885 participantes, o que é muito superior ao que é preciso para se ter resultados credíveis”, assegura.  

O estudo mostra que 43,4 por cento dos inquiridos defende que a fuga aos impostos é inadmissível, independentemente dos motivos. “O que quer dizer que quase 57 por cento acredita que é justificável em alguns casos”, realça McGee, acrescentando que o resultado não surpreende e que é similar ao de inquéritos realizados noutros países. 

A gravidade com que se encara o incumprimento comparado com outras questões é talvez um dos pontos mais curiosos do inquérito. De acordo com os dados do estudo, fugir aos impostos é considerado ligeiramente mais grave do que bater na mulher e ligeiramente menos grave que a homossexualidade. O roubo de propriedade, a prostituição e aceitar subornos também são considerados comportamentos mais reprováveis do que a fuga aos impostos. O mesmo não acontece com o suicídio, violência contra terceiros, aborto ou eutanásia que, entre outros comportamentos, são considerados menos condenáveis que o de não pagar os impostos. “O resultado também não me surpreende, ainda que não soubesse o que esperar”, refere o também advogado. 

A oriente não muda muito

Com o estudo, Robert W. McGee, professor do departamento de Contabilidade da Fayetteville State University, acabou por concluir que a postura não difere muito em relação ao ocidente. “A oposição à fuga aos impostos é forte, em geral. Apesar de os chineses, tal como praticamente em todo o lado, acreditarem que pode ser justificada em alguns casos”, sublinha. 

No que diz respeito ao género, McGee diz não ter encontrado grandes diferenças na forma como mulheres e homens olham para a conduta no Continente. 

O académico explica que a similitude ou diferença de opinião entre homens e mulheres sobre o tema muda de país para país, mas que a tendência é para as opiniões serem parecidas ou de as mulheres serem mais intransigentes do que os homens na matéria.

“Não é claro porque as mulheres poderão ser mais contra a fuga aos impostos do que os homens em alguns países e noutros não. Um dos motivos apresentados por investigadores é que, em culturas patriarcais, a mulher tende a ter mais respeito pela autoridade e têm uma posição mais vincada face ao desrespeito pela lei”, refere o académico. O mesmo já não acontece em sociedades mais igualitárias, onde homens e mulheres tendem a ter opiniões mais próximas. 

Já no que diz respeito à idade, o especialista refere que as posições dos mais velhos e mais novos não são muito díspares. McGee confessa ter ficado surpreendido, tendo em conta os resultados obtidos noutros territórios onde, por norma, a população mais adulta mostra mais respeito pela autoridade e é mais inflexível no que toca a violar a lei. 

“Uma das explicações possíveis para esta diferença face a outros inquéritos pode estar relacionada com as mudanças que o sistema económico chinês tem sofrido nas últimas décadas, e que o aproxima cada vez mais de um sistema de mercado”, especula. 

Outro dos dados que surpreendeu Robert W. McGee foi o que estabelece a relação entre o nível de educação dos entrevistados e a opinião sobre a fuga aos impostos. O estudo mostra que os dois grupos com menos educação ficaram em lados opostos da lista. Os inquiridos sem escolaridade são os mais transigentes, sendo que os que completaram apenas o ensino primário são o grupo mais intransigente. Já o grupo de pessoas com formação universitária ficou a meio da lista. Tendo em conta estudos que estabelecem conclusões com base no mesmo critério, o académico explica que há três padrões: os indivíduos com mais educação são os que mais se opõem; ou, os com menos educação são os que se opõem mais; ou, não se confirma uma relação entre o grau académico e a posição que se assume sobre a matéria. “Os resultados deste estudo sobre a China não encaixam em qualquer um destes três padrões dominantes”, ressalva o professor.

Ao contrário do que sucede com o nível académico, Robert W. McGee não se mostra surpreso com o que estabelece a relação entre a condição socioeconómica e a postura que se tem face à fuga aos impostos. Os dois grupos de classe média são os que mais se opõem ao crime, enquanto os entrevistados da classe mais alta são os mais tolerantes. 

Robert W. McGee salienta também que, ainda que a posição dos indivíduos entrevistados varie de região para região, é na zona de Chongqing, no sudoeste do Continente, que se encontra mais oposição à fuga aos impostos. Já os habitantes da província de Heilongjiang, no nordeste, são os mais condescendentes, sendo que não foi recolhida informação na região de Fujian.

O professor explica que no estudo que realizou constatou ainda que indivíduos casados e viúvos tendem a opor-se mais à evasão fiscal do que os solteiros ou indivíduos separados/divorciados, à semelhança do que acontece na maioria dos territórios.

Em jeito de conclusão, Robert W. McGee nota que há uma tendência para se relativizar cada vez mais a fuga aos impostos. Ainda que se mantenha uma forte oposição, é menor face a 1990. Com base em literatura histórica e filosófica, o académico considera plausível concluir que as pessoas são cada vez mais tolerantes devido à perceção de que os governos são corruptos, que os impostos são demasiado elevados ou de que o que os contribuintes pagam não se reflete de forma proporcional no que beneficiam no acesso a serviços e bens na sociedade. 

Sou Hei Lam | Plataforma Macau

A NATO e as armas nucleares não são temas eleitorais


Manlio Dinucci*

Governo, que no período eleitoral continua responsável pela “resolução dos assuntos actuais”, está prestes a assumir outros compromissos vinculativos na NATO em nome da Itália. Serão oficializados no Conselho do Atlântico Norte, que acontece de 14 a 15 de Fevereiro, em Bruxelas, a nível dos Ministros da Defesa (para a Itália, Roberta Pinotti).

A agenda ainda não foi anunciada. No entanto, já está escrita na “National Defense Strategy 2018”, que o Secretário de Defesa dos EUA, Jim Mattis, lançou em 19 de Janeiro [1]. Ao contrário dos anteriores, este ano o relatório do Pentágono é altamente secreto. Foi publicado apenas um resumo que, no entanto, é o suficiente para nos fazer compreender o que se prepara na Europa.

Acusando a Rússia de “violar as fronteiras das nações vizinhas e exercer o poder de veto sobre as decisões dos seus vizinho”, o relatório afirma: “O caminho mais seguro para evitar a guerra é estar preparado para ganhá-la".

Pede, portanto, aos aliados europeus que “mantenham o compromisso de aumentar as despesas para fortalecer a NATO”. A Itália já se comprometeu com a NATO a aumentar as despesas militares dos actuais cerca de 70 milhões de euros/dia para cerca de 100 milhões de euros/dia. No entanto, praticamente ninguém se pronuncia sobre este assunto no debate eleitoral.

Como, também, ninguém refere o contingente italiano radicado na Letónia perto do território russo, nem os caças italianos Eurofighter Typhoon, estabelecidos em 10 de Janeiro, na Estónia, a dez minutos de vôo de São Petersburgo, com o pretexto de proteger os países bálticos da “agressão russa”.

Mantém-se o silêncio sobre o facto de que a Itália assumiu, em 10 de Janeiro, o comando da componente terrestre da NATO Response Force, que pode ser lançada para qualquer parte do mundo “subordinada ao Comandante Supremo das Forças Aliadas na Europa”, sempre nomeado pelo Presidente dos Estados Unidos.

Ignorada a notícia de que a Marinha Italiana recebeu, em 26 de Janeiro, o primeiro caça F-35B de descolagem curta e aterragem vertical, cujo pessoal será treinado na base dos Marines de Beaufort, na Carolina do Sul.

Isto e muito mais está omitido no debate eleitoral. O debate concentra-se nas implicações económicas da adesão da Itália à União Europeia, mas ignora as inferências políticas e militares e, consequentemente, as consequências económicas, da adesão da Itália à NATO sob o comando dos EUA, a que pertencem (após Brexit ) 21 dos 27 estados da UE.

Neste contexto, não é levantada a questão das novas bombas nucleares B61-12 que, dentro de dois anos, o Pentágono começará a estabelecer na Itália, em vez da actual B-61, empurrando o nosso país para a primeira fila, no confronto nuclear cada vez mais perigoso com Rússia.

Para quebrar a capa de silêncio sobre essas questões fundamentais, devemos pedir aos candidatos e candidatas às eleições políticas (como proposto pela Comissão No Guerra No NATO) duas questões precisas nas reuniões públicas, nas redes sociais e nas transmissões de rádio e de televisão: "É ou não é, a favor da saída da Itália da NATO? É partidário da remoção imediata das armas nucleares americanas da Itália? Responda Sim ou Não, esclarecendo, eventualmente, o motivo da sua escolha ».

Aos 243 deputados (entre os quais se destaca o candidato a Primeiro Ministro, Luigi Di Maio), signatários do compromisso ICAN destinado a fazer com que a Itália adira ao Tratado da ONU sobre a proibição de armas nucleares, devemos fazer uma terceira pergunta: "De acordo com o seu compromisso, será que na próxima legislatura, defenderá a retirada imediata das bombas nucleares americanas B-61 da Itália, que já violam o Tratado de Não Proliferação, e a não instalação das bombas B61-12 e de outras armas nucleares? ".


* Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016.

Nota:
[1] “Remarks by James Mattis on the National Defense Strategy”, by James Mattis, Voltaire Network; « Examen de la posture nucléaire US 2018 », Réseau Voltaire, 19 janvier 2018.

Said Hassan Nasrallah: “Trump caminha para o Armageddon. Israel será mais facilmente destruída que o ISIS”


3/1/2018, Sua Eminência Said Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah.

Entrevista ao prof. Sami Kleib, rede Al-Mayadeen, Beirute (excerto) (transc. trad. ing. SaidHasan)

Transcrição:

[…] Prof. Sami Kleib [Entrevistador]: Ao final da primeira parte de nossa entrevista, concluímos quanto a dois pontos. No primeiro, o senhor disse que os eventos no Irã não terão consequências e estão superados; no segundo, evocamos o perigo maior, a saber, que Trump e Israel estão empurrando a região na direção de uma grande guerra. E o senhor disse que o Eixo da Resistência está em preparação e tem de estar preparado. E eu perguntei se Sua Eminência está realmente preocupado e se acredita que essa guerra venha a acontecer. Porque depreendo de seus comentários que a guerra é possibilidade [real], que eles a criarão, e que o senhor tem certeza de que o Eixo da Resistência sairá vencedor.

Hassan Nasrallah: Veja, quanto à possibilidade de guerra, sim, é real. Quanto ao grau de probabilidade em momento algum discutimos isso. Porque com aquela mentalidade, aquele governo… E, digam eles o que disserem, não é só Trump, mas o vice-presidente, todo aquele governo, a visão deles… Você viu o modo como abordaram a questão de Al-Quds [Jerusalém]. Para nós é uma questão de religião. Essas coisas têm relação com [o que estamos discutindo aqui]. Se você vê as declarações dos norte-americanos, e mesmo dos israelenses, você vê que querem um Armageddon. Ele prepara um Armageddon [real] e caminha sem vacilar diretamente na direção dele. Conhecemos a mentalidade deles.

Entrevistador: São apoiados por sionistas cristãos.

Hassan Nasrallah: Seja como for, temos de nos manter concentrados nessa possibilidade, porque, depois que eles destruíram o processo de negociação, que eles chamam de processo de paz, que escolhas continuam a existir? Para onde querem empurrar a região, se não diretamente para a guerra? Por isso digo que a possibilidade é real. Mas só digo isso, porque, para dizer mais, ainda não temos provas, e as pessoas ficariam angustiadas. Essa é a verdade.

Mas não seria justo qualquer de nós dizer às pessoas que fiquem tranquilas. Porque temos pela frente Trump e Netanyahu e, com esses alucinados, não podemos dizer que as coisas vão muito bem, que a região não poderia estar melhor, que não há motivos para temor, que a paz está garantida. E como poderíamos dizer tal coisa, se absolutamente tudo faz pensar na direção oposta, na direção de mais guerra? Não há nem o mínimo sinal que sugira alguma paz. Assim sendo, temos de falar de uma perene possibilidade de mais guerra. Nesse caso, basta a possibilidade, do ponto de vista da racionalidade e da responsabilidade, para que nós tenhamos o dever de entrar em ação. Quero dizer: temos de preparar, organizar, reforçar nossa frente, nosso Eixo, nossos homens, nossa situação e nossas capacidades, porque  [a guerra] pode acontecer [de um dia para o outro]. Se não acontecer, não teremos perdido nada. Estaremos mais fortes. E se acontecer, estaremos preparados para encarar o que vier.

Entrevistador: Significa, Sua Eminência, que todos estão preparados com Irã, Síria, Líbano e Palestina? É esse hoje o seu Eixo [da Resistência]?

Hassan Nasrallah: Basicamente, sim. Claro que também consideramos incluir no Eixo da Resistência, porque não tem de ser necessariamente um eixo exclusivamente militar, todas as personalidades, os movimentos, os partidos e as forças nos mundo árabe e muçulmano que apoiem essa nossa via. Para nós, todos esses são parte do Eixo da Resistência. Mas as principais forças militares no front são as que acabamos de mencionar. Mas permita-me acrescentar o elemento iemenita. O Iêmen que está hoje sendo agredido e atacado. Quando anunciei que, na próxima guerra, não serão dezenas, mas centenas de milhares de combatentes que se unirão a nós, se o senhor lembra, logo depois, poucos dias depois, Said Abdul-Malik al-Houthi, em discurso ao vivo, anunciou que forças jihadistas do Iêmen estavam prontas para se unir a nós na guerra (contra Israel). E ainda lhe digo mais. Por contatos continuados entre nós, de um modo ou de outro, recebi uma carta logo depois daquele meu discurso. Antes de Said Abdel-Malik al-Houthi ter anunciado essa posição pela TV, ele já me escrevera que estavam prontos, em caso de guerra, para enviar dezenas de milhares de combatentes, se precisarmos, mesmo que prossiga a guerra saudita-norte-americana contra eles. O Iêmen hoje, o que se conhece como o exército iemenita e as forças populares que estão em combate lá, estão plenamente do nosso lado, no Eixo da Resistência e na Frente da Resistência. Aliás, essa é uma das razões pelas quais o Iêmen está sendo atacado.

Entrevistador: É verdade. Significa, Sua Eminência, que ninguém poderá dizer depois, como tantas vezes acontece, que o senhor teria exagerado sobre como o Hezbollah pode sair vencedor [da guerra que Israel quer fazer contra a região]. Porque são estados poderosos, a OTAN, o risco de guerra mundial, e mesmo assim o senhor disse que entrará até além da Galileia [Palestina Ocupada], já na próxima guerra, se acontecer. É assim mesmo? Pode-se esperar racionalmente que os combatentes do Hezbollah invadam a Galileia e avancem além dela?

Hassan Nasrallah: Se uma grande guerra acontecer… Agora, a questão da Galileia é distinta, é questão da qual já falei, e nós já mencionamos no passado e sempre anunciamos que a instrução básica dos combatentes da Resistência é “Estejam preparados para o dia em que os líderes da Resistência lhes digam que avancem para a Galileia ou libertem a Galileia.” Quanto a avançar além da Galileia, isso está relacionado à ideia geral da qual estamos falando aqui. Se acontecer uma grande guerra na região, tudo pode acontecer.

Entrevistador: Por que, Sua Eminência, o senhor tem tanta certeza da vitória? Por que essa certeza? Vem de Deus, do Invisível? Ou há dados reais em campo?

Hassan Nasrallah: Quanto a Deus, ao Invisível e a questão da confiança em Deus Todo Poderoso, e a promessa que Ele nos fez, claro que tem, obviamente, lugar fundamental. Mas Deus Todo Poderoso, mesmo quando assegurou [aos fieis] que teríamos Sua ajuda e Seu apoio, Deus nos põe diante de condições muito materiais: “Preparem contra (os inimigos) todas as forças que possam” (Corão 8:60). E Deus disse “Se você ajuda [a causa de Alá], Ele o apoiará” (Corão, 47:7). A segunda parte, sobre nossos esforços em campo, é fundamental. Nossa leitura do inimigo israelense ao longo de todas as experiências e todas as guerras é diferente. Esse inimigo não tem força em si. E é possível derrotá-lo. Esse é o primeiro ponto. Esse é debate antigo. Nós acabamos com esse debate. Ninguém pode questionar as conquistas da Resistência no Líbano e na Palestina. Uma das maiores realizações da Resistência nos níveis militar, moral, cultural, psicológico e político, é que pusemos fim ao mito de que haveria algum invencível exército israelense. Nós mostramos que aquele exército pode ser derrotado. E digo ainda mais. Os que são capazes de impor uma derrota ao ISIS e às forças takfiri na Síria e no Iraque, muito mais capazes ainda são de derrotar o exército israelense.

Entrevistador: É mais difícil derrotar o ISIS, que o exército israelense?

Hassan Nasrallah: Claro, não há dúvida sobre isso. O exército israelense só tem um ponto forte: a aviação. Mas só uma força aérea não vence batalhas. Por poderosa que seja, força aérea não vence batalhas.

Entrevistador: E graças a uma possível capacidade antiaérea do Hezbollah, aquela força aérea perderá força?

Hassan Nasrallah: A luta contra forças takfiri é infinitamente mais difícil que a luta contra Israel. Veja, há enorme diferente entre o combatente takfiri e o soldado e oficial israelense. Não estou exagerando a força dos takfiris, nada disso. Mas tenho de ser honesto. Quando você toma parte numa batalha na qual tem de enfrentar centenas de suicidas-bomba… Não são mártires, não os considero mártires. Centenas de suicidas-bombas em veículos carregados com duas toneladas de explosivos, e atacam sua brigada, seu batalhão, suas posições. Estão prontos a morrer, não têm limites. E as razões e causas que os arrastam (doutrinação, drogas…) nada mudam. O Hezbollah e outras forças combatemos nesse front extremamente perigoso na Síria durante sete anos, pouco mais de mais de três anos no Iraque, e derrotamos o ISIS, e digo que teria sido possível derrotá-los muito mais depressa, se os norte-americanos não estivessem garantindo apoio e proteção aos terroristas do ISIS. Isso tem de ser dito e divulgado. O exército israelense, professor Sami, treina seus soldados só para avançar, como os vimos fazer em 2006. Também na última batalha em Gaza em Shuja’iya (2014), vimos como as tropas israelenses lutavam: para avançar, soldados e oficiais têm de ser precedidos por blindados, depois por ambulâncias de guerra, exatamente isso, ambulâncias, e, por cima, têm de vir os helicópteros e força aérea. Sem tudo isso, não conseguem dar um passo adiante. Esse é um soldado derrotado antes da luta, acovardado, sem vontade de lutar, apesar de todo o equipamento e capacidade que lhe são oferecidos. Já vimos acontecer bem assim no Líbano, em Gaza. Essa é a realidade presente na Palestina ocupada. Hoje enfrentamos um exército israelense que sofreu várias derrotas, e desde 2006 só fazem se autoequipar, treinar, manobras e mais manobras…

Entrevistador: Mas o Hezbollah também.

Hassan Nasrallah: Não negamos isso. Mas eles não resolveram o problema deles. Porque o problema deles não está nos tanques, aviões e armas. O problema deles é o material humano, o soldado. O termo fundamental da equação introduzido pela Resistência, e no qual o Eixo da Resistência tem vantagem hoje, nessa batalha, é o fator humano. Sou dos que sentam e dizem com clareza que 1 + 1 + 1 = 3, porque, como uso indiscutíveis dados em campo, posso afirmar que o resultado da conta é 3. Hoje, por exemplo, uma das forças mais importantes que temos – e é preciso que as pessoas saibam disso –, uma das nossas maiores forças na grande batalha em preparação contra os sionistas é que hoje temos centenas de milhares de combatentes prontos a lutar, sem limites.

Entrevistador: Derrubando aviões?

Hassan Nasrallah: Você insiste em perguntar sobre a capacidade para derrubar aviões.

Entrevistador: Mas essa é a equação…

Hassan Nasrallah: [Há centenas de milhares] de aspirantes ao martírio [prontos a combater Israel]. Veja, no passado – quando nos reuníamos com vários movimentos da Resistência, falamos do passado – um jovem iemenita se unia a tal grupo palestino, como também um tunisiano, argelino, egípcio. Hoje já não falamos de um ou outro jovem vindo daqui ou dali. Estamos falando de forças reais, de formações militares e jihadistas que lutaram em vários campos, que participaram nas batalhas mais difíceis. Não temos medo. Somos hoje conjunto de combatentes altamente experientes, que creem em Deus e nas próprias capacidades. Esses são os que lutam no Eixo da Resistência.

Entrevistador: Muito bom. Tudo que o senhor diz é muito promissor. Mas se pode argumentar, Sua Eminência, que o senhor afirma que derrotará Israel, invadirá e atravessará fronteiras. Mas Israel bombardeia o Hezbollah na Síria, e vocês fazem absolutamente nada, não retaliaram. A razão é essa que o senhor expôs?

Hassan Nasrallah: No interesse da preparação para a Grande [vindoura] Guerra.

Entrevistador: O senhor quer dizer o quê?

Hassan Nasrallah: Primeiro, no ponto em que estão as coisas, temos todo o interesse em não nos deixar arrastar numa escalada em local determinado, a menos que não tenhamos escolha. Na Síria, Israel ataca alguns alvos. Às vezes são bem-sucedidos, às vezes falham, não acertam sempre. Não falarei de detalhes. Mas não foram bem-sucedidos nem conseguiram impedir – Israel sabe disso, e não revelo aqui qualquer segredo – a capacidade, os meios e a preparação para crescer, da Resistência no Líbano. É situação que temos de suportar até segundo aviso. Não estou dizendo que toleraremos [os ataques] para sempre indefinidamente. [Esperaremos com paciência] até segundo aviso, pensando no interesse estratégico objetivo geral [a derrota do ISIS e a preparação para a grande guerra contra Israel]. Isso precisamente é o que chamei de “regras de engajamento” [ing. rules of engagement].[2]

Entrevistador: Muito bom. O senhor avisou que não entraria em detalhes, mas permita-me uma pergunta. Os ataques israelenses a posições, depósitos e fábricas de armas do Hezbollah ou mísseis não impediram que as armas chegassem ao Hezbollah. É o que o senhor quer dizer?

Hassan Nasrallah: Não impediram e não impedirão. E eles sabem muito bem. E não estou dizendo nenhuma novidade, nem qualquer segredo, embora seja a primeira vez que digo à imprensa. Mas os próprios israelenses sabem disso.

Entrevistador: Há ainda um último tema [que desejo mencionar], se Sua Eminência me permitir, antes de passarmos para o assunto da Síria. Refiro-me ao front do sul da Síria. Muito se tem falado sobre isso, os israelenses estão muito preocupados, a saber, porque o Hezbollah e o Irã, evidentemente com ajuda e apoio do Exército Árabe Sírio que também combate há sete anos, preparam-se para resistir junto à fronteira, do Golan e por toda a extensão da fronteira sul. É verdade? Há um novo front de Resistência contra Israel, na fronteira sírio-palestina?

Hassan Nasrallah: Mais uma vez, é assunto sobre o qual o melhor é não falar…

Entrevistador: Temos uma entrevista ‘muda’ (sem novidades), Sua Eminência.

Hassan Nasrallah: Infelizmente, porque o senhor insiste em questões muito sensíveis. O inimigo sabe que tem motivos para estar preocupado. Porque, afinal de contas, o que aconteceu no sul da Síria é um grande experimento e é agora uma possibilidade para a juventude síria e para o exército nacional sírio. O exército é exército nacional, e os jovens. Porque na Síria, como o senhor sabe, não é só o exército que luta. Os grupos que a mídia síria chama de “forças aliadas” são formações populares sírias, constituídas de jovens das cidades, das aldeias e regiões, cada um na sua área, em Aleppo, a juventude de Aleppo, os jovens de Deraa em Deraa, os de Hama em Hama, os de Homs em Homs, etc., os de Suweida em Suweida, etc., esses jovens combateram nas próprias províncias. E são jovens que acumularam vasta e valiosa experiência, especialmente sobre a fronteira sul. Porque no front sul a luta às vezes assumia a forma de guerra clássica, às vezes, de guerra de guerrilhas, dos dois lados. Concretamente, criou-se assim uma estrutura humana, no plano do pensar, da experiência, da prontidão, as forças podem ser mobilizadas em 24 horas. Não é necessária qualquer formação permanente. Mas a nossa presença no sul da Síria, e por razões que têm a ver com a natureza do combate em curso na Síria, em qualquer lugar que estejamos, haverá razão de sobra para que Israel se preocupe, porque há oposição visceral entre nós e os israelenses. Por isso os israelenses sempre se preocupam com qualquer coisa que possa haver no sul da Síria, e trabalham , forçam, tentam extrair a maior vantagem possível da pressão dos EUA, tentam conversar com a Rússia, tentaram com ameaças, tentaram assustar, intimidar, gritaram que não haveria nem Resistência nem resistentes no sul da Síria. Até agora nada conseguiram. Entrevistador: Quer dizer que a Resistência está presente, pelo que concluo de suas palavras, há células prontas para qualquer guerra próxima contra Israel.

Hassan Nasrallah: A Resistência está presente no sul da Síria, o que é perfeitamente normal na posição defensiva, e a Síria tem todo o direito de ter a Resistência presente ali para defendê-la se for atacada e também tem o direito, a qualquer momento, de decidir recorrer à Resistência popular para libertar o Golan ainda ocupado por Israel. Se o senhor lembra bem, nos últimos anos antes desses eventos na Síria, o presidente Bashar al-Assad referiu-se claramente e explicitamente à Resistência, e disse que, sim, poderia tomar a decisão de recorrer à Resistência. É decisão lógica e natural, e é decisão que inspira muito medo a Israel. Israel tem muito medo disso. Entrevistador: A Resistência Popular à qual o presidente Bashar al-Assad referiu-se era síria.

Hassan Nasrallah: Sim. 

Entrevistador: Mas agora, pelo que compreendi de suas palavras, há Resistência popular síria e não síria no front sul.

Hassan Nasrallah: Precisamente. […] – FIM DO EXCERTO

Em Oriente Mídia | Traduzido por Vila Vudu | Na foto: Sami Kleib

Notas:
[1] Se esses vídeos forem censurados por Youtube, podem ser encontrados também, legendados em inglês, em https://www.dailymotion.com/video/x6d9z5r e https://www.dailymotion.com/video/x6d9zph [Nota de Said Hassan].
[2] Rules of engagement [lit. regras do engajamento]: ordens que soldados em guerra recebem sobre o que podem e o que não podem fazer [de Cambridge Dictionary] (NTs).

Insanidade política e revisão da postura nuclear: Washington ameaça a América e o mundo


Paul Craig Roberts

Quando vejo reportagens provenientes de qualquer país, não noto que haja percepção dos desenvolvimentos mais fatídicos da história dos EUA. Um deles é a conspiração entre agências de segurança, Departamento da Justiça, o Partido Democrata e os media da imprensa e TV para derrubarem o presidente eleito dos Estados Unidos. Com o "Russiagate" estamos a experimentar um golpe contra o presidente Trump e a democracia americana. Embora a Política de Identidade dos membros do Partido Democrata não possa conceber isto, é possível opor-se ao presidente Trump sem acreditar que seja desejável um golpe da polícia de estado contra ele.

O outro desenvolvimento fatídico é a Revisão da postura nuclear dos EUA que acaba de ser divulgada, a qual apela a armas nucleares "utilizáveis", legitima o seu primeiro uso e estabelece o cenário para gastar triliões de dólares com a aquisição de mais armas nucleares quando necessidades públicas maciças não são atendidas e 10 por cento do arsenal existente dos EUA já é suficiente para destruir toda a vida sobre a terra.

Tenho escrito acerca destes desenvolvimentos extraordinários. Ver isto e isto , por exemplo.

Quanto ao efeito que tenho tido, será preferível não ter aborrecimentos. Nenhum governo e nenhuma organização de notícias de que eu tenha conhecimento tocou o alarme de que a CIA, FBI, DOJ, Partido Democrata e a totalidade dos media da imprensa e TV foram apanhados em flagrante num golpe para derrubar o presidente dos Estados Unidos e nada está a ser feito acerca disto. O golpe não pode sequer ser revelado, porque as agências de segurança, os media e os membros do Partido Democrata reduzem ao silêncio as provas palpáveis. Saddam Hussein e Kadafi foram assassinados com base exclusivamente em mentiras e agora o presidente dos Estados Unidos enfrenta o mesmo destino.

Se o golpe contra Trump tiver êxito, os EUA terão feito a transição plena para uma Polícia de Estado Gestapo. A América ter-se-á tornado o Quarto Reich.

Tão horrível quanto esta perspectiva – cortesia da CIA, FBI, Departamento da Justiça de Obama, Partido Democrata e media presstitutos – é a revisão da postura nuclear, muitas vezes pior. Durante as longas décadas da Guerra Fria, nenhum governo dos EUA teria publicado uma revisão da postura nuclear que legitimasse o primeiro uso de armas nucleares contra qualquer oponente. Os EUA tiveram alguns generais enlouquecidos, tais como Lemnitzer e Curtis LeMay que foram personagens do Dr. Strangelove, e houve uma filme de James Bond acerca de um igualmente enlouquecido, mas ficcional, general soviético.

Mesmo 55 anos atrás generais loucos como Lemnitzer eram demasiado poderosos para serem despedidos. O presidente John F. Kennedy ficou restringido a reafectar Lemnitzer, o qual pressionara JFK a adoptar uma operação de falsa bandeira tipo 11/Set conhecida como Operation Northwoods e a lançar um ataque nuclear antecipativo (preemptive) à União Soviética. O presidente Kennedy ficou enervado ao perceber que tinha um Chefe do Estado Maior insano, mas manteve-o no posto. O presidente Trump não se ergueu contra os Dr. Strangeloves neocons do nosso tempo quando endossou o Pentágono na sua nova revisão da postura nuclear. Em comparação com JFK, Trump é café pequeno. 

 A nova revisão americana da postura nuclear é um documento neoconservador que contém dentro de si a destruição de toda a vida sobre a terra. Os insanos responsáveis por este documento são os mesmos que têm posições políticas para implementá-lo. Isto nos leva ao paradoxo de um presidente americano eleito em parte pelos suas apregoadas intenções de normalizar relações com a Rússia ter assinado uma revisão da postura que diz à Rússia e à China que Washington tem uma política que permite um primeiro ataque contra eles. Claramente, isto não é normalizar relações. 

A Rússia já experimentou um quarto de século de engano e duplicidade americana. O presidente Gorbachev recebera a promessa de que, em troca do acordo soviético para a unificação da Alemanha, Washington não moveria a NATO nem uma polegada para Leste. Mas o Regime Clinton moveu a NATO para a própria fronteira da Rússia. O Regime George W. Busch retirou-se do tratado de mísseis anti-balísticos. O Regime Obama colocou mísseis ABM na fronteira da Rússia. E agora o Regime Trump diz à Rússia e à China que estão sujeitas a ataques nucleares de surpresa.

Nunca na história da espécie humana foi cometido um acto tão temerário, irresponsável e desestabilizador, um acto que ameaça toda a humanidade. É difícil imaginar um governo, mesmo um governo criminalmente insano como o dos EUA, dizer a potências nucleares como a Rússia e a China que estão sujeitas a ataques nucleares de surpresa.

Mas os media americanos estão eufóricos. O USA Today declara: " Plano de Trump para armas nucleares faz sentido ".

The Hill , uma publicação de Washington, pensa que ameaçar a Rússia e a China com um primeiro ataque é um passo razoável.

A presstituta CNBC , ignorando completamente a postura nuclear provocadora de Washington e encorajando a busca de ainda mais armas nucleares e das capacidades de entrega das mesmas, centra a atenção sobre a Coreia do Norte como sendo a ameaça real.

Quando um país pretende hegemonia mundial e tem os media submissos às suas intenções de guerra, como é o caso dos EUA, é melhor que o resto do mundo esteja em guarda. Não há verificação interna, seja qual for, quanto à agressão de Washington em relação ao mundo.

Onde estão as vozes de protesto dos europeus, canadianos, britânicos, australianos, japoneses, sul-americanos, africanos, indianos e asiáticos? Onde estão as vozes da Rússia e da China? Se elas existem de algum modo estão escondidas por trás das pretensões russas quanto aos "nossos parceiros ocidentais" e da cobiça chinesa por mais lucros.

As vozes não existem.

A verdade não é boa nova. Ela não conforta pessoas ou não as faz sentirem-se bem. Pessoas que não se sentem seguras não incidem em dívida a fim de poderem gastar dinheiro e fazerem lucros para os capitalistas que possuem os noticiários e os governos e os negócios.

O Armagedão trará o esquecimento da dívida, ressuscitando portanto uma economia não existirá mais, pois ninguém estará aqui para pagar ou cobrar as dívidas. 

08/Fevereiro/2018

O original encontra-se em www.globalresearch.ca/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
 

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