José Ferrer [*]
1.
A discutível base científica do aquecimento global
2. A vulgata do aquecimento global
3. Que pensar, que fazer?
4. A base religiosa do aquecimento global
5. O aquecimento global e a política
1. A discutível base científica do aquecimento global
Como é do conhecimento público, o fundamento científico da tese do aquecimento global no planeta Terra (a tese diz que o mesmo vem ocorrendo por causa do aumento do teor de dióxido de carbono antropogénico na atmosfera terrestre) está, no mínimo, sujeito a enorme controvérsia.
Os seus defensores invocam o "consenso científico" entre "a maior parte dos cientistas", nestes incluindo os cerca de mil membros integrantes do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática[1] , organismo da ONU também composto, porém, por muitas pessoas licenciadas em disciplinas científicas alheias à climatologia. Propõem-nos, assim, que a ciência (pelo menos esta ciência) se constrói sob consenso (Galileu esquecido?) e apelidam de negacionistas os climatologistas que dela discordam, acentuando tratar-se alegadamente de uma minoria.
Minoria que não atribui importância ao chamado efeito de estufa adicional que o dióxido de carbono antropogénico desempenhará.
Os defensores do aquecimento global insistem em que partem do tratamento de muitos milhares de dados em modelos computadorizados do clima e proclamam que a temperatura da atmosfera subiu cerca de 1ºC desde o início da revolução industrial, acompanhando a subida do teor de dióxido de carbono na atmosfera, aumento que atribuem à queima de combustíveis ditos fósseis: carvão, petróleo, gás natural.
Proclamam, ainda, que, mantendo-se o consumo de combustíveis fósseis, o aumento de mais de 1ºC ditará enormes catástrofes atmosféricas, isto porque o clima ficará substancialmente modificado.
Mas não são poucos os climatologistas que discordam da mencionada tese do aquecimento global. Porque a mesma não é consentânea com muitos factos: existência da Gronelândia (terra verde) no tempo dos Vikings (a temperatura no hemisfério norte era seguramente superior à actual, mas muito menor o teor de dióxido de carbono antropogénico na atmosfera), abaixamento da temperatura nas três décadas após o fim da Segunda Grande Guerra apesar de nesse período a concentração de dióxido de carbono antropogénico na atmosfera ter continuado a crescer, etc.
Da parte destes climatologistas há quem aponte o dedo: os defensores do aquecimento global esquecem a influência no clima terrestre do que se passa com o Sol, enquanto estrela pulsante, e, além disso, reduzem o Planeta ao território emerso, quando os oceanos ocupam 71% da superfície terrestre. Assim, dentre eles há quem observe: teremos que inverter a proclamação da tese do aquecimento global, pelo que, quando os oceanos arrefecem, baixa o teor do dióxido de carbono na atmosfera, quando os oceanos aquecem, aumenta em seguida o teor do dióxido de carbono na atmosfera. Considerando a influência do Sol, há quem afirme estar já em marcha um arrefecimento global durante as próximas décadas.
Enfim, o climatologista Marcel Leroux não hesitou em escrever que o aquecimento global é uma " impostura científica" [2] .
Convenhamos em que as perspectivas em presença são diversas e as previsões que geram são claramente antagónicas.
2. A vulgata do aquecimento global
Todos a conhecemos.
O dióxido de carbono (gás da vida, no sentido em que, com a água e a fossíntese, gera o amido e as oses, fundamento da alimentação de animais e de humanos) passou a gás " poluente ", mesmo " tóxico ", explorando-se a fraca difusão da ciência química.
Como " prova " do aquecimento global, todas as catástrofes servem, sejam ciclones, tsunamis, vagas de calor (as de frio são tendencialmente ignoradas), como se antes não tivessem existido. E se tal é observado, logo se proclama: sim, dantes houve, mas agora cresce a frequência de tais fenómenos, quando não também a sua intensidade.
A televisão é imparável na mistificação: exibe há anos imagens de " chaminés" industriais com fumos esbranquiçados, passando a ideia de que tais fumos são sempre poluentes, não cuidando de saber quantas vezes o fumo exibido mais não será do que vapor de água, escondendo ainda que o tal horrível dióxido de carbono é um gás incolor. Mas o seu supra-sumo será a insistência aparentemente na imagem do degelo de um icebergue como "prova" de que, assim, o nível da água do mar irá subir por efeito do aquecimento global; ora, se tal se tratar, de facto, de um icebergue, isso só prova que já esqueceram o Princípio de Arquimedes (tivessem-no em conta, lembrar-se-iam que o degelo do icebergue não altera o nível da água líquida).
Não se ficam por aqui as " consequências " do aquecimento global, porque não só o dióxido de carbono é apontado como " poluente ". Outros gases o são, como o metano, esse ainda mais horrível gás gerado pela decomposição do estrume do gado, motivo pelo qual, além de termos que deixar de consumir combustíveis ditos fósseis, teremos de deixar de comer carne, a começar pela de vaca.
Porque, atenção, se o não fizermos, não vamos " salvar o Planeta ", diz-se. Ou seja, afinal os humanos são poderosos. No mínimo, seremos capazes de regular o clima, não apenas nas nossas casas, ou nas nossas cidades com muitos carros a circular e condicionadores de ar instalados, mas também ao nível global do Planeta.
3. Que pensar, que fazer?
A síntese apresentada anteriormente induz-nos a pensar que, do ponto de vista científico, está por aperfeiçoar a tese do aquecimento global com base no aumento do dióxido de carbono antropogénico, na hipótese de a mesma persistir.
Estamos, porém, muito longe de vivermos num profícuo ambiente de discussão científica.
Em seu lugar, vimos assistindo há anos à intensificação da disseminação da vulgata do aquecimento global, com atropelo de verdades científicas tidas como válidas desde há muito, como referimos acima.
Como é isto possível, neste século XXI, em que, note-se, se produz tanta ciência em tantos e variados campos do saber?
Como é possível que tantas pessoas adiram à tese do aquecimento global, sendo que de parte delas se não pode dizer que desconheçam os princípios do método científico, as limitações da ciência, mas, também, a sua força?
Há que procurar explicação mais convincente para a base do êxito social da tese do aquecimento global. Se a base científica da tese do aquecimento global é, no mínimo, duvidosa, vejamos o que nos oferece a perspectiva religiosa.
4. A base religiosa do aquecimento global
Considere-se a seguinte citação, inspiradora no contexto. Em excelente obra a vários títulos, Fernand Braudel, referindo-se à Cartago do século V a.C., ilustra a possibilidade da ocorrência simultânea de uma religião retrógrada e de uma economia virada para o futuro.
(…) é o peso obsessivo da religião cartaginesa que causa problemas, uma religião tenaz, vinda das profundezas do passado pré-histórico, terrível, dominadora. Os sacrifícios humanos – acusação muitas vezes repetida pelos Latinos – são demasiado reais: o tofet de Salambo pôs a descoberto milhares de peças de olaria contendo ossadas calcinadas de crianças. Quando queria exorcizar um perigo, Cartago imolava aos deuses os filhos dos seus mais distintos cidadãos. Foi o que aconteceu quando Agátocles, ao serviço de Siracusa, lançou a guerra no próprio solo de Cartago. Como cidadãos ilustres cometeram então o sacrilégio de substituir os filhos por crianças compradas, foi ordenado um sacrifício expiatório de duzentas crianças. O zelo religioso ofereceu trezentas...Os prisioneiros de guerra também eram imolados, por vezes aos milhares. O sangue destas vítimas mancha o nome de Cartago? (…) o que surpreende é que, em Cartago, a vida económica caminha para o futuro, enquanto a vida religiosa se detém séculos e séculos atrás (…) uma intensa vida de negócios, de espírito "capitalista" (…) alia-se a uma mentalidade religiosa retrógrada [3] .
Assim, em Cartago, quando se queria exorcizar um perigo, imolavam-se "aos deuses os filhos dos seus mais distintos cidadãos", em sacrifício de humanos. Tal a desumanidade a que a crença religiosa já chegou [4] . Consta que a prática ainda não terá sido de todo abandonada, mas a sua expressão será hoje incomensuravelmente menor, desde logo porque as religiões cristãs vigentes, pelo menos oficialmente, parecem não a apoiar.
Outra referência inspiradora da perspectiva religiosa reside na obra Año 303/Inventan El Cristianismo , de Fernando Conde Torrens [5] .
O autor, inicialmente crente, desatou a partir de certa altura a estudar os documentos mais antigos existentes, tendo chegado à conclusão de que terá sido apenas em 303 que o futuro imperador Constantino organizou aquilo a que hoje chamaríamos uma comissão redactorial para redigir os quatro evangelhos, as epístolas de Paulo, etc., ou seja, os documentos fundadores do cristianismo. O autor aponta para duas personagens principais de tal comissão : Lactâncio, o fanático, e Eusébio, de Cesareia, o erudito historiador, que muito bem terá sabido condensar nos documentos cristãos bastante da sabedoria da Humanidade acumulada à época, incluindo a da tradição faraónica.
Constantino terá dado toda a atenção à tese de Lactâncio, antes apresentada a Diocleciano (o imperador romano da tetrarquia, o qual, após 20 anos de governo, se retirou para o palácio da actual Split), de que o império só resistiria se se acabasse com a imensa profusão de crenças e deuses existentes na vastidão das suas regiões, sob pena de o fim do mundo se perfilar. Diocleciano rejeitou a tese da necessidade da criação de uma nova religião. Constantino, porém, terá entendido que isso ajudaria a manter a unidade do império, parecendo certo que a aposta na implantação do cristianismo o serviu como via para se tornar imperador único.
Segundo Torrens, o cristianismo foi disseminado através da criação da Igreja, entenda-se uma vasta rede de bispos espalhados pelos principais aglomerados populacionais do império.
Porém, nem tudo correu bem a Constantino no plano pessoal e familiar, e, segundo Torrens, por causa disso ele próprio ter-se-á inclinado para uma concepção menos fundamentalista (dogmática) do cristianismo aquando do Concílio de Niceia.
De qualquer modo, a marcha da nova religião foi muito irregular após a morte de Constantino, até que, perto do final do século IV, aparece Teodósio e, a ferro e fogo, o cristianismo dogmático é instalado para não mais findar. Segundo Torrens, vai a caminho de 17 séculos, um notável êxito histórico, portanto, ainda que hoje se defronte com a séria expansão do islamismo.
Trago esta contribuição interpretativa da criação e implantação do cristianismo da responsabilidade de um doutorado em engenharia industrial (obviamente que o mesmo e a sua contribuição hão-de ser largamente ostracizados, desde logo porque lhe falta a medalha oficial de historiador) pelas semelhanças que vejo no processo que o mesmo descreve na sua volumosa obra e o que vem ocorrendo com a propagação da tese do aquecimento global.
Da mesma forma que o cristianismo assenta em muitos aspectos na fé, assim vemos que a tese do aquecimento global é difundida sem escrúpulos científicos, mas não lhe faltam demonstrações de adesão de recorte claramente religioso. Pois, na prática, a tese já é apresentada como uma teoria cheia de interpenetrações.
Tudo indica que a igreja do aquecimento global está em propagação, não lhe faltando a sua já imponente rede debispos . Só que, desta vez, o âmbito inicial da implantação da nova religião não se confinou às adjacências do Mediterrâneo, antes logo se apontou para o carácter global que importa que tenha. Talvez por isso, e diferentemente da igreja cristã, que arrancou sem papa, não dispensou a escolha precoce deste, na figura do secretário-geral da ONU.
Outra manifesta semelhança entre os dois processos reside na ideia do fim do mundo. Ou seja, a concepção é a de que os homens são intrinsecamente maus, pelo que, ou aderem e cumprem os preceitos ditados pela igreja, ou contribuirão para o fim do mundo, agora a pressuposta morte do Planeta (decerto que querem dizer morte da vida no Planeta, mas o tremendismo que se impõe apela a fórmulas de linguagem tão terrorista quanto possível), daí a proclamada salvação do Planeta através da chamada descarbonização da economia.
O paralelismo que vimos fazendo leva-nos à pergunta inevitável: se o cristianismo, segundo Torrens, foi concebido e implantado para servir interesses políticos, que interesses políticos se ligarão ao (ou porventura estarão na base do) aquecimento global?
5. O aquecimento global e a política
Notemos:
2. A vulgata do aquecimento global
3. Que pensar, que fazer?
4. A base religiosa do aquecimento global
5. O aquecimento global e a política
1. A discutível base científica do aquecimento global
Como é do conhecimento público, o fundamento científico da tese do aquecimento global no planeta Terra (a tese diz que o mesmo vem ocorrendo por causa do aumento do teor de dióxido de carbono antropogénico na atmosfera terrestre) está, no mínimo, sujeito a enorme controvérsia.
Os seus defensores invocam o "consenso científico" entre "a maior parte dos cientistas", nestes incluindo os cerca de mil membros integrantes do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática[1] , organismo da ONU também composto, porém, por muitas pessoas licenciadas em disciplinas científicas alheias à climatologia. Propõem-nos, assim, que a ciência (pelo menos esta ciência) se constrói sob consenso (Galileu esquecido?) e apelidam de negacionistas os climatologistas que dela discordam, acentuando tratar-se alegadamente de uma minoria.
Minoria que não atribui importância ao chamado efeito de estufa adicional que o dióxido de carbono antropogénico desempenhará.
Os defensores do aquecimento global insistem em que partem do tratamento de muitos milhares de dados em modelos computadorizados do clima e proclamam que a temperatura da atmosfera subiu cerca de 1ºC desde o início da revolução industrial, acompanhando a subida do teor de dióxido de carbono na atmosfera, aumento que atribuem à queima de combustíveis ditos fósseis: carvão, petróleo, gás natural.
Proclamam, ainda, que, mantendo-se o consumo de combustíveis fósseis, o aumento de mais de 1ºC ditará enormes catástrofes atmosféricas, isto porque o clima ficará substancialmente modificado.
Mas não são poucos os climatologistas que discordam da mencionada tese do aquecimento global. Porque a mesma não é consentânea com muitos factos: existência da Gronelândia (terra verde) no tempo dos Vikings (a temperatura no hemisfério norte era seguramente superior à actual, mas muito menor o teor de dióxido de carbono antropogénico na atmosfera), abaixamento da temperatura nas três décadas após o fim da Segunda Grande Guerra apesar de nesse período a concentração de dióxido de carbono antropogénico na atmosfera ter continuado a crescer, etc.
Da parte destes climatologistas há quem aponte o dedo: os defensores do aquecimento global esquecem a influência no clima terrestre do que se passa com o Sol, enquanto estrela pulsante, e, além disso, reduzem o Planeta ao território emerso, quando os oceanos ocupam 71% da superfície terrestre. Assim, dentre eles há quem observe: teremos que inverter a proclamação da tese do aquecimento global, pelo que, quando os oceanos arrefecem, baixa o teor do dióxido de carbono na atmosfera, quando os oceanos aquecem, aumenta em seguida o teor do dióxido de carbono na atmosfera. Considerando a influência do Sol, há quem afirme estar já em marcha um arrefecimento global durante as próximas décadas.
Enfim, o climatologista Marcel Leroux não hesitou em escrever que o aquecimento global é uma " impostura científica" [2] .
Convenhamos em que as perspectivas em presença são diversas e as previsões que geram são claramente antagónicas.
2. A vulgata do aquecimento global
Todos a conhecemos.
O dióxido de carbono (gás da vida, no sentido em que, com a água e a fossíntese, gera o amido e as oses, fundamento da alimentação de animais e de humanos) passou a gás " poluente ", mesmo " tóxico ", explorando-se a fraca difusão da ciência química.
Como " prova " do aquecimento global, todas as catástrofes servem, sejam ciclones, tsunamis, vagas de calor (as de frio são tendencialmente ignoradas), como se antes não tivessem existido. E se tal é observado, logo se proclama: sim, dantes houve, mas agora cresce a frequência de tais fenómenos, quando não também a sua intensidade.
A televisão é imparável na mistificação: exibe há anos imagens de " chaminés" industriais com fumos esbranquiçados, passando a ideia de que tais fumos são sempre poluentes, não cuidando de saber quantas vezes o fumo exibido mais não será do que vapor de água, escondendo ainda que o tal horrível dióxido de carbono é um gás incolor. Mas o seu supra-sumo será a insistência aparentemente na imagem do degelo de um icebergue como "prova" de que, assim, o nível da água do mar irá subir por efeito do aquecimento global; ora, se tal se tratar, de facto, de um icebergue, isso só prova que já esqueceram o Princípio de Arquimedes (tivessem-no em conta, lembrar-se-iam que o degelo do icebergue não altera o nível da água líquida).
Não se ficam por aqui as " consequências " do aquecimento global, porque não só o dióxido de carbono é apontado como " poluente ". Outros gases o são, como o metano, esse ainda mais horrível gás gerado pela decomposição do estrume do gado, motivo pelo qual, além de termos que deixar de consumir combustíveis ditos fósseis, teremos de deixar de comer carne, a começar pela de vaca.
Porque, atenção, se o não fizermos, não vamos " salvar o Planeta ", diz-se. Ou seja, afinal os humanos são poderosos. No mínimo, seremos capazes de regular o clima, não apenas nas nossas casas, ou nas nossas cidades com muitos carros a circular e condicionadores de ar instalados, mas também ao nível global do Planeta.
3. Que pensar, que fazer?
A síntese apresentada anteriormente induz-nos a pensar que, do ponto de vista científico, está por aperfeiçoar a tese do aquecimento global com base no aumento do dióxido de carbono antropogénico, na hipótese de a mesma persistir.
Estamos, porém, muito longe de vivermos num profícuo ambiente de discussão científica.
Em seu lugar, vimos assistindo há anos à intensificação da disseminação da vulgata do aquecimento global, com atropelo de verdades científicas tidas como válidas desde há muito, como referimos acima.
Como é isto possível, neste século XXI, em que, note-se, se produz tanta ciência em tantos e variados campos do saber?
Como é possível que tantas pessoas adiram à tese do aquecimento global, sendo que de parte delas se não pode dizer que desconheçam os princípios do método científico, as limitações da ciência, mas, também, a sua força?
Há que procurar explicação mais convincente para a base do êxito social da tese do aquecimento global. Se a base científica da tese do aquecimento global é, no mínimo, duvidosa, vejamos o que nos oferece a perspectiva religiosa.
4. A base religiosa do aquecimento global
Considere-se a seguinte citação, inspiradora no contexto. Em excelente obra a vários títulos, Fernand Braudel, referindo-se à Cartago do século V a.C., ilustra a possibilidade da ocorrência simultânea de uma religião retrógrada e de uma economia virada para o futuro.
(…) é o peso obsessivo da religião cartaginesa que causa problemas, uma religião tenaz, vinda das profundezas do passado pré-histórico, terrível, dominadora. Os sacrifícios humanos – acusação muitas vezes repetida pelos Latinos – são demasiado reais: o tofet de Salambo pôs a descoberto milhares de peças de olaria contendo ossadas calcinadas de crianças. Quando queria exorcizar um perigo, Cartago imolava aos deuses os filhos dos seus mais distintos cidadãos. Foi o que aconteceu quando Agátocles, ao serviço de Siracusa, lançou a guerra no próprio solo de Cartago. Como cidadãos ilustres cometeram então o sacrilégio de substituir os filhos por crianças compradas, foi ordenado um sacrifício expiatório de duzentas crianças. O zelo religioso ofereceu trezentas...Os prisioneiros de guerra também eram imolados, por vezes aos milhares. O sangue destas vítimas mancha o nome de Cartago? (…) o que surpreende é que, em Cartago, a vida económica caminha para o futuro, enquanto a vida religiosa se detém séculos e séculos atrás (…) uma intensa vida de negócios, de espírito "capitalista" (…) alia-se a uma mentalidade religiosa retrógrada [3] .
Assim, em Cartago, quando se queria exorcizar um perigo, imolavam-se "aos deuses os filhos dos seus mais distintos cidadãos", em sacrifício de humanos. Tal a desumanidade a que a crença religiosa já chegou [4] . Consta que a prática ainda não terá sido de todo abandonada, mas a sua expressão será hoje incomensuravelmente menor, desde logo porque as religiões cristãs vigentes, pelo menos oficialmente, parecem não a apoiar.
Outra referência inspiradora da perspectiva religiosa reside na obra Año 303/Inventan El Cristianismo , de Fernando Conde Torrens [5] .
O autor, inicialmente crente, desatou a partir de certa altura a estudar os documentos mais antigos existentes, tendo chegado à conclusão de que terá sido apenas em 303 que o futuro imperador Constantino organizou aquilo a que hoje chamaríamos uma comissão redactorial para redigir os quatro evangelhos, as epístolas de Paulo, etc., ou seja, os documentos fundadores do cristianismo. O autor aponta para duas personagens principais de tal comissão : Lactâncio, o fanático, e Eusébio, de Cesareia, o erudito historiador, que muito bem terá sabido condensar nos documentos cristãos bastante da sabedoria da Humanidade acumulada à época, incluindo a da tradição faraónica.
Constantino terá dado toda a atenção à tese de Lactâncio, antes apresentada a Diocleciano (o imperador romano da tetrarquia, o qual, após 20 anos de governo, se retirou para o palácio da actual Split), de que o império só resistiria se se acabasse com a imensa profusão de crenças e deuses existentes na vastidão das suas regiões, sob pena de o fim do mundo se perfilar. Diocleciano rejeitou a tese da necessidade da criação de uma nova religião. Constantino, porém, terá entendido que isso ajudaria a manter a unidade do império, parecendo certo que a aposta na implantação do cristianismo o serviu como via para se tornar imperador único.
Segundo Torrens, o cristianismo foi disseminado através da criação da Igreja, entenda-se uma vasta rede de bispos espalhados pelos principais aglomerados populacionais do império.
Porém, nem tudo correu bem a Constantino no plano pessoal e familiar, e, segundo Torrens, por causa disso ele próprio ter-se-á inclinado para uma concepção menos fundamentalista (dogmática) do cristianismo aquando do Concílio de Niceia.
De qualquer modo, a marcha da nova religião foi muito irregular após a morte de Constantino, até que, perto do final do século IV, aparece Teodósio e, a ferro e fogo, o cristianismo dogmático é instalado para não mais findar. Segundo Torrens, vai a caminho de 17 séculos, um notável êxito histórico, portanto, ainda que hoje se defronte com a séria expansão do islamismo.
Trago esta contribuição interpretativa da criação e implantação do cristianismo da responsabilidade de um doutorado em engenharia industrial (obviamente que o mesmo e a sua contribuição hão-de ser largamente ostracizados, desde logo porque lhe falta a medalha oficial de historiador) pelas semelhanças que vejo no processo que o mesmo descreve na sua volumosa obra e o que vem ocorrendo com a propagação da tese do aquecimento global.
Da mesma forma que o cristianismo assenta em muitos aspectos na fé, assim vemos que a tese do aquecimento global é difundida sem escrúpulos científicos, mas não lhe faltam demonstrações de adesão de recorte claramente religioso. Pois, na prática, a tese já é apresentada como uma teoria cheia de interpenetrações.
Tudo indica que a igreja do aquecimento global está em propagação, não lhe faltando a sua já imponente rede debispos . Só que, desta vez, o âmbito inicial da implantação da nova religião não se confinou às adjacências do Mediterrâneo, antes logo se apontou para o carácter global que importa que tenha. Talvez por isso, e diferentemente da igreja cristã, que arrancou sem papa, não dispensou a escolha precoce deste, na figura do secretário-geral da ONU.
Outra manifesta semelhança entre os dois processos reside na ideia do fim do mundo. Ou seja, a concepção é a de que os homens são intrinsecamente maus, pelo que, ou aderem e cumprem os preceitos ditados pela igreja, ou contribuirão para o fim do mundo, agora a pressuposta morte do Planeta (decerto que querem dizer morte da vida no Planeta, mas o tremendismo que se impõe apela a fórmulas de linguagem tão terrorista quanto possível), daí a proclamada salvação do Planeta através da chamada descarbonização da economia.
O paralelismo que vimos fazendo leva-nos à pergunta inevitável: se o cristianismo, segundo Torrens, foi concebido e implantado para servir interesses políticos, que interesses políticos se ligarão ao (ou porventura estarão na base do) aquecimento global?
5. O aquecimento global e a política
Notemos:
Quem decidiu
marcar o limite dito tolerável do aquecimento global de 2ºC em 2050? Ninguém se
espante, essa meta foi fixada pelo Conselho da União Europeia! [6]
E por que razão
tal órgão político (agora já todos os outros da UE estão envolvidos) se envolve
nesta nova cruzadada indispensabilidade do abandono do consumo de combustíveis
fósseis? A resposta parece óbvia: a União Europeia vê-se crescentemente carente
de combustíveis fósseis, cada vez mais dependente, portanto, dos oriundos de
outras paragens. Logo, há que poupar aquilo que tem sido fundamental para o seu
desenvolvimento capitalista desde há dois séculos. E se outros querem
desenvolver-se, que escolham outras vias ditas " não poluentes ",
a UE tem tecnologia " verde " para lhes vender.
A esta luz, é perfeitamente
compreensível que a UE se tenha distinguido na caminhada que levou à aceitação
pela ONU da afirmação da premente importância do aquecimento global. E se não
for possível encontrar base científica para o mesmo, paciência, faça-se dele,
na essência, uma nova religião. Que é bem difícil de desmontar, como
sabemos.
Importa assegurar é que, também por esta via, os países menos desenvolvidos se mantenham dependentes. Mais, se se abstiverem de desenvolver (de poluir, diz-se amiúde), até podem receber dinheiro dos países desenvolvidos que mantenham, porventura aumentem, o consumo de combustíveis fósseis. Analise-se o Protocolo de Quioto, e veja-se como, sob o manto diáfano da litania ambientalista, se tem procurado perpetuar, ou renovar, a fase imperialista do capitalismo vigente.
Propagandeia-se, então, o advento de uma nova era, assente em " economia verde ": muitos mais computadores,robots , painéis fotovoltaicos, automóveis eléctricos, etc., e a maioria das pessoas acreditará facilmente que tudo isso será possível sem combustíveis fósseis, porque, diz a nova religião, se trata de " tecnologias limpas ".
E aqui temos a explicação principal pela qual haverá países, como os EUA de Obama, que aderiram à tese do aquecimento global, apesar de disporem de combustíveis fósseis e de os consumirem em grande proporção. Mas, como se ensina com especial ênfase nas Escolas de Gestão, o capitalismo das últimas décadas tem necessidade de retomar a proposta de Schumpeter, da destruição criativa, como trampolim para a renovação do sistema.
Está claro que se escamoteia que a produção daquelas tais novas tecnologias vai carecendo, além de combustíveis fósseis, de metais raros (em processos de facto poluentes e com recurso a combustíveis fósseis), de facto também não uniformemente distribuídos no Planeta. Aqui é a China que dá cartas e não é preciso ser comunista para perceber como o acesso fácil a esses indispensáveis materiais poderá implicar uma nova guerra [7] .
Ou seja, a luta de classes tende, de novo, a agudizar-se. Seja no plano interno da maioria dos Estados em resultado das crescentes desigualdades sociais, seja no plano do confronto dos países capitalistas desenvolvidos com os países subdesenvolvidos.
A Rússia é rica em combustíveis fósseis, além de em vários metais. A China é particularmente rica em metais raros. Trata-se de materiais estratégicos, como vimos de referir. Basta isto para percebermos as tensões existentes com a tríade capitalista dominante das últimas décadas do século XX: EUA, UE, Japão.
A guerra das últimas décadas em torno do petróleo ameaça alastrar aos metais, em particular, aos raros. Só que areligião do aquecimento global está muito bem concebida para dissimular os objectivos reais dessa guerra, que mais não será do que uma nova tentativa de prolongar, ou renovar, o capitalismo. A guerra parecerá aceitável a muitos milhões de pessoas, porque, através de tal cruzada , se salvará o Planeta, eis a nova crença legitimadora de novas atrocidades.
E se estas se concretizarem, ocorrerá, de facto, o sacrifício de muitos milhões, porventura, de milhares de milhões de pessoas. Porque lhes faltará o conforto ligado à disponibilidade energética, porque lhes faltará mais alimentos e comodidades que o capitalismo não assegura a todos, porque muitos serão condenados a morte precoce, mas, atenção, o provável é que o sacrifício não será global, porque há e haverá países ganhadores e classes privilegiadas.
Eis como a tese do aquecimento global pode ajudar a descambar no sacrifício não global. O que será muito mais grave do que o efeito anestesiante que o aquecimento global vem lançando sobre a poluição, problema real que o capitalismo, em rigor, nunca foi capaz de resolver a contento e que, eventualmente, nunca resolverá.
Ou seja, estamos numa época de agudização da luta de classes e do agravamento das tensões imperialistas. Não se diga que a luta está antecipadamente perdida. Mas há que ter em conta o aparecimento de novos meios guerreiros e comunicacionais e de novas ideias do arsenal ao dispor da actual fase imperialista do capitalismo (hoje ao serviço da alta finança e de grandes empresas transnacionais com vocação globalizadora).
Equivale a reconhecer a actualidade de Marx e de Lenin. E atente-se em Álvaro Cunhal, que, contra ventos e marés, sempre se bateu pela proximidade aos respectivos legados, em particular, na análise dos novos problemas.
Importa assegurar é que, também por esta via, os países menos desenvolvidos se mantenham dependentes. Mais, se se abstiverem de desenvolver (de poluir, diz-se amiúde), até podem receber dinheiro dos países desenvolvidos que mantenham, porventura aumentem, o consumo de combustíveis fósseis. Analise-se o Protocolo de Quioto, e veja-se como, sob o manto diáfano da litania ambientalista, se tem procurado perpetuar, ou renovar, a fase imperialista do capitalismo vigente.
Propagandeia-se, então, o advento de uma nova era, assente em " economia verde ": muitos mais computadores,robots , painéis fotovoltaicos, automóveis eléctricos, etc., e a maioria das pessoas acreditará facilmente que tudo isso será possível sem combustíveis fósseis, porque, diz a nova religião, se trata de " tecnologias limpas ".
E aqui temos a explicação principal pela qual haverá países, como os EUA de Obama, que aderiram à tese do aquecimento global, apesar de disporem de combustíveis fósseis e de os consumirem em grande proporção. Mas, como se ensina com especial ênfase nas Escolas de Gestão, o capitalismo das últimas décadas tem necessidade de retomar a proposta de Schumpeter, da destruição criativa, como trampolim para a renovação do sistema.
Está claro que se escamoteia que a produção daquelas tais novas tecnologias vai carecendo, além de combustíveis fósseis, de metais raros (em processos de facto poluentes e com recurso a combustíveis fósseis), de facto também não uniformemente distribuídos no Planeta. Aqui é a China que dá cartas e não é preciso ser comunista para perceber como o acesso fácil a esses indispensáveis materiais poderá implicar uma nova guerra [7] .
Ou seja, a luta de classes tende, de novo, a agudizar-se. Seja no plano interno da maioria dos Estados em resultado das crescentes desigualdades sociais, seja no plano do confronto dos países capitalistas desenvolvidos com os países subdesenvolvidos.
A Rússia é rica em combustíveis fósseis, além de em vários metais. A China é particularmente rica em metais raros. Trata-se de materiais estratégicos, como vimos de referir. Basta isto para percebermos as tensões existentes com a tríade capitalista dominante das últimas décadas do século XX: EUA, UE, Japão.
A guerra das últimas décadas em torno do petróleo ameaça alastrar aos metais, em particular, aos raros. Só que areligião do aquecimento global está muito bem concebida para dissimular os objectivos reais dessa guerra, que mais não será do que uma nova tentativa de prolongar, ou renovar, o capitalismo. A guerra parecerá aceitável a muitos milhões de pessoas, porque, através de tal cruzada , se salvará o Planeta, eis a nova crença legitimadora de novas atrocidades.
E se estas se concretizarem, ocorrerá, de facto, o sacrifício de muitos milhões, porventura, de milhares de milhões de pessoas. Porque lhes faltará o conforto ligado à disponibilidade energética, porque lhes faltará mais alimentos e comodidades que o capitalismo não assegura a todos, porque muitos serão condenados a morte precoce, mas, atenção, o provável é que o sacrifício não será global, porque há e haverá países ganhadores e classes privilegiadas.
Eis como a tese do aquecimento global pode ajudar a descambar no sacrifício não global. O que será muito mais grave do que o efeito anestesiante que o aquecimento global vem lançando sobre a poluição, problema real que o capitalismo, em rigor, nunca foi capaz de resolver a contento e que, eventualmente, nunca resolverá.
Ou seja, estamos numa época de agudização da luta de classes e do agravamento das tensões imperialistas. Não se diga que a luta está antecipadamente perdida. Mas há que ter em conta o aparecimento de novos meios guerreiros e comunicacionais e de novas ideias do arsenal ao dispor da actual fase imperialista do capitalismo (hoje ao serviço da alta finança e de grandes empresas transnacionais com vocação globalizadora).
Equivale a reconhecer a actualidade de Marx e de Lenin. E atente-se em Álvaro Cunhal, que, contra ventos e marés, sempre se bateu pela proximidade aos respectivos legados, em particular, na análise dos novos problemas.
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[1] IPCC, Intergovernmental
Panel on Climate Change.
[2] Ver " Aquecimento global: uma impostura científica ", resistir.info/climatologia/impostura_cientifica.html .
[3] BRAUDEL, Fernand (1998), Memórias do Mediterrâneo/Pré-História e Antiguidade , Terramar, Lisboa, em 2001, pp. 226/7.
[4] Note-se que no passivo das religiões outros sacrifícios pesam. "... segundo Arquimedes, [Aristarco, 310-230 a .C.] teria afirmado
que a Terra gira em torno de si mesma num dia e em volta do Sol num ano ".
Há relato de que Aristarco sofreu as maiores humilhações. Resultado no plano
científico: "a concepção heliocêntrica do mundo foi abandonada por
ferir as concepções religiosas da época", ver BRAUDEL, obra citada,
p. 293.
[5] TORRENS, Fernando Conde, Año 303/Inventan El Cristianismo, Ediciones Alta Andrómeda, S.L., 2017, España.
[6] Ver "A Encruzilhada de Quioto", abemdanacao.blogs.sapo.pt
[7] Ver " A guerra dos metais raros", inserção de 24/Nov/18, resistir.info/crise/metais_raros_22nov18.html .
[*] Engenheiro
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
[2] Ver " Aquecimento global: uma impostura científica ", resistir.info/climatologia/impostura_cientifica.html .
[3] BRAUDEL, Fernand (1998), Memórias do Mediterrâneo/Pré-História e Antiguidade , Terramar, Lisboa, em 2001, pp. 226/7.
[4] Note-se que no passivo das religiões outros sacrifícios pesam. "... segundo Arquimedes, [Aristarco, 310-
[5] TORRENS, Fernando Conde, Año 303/Inventan El Cristianismo, Ediciones Alta Andrómeda, S.L., 2017, España.
[6] Ver "A Encruzilhada de Quioto", abemdanacao.blogs.sapo.pt
[7] Ver " A guerra dos metais raros", inserção de 24/Nov/18, resistir.info/crise/metais_raros_22nov18.html .
[*] Engenheiro
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
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