Em entrevista à DW, o presidente
da Câmara de Comércio Portugal-Moçambique defende que ataques no norte
moçambicano, apesar de graves, não põem em causa investimentos estrangeiros no
país.
Apesar de graves, os atos
terroristas em Moçambique não devem ser tomados como um fator de bloqueio para
a promoção e atração do investimento estrangeiro. É o que defende Rui Moreira
de Carvalho, presidente da direção da Câmara de Comércio Portugal-Moçambique
(CCPM), que aposta na capacitação de jovens como potenciais promotores e
canalizadores de investimentos.
Em entrevista à DW, o economista
luso-moçambicano desvaloriza os ataques perpetrados por grupos extremistas
radicais no norte de Moçambique e afirma que tais atos não põem em causa a
presença e a confiança dos investidores internacionais no país.
Para Rui Moreira de Carvalho, é
importante diminuir os efeitos negativos da violência na província do Cabo
Delgado. "Tudo isso também se deve à capacidade de comunicação, porque
hoje as más notícias circulam muito rapidamente. As boas não circulam
tanto".
O presidente da CCPM não crê
existir uma queda de credibilidade dos investidores internacionais. O
economista, que exerceu funções de administração em diversas empresas
portuguesas e moçambicanas, defende que os últimos acontecimentos, incluindo os
ataques terroristas no norte do país, não significam um revês para o
investimento estrangeiro.
"Os gestos terroristas
acontecem em toda a parte do mundo; não têm geografia, não têm nação. Você vê
nos Estados Unidos, em França, na Alemanha, em Inglaterra. Infelizmente
acontecem em Moçambique, mas isso as autoridades locais e a própria sociedade
civil sabem encontrar respostas a esse tipo de intervenções criminosas",
justifica.
Preocupação dos investidores
Recentemente o encarregado de
Negócios da Embaixada dos Estados em Moçambique, Bryan Hunt, referiu que os
investidores norte-americanos precisam de garantias de que existe um esforço
interno para travar o extremismo violento na província do Cabo Delgado.
Também querem ver progressos
concretos na implementação do desarmamento, desmobilização e reintegração dos
antigos guerrilheiros da Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO), no âmbito
dos consensos alcançados nas negociações de paz entre o Governo da FRELIMO e o
maior partido da oposição.
Rui Moreira de Carvalho reconhece
que, não havendo avanços na implementação dos acordos de paz, este também
constitui um fator inibidor de atração do investimento estrangeiro. E diz que
"é preciso cada dia ter a vontade de reforçar [o acordo] e de fazer da paz
um objetivo e não uma palavra [vã]".
Investimento português
Entretanto, Rui Moreira diz que
Moçambique é um mercado natural de dois sentidos, onde cresceu o investimento
português, de acordo com os números divulgados, no final do ano, pela Agência
para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).
Em dezembro de 2013, havia um
stock de 595 milhões de euros. "Passados cinco anos, nós temos 981
milhões", revela. "O que quer dizer que houve um aumento para quase o
dobro em termos de stock" do investimento direto estrangeiro (IDE) entre
Portugal e Moçambique.
Mas o presidente da CCPM
reconhece que, em termos de fluxo, o ano de 2018 não foi famoso, embora este
não seja um indicador importante. No entanto, "todos os dados dos
consulados português em Moçambique e moçambicano em Portugal sugerem o aumento
de procura de vistos, o que quer dizer que a deslocação de pessoas, quer de
Portugal a Moçambique quer de Moçambique a Portugal, tem sido tendencialmente
superior ao ano anterior, o que é um bom indicador".
Capacitação de jovens
Em 2019, no conjunto das suas
atividades, a CCPM vai continuar a investir na formação e capacitação dos
jovens estudantes moçambicanos. "As empresas, quando se internacionalizam,
precisam de recursos específicos que conhecem a cultura dos mercados para onde
se destinam. São estas pessoas que vão mostrar aos empresários que estão em
Portugal de que em Moçambique há recursos humanos e oportunidades de negócios
para os seus investimentos", sublinha.
A DW entrevistou Rui Moreira, em
Lisboa, à margem da homenagem rendida, na última terça-feira (29.01), a quatro
figuras luso-moçambicanas: ao professor catedrático da Universidade de Coimbra,
Manuel Antunes, ao embaixador da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento para
Moçambique, Nazim Ahmad, ao futebolista Shéu Han e Rui Pinheiro, da CCPM.
De acordo com o nosso
entrevistado, estas homenagens fazem parte do projeto de aproximação da
sociedade civil de Portugal e de Moçambique. "São pessoas que têm
contribuído para o estreitamento das relações entre os dois países e que, pelos
seus valores, são referências para a juventude moçambicana e portuguesa",
concluiu.
João Carlos (Lisboa) | Deutsche
Welle
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