Dezenas de ativistas ligados ao
Movimento Independentista de Cabinda, que reivindica a autodeterminação e a
independência do enclave angolano, continuam presos.
As autoridades angolanas
detiveram, no passado dia 28 de janeiro, 63 ativistas ligados ao Movimento
Independista de Cabinda (MIC), uma nova organização que reivindica a
autodeterminação e a independência do Enclave angolano rico em petroleo.
Os ativistas foram detidos nas
suas residências, sem qualquer mandato judicial, dias antes da realização da
uma marcha que visava relembrar o "Tratado de Simulambuco", assinado
a 1 de fevereiro de 1885, entre a colónia portuguesa e as autoridades do reino
de Cabinda de então. Naquela altura , o território de Cabinda não fazia parte
do resto do território da Angola continental.
Marcha com objetivos pacíficos
Os detidos estão espalhados por
diversas prisões da província de Cabinda, incluindo o seu líder Maurício Gimbi.
Na sua maioria são jovens entre os 18 e 28 anos.
José Caposso, um dos poucos
integrantes do MIC que escapou à detenção, explica que a marcha tinha objetivos
pacíficos.
"Avisamos ao governo
angolano que a manifestação seria pacífica e não iríamos destruir nada do que é
do Estado. Mas de lá para cá, começaram a surgir detenções arbitrárias, razão
pela qual a marcha não foi realizada. Na semana passada, quando em Luanda houve
manifestação dos médicos e contra o aumento do preço dos passaportes, não houve
detenção. Mas em Cabinda, se você tentar manifestar o seu direito, é totalmente
censurado".
"João Lourenço deveria vir a
Cabinda"
Josefina Buanga tem o pai, o
marido e três irmãos detidos. À DW, Buanga denunciou os constantes atropelos
aos direitos humanos em Cabinda por parte das autoridades angolanas e deixou um
apelo ao Presidente João Lourenço e à comunidade internacional.
"Só queria pedir apoio à
comunidade internacional, porque os angolanos foram sempre brutos e agressivos.
Nunca nos deixaram à vontade aqui na nossa província. Tudo que nós fizemos aqui
na província de Cabinda somos escravos dos angolanos. Tenho que esconder e não
falar a verdade. Precisamos de João Lourenço vir aqui para dialogar connosco e
senão dialogar essa guerra vai continuar porque ainda não temos paz aqui em Cabina. Essa luta não
começou agora".
Processo é político
O ativista e advogado Arão Bula
Tempo, um dos integrantes da equipa que defende os ativistas detidos,
considerou o processo de político e não de uma questão jurídica, a julgar pelos
crimes de que são acusados de atentarem contra a segurança do Estado.
"Isto de facto torna-se uma
questão política, porque os jovens reclamam a independência e autodeterminação,
isto está claro que ultrapassa uma questão jurídica".
A DW contactou o porta-voz da
Procuradoria-geral da República, Álvaro João, que prometeu falar sobre o
assunto nos próximos dias.
FLEC-FAC também preocupada
com situação
Entretanto, face à incontrolável
vaga repressiva angolana em Cabinda, a direção política da FLEC (Frente de
Libertação do Enclave de Cabinda), um outro movimento que advoga a independência
do enclave angolano, solicitou recentemente uma intervenção de Coly Seck,
presidente do Conselho dos Direitos Humanos e dos Estados Membros do Conselho
dos Direitos Humanos.
Por outro lado, a FLEC-FAC apelou
também à Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle
Bachelet, que "condene claramente e aja urgentemente" para que as
autoridades angolanas cessem com a "política e ações ultra
repressivas" contra a população cabindesa.
Nelson Francisco Sul (Luanda) |
Deutsche Welle
Na foto: Arão Bula Tempo
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