sábado, 28 de julho de 2018

Moçambique | 86 mil pessoas sem água potável em Manica


Taxa de cobertura de abastecimento no distrito de Machaze, a sul da província de Manica, ronda os 40%. Muitos habitantes consomem água imprópria e têm de percorrer longas distâncias para chegar à fonte mais próxima.

Mais de 86 mil pessoas, de um total de 142 mil habitantes, carecem de água potável no distrito de Machaze, a sul da província de Manica, centro de Moçambique. Neste momento, a taxa de cobertura de abastecimento situa-se em 40%, servindo 56 mil e 500 pessoas em todo o distrito.

Devido à insuficiência de fontes de água no distrito de Machaze, a população carenciada consome água imprópria extraída de poços tradicionais, rios e charcos. Muitos têm de percorrer longas distâncias para encontrar a fonte mais próxima.

Nhacha Mário Gonçalo, residente na localidade de Masvissanga, é uma das pessoas afetadas pela falta de água potável:"Nós íamos buscar [água] ao riacho, onde se lavava a roupa. Era onde procurávamos água para beber, então sofríamos muito. Estivemos a beber água suja".

São frequentes os casos de doenças por consumo de água imprópria.Nhacha diz que o Governo distrital tem estado a responder paulatinamente às reclamações da população, na medida em que transforma algumas fontes em pequenos sistemas de água.

Transformar furos em sistemas

Ouvida pela DW África, a administradora do distrito de Machaze, Joana Guinda, afirma que existem atualmente 128 furos operacionais no distrito, registando-se um défice de 287 fontes. Para além destas, funcionam ainda em Machaze 23 pequenos sistemas de abastecimento de água e 73 bombas manuais que estão instaladas nos principais aglomerados do distrito.

Joana Guinda garante que, para minimizar o drama, estão em curso acções com vista à transformação de furos em pequenos sistemas de abastecimento de água. Neste momento, as atenções estão viradas ao povoado de Chivavisse, na localidade de Chipudje.

António João Batista, régulo de uma povoação na localidade de Sambassoca, em Machaze, saúda estas medidas: "Registamos com satisfação a transformação de nove furos de água para pequenos sistemas, onde o abastecimento da água é mais abrangente".

O régulo afirma que a operação contribuiu para diminuir "as grandes distâncias" que a população tinha de percorrer em busca de água potável e, ao mesmo tempo, reduziu "filas de espera das mesmas nas fontes".

A população de Machaze é campeã em encontrar alternativas para recolher e poupar água. Uma pequena chuva basta para reter o precioso líquido, através das famosas caleiras montadas nas residências, na sua maioria, precárias e cobertas de capim, bem como nos hospitais e estabelecimentos de ensino.

Presidente reitera compromisso

O problema da falta de água no distrito foi também abordado pelo Presidente da República de Moçambique numa visita recente à província de Manica. Num comício popular na localidade de Sambassoca, em Machaze,a 14 de julho, Filipe Nyusi garantiu que as autoridades estão a trabalhar para encontrar uma solução.

"Quando estivemos em 2014 e 2015, falámos de água para a nossa vila de Machaze. Dos furos criou-se o sistema de água, embora pequeno. Já tínhamos assumido esse compromisso e continuamos com o compromisso de fazer mais furos ao longo das localidades e povoações e mesmo aumentar a capacidade da própria vila de Machaze", afirmou o chefe de Estado.

À DW África, a administradora do distrito, Joana Guinda, garantiu que trabalho idêntico de transformação de furos em pequenos sistemas de abastecimento de água vai ser realizado em diversas localidades, incluindo Sambassoca, Chipudje, Mavende, Mavissanga e Chipopopo.

O trabalho está a ser executado em parceria com UNICEF e deverá culminar com o aumento da taxa de cobertura do abastecimento de água potável no distrito dos actuais 40 para 56 por cento.

No distrito de Machaze, a abertura de furos é dificultada pelo problema de profundidade dos lençóis freáticos, os reservatórios subterrâneos de água doce, havendo igualmente situações de água salubre que jorra nalgumas fontes.

Bernardo Jequete (Chimoio) | Deutsche Welle

Angola e Moçambique querem apoio dos BRICS


Depois de participarem no último dia da cimeira dos BRICS, em Joanesburgo, Angola e Moçambique afirmam que estão dispostos a cooperar com o bloco e esperam desenvolvimento e "benefícios mútuos".

O Presidente de Angola, João Lourenço, afirmou nesta sexta-feira (27.07), em Joanesburgo, que gostaria de integrar o seu país nos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Da mesma forma, o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, garantiu que o país está aberto para colaborar "na base de vantagens e benefícios mútuos". As posições foram defendidas no última dia da 10ª cimeira do bloco.

No seu discurso aos chefes de Estado e de Governo dos BRICS e demais autoridades africanas presentes na cimeira, o Presidente João Lourenço deixou clara a sua intenção de receber apoio dos países emergentes: "O vosso exemplo inspira-nos e motiva a trabalhar com a ambição de almejar o objetivo de um dia se poderem acrescentar outras letras à sigla BRICS".

Lourenço também afirmou que Angola tem feito um "grande esforço de reconstrução nacional", investindo recursos em infraestruturas e obras sociais, "embora ainda insuficientes para colmatar as crescentes exigências das populações e das empresas no que diz respeito às suas necessidades básicas".

"Reitero o apelo então feito para que ajudem a República de Angola a superar os constrangimentos ainda existentes para colocar a economia angolana ao serviço do desenvolvimento, do progresso e do bem-estar das populações", frisou João Lourenço, que marcou presença na qualidade de chefe Estado da República de Angola e presidente em exercício do Órgão de Cooperação Política, Defesa e Segurança (OCPDS) da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

"Benefícios mútuos"

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, também discursou neste último dia da cimeira e afirmou que "Moçambique aprecia a necessidade de aprofundar a cooperação com os BRICS, para o crescimento e o desenvolvimento sustentável das economias, num espírito de equidade, respeito, confiança mútua e justeza". Nyusi ressaltou ainda que esta cooperação deve ser "na base de vantagens e benefícios mútuos".

Filipe Nyusi disse aos chefes de Estado dos BRICS que as prioridades do seu país são "as infraestruturas, a agricultura, a industrialização, a ciência e tecnologia, e a balança de pagamento". E garantiu que a economia moçambicana está a recuperar "depois de um abrandamento decorrente de fatores conjunturais, em particular no ano de 2016, estando para este ano de 2018 uma estimativa de crescimento de 5,3% do PIB".

"Os países africanos, atualmente, figuram entre aqueles que demonstram os maiores índices ou perspectivas de crescimento económico, que pode ganhar maior expressão se trabalharmos em conjunto. A abordagem de cooperação para o desenvolvimento dos BRICS, para além de dar voz aos sem voz, faz-se acompanhar de uma agenda de desenvolvimento concentrando as nossas necessidades e prioridades", disse Nyusi.

Nações africanas e livre comércio

Além de Angola e Moçambique, outros países africanos participaram no encerramento da 10ª cimeira dos BRICS, como Namíbia, Botsuana, Malaui, Zâmbia, Zimbabué, Lesoto, República Democrática do Congo, Maurícias, Madagáscar, Seychelles, Senegal, Tanzânia, Togo, Uganda, Ruanda, Etiópia, Gabão, Togo, e o secretariado da União Africana.

Entretanto, a importância das nações africanas foi destacada logo no primeiro dia do evento, quando o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa instou a uma maior cooperação BRICS-África e outras plataformas multilaterais, acrescentando que "os BRICS devem promover a integração e o desenvolvimento do continente africano" e aproveitar o potencial de investimento existente em África. 

"Na década passada, África cresceu a uma taxa de 2 a 3 pontos percentuais a mais do que o PIB global, com o crescimento regional previsto para se manter estável acima de 5% em 2018", precisou.

O chefe de Estado frisou que o acordo sobre a Zona de Livre Comércio Continental Africana apresentará mais oportunidades através do acesso a um mercado de centenas de milhares de pessoas e um Produto Interno Bruto (PIB) global de mais de 3 mil milhões de dólares.

"O valor desta área de livre comércio só será plenamente realizado através de investimentos maciços em infraestrutura e desenvolvimento de capacidades. Isso apresenta oportunidades para os países do BRICS, alguns dos quais têm ampla experiência em desenvolvimento de infraestruturas e são líderes mundiais em educação e desenvolvimento de habilidades", afirmou o líder sul-africano. 

Comércio multilateral

Na quinta-feira (26.07), Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul defenderam em conjunto o comércio global na plenária da cimeira de três dias, e prometem combater o unilateralismo e o protecionismo, assinando uma declaração conjunta de apoio a um sistema multilateral de comércio aberto e inclusivo, como prevê a Organização Mundial do Comércio (OMC).

"Reconhecemos que o sistema multilateral de comércio enfrenta desafios sem precedentes. Salientamos a importância de uma economia mundial aberta, permitindo que todos os países e povos compartilhem os benefícios da globalização, que deve ser inclusiva e apoiar o desenvolvimento sustentável e a prosperidade de todos os países. Pedimos a todos os membros da OMC que respeitem as regras da OMC e honrem os seus compromissos no sistema multilateral de comércio", refere a declaração assinada pelos cinco chefes de Estado.

Agência Lusa, Reuters, tms | Deutsche Welle

"Frente única" da oposição para as autarquias em Angola?


CASA-CE admite a possibilidade de criação de uma "frente única" para as eleições autárquicas de 2020. UNITA diz que o assunto "ainda não foi discutido no seio do partido". Analista prevê vantagens na coligação.

A Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), a segunda maior força política da oposição angolana, estuda a possibilidade de criar uma "frente única" para as eleições autárquicas de 2020. 

Lindo Bernardo Tito, deputado e vice-presidente da CASA-CE, diz que, nos próximos dias, o partido vai consultar potenciais parceiros. "Defendemos durante algum tempo a necessidade de a oposição concertar no âmbito de apresentar ou apoiar candidaturas únicas onde for necessário", afirmou, em entrevista à DW África.

"Desde a legislatura anterior que temos estado a defender essa nossa posição e vamos agora dialogar com outros partidos da oposição para definirmos os termos sobre os quais deve se fazer esta frente comum da oposição, que se estende também a personalidades da sociedade civil que queiram concorrer", acrescentou.

A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o maior partido da oposição em Angola, também já tinha manifestado a intenção de se unir a outras forças para fazer frente ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder, nas eleições de agosto do ano passado.

Contactado pela DW África, Alcides Sakala, porta-voz do "Galo Negro", não descarta essa possibilidade, mas adianta que "o assunto ainda não foi discutido pela direção do seu partido".

"Muito se tem falado sobre essa questão ao nível da opinião pública nacional, mas, enquanto partido, esta questão ainda não foi discutida, apreciada e abordada. Esta questão merecerá a seu tempo uma reflexão e a posição que a direção da UNITA vier a tomar será tornada pública", afirmou.

Agostinho Sikatu, politólogo e diretor do Centro de Debates e Estudos Académicos, vê vantagens numa eventual coligação. "Há muitos benefícios [na coligação]. E um dos benefícios é conseguir ganhar espaço e ganhar autarquias em determinadas localidades. Caso contrário, a oposição vai perder as autarquias", sublinha.

Papel da igreja católica

As eleições autárquicas começarão a ser implementadas em 2020, e o pacote legislativo está em consulta pública até ao final deste mês. Entretanto, ainda não há consenso entre a oposição e o partido no poder sobre o gradualismo deste processo autárquico.

Na semana passada, a igreja católica angolana defendeu eleições em todos os municípios do país. Lindo Bernardo Tito, da CASA-CE, congratula-se com a posição da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST).

"A igreja católica apareceu no momento oportuno e, como sempre, assertiva. Ela acompanha a vida de Angola e dos angolanos na sua profundeza. A sua decisão resulta das constatações que foram fazendo ao longo destes anos todos", diz.

A UNITA, em comunicado da reunião do seu Comité Permanente, lido pelo porta-voz Alcides Sakala, também saúda a posição da igreja católica, que "oferece sugestões e aponta caminhos que podem orientar os poderes públicos na construção dos consensos necessários para se implementar as autarquias locais em todo país".

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

São Tomé | Jogos da CPLP: STP bate recorde de Cabo-Verde com 21 medalhas


1,2,3,4,5…19, 20, 21, essas são as medalhas alcançadas por São Tomé e Príncipe nos XI jogos Desportivos da CPLP, batendo o record das condecorações que estava fixado em oito, conquistado em Cabo-Verde -2016, na X edição do evento.

Simplesmente: orgulho nacional. É assim que podemos classificar a prestação nacional nos XI Jogos Desportivos da CPLP, que decorre na capital do país.

Este número, não estava na cogitação nacional, que estipulou como a meta, 13 medalhas, mas os atletas santomenses empurrado por público, voaram para o novo record das medalhas.

21 foram as medalhas conquistadas pelo país nestes jogos, com o atletismo, nas demais disciplinas, a ser à porta-bandeira dos troféus, conquistando 17 das 21, destacando o ouro conquistado por jovem Dudu, que conseguiu o feito no salto em comprimento.

As outras quatro (4) vieram de taekwondo, que colectivamente ficou na terceira posição.

Feitas às contas, o país conquistou 1 de ouro, 11 de prata e nove (9) de bronze.

Já nas modalidades colectivas, as coisas não correram assim tão bem, com às selecções de basquetebol e voleibol a ficarem à porta do pódio, quarto lugar, respectivamente.

O futebol que conseguiu despertar maiores curiosidades dos santomenses acabou por ser o grande vilão nacional nestes jogos, a ficar longe do pódio.

Henrie Martins | Téla Nón

Guiné-Bissau | Falta de materiais complica processo eleitoral


Governo reafirma que eleições vão ter lugar a 18 de novembro, mas continuam a faltar materiais para o recenseamento que arranca a 23 de agosto. Greves na função pública contribuem para dias difíceis do Executivo.

O Governo da Guiné-Bissau reafirmou esta semana a sua determinação em realizar as eleições legislativas a 18 de novembro. No entanto, o processo eleitoral está a ser afetado pela falta de meios, a pouco menos de um mês do arranque do recenseamento. Ao mesmo tempo, o Executivo está a braços com uma onda de greves na administração pública.

recenseamento eleitoral está marcado de 23 de agosto a 23 de setembro dentro e fora da Guiné-Bissau. Apesar de as datas terem sido fixadas, pairam dúvidas quanto à realização do pleito. Até agora, não foram concretizadas as promessas de apoios feitas pelos países amigos da Guiné-Bissau para colmatar o défice de cerca de 3 milhões de euros do orçamento para as eleições, que está calculado em 7 milhões.

O entrave principal continua a ser os kits, materiais para registo do eleitor, que o Governo guineense ainda não tem. Faltam cartões, impressoras, computadores, geradores, máquinas fotográficas e outros itens essenciais para a realização do pleito. 

Antes de partir para uma viagem ao exterior em busca dos apoios, o primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, confirmou que ainda não há kits. "O essencial é o recenseamento. O que tem constituído até agora um factor aleatório é o fornecimento do material técnico. É um material que se encomenda, não é um material que está exposto nas montras. Normalmente, é um material confecionado em função daquilo que se quer fazer. Essa é a dificuldade maior", diz.

ONU confiante

No final da sua missão de três dias a Bissau, o presidente da configuração para a Guiné-Bissau na Comissão das Nações Unidas para a Consolidação da Paz, Mauro Vieira, disse estar confiante no cumprimento da data, após concluir uma ronda de contatos com os atores políticos.

"Com o novo Governo que tomou posse em abril, com a reabertura dos trabalhos do plenário da Assembleia Nacional Popular, com a aprovação do programa do Governo e do Orçamento Geral do Estado e com a fixação da data das eleições legislativas, todos estão informados acerca dos preparativos que estão sendo feitos para que as eleições de 18 de novembro se realizem", observou.

O próprio Presidente guineense, José Mário Vaz, que também reuniu com Mauro Vieira, já veio a público dizer que é imperativo realizar eleições legislativas a 18 de novembro. "Temos um Governo formado por todos os partidos políticos e temos já a data de 18 de novembro fixada. Fiz questão que essa data tem que ser respeitada. Esta data será realmente para a ida às urnas. O primeiro-ministro já apresentou o montante que ainda resta para poder cumprir as necessidades", sublinhou o Presidente guineense.

Dúvidas a pairar

Numa altura em que aumentam as dúvidas sobre a realização do escrutínio devido a atrasos consideráveis no andamento do processo e falta de condições logísticas e financeiras, Juliano Fernandes, secretário nacional do partido Assembleia do Povo Unido -Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), tem certeza de que não é possível cumprir a data fixada.

"O recenseamento eleitoral deve durar 30 dias, segundo o Governo, a campanha eleitoral, 21 dias, possíveis reclamações até 15 dias à data, reação do Supremo até 15 dias à receção, apresentação e aceitação de candidatos a deputados num máximo de 60 dias. Somando tudo isto, em termos de tempo, perfazem sete meses necessários para todo o processo. Tendo em conta o período de chuvas e considerando os fatores ligados à inacessibilidade devido às péssimas condições de infraestruturas na capital e no interior do país, vê-se claramente que não há condições para realizar as eleições a 18 de novembro, sob pena de violarem as leis", criticou.

Entre tantas dúvidas, uma coisa é certa: são dias difíceis para o Governo de Aristides Gomes, em braço-de-ferro com vários sindicatos em greve. A função pública estará paralisada até a próxima segunda-feira (30.07) para exigir que os funcionários da mesma categoria em ministérios diferentes possam receber o mesmo salário. Eles acusam o Governo de estar a esbanjar o dinheiro do Estado em viagens e a nomear amigos e familiares para o Executivo. Confrontado com a situação, o primeiro-ministro Aristides Gomes fala de greves inoportunas, com o Governo empenhado em realizar as eleições legislativas.

Braima Darame (Bissau) | Deutsche Welle

Cabo Verde | Janira Hopffer Almada: “Temos um país para alguns, para muito poucos”


Janira Hopffer Almada, presidente e líder parlamentar do PAICV, não poupa críticas ao governo liderado por Ulisses Correia e Silva.

Nesta altura a pergunta óbvia é, qual é o Estado da Nação?

O estado da Nação é um importante marco político da governação que fazemos do país, dos balanços que fazemos, às promessas, às políticas e às medidas, mas também tendo em conta o seu grau de execução por um lado e o seu impacto na vida das populações. Enquanto oposição, temos o papel de fiscalizar e avaliar o desempenho do governo com base em elementos objectivos de verdade e de ética. Portanto, temos de ter em atenção, primeiramente, toda a perspectiva de publicidade e propaganda que o governo vem assumindo tentando criar nos cidadãos uma percepção que tudo está muito bem e que a Nação está bem. Para o PAICV não é surpresa ouvir os membros do governo a propalarem um país que no fundo não existe e a tentar uma situação que nenhum cabo-verdiano sente no seu quotidiano, desde logo porque temos uma clara degradação dos indicadores. Temos a dívida pública, cuja promessa era de redução, a aumentar. O stock da dívida está a aumentar claramente e o recente relatório do GAO confirma isso mesmo. Quer a dívida externa quer a dívida interna. O PIB e o crescimento do país vêm sendo caracterizados de acordo com o governo por estar a aumentar mas esse crescimento de 3,9% não se traduz na melhoria da vida das populações. Não é um crescimento inclusivo, não é sentido, sobretudo por quem mais precisa. O governo não faz qualquer referência às contas das empresas públicas, o que não deixa de ser estranho para um país que o governo diz estar bem. Os capitais próprios do Banco de Cabo Verde são negativos. E um aspecto que assume grande preponderância é o facto de o Fundo de Pensões dos funcionários estar a financiar a construção da sede do BCV, pondo em risco o pagamento das pensões de reforma dada a situação financeira actual do banco central. Também não podemos deixar de referir a perda de 10 lugares no ranking da percepção da corrupção em que Cabo Verde passou da posição 38 em 2016 para a posição 48 em 2017. É claro que para além dos indicadores, o país real que os cabo-verdianos sentem claramente não está bem. A nação está deprimida, reprimida, consternada, mas sobretudo a nação não está bem. Teimosamente o governo não presta informações, realiza negócios obscuros e gere empresas públicas como se fossem empresas do MpD. E o negócio feito em torno do mercado doméstico da aviação atribuindo-o a uma empresa privada sem que tenha sido publicada uma única folha de papel sem que o parlamento tenha sido informado, sem que a oposição tenha tido acesso aos documentos desse negócio público são reveladores do modus operandi deste governo. Ou seja, trata questões de Estado, trata negócios públicos, como se de negócios privados se trate. Acrescentar a este negócio a questão da TACV Internacional. O país assistiu no ano passado a um momento de grande celebração do contrato de gestão feito com a Icelandair. Um contrato que ninguém conhece, ninguém sabe quanto custou, o que o país ganhou e ninguém sabe quem pagou e quem ganhou com isso. O facto é que um ano depois não temos parceria, não temos os 11 aviões, se calhar não temos nem sequer um dos onze prometidos. A companhia já abandonou o país e foram gastos 90 mil contos dos bolsos dos cabo-verdianos. Mas do contrato ninguém sabe, ninguém viu, ninguém conhece, como se estivéssemos a falar de um assunto privado e de um negócio particular. Se nos transportes aéreos a situação é essa, nos transportes marítimos a situação não é melhor. Gostaríamos de chamar o primeiro-ministro a este processo para nos vir explicar e explicar aos cabo-verdianos o que está a acontecer com o concurso internacional que teve o grave descuido de exclusão do empresariado nacional num autêntico passar de atestado de menoridade aos empresários cabo-verdianos. No que respeita às infraestruturas, o pipeline com as infraestruturas para o mandato deveria ter sido entregue à casa parlamentar desde Dezembro de 2016. Passou todo 2017 e não foi entregue e já estamos no mês de Julho de 2018. E das grandes promessas de campanha, nomeadamente os aeródromos da Brava e Santo Antão e também do porto do Maio, o que se sabe é o que se ouve na comunicação social. Não há nenhuma informação oficial que permita saber qual a perspectiva deste governo. Nós estamos neste ano a viver os impactos do mau ano agrícola. O PAICV avisou, desde o início, que o plano de mitigação apresentado pelo governo não era o que o país precisava para responder a este desafio e fazer face a estas dificuldades. Teimosamente o governo insistiu em não ouvir. As consequências são gravíssimas muito por descaso deste governo. E agora depois de o país ter perdido 60% do gado que já morreu, o governo anuncia o aumento dos vales-cheque para a ração. É claro que não podemos deixar de dizer que o governo anunciou com pompa e circunstância na pessoa do primeiro-ministro, em Dezembro, que mobilizou 1,1 milhões de contos para fazer face ao mau ano agrícola. Com cerca de 400 mil contos para salvamento de gado, com cerca de 400 mil contos para a geração de emprego e 300 mil contos para a mobilização de água. No périplo feito por todas as ilhas, os agricultores estão desesperados, os criadores de gado desanimados e as famílias deixadas à sua sorte e em grandes dificuldades. E há outras promessas feitas desde as campanhas que foram retomadas no Programa do Governo e, depois de terem sido já aprovados três Orçamentos do Estado, será o momento de o governo pensar quando pretende cumprir essas mesmas promessas. O aumento da Pensão Social Mínima tão prometida na campanha ainda não saiu do papel, a actualização salarial anual ainda não saiu do papel, a actualização das pensões anda não saiu do papel, o subsídio de inclusão social a ser atribuído a cerca de 25 mil famílias ainda não saiu do papel – não temos notícia de mais de mil pessoas terem sido beneficiadas – o compromisso de redução da carga fiscal parece já ter sido arquivada, o subsídio de desemprego não tem efectivação.

Temos um país com menos liberdades?

Temos um país que não é de todos neste momento. Temos um país para alguns, para muito poucos. E na saúde nem vou falar na questão das evacuações. Cabo Verde não passou a ser ilhas em 2016. Qualquer governo tem de ter a noção de que ainda não estão criadas todas as condições em todas as ilhas. E para um país como Cabo Verde como é que se consegue fazer a resposta chegar, em termos de saúde, aos que não têm nas suas ilhas hospitais centrais e regionais? É através das evacuações internas. Não tínhamos um sistema perfeito, mas tínhamos um sistema funcional com contributos do Tesouro, do INPS e com um sistema nacional de saúde a funcionar com a colaboração dos TACV. Evacuações, emergência médica num país não é uma questão de hoje. Sempre foi. E um governo que atribui o mercado doméstico, em monopólio, a uma empresa privada, sem essa responsabilidade, é um governo no mínimo irresponsável, para não dizer absolutamente imponderado.

Como vê este memorando de entendimento que o governo assinou com o INPS, as companhias de seguros e a Guarda Costeira?

Primeiro é preciso dizer, sobre os aviões CASA, que nós não nos podemos pronunciar porque nem a Agência de Aviação Civil tem conhecimento. E nós fizemos questão de perguntar. Estranhamos que o governo esteja a fazer toda essa negociação e a AAC não tenha nenhum conhecimento, segundo nos informou. Depois é preciso dizer que este é um governo reactivo. É um governo que reage sob pressão perante situações porque não planifica, não tem visão e não está a ter noção de facto do que é governar um país como Cabo Verde. O governo está em funções há dois anos e meio, aproximadamente, se Cabo Verde não passou a ser ilhas nos últimos tempos, como é que um governo governa todo esse tempo e só agora se lembra de assinar um memorando de entendimento para resolver essa questão? Foi preciso morrer gente, perdermos uma vida para o governo se lembrar que somos ilhas? Para o governo se lembrar que não temos hospitais centrais e regionais em todas as ilhas? Isso é de uma irresponsabilidade indescritível. Mais que irresponsabilidade, é de uma falta de preparação, de um desconhecimento do país real e de uma falta de visão que não são admissíveis em quem governa.

Em termos de segurança as coisas têm andado agitadas.

A situação da Polícia Nacional descreve um pouco o estado da Nação. Um país sem diálogo social, em que os direitos, liberdades e garantias não são respeitados, uma nação em que o governo se recusa a auscultar e a dialogar. Essa situação de instabilidade não é só na Polícia Nacional, está a proliferar por todo o país, em todos os sectores. Nunca Cabo Verde teve tantos pré-avisos de greve, tantas manifestações, tantas insatisfações. Esta é que é a verdade que o governo quer esconder instrumentalizando a televisão pública de Cabo Verde e, permita-me dizer o seguinte: não se pode achar normal que uma instituição como a Polícia Nacional, que em 147 anos nunca fez greve, num único ano já tenha feito pré-aviso para a segunda greve. Algo vai muito mal. Mas o governo insiste no erro, insiste em que tudo está bem e procura sempre atribuir as culpas à governação anterior. O PAICV já não governa há dois anos e meio.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 869 de 25 de Julho de 2018.

Portugal | Um conselho à direita: não deixem passar esta oportunidade


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

Conselho aos dois partidos de direita: não deixem passar esta oportunidade que Ricardo Robles proporciona, desde logo porque são tão parcas as oportunidades que desperdiçar esta, mesmo sendo uma mão cheia de nada, constituiria um erro.

É certo que a história parecia incomensuravelmente melhor do que acaba por ser. Quando a sexta-feira amanheceu com a promessa de finalmente se poder atacar os partidos de esquerda, sobretudo aquele partido porventura mais exasperante, contestatário, sempre a lutar por uma outra sociedade, criou-se um mundo de expectativas.

Depois vieram os desmentidos do próprio Robles: afinal nenhuma injustiça havia sido praticada pelo vereador bloquista, designadamente contra os arrendatários. Sobra a tese da especulação imobiliária e para que essa tese seja de facto consistente, vamos esquecer o facto de se tratar de um imóvel com dois proprietários, o que implica avanços e recuos e tentativas de se chegar aos tão difíceis consensos. Esqueçamos isso, evite-se tocar nesse particular. Acuse-se o Robles de incoerência ideológica, da tal especulação que é tão amada pela direita, mas que agora vamos fingir que é instrumento do Diabo, sobretudo se praticada por alguém de esquerda. Finjamos que o vereador que viabiliza a actual solução camarária cometeu um crime de lesa-pátria, mesmo tendo adquirido o imóvel em 2014 quando o cenário imobiliário era diametralmente oposto ao que se verifica hoje. E se for necessário insinue-se que o Robles têm a capacidade de ver o futuro.

Aproveitem meus amigos, sobretudo os de direita. Esta caiu do céu e embora fraquinha, nós estamos cá para tudo empolar. Afinal de contas mais vale uma mão cheia de nada de um partido de esquerda do que nos obrigarem a exercícios de reflexão sobre os partidos de direita. Aponte-se o dedo aos Robles deste país. Firme e hirto, sem titubear.

* Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

Portugal | Caso de Ricardo Robles-BE convida jornalistas a terem vergonha


Ainda o caso do veredor do Bloco de Esquerda na CMLisboa anda nos jornais. Ontem e hoje alguns jornalistas portugueses foram vedetas emporcalhadas das notícias falsas (Fake News). Mas foi só ontem e hoje? Mentiras, disse Catarina.

No caso foi sobre o vereador Ricardo Robles e o seu prédio em Alfama/milhões em especulação imobiliária. Assim como numa casa que o mesmo possuía no Saldanha. Mentira, foi o que afirmou Catarina Martins, coordenadora do BE. Dá para acreditar nela. Dá para se perceber os vários escribas de esgoto que vagabundeiam pela comunicação social.

Falta saber a troco de que vantagens ou se é realmente inaptidão para exercerem a profissão. Sendo uma ou outra a razão deviam sair do exercício da profissão. Que chafurdem num chiqueiro que lhes seja familiar para serem felizes em vez de produzirem mentiras e enganar os que os lêem, vêem e ouvem. Só assim a classe profissional poderá recuperar o seu bom nome e a sua credibilização.

Mentiras, disse Catarina Martins. E apontou sem sombra de dúvidas porque assim afirmou.

Tenham vergonha, muita vergonha, senhores jornalistas, assim como as chefias e outros recos que se misturam com os verdadeiros profissionais do jornalismo que ainda existem.  

Quanto ao PSD... De uma "casa" de vigaristas e ladrões (os que sabemos) outra atitude não será de esperar. Não há ladrão nem vigarista que queira ser e estar sozinho. Por isso inventa e dá tiros nos pés, como neste caso em que a política - também de reco - se assemelha a jornalistas do mesmo jaez. (PG)

Catarina sai em defesa de Robles e dispara contra imprensa e PSD

A líder do BE comentou pela primeira vez a situação do vereador em Lisboa. Acusou jornais de “infâmia” e o PSD de “hipocrisia”, por “perseguir” os bloquistas

Inteiramente ao lado de Ricardo Robles - assim se mostrou Catarina Martins, a coordenadora do Bloco de Esquerda, na primeira declaração pública, na manhã deste sábado, sobre a vida imobiliária do vereador do seu partido em Lisboa. Robles "nada fez de errado", disse Catarina, antes de chegar ao acampamento de jovens do Bloco, que se realiza no parque de campismo de Castelo do Bode.

A líder do BE apontou baterias para a imprensa: "Ontem [sexta-feira] acordei com uma capa de jornal que dizia que o vereador do Bloco [de Esquerda] tinha ganho milhões de euros numa operação imobiliária e era mentira. Hoje [sábado] acordei com uma capa de jornal que diz que o vereador do BE tem um apartamento no Saldanha, que, pelos vistos, era uma grande novidade, e é mentira. É a casa onde ele vive, uma casa arrendada".

Nesta sexta-feira ficou a saber-se, numa notícia do “Jornal Económico”, que em 2014, em conjunto com a irmã, Ricardo Robles (na altura deputado municipal em Lisboa) comprou um prédio em Alfama por 347 mil euros, o qual, depois de reabilitado (com as obras, houve um investimento total de cerca de um milhão de euros) foi posto à venda por 5,7 milhões de euros em 2017, tendo sido retirado do mercado em abril deste ano.

Sem o afirmar, Catarina Martins sugere que há uma trama contra o Bloco. "São dois dias em que há capas de jornal que dizem mentiras sobre o vereador do BE na Câmara de Lisboa." Para a líder do Bloco, não há coincidências: "Isso acontece na mesma altura em que o Parlamento aprovou legislação importante para proteger os inquilinos, e em que aguardamos, por exemplo, a promulgação a breve trecho do direito de preferência sobre a propriedade que permite que o inquilino possa comprar só a sua fração quando o senhorio quer vender todo o empreendimento".

A iniciativa, diz a coordenadora do BE, "será um grande obstáculo a negócios que estão a ser preparados, nomeadamente a Fidelidade que quer vender um enorme número de prédios em várias zonas do país".

“BE NÃO SE DEIXA INTIMIDAR”

Catarina acusou jornais de terem dado "manchetes falsas ontem, que hoje outros repetem". Segundo a líder do BE, "as notícias são falsas, é um absurdo", pois "não houve nenhuma mais-valia, não houve nenhum lucro". Catarina Martins falou de “campanha de difamação” e de “infâmia”, por parte da comunicação social e de partidos da oposição, para se referir a notícias e a comentários políticos ao caso de Robles.

A coordenadora nacional do BE diz perceber que "tenham decidido perseguir o BE” e adianta ter “duas certezas: a primeira, é que aquilo que fizemos ainda é muito pouco e, portanto, ainda vamos ter de fazer mais para proteger o direito à habitação em Portugal. A segunda, como sabem, é que o BE não se deixa intimidar".

Catarina salientou ainda que Ricardo Robles mantém a mesma "legitimidade na defesa das políticas públicas que tem proposto e que continuará a propor".

RESPOSTA AO PSD

Nas reações partidárias aos negócios imobiliários de Ricardo Robles, o PSD foi o partido que levou mais longe as suas suas críticas, tendo a concelhia de Lisboa dos social-democratas exigido a “demissão” do vereador do BE e acusando-o de "falta de ética, de seriedade e de credibilidade política".

Nas declarações aos jornalistas que a esperavam antes da chegada ao acampamento de jovens do Bloco, a líder bloquista ripostou àquele repto dos social-democratas. Catarina Martins disse que o PSD está a "perseguir" o Bloco de Esquerda e que, antes disso, devia "tirar consequências das investigações de que está a ser alvo", como o caso dos vistos Gold.

“O PSD, que está a ser investigado por problemas tanto de vistos golds, como de financiamento ao partido através de negócios ligados a obras e autarquias, decidiu, em vez de tirar consequências de investigações de que está a ser alvo, perseguir o Bloco de Esquerda”, afirmou.

“Acho que sobre a hipocrisia e sobre o cinismo estamos conversados”, afirmou ainda Catarina Martins.

PRÉDIO ERA MESMO PARA ALOJAMENTO LOCAL

Entretanto, os jornais deste sábado avançam com novas informações sobre a situação imobiliária de Ricardo Robles.

O "Público" adianta que quando esteve à venda o prédio de Alfama destinava-se a alojamento local, pois era essa a finalidade (“short term rental”) que constava do anúncio da agência imobiliária. Aliás, o texto estava cheio de "glamour" na promoção do imóvel, “localizado em frente ao Terminal de Cruzeiros de Lisboa, ao lado do Museu do Fado e do charmoso Largo do Chafariz de Dentro”.

Já o “Sol” escreve que Ricardo Robles tem mais dois apartamentos em Lisboa (além do prédio de Alfama). Um na Rua do Conde Redondo (que está para alugar); e outro junto ao Saldanha. A propriedade deste segundo foi entretanto desmentida pelo Bloco, segundo as declarações de Catarina Martins, pois Robles é apenas o inquilino dessa casa, onde reside atualmente.

Paulo Paixão | Expresso

Puigdemont regressou à Bélgica, de mangas arregaçadas


O antigo presidente da Catalunha chegou, este sábado, a Bruxelas, onde se tinha refugiado após declarar a independência da região. Carles Puigdemont disse que o combate político com Madrid é para contiunar. “Não nos resignaremos com esta falsa normalidade”

"Esperamos que o presidente [do Governo Pedro] Sánchez aproveite o verão para fazer os deveres que estão pendentes. O estado de graça também se acaba para o presidente Sanchéz.”

Regressado, este sábado, a Bruxelas, para onde fugiu após a declaração unilateral da independência da Catalunha, o ex-presidente do governo regional (Generalitat), Carles Puigdemont, ‘disparou’ na direção de Madrid.

“Este não é o final da minha viagem. Viajarei até ao último canto do nosso continente para defender a causa justa do povo catalão”, avisou, numa conferência de imprensa realizada na delegação da Catalunha na União Europeia. “Não nos resignaremos com esta falsa normalidade.”

Ao seu lado, Puigdemont tinha Quim Torra, o atual presidente da Generalitat, que se mostrou vitorioso com a decisão da justiça alemã de recusar a acusação de delito de rebelião, como pretendia Madrid. “O Estado espanhol perdeu esta batalha. Mais virão”, avisou Torra. “Não pararemos até que os presos sejam livres, os exilados regressem e o povo da Catalunha decida livremente nas urnas o seu futuro.”

CENTRO DE OPERAÇÕES EM WATERLOO

Puigdemont chegou à Bélgica vindo da Alemanha, onde foi preso em março passado — e depois libertado —, no âmbito de um mandado de captura emitido pela justiça espanhola. Após um tribunal do estado alemão de Schleswig-Holstein o ter ilibado do crime de rebelião, de que a justiça alemã o acusava, Espanha desistiu de extradita-lo nesses termos.

Na Bélgica, Puigdemont vive numa moradia em Waterloo, sul de Bruxelas, batizada de “Casa da República”. O edifício tornou-se no centro de operações do executivo que governava a Catalunha até à declaração de independência e que foi destituído pela aplicação do artigo 155 da Constituição espanhola, que permitiu ao governo de Madrid assumir o controlo dos poderes autonómicos da região catalã.

Margarida Mota | Expresso

Na foto: Carles Puigdemont, à direita, e Quim Torra, antigo e atual presidente da Generalitat, este sábado, em Bruxelas | Eric Vidal/Reuters

Espanha teme nova onda migratória


Cinquenta mil africanos estão no Marrocos prontos para partir rumo ao território espanhol, afirma jornal. Com bloqueio de rotas pelos Bálcãs e Itália, país ibérico é o mais visado por migrantes com destino à Europa.

Uma nova onda migratória ameaça a Espanha. Com base em informações da polícia, o jornal El Mundo noticiou nesta sexta-feira (27/07) que 50 mil africanos se encontram no Marrocos, prontos para atravessar de barco o Estreito de Gibraltar, a fim de chegar à Espanha.

Na quinta-feira, mais de 600 migrantes originários do sul do Saara transpuseram as cercas de fronteira em Ceuta, enclave espanhol no Norte da África. Durante quase uma hora e meia, guardas espanhóis e marroquinos tentaram contê-los.

Porém, segundo um porta-voz da polícia, os refugiados investiram contra os agentes da lei, em desvantagem numérica, de forma "mais brutal do que nunca", usando lança-chamas improvisados e cal viva. Quatro guardas de fronteira foram hospitalizados com queimaduras, corrosões, cortes e fraturas ósseas. Segundo a Cruz Vermelha, houve um total de 132 feridos.

Nos dias anteriores, quase 900 migrantes foram resgatados no mar. Na terça-feira, a Guarda Costeira espanhola salvou 484 pessoas no Mar de Alborão e no Estreito de Gibraltar, no Mediterrâneo Ocidental. No dia seguinte, foram resgatadas outras 392 em 31 barcos.

Há indicações de que os fluxos migratórios em direção à Europa voltaram a se concentrar na rota ocidental, pela Espanha, devido ao continuado bloqueio da rota dos Bálcãs, pela Grécia, e do fechamento dos portos italianos para os barcos de refugiados, por iniciativa do novo governo de direita em Roma.

Poucos dias atrás, a Organização Internacional para Migração (OIM) informou que a Espanha se transformou no reduto principal para imigrantes ilegais. Até meados de julho, 18 mil homens, mulheres e crianças teriam chegado à Europa pela rota ocidental do Mediterrâneo. O número de refugiados aportados por essa via quase triplicou em relação a 2017, já superando as entradas pela Itália e Grécia.

As capacidades numéricas dos abrigos temporários nos enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla e na costa da Andaluzia, no sul espanhol, já foram ultrapassadas ao ponto de a organização andaluza de direitos humanos APDHA falar de "condições de acolhimento indignas". Em reação, a Cruz Vermelha organizou três novos centros de refugiados.


Controvérsia em torno de arame cortante

Apesar do afluxo crescente de migrantes, o governo espanhol mantém seus planos de eliminar o controvertido arame laminado no alto das cercas em Ceuta e Melilla. "Não gosto de citar datas, porque isso costuma gerar decepções, mas a retirada deve ocorrer sem demora", prometeu o ministro do Interior Fernando Grande-Marlaska numa entrevista radiofônica.

Madri promete que o nível de segurança será mantido, mesmo com "métodos menos cruéis". O novo governo anunciou a decisão de remover o arame laminado em meados de junho, apenas uma semana após a posse do socialista Pedro Sánchez como presidente do governo.

Em 2005, o dispositivo cortante foi instalado pela primeira vez nos diversos quilômetros de cercas separando o território do Marrocos dos enclaves espanhóis Ceuta e Melilla, sendo retirado dois anos mais tarde diante das críticas crescentes.

Em 2013, o governo conservador de Mariano Rajoy voltou a afixar o controvertido arame laminado. Refugiados que tentam escalar as cercas de mais de seis metros de altura costumam ferir-se. Segundo organizações de direitos humanos e médicos, já houve casos de migrantes que acabaram morrendo em consequência dos ferimentos.

Grande-Marlaska rebateu as afirmações da oposição de que o sistema espanhol de acolhida de refugiados estaria diante de um colapso, em face do aumento das chegadas nos últimos meses. Em contrapartida, ele acusou o governo anterior, conservador, de não ter tomado as medidas necessárias para "enfrentar esse desdobramento previsível".

AV/kna/dpa/ots | Deutsche Welle

Nas fotos: 1 - Refugiados marroquinos chegam à praia Del Canuelo, na localidade balneária de Nerja, após cruzar Estreito de Gibraltar; 2 - Arame laminado no alto das cercas em Ceuta e Melilla já causou mortes

Como ativistas europeus lutam contra deportações


A sueca Elin Ersson, que chamou atenção ao tentar impedir a deportação de um afegão, não foi a primeira a embarcar num avião para protestar. Em contato com centros de deportação, ativistas se organizam via internet.

Os ativistas antideportação costumam se comunicar via Facebook. Na última segunda-feira (23/07) um evento foi marcado na plataforma, intitulado "Impedir deportação de Gotemburgo para Afeganistão" e no qual 79 usuários clicaram em "interessado" e 13 em "participar". Entre estes, estava a sueca Elin Ersson, que impediu a suposta repatriação do afegão Ismael Khawari.

O vídeo em que a estudante e ativista de 21 anos mostra como evitou a decolagem de um voo da Turkish Airlines da cidade sueca para Istambul atraiu atenção por todo o mundo. Também a Deutsche Welle divulgou trechos, atraindo mais de 10 milhões de cliques em dois dias.

O que Ersson documentou se baseia em suas próprias afirmações, não há relatos de testemunhas oculares, e a companhia aérea não atendeu ao pedido de declarações sobre os acontecimentos a bordo.

Ersson participa de uma rede informal de ativistas, reunindo organizações de maior e menor porte da Suécia e de toda a Europa, como a Ecada (acrônimo em inglês para "Cidadãos Europeus contra a Deportação para o Afeganistão"). Não existe um órgão supervisor.

Por vezes formam-se grupos no Facebook em que os ativistas se conectam, como, por exemplo o Don't send Afghans back – a platform for positive action. Outras vezes amigos e conhecidos se reúnem com a intenção de atuar politicamente. O que os une é a repulsa ao repatriamento para o Afeganistão de requerentes de asilo rejeitados – como fez a Suécia 415 vezes em 2017.

Não é um caso isolado

O vídeo de Ersson foi assistido milhões de vezes e compartilhado centenas de milhares, por ser emocionante e perturbador, mostrando uma jovem estressada fazendo algo que muitos à sua volta condenam. No entanto, ela não foi a primeira a evitar uma deportação recusando-se a tomar seu assento.

Pouco menos de uma semana antes, em 17 de julho, Eva Märta Granqvist embarcara num avião que transportaria um homem para o Afeganistão, após escala em Istambul. Segundo relatou à DW, ela comprou uma passagem, juntamente com outra ativista, e embarcou em Copenhague, na Dinamarca.

O rapaz de 19 anos que deveria ser extraditado encontrava-se nos últimos assentos da aeronave, acompanhado de pessoal de segurança. "Fomos para a parte de trás e o ouvimos chorar. Nós o conhecíamos de fotos e conseguimos reconhecê-lo."

A ação despertou curiosidade, outros passageiros se levantaram para saber o que estava acontecendo. Após cerca de dez minutos, o piloto decidiu não transportar o afegão, pois o avião não poderia levantar voo com diversos passageiros de pé.

O repatriamento foi temporariamente impedido, o jovem afegão pôde deixar a aeronave. Segundo Granqvist, ele se encontra novamente num centro para deportação. Jornais suecos noticiaram o caso, e as ativistas publicaram um vídeo do ato de protesto no Youtube.

"Deus abençoe seu grande coração"

Granqvist conta como os ativistas se organizam para impedir voos de repatriamento: "Estamos em contato diário com as pessoas dos centros de deportação" e, assim que há informações sobre o procedimento, o dinheiro para as passagens é coletado dentro dos diversos grupos.

"Aí nós procuramos descobrir de onde o voo parte. E então a questão é: quem pode estar no aeroporto dentro de uma hora? Quem mora nas proximidades, quem tem o dinheiro coletado e um passaporte?"

Nem sempre o plano vinga. Como no caso de Ersson, que na verdade partira do princípio de que haveria dois migrantes rejeitados a bordo. O outro, no entanto, fora colocado em outro voo, fora do radar dos ativistas.

Por todo o mundo, muitos celebram Ersson e Granqvist como heroínas. "Deus abençoe o seu grande coração, moça incrível, corajosa", comentou uma usuária sob o vídeo de Ersson. Ou: "Que garota valente!"

Porém, também há críticos que condenam iniciativas como essas, acusando as ativistas de não quererem saber o suficiente sobre aqueles pelos quais elas se engajam assim. "Era para ele ser mandado para casa, e elas pensaram que as opiniões delas são mais importantes do que as leis do país", lê-se num dos comentários.

"Se a gente for 'salvar' todo mundo que está para ser deportado, em que caos o mundo iria se transformar", critica outro usuário do Facebook, e pergunta: "O motivo e a decisão pela deportação são super importantes. Então, qual é o motivo?"

"Muita emoção e poucos argumentos"

Até o momento não se sabe por que Khawari estava sendo repatriado. Indagada pela DW, a polícia sueca, responsável pelo procedimento, replicou que não se pronuncia sobre casos concretos.

Tampouco a própria Ersson conhecia o afegão de 21 anos do qual tomou o partido. Mas para ela e seus colegas ativistas os motivos são antes insignificantes: "Minha profunda convicção é que ninguém deveria ser deportado para um país em guerra", afirma.

O especialista em conflitos Andreas Heinemann-Grüder vê esse posicionamento com olhos críticos. "A senhora Ersson apresentou muitas emoções e não suficientes argumentos", avalia. "Ela não sabia nada sobre o caso concreto. O afegão era um elemento perigoso? Para onde ele iria ser deportado? Nem todas as regiões do Afeganistão são de risco."

Heinemann-Grüder explica que formas de protesto baseadas em poucos fatos podem produzir agitação emocional imediata, mas também voltar a se dissipar rapidamente, pois lhes falta uma espinha dorsal organizatória.

"Aqui é provável que Ersson não vá alcançar as suas metas, pois pode ser muito rapidamente desacreditada por sua falta de profissionalismo. A ação toda pode ser descartada como 'bom-mocismo'", afirma.

Transformar a sociedade ativamente

A polícia sueca está investigando se, com seu protesto, Ersson cometeu um delito penal. De resto, "esse é um debate político, não temos nada a dizer a respeito", declarou um porta-voz à DW.

De acordo com a agência de notícias alemã dpa, a Procuradoria da Suécia confirmou nesta sexta-feira que abriu uma investigação contra Ersson por suspeita de violação da regulamentação aérea. "Se houver condenação, ela pode resultar em multa ou numa pena de seis meses de prisão”, afirmou o porta-voz do órgão Robin Simonsson.

As críticas e uma eventual pena provavelmente não vão fazer com que Ersson, Granqvist e os demais ativistas parem de lutar por suas causas.

"Quero transformar a sociedade através de cada uma de minhas ações", declarou Ersson numa coletiva de imprensa nesta quinta-feira. "Democracias são os seres humanos. E eu sou um ser humano", pontifica. Seus colegas ativistas já planejaram as próximas ações através do Facebook.

Rahel Klein (av) | Deutsche Welle

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