terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Holanda inova mais uma vez em mobilidade urbana


País combina comboios e bicicletas, abre enormes estacionamentos subterrâneos junto às estações demonstra: políticas públicas inteligentes podem vencer ditadura do automóvel

Isabel Ferrer, em El País Brasil | Outras Palavras

Com 17 milhões de habitantes, há na Holanda 23 milhões de bicicletas. As famílias têm três em média, de acordo com o Escritório Central de Estatísticas. A Bicicletas Recreativas, organização que calcula seu uso, diz que é o veículo mais utilizado (84% da população); é o país com mais bicicletas por habitante (1,3), seguido pela Dinamarca (0,8) e o Japão (0,6); 16% usam modelos elétricos, e destes, 6% têm uma de corrida. Existem 88.000 quilómetros de rotas adaptadas, entre estradas e caminhos municipais, e 94% das viagens começam na porta de casa. O governo pretende investir 345 milhões de euros (1,45 bilião de reais) em infraestrutura para que outras 200.000 pessoas as levem ao trabalho. Impressionante, mas onde estacioná-las com uma densidade de população de 412 habitantes por quilómetro quadrado? Em estacionamentos subterrâneos gigantescos.

Na realidade, a bicicleta na Holanda pode ser estacionada em qualquer rua, desde que não exista sinalização que o impeça e não interrompa a passagem dos pedestres. O problema é que não costuma haver lugar e os espaços dispostos em diversas áreas das grandes cidades acabam lotados. Lá, estacioná-las no primeiro dia é gratuito e o segundo custa 0,50 euro (2 reais). A partir do terceiro cobram 2,50 euros (10 reais). A solução é construir garagens maiores, especialmente nas grandes estações de trem, como as de Utrecht e Haia. Muita gente sobe no trem, que possui plataformas adaptadas, com a bicicleta para continuar usando-a em outro local. É muito conveniente deixá-la no subsolo da estação ferroviária.

A Prefeitura de Utrecht já abriu um estacionamento para 12.500 bicicletas, o maior do mundo de sua classe, sob a praça da estação central. De três andares, tem acesso pela rua e é possível percorrê-lo pedalando até encontrar uma vaga. Possui um túnel que conecta com o pátio e as plataformas da estação de trem. Aqui o primeiro dia também é gratuito e é possível pagá-lo com o cartão geral de transporte, válido em todos os serviços públicos: trem, ónibus e bonde. Também tem 700 bicicletas de aluguer e não fecha.

Em Haia está sendo construído um estacionamento parecido, na estação central de trens, com capacidade para 8.500 bicicletas. A abertura está prevista para o final de 2019 e também terá o acesso através da rua. Em Amesterdão, onde hoje a maior parte das bicicletas se estaciona perto da estação, se constrói desde 2018 uma garagem com capacidade para 7.000 no canal localizado em frente. Toda a área exterior será remodelada e, como nas outras duas cidades, a previsão é que a entrada fique na rua. Está previsto para ser inaugurado dentro de cinco anos.

Os três projetos recebem dinheiro do governo central e das respectivas prefeituras e o ministério do Transporte quer que a população utilize muito mais a bicicleta. De acordo com números do departamento, 25% dos trajetos sobre duas rodas têm a ver com o trabalho e podem ser chamados de profissionais. 37% são viagens de lazer. O restante é para compras, ir ao colégio e outras atividades. Levando em consideração que “mais de 50% da população ativa mora a menos de 15 quilómetros de seu trabalho e que mais da metade dos percursos de carro não supera os oito quilómetros”, dizem porta-vozes oficiais, a ideia é promover as bicicletas com uma diminuição dos impostos. Para cada quilómetro coberto nesses deslocamentos diários para ir trabalhar, o usuário recebe diminuição de 19 centavos de euro (80 centavos de real). O Ministério do Transporte espera convencer as empresas dos benefícios de financiar as bicicletas de seus empregados. E colocar chuveiros nos escritórios, que é outro dos pedidos persistentes.

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