domingo, 13 de janeiro de 2019

Portugal | A tragédia do PSD


Domingos de Andrade* | Jornal de Notícias | opinião

O argumentário do discurso da oposição interna a Rui Rio é o mesmo da véspera da eleição para a liderança do PSD, há exatamente um ano.

Como obstinação é o adjetivo que melhor define o líder. Alguém que claramente não muda uma vírgula, apesar de todos os avisos (da oposição interna, das sondagens, dos analistas, dos próprios conselheiros). Alguém que tem uma noção rígida da função política, uma ideia de interesse público que serve a imagem de rigor e de vontade própria incapaz de ceder que lhe está colada à pele. É uma obstinação arriscada, claro, pelo isolamento a que o conduziu. Pela incapacidade em unir um partido desfeito muito antes dos últimos dias de Pedro Passos Coelho, a quem chamavam em surdina o morto-vivo.

A entrevista que dá hoje à "Notícias Magazine", a revista dominical do JN, foi feita há quase uma semana. Longe ainda do caos em que o partido se viu mergulhado nas últimas horas. Mas poderia ter sido por estas horas, depois do desafio de Luís Montenegro para novas eleições no partido.

E poderia porque a visão do líder do PSD para chegar ao Governo é a de que é preciso esperar. Assumindo a retórica de que quem está no Governo tem de perder, para que quem está na oposição possa ter condições para ganhar. Assumindo que perdeu mais tempo do que esperaria com as disputas internas. E não assumindo, mas sabendo, que perdeu esse precioso tempo sem causar o desgaste necessário ao Governo para chegar ao poder e que, pelo contrário, acabou desgastado. Assumindo que ambiciona ganhar, mas rejeitando ganhar a qualquer preço.

Rio é Rio. Com os seus defeitos e virtudes. Sabe-se muito o que não quer. Pouco o que quer. Como os seus adversários de partido. E essa é a maior tragédia do PSD. A oposição interna a Rui Rio é tão frágil quanto a oposição de Rio ao Governo.

*Diretor do JN

Sem comentários:

Mais lidas da semana