domingo, 11 de fevereiro de 2018

CHINA e EUA | Competição crescente na América Latina


No dia 1º de Fevereiro o Secretário de Estados dos EUA, Rex Tillerson, realizou um discurso na Universidade do Texas, no qual abordou as relações diplomáticas com os países da América Latina. Sua fala não foi casual, mas introduziu a visão do país sobre o tema e precedeu o início de uma viagem oficial de sete dias pela região, incluindo visitas ao México, Panamá, Colômbia, Peru, Argentina e Jamaica. Na ocasião, Tillerson ressaltou a convergência de valores no continente americano e a importância da região na estratégia internacional estadunidense.

Livia Milani*

Além disso, expressou o objetivo de seu país em promover a liberdade política e as reformas econômicas pró-mercado, assim como fortalecer a governança democrática, as medidas anticorrupção e a luta contra o crime organizado transnacional.

Contudo, como destacado pelos periódicos El País e New York Times, o que mais chamou atenção foi a ênfase atribuída por Tillerson ao aumento da presença chinesa nas Américas. O Secretário ressaltou que o investimento e o comércio chinês com a região vêm aumentado, sendo que tal país se tornou o principal parceiro comercial de Argentina, Brasil, Chile e Peru, e alertou que a parceria com a potência asiática sempre vem com um custo. Segundo o representante estadunidense, o modelo de desenvolvimento e a atuação internacional chinesa têm como consequências benefícios no curto prazo e dependência no longo prazo. Além disso, em sua visão, trata-se de um modelo extrativo e predatório, que beneficia apenas a população chinesa e atua na contramão da promoção dos direitos humanos ou da democracia. Nas palavras de Tillerson, “a América Latina não precisa de novos poderes imperiais que buscam beneficiar apenas sua própria população”.

Segundo noticiado pela Reuters, o discurso do Secretário de Estado foi seguido de um comunicado do Ministério de Relações Exteriores chinês. O documento afirmava que o discurso de Tillerson era desrespeitoso em relação aos países latino-americanos e que a cooperação entre a China e a América Latina baseia-se na igualdade, liberdade e em ganhos mútuos. O comunicado destacava ainda que o comércio chinês com a região não afeta nenhuma terceira parte e não deve ser visto como um jogo de soma zero.

Cabe ressaltar que o discurso de Tillerson ocorreu pouco tempo depois de a uma reunião que congregou a China e os trinta e três países da Comunidade dos Estados Latinos Americanos e Caribenhos (CELAC). Durante a reunião ocorrida em 22 de janeiro, o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, ressaltou que a China tem praticado na América Latina uma diplomacia de benefícios e ganhos conjuntos. Na oportunidade, Yi buscouaproximar e incluir a região na principal iniciativa diplomática contemporânea chinesa, a chamada Nova Rota da Seda.

Interessante notar a semelhança dos discursos dos representantes de ambas as potências, que argumentam que as suas relações com a região trazem benefícios para ambas as partes. Yi ressalta que a atuação chinesa tem como resultado o desenvolvimento conjunto e baseia-se em valores comuns, especialmente o multilateralismo. Apesar de afirmar que não atinge terceiras partes, a diplomacia chinesa tem consciência de que sua aproximação com a América Latina, tradicional área de influência norte-americana, pode gerar reações por parte desta potência mundial.

Tillerson, por sua vez, argumenta que os Estados Unidos são um ator que se preocupa com a prosperidade regional, com a promoção da liberdade e segurança na América Latina, atuando em favor do hemisfério e com base em valores comuns, especialmente a democracia e os direitos humanos. Contudo, ironicamente, essa narrativa contradiz o slogan America First sustentado pelo presidente Donald Trump desde o início de sua campanha eleitoral. O Mandatário defende a necessidade de atribuir maior ênfase aos interesses nacionais estadunidenses e colocá-los em primeiro lugar. Nesse sentido, a crítica estadunidense sobre a China priorizar as necessidades de seus nacionais também poderia ser aplicada aos Estados Unidos, conforme o próprio discurso sustentado por Donald Trump.

O discurso de Tillerson, por outro lado, reconhece um cenário que se desenha desde o início dos anos 2000, marcado pelo aumento da presença chinesa e a relativa diminuição da presença econômica dos Estados Unidos na região. A China tornou-se o primeiro parceiro comercial de países da região em detrimento da potência norte-americana. Os investimentos e empréstimos chineses ocupam um espaço que anteriormente era dominado pelos Estados Unidos. Nesse contexto, configura-se um cenário de aumento da competição entre a potência estabelecida e a emergente sobre a influência na América do Sul. Há que se ressaltar que se trata de uma rivalidade de baixa intensidade e baixo perfil, essencialmente econômica. Embora tenha um fundo geopolítico, trata-se de uma dinâmica essencialmente diferente daquela que existe atualmente na Ásia, onde os traços de competição militar apresentam-se de forma cada vez mais ressaltada.

Livia Milani - Colaboradora Voluntária do CEIRI | 7 de Fevereiro de 2018
                   
Imagem: “Tillerson participa em conferência de imprensa conjunta com o Ministro de Relações Exteriores Argentino, Jorge Faurie” (Fonte: Departamento de Estado):

Presidente timorense convoca eleições antecipadas para 12 de maio

Díli, 09 fev (Lusa) - O Presidente da República timorense, Francisco Guterres Lu-Olo, convocou eleições parlamentares antecipadas para 12 de maio, num voto do qual sairá a nova composição do Parlamento Nacional e, posteriormente, o VIII Governo constitucional.

O Jornal da República publicou hoje o decreto assinado por Francisco Guterres Lu-Olo com a data de quarta-feira e que marca o arranque formal do processo eleitoral no país.
"No uso da competência que lhe é conferida pelo artigo 86 da Constituição da República Democrática de Timor-Leste, o Presidente da República decreta: é marcado para o dia 12 de maio de 2018 a eleição dos deputados ao Parlamento Nacional", refere o decreto.

"O presente decreto entra em vigor no dia 20 de fevereiro", data em que, formalmente, começam a aplicar-se todos os prazos associados ao voto, definidos pela lei de eleições parlamentares aprovada no ano passado.

Estas serão as quintas eleições parlamentares de Timor-Leste desde a restauração da independência de Timor-Leste e ocorrem 10 meses depois das anteriores, que se realizaram a 22 de julho do ano passado.

O voto é necessário depois de Lu-Olo ter anunciado a 26 de janeiro a dissolução do Parlamento Nacional como solução para o impasse político que se vivia há vários meses em Timor-Leste.

A data de 12 de maio tinha sido proposta pelos órgãos eleitorais, Comissão Nacional de Eleições (CNE) e Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) cujo calendário eleitoral contou ainda com o acordo das cinco forças com assento parlamentar.

O calendário eleitoral vai ser agora divulgado pelos órgãos eleitorais sendo que se prevê uma campanha eleitoral de 30 dias e dois dias de reflexão antes do voto.

ASP // ARA

MAIS EM TIMOR AGORA – em português

TIMOR-LESTE | Exemplo de democracia para a ASEAN


Fernando Figueiredo* | opinião

Timor-Leste, país candidato à ASEAN, vai de novo ser testado de forma democrática, com a realização das eleições antecipadas apontadas para 12 de Maio depois da crise política e impasse vivido entre o governo minoritário Fretilin+PD formado apenas no ano passado e a aliança politica do CNRT+PLP+KHUNTO no parlamento. Mas, enquanto os comentadores políticos, jornalistas e editores incluindo críticos já conhecidos da comunidade internacional usam esse facto para questionar os méritos da democracia e da magistratura do presidente Francisco “Lu-Olo” Guterres, o facto é que este exercício também é prova suficiente de maturidade numa região onde a democracia é ainda nalguns casos uma miragem.

Não quero com isto afirmar que a democracia de Timor-Leste já tem um quadro sólido mas quando comparado com a maioria do resto da ASEAN, o governo em Díli tem credenciais que o resto do sudeste da Ásia apenas apregoa.

Das dez nações da ASEAN, o Vietname e o Laos permanecem estados comunistas de partido único, enquanto Singapura e Malásia nunca foram sequer testados numa mudança de partidos políticos no governo. E se atentarmos nas restantes democracias na região, vemos que a Tailândia não é um país estranho a golpes de Estado, nas Filipinas a eleição do presidente Rodrigo Duterte minou totalmente a democracia e a lista podia continuar com a oposição dissolvida no Cambodja. Em Myanmar, as eleições e uma mudança no governo não conseguiram conter o controle militar e levantam questões fundamentais sobre o estado de seu povo. O Brunei apesar de algumas mudanças estéticas do final, incluindo a introdução da lei da Shariah pouco ou nada tem de democracia enquanto espaço de liberdade e tolerância.

Então, quando o presidente Lu Olo diz: “Peço às pessoas que votem novamente. Todos iremos votar. Todos iremos às eleições para melhorar nossa democracia “, isso é neste espaço da ASEAN um exemplo para todos esses modelos de governo mais sombrios em toda a região. Muito longe das ameaças de guerra e turbulência social usadas pelos líderes políticos em outros países próximos para justificar o poder e o enraizamento das elites governantes, este pequeno país com uma história de apenas 16 anos e apenas cerca de 1,3 milhões de pessoas, que se apresentam em grande número para votar nas eleições presidenciais ou parlamentares, é um exemplo a seguir.

Paradoxalmente, mesmo quando a democracia de Timor-Leste se tem afirmado como exemplo para os seus colegas do Sudeste Asiático, a admissão na ASEAN tem sido sucessivamente adiada. Díli apresentou um pedido para se juntar à ASEAN em 2011, quando a Indonésia assumiu a presidência do grupo e os países membros concordaram em realizar um estudo de viabilidade, mas até esta data, o progresso tem sido muito lento e quase nulo.

Alguns podem argumentar que o actual impasse político reforça a necessidade de a ASEAN ser cautelosa antes de aceitar a tentativa de Díli de se juntar ao grupo mas, na minha modesta opinião, essas questões são, sem dúvida, coisas insignificantes quando comparadas à luz dos problemas e atrasos ocorridos quando o Camboja e, em menor medida, o Vietname, Myanmar e Laos, se lhe juntaram na década de 1990.

Não há neste momento garantias de que as novas eleições resolvam o atual impasse político em Timor-Leste mas a capacidade de aprendizagem e maturidade da democracia em Timor-Leste numa região onde a estabilidade política está constantemente sob a ameaça de políticos que procuram subverter os valores cívicos e democráticos deve ser vista como um grande passo de um país pequeno com um passado tão sofrido e problemático.

*Fernando Figueiredo | em Rua Direita

*Coronel na reserva, cidadão no activo, politico novato à antiga e às direitas, amigo do seu amigo, inconformado com a injustiça social, intolerante com a incompetência

Na foto: Lu Olo, atual PR no ato de votar.

PORTUGAL | O que eu pensaria se fosse mal intencionado!


Jorge Rocha* | opinião

Se eu quisesse ser mal intencionado poderia pensar que alguém no Ministério Público estaria a encarar com grande preocupação a provável substituição de Joana Marques Vidal por quem se revele menos zarolho nas investigações passíveis de gerarem capas do «Correio da Manhã» e decidiu enviar um recado ao governo sob a forma da investigação sobre os bilhetes para o futebol do ministro Mário Centeno. Algo do género: «atrevam-se a mexer no nosso arranjinho, que nem o presidente do Eurogrupo escapa!» É que, não só a ministra da Justiça se descaíra a prever a mudança de rosto à frente da Procuradoria-Geral da República, como vem crescendo em volume o intenso clamor pela urgente substituição de quem tem mostrado uma tão explicita passividade face à facilidade com que tem sido violado o segredo de Justiça nos processos confiados aos seus subordinados.

Se o mandato de Joana tivesse acabado em vésperas do final da anterior legislatura, Passos Coelho repetiria o que fez com o Banco de Portugal, conseguindo ter mais um dos «seus» em funções durante os quatro anos da governação socialista. Para azar dos que têm garantido neste seis anos de mandato da Procuradora uma contínua parcialidade a seu favor, está na hora de mudar o rumo no comportamento do Ministério Público, tornando-o efetivamente respeitador da legalidade democrática - não só salvaguardando o referido segredo de Justiça, mas também investigando e condenando quem o viola (desde as fontes internas  até quem as publica!), só assim se cumprindo o principio da presunção de inocência dos arguidos desde a fase instrutória dos processos até ao fim do seu julgamento).

É claro que a campanha dos «da Joana» vai tendo várias vertentes: esta semana até regressou à boca de cena um magistrado - conhecido por organizar um Congresso da sua classe com o alto patrocínio do Grupo Espírito Santo -, a pretexto de um livro em que defende a tese absurda de nunca a Justiça ter estado tão afetada na sua independência relativamente ao poder político como terá sucedido quando Pinto Monteiro era o Procurador e José Sócrates o primeiro-ministro. Está visto que aquele sobre quem o anterior Procurador comentou que o facto de ter chegado onde chegou só denota a mediocridade que hoje grassa no Ministério Público, quer-nos tomar por tolos. Algo que manifestamente não somos.

Apesar dos danos suscitados durante uns dias à irrepreensível reputação do ministro - inclusive com repercussões internacionais! - quem terá tido a peregrina ideia de lançar esta lebre a coberto de uma manchete do «Correio da Manhã», logo secundada pelo «Observador» e pelo «Expresso», deve estar arrependido de o ter feito. Porque a investigação revelava-se tão coxa, tão desconchavada, que acabou por ser criticada pelos próprios tenores da direita comentarista nos diversos jornais e canais de televisão, deixando sem rede de proteção - a não ser no anonimato com que estas coisas são escondidas - o clandestino autor. Depois do sucedido ficou ainda mais demonstrado - se ainda mais provas fossem necessárias! - que já ontem era tarde para que Joana Marques Vidal seja substituída.

No meio disto tudo o nosso selfieman, que tanto gosta de comentar tudo e mais alguma coisa, procedeu para com esta ignomínia com a mesma «distração», que dedicou ao caso Tecnoforma ou à luta das operárias da Triumph. Assobiou para o lado, tirou mais um boneco, deu mais um abraço … e seguiu em frente como se fosse algo com que não tivesse a haver...

*Jorge Rocha | Ventos Semeados

PESSOAS E ROBOTS


Manuel Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Realizou-se na passada quarta-feira, em Mafra, o XII Encontro das COTEC Europa, subordinado ao tema Work 4.0, ou seja, discutiu-se aí o futuro do trabalho à luz da nova vaga tecnológica que tem como base uma utilização mais intensa do digital, da robotização e, em particular, da inteligência artificial. Trata-se de um tema de significativa atualidade, mas há hoje uma tendência para se discutir o emprego futuro quase só debaixo do paradigma tecnológico e com o enfoque na presumível destruição de emprego. Alguns formadores de opinião ampliam as desgraças anunciadas porque os cenários que ganham audiências são os de desastres e calamidades. É caso para perguntar, porque não se especula da mesma forma sobre as extraordinárias possibilidades de criação de novo emprego, de emprego mais qualificado, mais motivador, menos penoso e melhor retribuído? E qual a razão pela qual não se discute, com impacto público, a resolução de outros problemas que nos permitam ter mais e melhor emprego?

Fui orador convidado num dos painéis deste Encontro. Na resposta à primeira questão que me foi colocada, tive oportunidade de deixar três observações que aqui desenvolvo e partilho.

Primeira, em Portugal vimos assistindo à exposição de duas narrativas acerca do emprego que, no senso comum, surgirão como um paradoxo: enquanto se anuncia que os robots destruirão postos de trabalho por todo o lado, temos responsáveis empresariais da metalomecânica, do turismo, do calçado, da restauração e de outros serviços a dizerem - e julgo que fundamentadamente - que faltam dezenas de milhares de trabalhadores para projetos empresariais já no terreno ou em perspetiva. Isto torna evidente quão urgente é o debate sobre políticas que estanquem a emigração dos jovens, sobre formações e qualificações ajustadas ao nosso desenvolvimento, sobre o emprego público indispensável à melhor prestação de direitos fundamentais, sobre a diversificação da estrutura económica, sobre a melhoria dos salários e de um consumo interno que ajude a elevar o nível de vida da maioria dos portugueses.

Segunda, em Portugal como na Europa e um pouco por todo o Mundo está claramente esgotado um regime de acumulação em que o esmagamento dos salários e o agravamento das desigualdades se articulou com a expansão do crédito bancário para produzir uma ilusão de estabilidade e crescimento. Passamos a uma fase de recessão e turbulência em que os capitais procuram valorização na esfera financeira, através de uma frenética aquisição de ativos mobiliários e imobiliários que incha bolhas (especulativas), mas pouco acrescenta à provisão de bens e serviços. A riqueza continua a acumular-se no topo da pirâmide, agravando desigualdades e impedindo o investimento na produção de bens e serviços úteis. É preciso uma muito mais justa distribuição da riqueza: para se eliminarem carências e excessos que vivem lado a lado, numa tensão crescente passível de explodir a qualquer momento; e para que possa surgir esse investimento criador de emprego útil, motivador e qualificado, mesmo que também ampliador do número de robots.

Terceira, quando nos dizem que os robots, o digital e a inteligência artificial estão aí para nos roubar o emprego e nos transformar em recipientes passivos de subsídios, é preciso lembrar que o problema não está nas tecnologias. As novas tecnologias destroem e criam emprego; valorizam o emprego de uns e desvalorizam o de outros; e, acima de tudo, modificam as profissões, alteram perfis profissionais, requerem novas competências e qualificações. As tecnologias alteram o modo como trabalhamos e como nos organizamos para trabalhar, exigem reformulação de regulações do trabalho mas não as dispensam. Elas só são responsáveis pelas nossas desgraças se forem usadas para nos oprimir. Num mundo um pouco melhor, as tecnologias novas podem servir para nos libertar, nomeadamente, de trabalho rotineiro, pesado, opressivo e de longos horários.

As tecnologias não têm de ser as terminantes da nossa vida, mas antes determinadas pelo que queremos fazer da vida. Coletivamente temos a obrigação de garantir conexão entre as dimensões económica, social, cultural e política que enquadram e normalizam uma sociedade desenvolvida e democrática.

* Investigador e professor universitário

PORTUGAL | PSD: Geringonça mais tensa com Rio e sem 'cimento' de Passos


Com Rui Rio na presidência do PSD, os politólogos anteveem uma oposição mais eficaz e maior tensão à esquerda porque a geringonça perde o seu 'cimento', que foi Pedro Passos Coelho, obrigando o PS a demarcar-se da direita.

A uma semana do congresso do PSD, no qual Rui Rio vai substituir Pedro Passos Coelho na liderança do partido - depois de ter vencido as eleições internas de 13 de janeiro a Pedro Santana Lopes - os politólogos ouvidos pela agência Lusa anteciparam aqueles que serão os impactos da nova presidência social-democrata no panorama político português.

André Azevedo Alves, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, antevê que a situação para o primeiro-ministro, António Costa, "pode ficar mais difícil precisamente porque Passos Coelho funcionava como fator agregador - ainda que pela negativa - para a geringonça".

"Sempre que havia alguma controvérsia o ponto de união era a solução governativa ser aquela que permitiu expulsar Passos Coelho do poder. Isso sai de cena. Rui Rio não tem de todo essa carga negativa de ser o elemento agregador, pela negativa, que de alguma forma funcionava como cimento da geringonça", explicou.

Também António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, concorda que Passos Coelho foi o 'cimento' da atual solução governativa e destaca que, em relação aos partidos à esquerda do PS, "já se começou a notar que até 2019 se vai assistir a progressivas demarcações do PS por parte do BE e do PCP".

"Da parte do PS, do Governo e de António Costa tenderão a reforçar, do ponto de vista do discurso, a demarcação em relação à direita - mesmo em relação a Rui Rio - ao mesmo tempo que, como aconteceu no passado com o PSD no poder, tentarão chamar muitas vezes o PSD a certo tipo de acordos", antecipou.

Quanto aos desafios de Rui Rio à frente do PSD, André Azevedo Alves destaca que o novo líder "tem um potencial mais substancial para fazer uma oposição mais eficaz" ao atual Governo, enquanto António Costa Pinto refere que a primeira etapa "vai ser consolidar o poder interno", sendo prioritário que Rio seja "capaz de situar o partido enquanto alternativa de centro-direita".

André Azevedo Alves sublinha também a "mudança de disponibilidade tática" que foi anunciada quer por Rui Rio, quer pelo seu diretor de campanha, "de uma aparente disponibilidade para considerar soluções governativas com o PS".

Para o politólogo, esta posição pode ter dois tipos de efeitos: por um lado, introduz alguma instabilidade e tensão na geringonça já que "facilitará a PCP e BE tentarem colar o PS e o Governo a uma abertura para um possível bloco central" e, por outro, resta saber até que ponto esta disponibilidade poderá ser bem ou mal recebida por segmentos do eleitorado do PSD.

De opinião diferente é António Costa Pinto, que considera que "nem ao PS, nem ao PSD convém qualquer aliança ao centro".

"E como os partidos não são, em princípio, instituições políticas com tendência para o suicídio, isso não vai acontecer. Não é de mútuo interesse nem falar de bloco central, nem fazê-lo", destacou.

Em relação ao Presidente da República, André Azevedo Alves destaca que Rui Rio "traz uma folha limpa", em oposição à relação entre Pedro Passos Coelho e Marcelo Rebelo de Sousa, na qual havia "alguns anticorpos implícitos".

"Para Marcelo Rebelo de Sousa o que vai ser mais decisivo é ver como é que o próprio xadrez político evolui, sendo certo que uma conjuntura como a atual lhe atribui um caráter decisivo e uma preponderância que presumo que o próprio Presidente veja com agrado", observou.

Já sobre o CDS-PP, António Costa Pinto começa por explicar "quando há dois partidos no mesmo espaço político, a grande ilusão é que a crise de um signifique o destaque eleitoral de outro".

"Mas, quando nós analisamos a relação eleitoral entre CDS e PSD, há limites para aquilo que um pode crescer com a crise do outro. O modelo de vasos comunicantes tem limites", disse.

Para André Azevedo Alves, se por um lado "a nova liderança do PSD retira um pouco do espaço mediático conquistado pelo CDS", noutro oposto está a possibilidade dos centristas se poderem afirmar no eleitorado de direita com os possíveis entendimentos entre PS e PSD.

Lusa | em Notícias ao Minuto | Foto: Global Imagens

PARA ONDE VAI A ESQUERDA?


O acordo na Alemanha entre conservadores da CDU de Merkel e sociais-democratas de Schultz para um governo de coligação pode servir de mote para uma discussão sobre o rumo que o que resta da esquerda tem vindo a adoptar na Europa. 

Existe uma estratégia adoptada por vários partidos de esquerda que se resume a uma aproximação excessiva à direita, ao ponto de já nem sequer fingirem que são partidos de esquerda, facto que resultou no enfraquecimento e quase desaparecimento de vários partidos de esquerda, designadamente socialistas e sociais-democratas. Nas coligações como aquela que se repete na Alemanha, assiste-se sobretudo ao esvaziamento dos partidos de esquerda, transformados em excrescências com utilidade irregular - servem para formar maiorias que permitam governar, acabando mesmo por anuir na prossecução de políticas verdadeiramente de direita. A esquerda moderada vai-se tornado irrelevante, muito por culpa própria: aproximação e confusão com a direita, incapacidade de adoptarem um discurso consonante com os tempos modernos, presos ao oportunismo de participar em soluções governativas, custe o que custar, desprezando as suas próprias identidades.

Portugal tem sido nos últimos dois anos e até aqui uma excepção. Esquerdas unidas, divergentes, mas convergentes suficientemente para viabilizar a aplicação de um programa político mais próximo da esquerda. 

No entanto, são muitos os que ainda sonham com regressos a soluções de bloco centrais, mesmo dentro de partidos como o PS. Outros congeminam formas de viabilizar esse bloco central, enfraquecendo a actual solução governativa - neste particular é impossível não relevar a importância da comunicação social.

Para onde vai a esquerda? É indiscutível que os partidos de esquerda portugueses podem dar um contributo determinante para a discussão. Entretanto são muitas as forças que tentarão enfraquecer e liquidar esta solução política, Portugal quer-se governado pelo bloco central de interesses que causa agrado a uma Europa rendida aos encantos do capitalismo mais selvagem.

Ana Alexandra Gonçalves

Para onde vai a esquerda II

Perante o claro falhanço das políticas neoliberais em 2008 que se transformaram na norma nos últimos trinta anos, a esquerda voltou a ter uma oportunidade para recrudescer e, sobretudo, para recuperar a sua identidade. Aparentemente essa oportunidade terá sido desperdiçada, pelo menos seria esse o pensamento dominante e o que se depreende dos resultados eleitorais um pouco por toda a Europa.

Contudo, surge uma solução governativa de esquerda onde menos se esperava: em Portugal, país fortemente atingido pelas receitas neoliberais que procuram curar os males também eles neoliberais. Essa solução política embora não constitua uma ruptura com as ditas políticas neoliberais, procurando antes um caminho alternativo cujos resultados são, ainda assim, francamente positivos.

A solução política cozinhada pelo PS liderado por António Costa, pelo PCP, Bloco de Esquerda e Verdes é indiscutivelmente uma esperança para a esquerda europeia, provavelmente a única esperança, desde logo por se tratar de uma solução que está a ser aplicada há dois anos e com resultados muito positivos. Não sendo a ruptura que muitos gostariam é ainda assim o melhor que a esquerda tem para oferecer. Pelo menos para já.

Por conseguinte, à pergunta "para onde vai a esquerda?" a resposta pode muito bem passar pelo exemplo dado pelos partidos da esquerda portuguesa

Ana Alexandra Gonçalves | em Triunfo da Razão

SELEÇÃO NO CORAÇÃO | Futsal de Portugal é campeão da Europa, festa na chegada a Lisboa


Histórico. Portugal é campeão da Europa de Futsal

Seleção nacional futsal levou a melhor sobre a Espanha (3-2), na final do europeu, na Eslovénia.

Portugal é campeão da Europa de Futsal! A seleção nacional venceu, este sábado a Espanha, por 3-2, e conquistou o primeiro título europeu da história da modalidade. Ricardinho e Bruno Coelho (dois) marcaram os golos portugueses, enquanto Miguelín e Lín fizeram os golos espanhóis.

Ricardinho saiu lesionado no prolongamento, mas Bruno Coelho vestiu a pele de herói nacional ao decidir a 55 segundos do fim. Pela primeira vez na história, Portugal é campeão da Europa, ao bater a Espanha, que havia conquistado o título em sete ocasiões. Foi uma vingança da final perdida em 2010!

Depois de o futebol ter conquistado o Euro2016 a 10 de julho, agora foi a vez do futsal a alcançar proeza igual a 10 de fevereiro.

O "filme" ao contrário

Acabou o jogo. Portugal vence a Espanha por 3-2

- Bruno Coelho de livre direto faz o 3-2 a 55 segundos do fim
- Ricardinho não parece em condições de continuar...
- Ricardinho está com muitas queixas, após lance dividido com jogador espanhol
- Primeira parte acaba com Portugal a arrancar a quarta falta a Espanha...
- André Sousa a negar o golo a Espanha.

Seguem-se duas partes de cinco minutos cada

40'- Acabou (2-2)
38'- GOLO DE PORTUGAL! Bruno Coelho aparece solto à boca da baliza e faz o 2-2! Já leva cinco golos no Europeu...
36'- Ricardinho viu Sedano negar o golo mais uma vez. Está a levar a melhor o guarda-redes espanhol.
35'- Sexta falta de Portugal dá livre direto a Espanha... Miguelín atirou à barra!
32'- GOLO DA ESPANHA! Livre batido por Miguelín, que Lin estava completamente sozinho ao segundo poste... só teve de encostar e colocar a roja na frente do marcador.
31'- Espanha também desperdiça...
30'- Sedano evita golo de Ricardinho.
30'- Miguelín rouba a bola ao ataque português e atira ao poste!
27'- Pedro Cary e Ricardinho quase conseguem marcar! Paco Sedano voltou a negar o golo a Portugal.
25'- Bruno Coelho, Cary e Ricardinho tentaram o golo, mas a bola teima em não entrar.
24'- André Coelho perto do segundo golo para Portugal. Sedano teve de fazer grande defesa para evitar o 2-1 para Portugal.
21'- Espanha entra a criar perigo! Miguelín não consegue bater André Sousa e Pola na recarga atira por cima...
Intervalo
19' - GOLO DA ESPANHA! Pedro Cary demora a chegar à bola e Marc Tolrà desvia subtilmente para a baliza.
19'- Quase o segundo! João Matos recupera e remata ligeiramente ao lado!
- Quinta falta para Portugal. A próxima infração dá livre de 10 metros a Espanha.
16'- Pola aparece em grande posição e obriga o guarda-redes português a fazer uma excelente defesa e evitar o golo espanhol.
- A Rússia conquista o bronze ao vencer o Cazaquistão, por 1-0.
10' - Ricardinho viu o guarda-redes espanhol avançado e quase surpreendeu num remate a mais de 30 metros da baliza.
2'- Bruno Coelho perto do 2-0, atira ligeiramente ao lado!
1'- GOLO DE RICARDINHO! O mágico recupera à entrada da área e remata sem hipóteses para Paco Sedano.

A final do Campeonato da Europa de Futsal 2018 coloca, este sábado, frente a frente Portugal e Espanha, numa reedição da final do Euro2010. A formação de Jorge Braz irá tentar o primeiro troféu na competição, enquanto a Espanha jogará pelo seu oitavo título.

O histórico de confrontos com Espanha não é famoso: em 26 jogos, Portugal ganhou apenas uma vez e perdeu 21.

Portugal: André Sousa, João Matos, Bruno Coelho, Pedro Cary e Ricardinho
Suplentes: Vítor Hugo, Bebé, André Coelho, Nilson, Tiago Brito, Márcio Moreira, Pany Varela, Fábio Cecílio e Tunha
Treinador: Jorge Braz

Espanha: Paco Sedano, Ortiz, Pola, Miguelín e Alex
Suplentes: Jesús Herrero, Tolrá, Joselito, Adolfo, Francisco Solano, Rafa, Usín, Bebe e Lin
Treinador: José Venancio López

Diário de Notícias

Campeões europeus de futsal já festejam em Lisboa

A seleção nacional de futsal está a ser recebida por centenas de pessoas, no aeroporto Humberto Delgado, em clima de festa. Ao início da tarde, jogadores são recebidos pelo Presidente da República.

Os festejos e reações à vitória do Campeonato Europeu de Futsal em Ljubljana pela seleção portuguesa já começaram no aeroporto, depois a comitiva vai para a cidade do futebol onde responde aos media e de seguida desloca-se a Belém para serem recebidos pelo Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa felicitou a seleção de futsal, através de uma nota no 'site' da Presidência, pela conquista do título de campeão europeu, enaltecendo a "prestação ímpar" da equipa que "enche de orgulho" todos os portugueses.

"Mais uma vez os portugueses demonstraram que quando são bons são os melhores. A prestação ímpar dos nossos compatriotas provou as qualidades e o mérito destes atletas que conquistaram pela primeira vez o Campeonato da Europa de Futsal, feito que enche de alegria e orgulho o Presidente da República e todos os portugueses", lê-se na nota divulgada.

Também o primeiro-ministro, António Costa, felicitou a equipa portuguesa pela conquista do título de campeão europeu de futsal, sublinhando que foi um triunfo merecido.

"Portugal é Campeão Europeu de Futsal! Parabéns", escreveu António Costa no Twitter minutos depois do final do jogo contra a Espanha. Costa acrescentou ainda: "Merecem este título. Viva Portugal!".

A chegada da seleção portuguesa de futsal ao aeroporto de Lisboa está previsto para as 13:30 deste domingo.

Portugal conquistou sábado à noite, pela primeira vez, o título de campeão europeu de futsal, em Ljubljana, ao vencer a Espanha por 3-2, após prolongamento na final do Europeu, com um golo de Bruno Coelho, de livre direto.

Ricardinho, logo no primeiro minuto, deu vantagem à equipa das 'quinas', reforçando o estatuto de melhor marcador em fases finais, com o seu 22.º golo, Tolrá, aos 19 minutos, e Lin, aos 32, assinaram os tentos da seleção espanhola, mas Bruno Coelho, aos 39, empatou.

No prolongamento, Bruno Coelho 'bisou', na conversão de um livre direto, no último minuto, assegurando o primeiro título de Portugal, que tinha como melhor desempenho na prova o segundo lugar, em 2010, quando perdeu o jogo decisivo frente à Espanha, por 4-2, na Hungria.

O capitão da seleção portuguesa de futsal, Ricardinho, foi eleito o melhor jogador do Europeu de 2018, após a vitória lusa frente à Espanha na final, por 3-2, após prolongamento, juntando este título ao de melhor marcador.

Sónia Santos Silva | TSF

Um terço da população de Cabo Verde está em risco de “vulnerabilidade alimentar” se não chover


Cerca de 140 mil pessoas poderão ficar em situação de vulnerabilidade nutricional aguda em Cabo Verde se não chover este ano, estimam as Nações Unidas, depois de uma missão para avaliar o impacto da seca no país.

A estimativa foi feita pelo Escritório das Nações Unidas para Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA), no final de uma missão de duas semanas de uma equipa de peritos da UNICEF, PNUD, OMS, ONUMulheres, FAO e PAM.

A missão está em Cabo Verde para avaliar o impacto da seca nas populações mais vulneráveis e identificar intervenções prioritárias e, na sequência do trabalho no terreno, irá elaborar um plano de respostas para fazer face à situação, estando a sua apresentação prevista para o dia 25.

Na sexta-feira, a equipa esteve reunida no Ministério dos Negócios Estrangeiros para apresentar os resultados preliminares. No final do encontro, o diretor de Política Externa, Júlio Morais, explicou aos jornalistas que os dados recolhidos no terreno revelam que as ameaças são muito maiores do que se pensava.

"São cerca de 140 mil pessoas que podem estar em situação de vulnerabilidade nutricional, o que representa cerca de um terço de população cabo-verdiana. Neste momento, temos 36 mil. Aumentou quatro vezes para o fim do ano e, caso não chova, será catastrófico", disse Júlio Morais, citado pela agência cabo-verdiana de notícias Inforpress.

Esta situação, prosseguiu, vai levar o Governo a solicitar novos apoios junto de parceiros internacionais no sentido de mitigar os impactos sociais da seca. "Estamos a salvar os animais, apoiar os agricultores e a criar empregos, mas há o lado humano que está por detrás e é isto que esta missão veio atacar", disse, adiantando que o Governo irá elaborar um plano de respostas e depois convocar os parceiros.

Falta água e falta emprego

De acordo com o porta-voz da missão, Roberto Colombo, no terreno foram detetadas dificuldades no acesso à água e falta de empregos que permitam às pessoas ter rendimentos e consequentemente acesso à alimentação.

A representante do sistema das Nações Unidas em Cabo Verde, Ulrika Richardson, considerou que, no acesso à água, além da quantidade, é preciso atenção à qualidade, sob pena de pôr em risco a saúde da população. Para Ulrika Richardson, a população cabo-verdiana sempre conviveu com situações de seca, mas para as famílias mais vulneráveis os desafios neste momento são muito maiores.

"Além de garantir o acesso a alimentos, é necessário acesso à diversidade de alimentos e isso tem um impacto também nas famílias mais vulneráveis. Também tem consequência sobre os níveis de nutrição para as crianças e aparecimento de doenças como a anemia", disse.

Cabo Verde atravessa uma das piores secas das últimas décadas, tendo em aplicação um programa de emergência para o qual mobilizou 10 milhões de euros junto dos parceiros internacionais.

A maior fatia foi disponibilizada pela União Europeia, que deu um apoio de 7 milhões de euros para o programa, que inclui ainda contribuições do Banco Africano de Desenvolvimento a título individual e em parceria com a FAO (2,2 milhões de euros), Luxemburgo (500 mil euros), Itália (300 mil euros) e Bélgica (170 mil euros), Espanha (50 mil euros) e Estados Unidos (42 mil euros). A estes valores juntam-se mais 100 milhões de escudos (906 mil euros) do Orçamento do Estado para 2018.

O programa de emergência tem como medidas prioritárias o salvamento de gado, mobilização de água, acesso a financiamento e criação de emprego no meio rural, mas nos últimos dias têm-se ouvido queixas de agricultores e criadores de gado de que as medidas são insuficientes e não estão a chegar ao terreno.

Lusa | em Deutsche Welle

Nações Unidas vão ajudar São Tomé e Príncipe a combater a pesca ilegal


O Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação vai ajudar o Governo são-tomense a elaborar uma "estratégia nacional" e "plano de ação" para eliminar a pesca ilegal no país, indica um relatório da organização.

O programa da FAO começou com a formação, de uma semana, de um grupo de 35 quadros dos diversos setores ligados as pescas e ao mar, designadamente a direção das pescas, marinha, guarda costeira, alfandegas, portos, serviços aduaneiros e migração e fronteiras.

Um relatório da FAO indica que todos os anos pelo menos 11 embarcações estrangeiras utilizam os serviços portuários de São Tomé, "apesar da inexistência de portos acostáveis". "Nenhuma dessas embarcações faz a descarga ou transbordo do produto da pesca e não existem inspeções no porto, decorrentes das obrigações da legislação de pescas", sublinha o relatório.

A frota de pesca do arquipélago é composta maioritariamente por um total de 3.124 embarcações artesanais, havendo apenas quatro embarcações semi-industriais. A FAO sublinha ainda que "os regulamentos existentes sobre as pescas, particularmente nas áreas de proteção dos ecossistemas marinhos são bastante vulneráveis".

Relatório destaca "falta de visão” do Governo

O documento refere ainda que existe uma "falta de uma visão" e que as autoridades precisam rapidamente elaborar uma "estratégia e um plano para o setor das pescas", uma vez que a lei de base das pescas e os regulamentos existentes estão "desatualizados e não refletem os compromissos regionais e internacionais". As legislações avulsas são "pouco coerentes", segundo a FAO, que considera que estes documentos "não refletem as medidas e responsabilidades do Estado de bandeira".

A agência da ONU dá ainda conta da "falta de alinhamento do quadro jurídico das pescas com outras áreas relevantes, designadamente as de conservação e ordenamento ambiental". Por isso, recomenda com urgência que o país "elabore, discuta, aprove e publique um plano estratégico para o setor, assentes em critérios científicos e de sustentabilidade" e insta as autoridades a aderirem ao Acordo da ONU sobre Espécies Altamente Migratórias.

A FAO insta o Governo a rever o quadro jurídico nesta área, que considera ter muitas "lacunas e sobreposições".

O Governo são-tomense reconhece as dificuldades de gestão da área das pescas e que o país tem sido alvo de "muito roubo do pescado" que tem prejudicado muito a sua economia. "Até agora nós temos negligenciado a dimensão real de São Tomé e Príncipe, nós temos prestado atenção sobre a superfície terrestre, esquecendo o espaço marítimo", disse o ministro das Finanças, Comércio e Economia Azul, Américo Ramos.

Pesca representa menos de 1% das receitas

Em declarações aos jornalistas, à margem da formação da FAO, o ministro disse ter manifestado à agência da ONU a preocupação do seu Governo pelo facto de "a participação económica das pescas e da atividade marítima representar valores ínfimos no Produto Interno Bruto", apesar de o país ter um espaço marítimo 160 vezes maior que o terrestre.

"Ficamos ainda mais tristes quando sabemos que no cômputo das receitas não fiscais, a pesca representa menos que 1%", explicou o ministro, defendendo que "todas as ações levadas a cabo no sentido de melhorar este estado de coisas são bem-vindas e enquadrada na perspetiva do Governo do crescimento azul".

"Fiquei ainda mais triste, não obstante saber que essa é a realidade, quando foi dito que nós somos incapazes de controlar a nossa soberania sobre o mar. Daí que espero que a FAO e os nossos parceiros consigam dotar-nos de instrumentos legais e de meios que nos permitam realmente estender essa nossa soberania sobre o mar", disse Américo Ramos.

O primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, disse numa entrevista à rádio e televisão públicas são-tomenses no final do ano passado que muitos navios pesqueiros "incluindo da União Europeia, roubam o pescado [de São Tomé] e dão ao país enormes prejuízos calculados em vários milhões de dólares todos os anos".

Lusa | em Deutsche Welle

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