País combina comboios e bicicletas,
abre enormes estacionamentos subterrâneos junto às estações demonstra:
políticas públicas inteligentes podem vencer ditadura do automóvel
Isabel Ferrer, em El
País Brasil | Outras Palavras
Com 17 milhões de habitantes, há
na Holanda 23 milhões de bicicletas. As famílias têm três em média, de acordo
com o Escritório Central de Estatísticas. A Bicicletas Recreativas, organização
que calcula seu uso, diz que é o veículo mais utilizado (84% da população); é o
país com mais bicicletas por habitante (1,3), seguido pela Dinamarca (0,8) e o
Japão (0,6); 16% usam modelos elétricos, e destes, 6% têm uma de corrida.
Existem 88.000 quilómetros de rotas adaptadas, entre estradas e caminhos
municipais, e 94% das viagens começam na porta de casa. O governo pretende
investir 345 milhões de euros (1,45 bilião de reais) em infraestrutura para que
outras 200.000 pessoas as levem ao trabalho. Impressionante, mas onde
estacioná-las com uma densidade de população de 412 habitantes por quilómetro
quadrado? Em estacionamentos subterrâneos gigantescos.
Na realidade, a bicicleta na
Holanda pode ser estacionada em qualquer rua, desde que não exista sinalização
que o impeça e não interrompa a passagem dos pedestres. O problema é que não
costuma haver lugar e os espaços dispostos em diversas áreas das grandes
cidades acabam lotados. Lá, estacioná-las no primeiro dia é gratuito e o
segundo custa 0,50 euro (2 reais). A partir do terceiro cobram 2,50 euros (10
reais). A solução é construir garagens maiores, especialmente nas grandes
estações de trem, como as de Utrecht e Haia. Muita gente sobe no trem, que
possui plataformas adaptadas, com a bicicleta para continuar usando-a em outro
local. É muito conveniente deixá-la no subsolo da estação ferroviária.
A Prefeitura de Utrecht já abriu
um estacionamento para 12.500 bicicletas, o maior do mundo de sua classe, sob a
praça da estação central. De três andares, tem acesso pela rua e é possível
percorrê-lo pedalando até encontrar uma vaga. Possui um túnel que conecta com o
pátio e as plataformas da estação de trem. Aqui o primeiro dia também é
gratuito e é possível pagá-lo com o cartão geral de transporte, válido em todos
os serviços públicos: trem, ónibus e bonde. Também tem 700 bicicletas de
aluguer e não fecha.
Em Haia está sendo construído um
estacionamento parecido, na estação central de trens, com capacidade para 8.500
bicicletas. A abertura está prevista para o final de 2019 e também terá o
acesso através da rua. Em Amesterdão, onde hoje a maior parte das bicicletas se
estaciona perto da estação, se constrói desde 2018 uma garagem com capacidade
para 7.000 no canal localizado em frente. Toda a área exterior será remodelada e,
como nas outras duas cidades, a previsão é que a entrada fique na rua. Está
previsto para ser inaugurado dentro de cinco anos.
Os três projetos recebem dinheiro
do governo central e das respectivas prefeituras e o ministério do Transporte
quer que a população utilize muito mais a bicicleta. De acordo com números do
departamento, 25% dos trajetos sobre duas rodas têm a ver com o trabalho e
podem ser chamados de profissionais. 37% são viagens de lazer. O restante é
para compras, ir ao colégio e outras atividades. Levando em consideração que
“mais de 50% da população ativa mora a menos de 15 quilómetros de seu trabalho
e que mais da metade dos percursos de carro não supera os oito quilómetros”,
dizem porta-vozes oficiais, a ideia é promover as bicicletas com uma diminuição
dos impostos. Para cada quilómetro coberto nesses deslocamentos diários para ir
trabalhar, o usuário recebe diminuição de 19 centavos de euro (80 centavos de
real). O Ministério do Transporte espera convencer as empresas dos benefícios
de financiar as bicicletas de seus empregados. E colocar chuveiros nos
escritórios, que é outro dos pedidos persistentes.
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