Domingos de Andrade* | Jornal de
Notícias | opinião
O argumentário do discurso da
oposição interna a Rui Rio é o mesmo da véspera da eleição para a liderança do
PSD, há exatamente um ano.
Como obstinação é o adjetivo que
melhor define o líder. Alguém que claramente não muda uma vírgula, apesar de
todos os avisos (da oposição interna, das sondagens, dos analistas, dos
próprios conselheiros). Alguém que tem uma noção rígida da função política, uma
ideia de interesse público que serve a imagem de rigor e de vontade própria
incapaz de ceder que lhe está colada à pele. É uma obstinação arriscada, claro,
pelo isolamento a que o conduziu. Pela incapacidade em unir um partido desfeito
muito antes dos últimos dias de Pedro Passos Coelho, a quem chamavam em surdina
o morto-vivo.
A entrevista que dá hoje à
"Notícias Magazine", a revista dominical do JN, foi feita há quase
uma semana. Longe ainda do caos em que o partido se viu mergulhado nas últimas
horas. Mas poderia ter sido por estas horas, depois do desafio de Luís
Montenegro para novas eleições no partido.
E poderia porque a visão do líder
do PSD para chegar ao Governo é a de que é preciso esperar. Assumindo a
retórica de que quem está no Governo tem de perder, para que quem está na
oposição possa ter condições para ganhar. Assumindo que perdeu mais tempo do
que esperaria com as disputas internas. E não assumindo, mas sabendo, que
perdeu esse precioso tempo sem causar o desgaste necessário ao Governo para
chegar ao poder e que, pelo contrário, acabou desgastado. Assumindo que
ambiciona ganhar, mas rejeitando ganhar a qualquer preço.
Rio é Rio. Com os seus defeitos e
virtudes. Sabe-se muito o que não quer. Pouco o que quer. Como os seus
adversários de partido. E essa é a maior tragédia do PSD. A oposição interna a
Rui Rio é tão frágil quanto a oposição de Rio ao Governo.
*Diretor do JN
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