quinta-feira, 28 de março de 2019

Brasil | Três meses depois da posse há um vazio completo na República


Pauta político-institucional esvaziada, “zum zum zum” crônico e “bateção de cabeça” marcam os 1ºs 3 meses de governo. Não há 1 semana em que o presidente não esteja envolvido numa crise ou cometa alguma gafe que atrapalhe as articulações do Planalto, seja no Congresso, seja na sociedade.

Marcos Verlaine, São Paulo | Correio do Brasil | opinião

O ano político começou entre os dias 1º e 2 de fevereiro, com a posse dos deputados federais e senadores e a abertura dos trabalhos no Poder Legislativo, portanto, há 2 meses. Bolsonaro tomou posse no dia 1º de janeiro. Vai completar 3 meses de mandato. Desde a redemocratização não se via tanta confusão na república, em início de novo mandato presidencial.

Da posse do presidente da República até aqui não houve 1 semana em que alguma crise não tenha sido desencadeada pelo presidente ou alguém do seu micro entorno.



A mais recente envolve 4 personagens direta ou indiretamente relacionados ao presidente. O ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública; o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o 2º filho, vereador Carlos Bolsonaro; e o próprio presidente. Quem acompanha o debate político sabe qual foi o imbróglio. Assim, talvez não careça explica-lo aqui.

O fato é que a crise tem a ver com incompreensões políticas generalizadas. O ministro Moro, querendo holofotes e likes cobra de Maia que paute o “pacote anticorrupção e violência”. Não sabe o ministro que, em geral, o Congresso tem dificuldades de analisar, ao mesmo tempo, pautas muito complexas. A prioridade do mercado agora é a reforma da Previdência. Isto é, o mercado não está “preocupado” com a violência ou a corrupção. Quer é aprovar a reforma. O resto vem depois.

Traquejado na vida político-parlamentar, Maia sabe disso. Por isso, se irritou com o ministro de Bolsonaro. O presidente da Câmara está empenhado em aprovar a reforma da Previdência, matéria com a qual tem convergências, pois trata-se de liberal convicto, ideológico.

Sem compreender seu papel institucional, o presidente da República se perde em meio às fruticas da política. Ao invés de tentar apaziguar os ânimos assume lados e perde a oportunidade de ser mediador para não perder o foco sobre a agenda para a qual foi eleito.

Melhor para a oposição, que ainda está atordoada depois da derrota eleitoral, mas ao mesmo tempo não consegue tirar proveito substantivo das graves trapalhadas do governo. Menos mal para para o Planalto.

Formação do governo

Tendo optado pela montagem do governo por fora dos partidos políticos, o governo patina no Congresso, com a reforma da Previdência, sua pauta prioritária.

Por isso não consegue construir maioria robusta para tocar a reforma da Previdência no Congresso Nacional. Os partidos, em particular na Câmara, onde a proposta espera iniciar formalmente o debate na CCJ, não se sentem comprometidos em assumir a agenda do governo.

Estruturado sob coalisão partidária, o presidencialismo brasileiro e o processo político-institucional não podem prescindir dos partidos políticos, pois toda institucionalidade passa por essas organizações. Tendo inovado, agora o presidente parece não saber o que fazer para superar as dificuldades para a montagem da maioria parlamentar, a fim de sustentar sua agenda no Legislativo.

Confusão entre aliados

No Congresso, tem sido comum ver, ler e ouvir, na mídia ou nas redes sociais, aliados trocarem farpas e baterem boca contra ou a favor do governo.

A confusão mais recente é protagonizada pela líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP). Kataguiri defende o presidente da Câmara no entrechoque com o governo. Enquanto Hasselmann defende o presidente da República e acusa Maia de atrapalhar a vida do governo.

Sem maioria

Sem condições de engajar os partidos que em tese dão sustentação ao governo no Legislativo, o governo não consegue articular maioria e se perde em confusões laterais, que tem servido para impactar a agenda única do governo no Congresso.

A reforma da Previdência não é do Congresso. Esta pauta é do governo, que a enviou para análise do Legislativo no dia 20 de fevereiro. Mas antes de tudo, é do mercado, que há muito tempo intenta privatizar a Previdência Pública.

Por meio dos líderes do governo na Câmara, no Senado e no Congresso, o governo tem mecanismos para “tocar” sua agenda no Congresso. Não o faz porque falta-lhe as condições objetivas para tal. Faltam ideias e sobram confusões. Falta liderança e sobram vaidades. Falta conteúdo concreto e sobram bate-bocas inócuos.

Em meio ao vazio político-institucional, o presidente perde protagonismo e apoio político na sociedade, pois esta vai percebendo que o “mito” vai dando lugar à realidade, que lhe cobra ações concretas para os problemas concretos, que vão além das demandas do mercado.

*Marcos Verlaine, é jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

1 comentário:

Clipping Path disse...

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