Cerca de 140 mil pessoas poderão
ficar em situação de vulnerabilidade nutricional aguda em Cabo Verde se não
chover este ano, estimam as Nações Unidas, depois de uma missão para avaliar o
impacto da seca no país.
A estimativa foi feita pelo
Escritório das Nações Unidas para Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA),
no final de uma missão de duas semanas de uma equipa de peritos da UNICEF,
PNUD, OMS, ONUMulheres, FAO e PAM.
A missão está em Cabo Verde para
avaliar o impacto da seca nas populações mais vulneráveis e identificar
intervenções prioritárias e, na sequência do trabalho no terreno, irá elaborar
um plano de respostas para fazer face à situação, estando a sua apresentação
prevista para o dia 25.
Na sexta-feira, a equipa esteve
reunida no Ministério dos Negócios Estrangeiros para apresentar os resultados
preliminares. No final do encontro, o diretor de Política Externa, Júlio
Morais, explicou aos jornalistas que os dados recolhidos no terreno revelam que
as ameaças são muito maiores do que se pensava.
"São cerca de 140 mil
pessoas que podem estar em situação de vulnerabilidade nutricional, o que
representa cerca de um terço de população cabo-verdiana. Neste momento, temos
36 mil. Aumentou quatro vezes para o fim do ano e, caso não chova, será
catastrófico", disse Júlio Morais, citado pela agência cabo-verdiana de
notícias Inforpress.
Esta situação, prosseguiu, vai
levar o Governo a solicitar novos apoios junto de parceiros internacionais no
sentido de mitigar os impactos sociais da seca. "Estamos a salvar os
animais, apoiar os agricultores e a criar empregos, mas há o lado humano que
está por detrás e é isto que esta missão veio atacar", disse, adiantando
que o Governo irá elaborar um plano de respostas e depois convocar os
parceiros.
Falta água e falta emprego
De acordo com o porta-voz da
missão, Roberto Colombo, no terreno foram detetadas dificuldades no acesso à
água e falta de empregos que permitam às pessoas ter rendimentos e
consequentemente acesso à alimentação.
A representante do sistema das
Nações Unidas em Cabo Verde, Ulrika Richardson, considerou que, no acesso à
água, além da quantidade, é preciso atenção à qualidade, sob pena de pôr em
risco a saúde da população. Para Ulrika Richardson, a população cabo-verdiana
sempre conviveu com situações de seca, mas para as famílias mais vulneráveis os
desafios neste momento são muito maiores.
"Além de garantir o acesso a
alimentos, é necessário acesso à diversidade de alimentos e isso tem um impacto
também nas famílias mais vulneráveis. Também tem consequência sobre os níveis
de nutrição para as crianças e aparecimento de doenças como a anemia",
disse.
Cabo Verde atravessa uma das
piores secas das últimas décadas, tendo em aplicação um programa de emergência
para o qual mobilizou 10 milhões de euros junto dos parceiros internacionais.
A maior fatia foi disponibilizada
pela União Europeia, que deu um apoio de 7 milhões de euros para o programa,
que inclui ainda contribuições do Banco Africano de Desenvolvimento a título
individual e em parceria com a FAO (2,2 milhões de euros), Luxemburgo (500 mil
euros), Itália (300 mil euros) e Bélgica (170 mil euros), Espanha (50 mil
euros) e Estados Unidos (42 mil euros). A estes valores juntam-se mais 100
milhões de escudos (906 mil euros) do Orçamento do Estado para 2018.
O programa de emergência tem como
medidas prioritárias o salvamento de gado, mobilização de água, acesso a
financiamento e criação de emprego no meio rural, mas nos últimos dias têm-se
ouvido queixas de agricultores e criadores de gado de que as medidas são
insuficientes e não estão a chegar ao terreno.
Lusa | em Deutsche Welle
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