Mais de cem membros do Parlamento
Europeu assinam carta urgindo aos britânicos que reavaliem decisão de deixar a
União Europeia. Apelo ocorre às vésperas de votação crucial sobre o divórcio no
Parlamento britânico.
Mais de cem deputados do
Parlamento Europeu assinaram uma carta aberta pedindo ao Reino Unido que
reconsidere a decisão de deixar a União Europeia (UE). O apelo ocorre pouco
antes de uma votação crucial no Parlamento britânico para analisar
o acordo negociado pela primeira-ministra Theresa May com os líderes
europeus.
A saída definitiva está
marcada para 29 de março, mas o país está extremamente dividido em relação ao
divórcio. Na versão inicial da carta recebida por órgãos de imprensa da
Alemanha nesta segunda-feira (14/01), os eurodeputados expressam uma crescente
preocupação sobre o que chamam de "desastre do Brexit, que será
prejudicial tanto para o Reino Unido quanto para a Europa".
"Estamos relutantes em
intervir em sua política interna, mas não podemos deixar de notar que as
pesquisas de opinião mostram um número cada vez maior de eleitores que desejam
uma oportunidade para reconsiderar a decisão sobre o Brexit", diz o
documento.
"Qualquer decisão de
permanecer na UE será amplamente bem-vinda por nós", afirmam os
eurodeputados, elogiando o "enorme impacto" que políticos e cidadãos
britânicos tiveram na construção do projeto europeu.
Eles pedem ainda que os
britânicos reavaliem sua decisão "no interesse das próximas
gerações", e se comprometem a "trabalhar juntos para reformar e
melhorar a União Europeia" caso o Brexit venha a ser evitado.
Até o momento, 111 dos 751
membros do Parlamento Europeu assinaram a carta. Outros eurodeputados poderão
assinar o documento até o dia 21 de janeiro, antes de sua publicação na
imprensa britânica.
Theresa May, por sua vez, renovou
os pedidos aos parlamentares britânicos para que apoiem seu acordo para o
Brexit na votação desta terça-feira. Ela disse que, após receber novas
garantias do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, as
desconfianças envolvendo a polêmica sobre a fronteira com a Irlanda devem ser
colocadas de lado.
As críticas de muitos opositores
de May sobre sua estratégia para o Brexit estão centradas na questão do
chamado backstop – o mecanismo que permite instaurar uma união
aduaneira provisória entre a República da Irlanda, país-membro da UE, e a
Irlanda do Norte, que integra o Reino Unido, o que manteria o país dentro das
normas alfandegárias do bloco europeu.
A medida deveria durar até as duas
partes da ilha chegarem a um acordo permanente para evitar a imposição de uma
fronteira com controles alfandegários. Vários deputados temem que o mecanismo
acabe mantendo o Reino Unido preso à UE, já que Londres não poderia abandoná-lo
unilateralmente, ficando dependente de uma autorização de Bruxelas.
Uma carta enviada por Juncker e
pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, "deixa ainda mais
provável que o backstop jamais seja utilizado", afirmou May,
afirmando que o documento de Bruxelas possuiria força legal.
"A Comissão pode assegurar
que, assim como o Reino Unido, a União Europeia não deseja que o backstop entre
em efeito", diz a carta, que confirma "a determinação da UE em
substituir a solução do backstop na Irlanda do Norte por um acordo
posterior que assegure de modo permanente a ausência de uma fronteira rígida na
ilha da Irlanda".
O documento reafirma que o bloco
europeu deverá trabalhar intensamente para evitar o acionamento do mecanismo,
mas não menciona um período limite para que essa questão seja resolvida. As
garantias oferecidas pelos europeus "possuem valor legal", em linha
com a autoridade dos líderes do continente de "definir as direções e
prioridades para a UE no mais alto nível", diz o texto.
Juncker e Tusk afirmam ainda que
o acordo negociado com May "representa um compromisso justo" que eles
não estariam em posição de modificar.
Na Alemanha, um dos presidentes
do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), o
eurodeputado Jörg Meuthen, afirmou que o Brexit é um "caos sem esperança e
uma situação altamente desastrosa", e lançou dúvidas sobre o futuro após o
divórcio. "Temos eleições europeias em maio. Me pergunto como isso vai funcionar. Não é
possível cancelar agora o Brexit sem enfrentar grandes dificuldades",
observou.
Neste fim de semana, a AfD
decidiu apoiar o fim do Parlamento Europeu, por considerá-lo
"supérfluo" e "antidemocrático", apesar de lançar
candidatos às eleições europeias. A sigla afirma que, caso suas reivindicações
não sejam atendidas, será cogitado dar início no futuro a um processo para a
saída da Alemanha do bloco europeu, o chamado "Dexit". Meuthen,
porém, diz que essa seria uma opção "indesejada".
RC/dpa/ap/afp | Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário