Pauta político-institucional
esvaziada, “zum zum zum” crônico e “bateção de cabeça” marcam os 1ºs 3 meses de
governo. Não há 1 semana em que o presidente não esteja envolvido numa crise ou
cometa alguma gafe que atrapalhe as articulações do Planalto, seja no
Congresso, seja na sociedade.
Marcos Verlaine, São Paulo |
Correio do Brasil | opinião
O ano político começou entre os
dias 1º e 2 de fevereiro, com a posse dos deputados federais e senadores e a
abertura dos trabalhos no Poder Legislativo, portanto, há 2 meses. Bolsonaro tomou
posse no dia 1º de janeiro. Vai completar 3 meses de mandato. Desde a
redemocratização não se via tanta confusão na república, em início de novo
mandato presidencial.
Da posse do presidente da
República até aqui não houve 1 semana em que alguma crise não tenha sido
desencadeada pelo presidente ou alguém do seu micro entorno.
A mais recente envolve 4
personagens direta ou indiretamente relacionados ao presidente. O ministro
Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública; o presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ); o 2º filho, vereador Carlos Bolsonaro; e o próprio presidente. Quem
acompanha o debate político sabe qual foi o imbróglio. Assim, talvez não careça
explica-lo aqui.
O fato é que a crise tem a ver
com incompreensões políticas generalizadas. O ministro Moro, querendo holofotes
e likes cobra de Maia que paute o “pacote anticorrupção e violência”. Não sabe
o ministro que, em geral, o Congresso tem dificuldades de analisar, ao mesmo
tempo, pautas muito complexas. A prioridade do mercado agora é a reforma da
Previdência. Isto é, o mercado não está “preocupado” com a violência ou a
corrupção. Quer é aprovar a reforma. O resto vem depois.
Traquejado na vida
político-parlamentar, Maia sabe disso. Por isso, se irritou com o ministro de
Bolsonaro. O presidente da Câmara está empenhado em aprovar a reforma da
Previdência, matéria com a qual tem convergências, pois trata-se de liberal
convicto, ideológico.
Sem compreender seu papel
institucional, o presidente da República se perde em meio às fruticas da
política. Ao invés de tentar apaziguar os ânimos assume lados e perde a
oportunidade de ser mediador para não perder o foco sobre a agenda para a qual
foi eleito.
Melhor para a oposição, que ainda
está atordoada depois da derrota eleitoral, mas ao mesmo tempo não consegue
tirar proveito substantivo das graves trapalhadas do governo. Menos mal para
para o Planalto.
Formação do governo
Tendo optado pela montagem do
governo por fora dos partidos políticos, o governo patina no Congresso, com a
reforma da Previdência, sua pauta prioritária.
Por isso não consegue construir
maioria robusta para tocar a reforma da Previdência no Congresso Nacional. Os
partidos, em particular na Câmara, onde a proposta espera iniciar formalmente o
debate na CCJ, não se sentem comprometidos em assumir a agenda do governo.
Estruturado sob coalisão
partidária, o presidencialismo brasileiro e o processo político-institucional
não podem prescindir dos partidos políticos, pois toda institucionalidade passa
por essas organizações. Tendo inovado, agora o presidente parece não saber o
que fazer para superar as dificuldades para a montagem da maioria parlamentar,
a fim de sustentar sua agenda no Legislativo.
Confusão entre aliados
No Congresso, tem sido comum ver,
ler e ouvir, na mídia ou nas redes sociais, aliados trocarem farpas e baterem
boca contra ou a favor do governo.
A confusão mais recente é
protagonizada pela líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann
(PSL-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP). Kataguiri defende o presidente da Câmara no
entrechoque com o governo. Enquanto Hasselmann defende o presidente da República
e acusa Maia de atrapalhar a vida do governo.
Sem maioria
Sem condições de engajar os
partidos que em tese dão sustentação ao governo no Legislativo, o governo não
consegue articular maioria e se perde em confusões laterais, que tem servido
para impactar a agenda única do governo no Congresso.
A reforma da Previdência não é do
Congresso. Esta pauta é do governo, que a enviou para análise do Legislativo no
dia 20 de fevereiro. Mas antes de tudo, é do mercado, que há muito tempo
intenta privatizar a Previdência Pública.
Por meio dos líderes do governo
na Câmara, no Senado e no Congresso, o governo tem mecanismos para “tocar” sua
agenda no Congresso. Não o faz porque falta-lhe as condições objetivas para
tal. Faltam ideias e sobram confusões. Falta liderança e sobram vaidades. Falta
conteúdo concreto e sobram bate-bocas inócuos.
Em meio ao vazio
político-institucional, o presidente perde protagonismo e apoio político na
sociedade, pois esta vai percebendo que o “mito” vai dando lugar à realidade,
que lhe cobra ações concretas para os problemas concretos, que vão além das
demandas do mercado.
*Marcos Verlaine,
é jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap.
As opiniões aqui expostas não
representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil
1 comentário:
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