As
autoridades angolanas libertaram esta terça-feira uma ativista de Cabinda. Mas
51 companheiros do Movimento Independentista de Cabinda (MIC) continuam detidos
em diversas unidades prisionais e em greve de fome.
Não
se sabe em que condições Maria Deca, uma das três mulheres detidas desde
fevereiro, foi posta em liberdade na terça-feira (19.03). A jovem
foi tirada do estabelecimento prisional sem qualquer explicação, avançou à DW
África o ativista e advogado Arão Bula Tempo.
"A
menina que estava detida no Yabi já saiu, foi posta em liberdade, mas os outros
continuam na cadeia. Eles têm um sistema: prendem e mesmo sem provas mantêm a
pessoa presa e quando quiserem, mandam soltar", afirma o advogado,
explicando que esta foi a forma encontrada para amedrontar todo aquele que
tente protestar contra o Governo.
Para
Bula Tempo, apesar de o país ter um novo Presidente da República, no enclave
mantêm-se os métodos
de repressão do regime do antigo Presidente angolano José Eduardo dos
Santos.
Pelo
menos 63 jovens do MICforam detidos
dias antes da realização de uma marcha de protesto marcada para 1 de
fevereiro, para relembrar o "Tratado de Simulambuco", assinado no
mesmo dia no ano de 1885, entre a colónia portuguesa e as autoridades do reino
de Cabinda de então. Naquela altura, o território de Cabinda não fazia parte do
território da Angola continental.
"Condições
desumanas"
Alguns
jovens foram, entretanto, libertados pelas autoridades. Por considerarem
"injustas" as prisões, 51 ativistas do MIC decidiram decretar uma
greve de fome nas prisões onde estão em "condições desumanas",
segundo Arão Bula Tempo.
Os
independentistas estão há vários dias sem se alimentar, o que terá já causado
alguns problemas de saúde. "Neste momento a questão é complicada. Um deles
desmaiou. Eles não querem comer porque consideram as prisões injustas e
arbitrárias", disse o advogado, avançando que os reclusos recusam a
assistência médica dos serviços prisionais. "E mesmo assim há uma letargia
processual", lamenta Bula Tempo.
Os
independentistas estão há vários dias sem se alimentar, o que terá já causado
alguns problemas de saúde. "Neste momento a questão é complicada. Um deles
desmaiou. Eles não querem comer porque consideram as prisões injustas e
arbitrárias", explica.
No
início de março, o grupo parlamentar da UNITA, o maior partido da oposição,
esteve em Cabinda, onde os deputados efetuaram uma visita para constatar
"in loco" a real situação sobre o respeito pelos direitos, liberdades
e garantias dos cidadãos. Segundo o chefe da delegação do partido do galo
negro, Adalberto da Costa Júnior, o governador provincial, Eugénio Laborinho,
recusou-se falar com os deputados sobre os ativistas.
Em
conferência de imprensa, na semana passada, o líder da bancada parlamentar da
UNITA, Adalberto Costa Júnior, considerou que Cabinda é a única província
angolana "onde se regista um movimento reivindicativo de caráter
independentista que ao longo dos anos foi ganhando várias expressões de caráter
político, militar e cívico, o que traz à ribalta a ineficácia da estratégia
concebida e aplicada pelo regime angolano."
Segundo
o maior partido da oposição em Angola, as prisões dos ativistas foram
arbitrárias e os detidos denunciaram maus tratos nas cadeias. "O grupo
parlamentar da UNITA já não pode aceitar que em tempos de paz morram angolanos
em Cabinda vítimas de um conflito mal resolvido", afirmou Adalberto Costa
Júnior.
Borralho
Ndomba (Luanda) | Deutsche Welle
Na
imagem - Arão Bula Tempo: "Eles não querem comer porque consideram as
prisões injustas e arbitrárias"
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