Em
todo o mundo, pessoas pobres ou que sofrem discriminação social têm maior
probabilidade de ter acesso limitado a água potável e saneamento adequado,
afirma relatório da Unesco.
A
ONU divulgou nesta terça-feira (19/03) seu relatório mundial sobre o
desenvolvimento dos recursos hídricos, que destacou que mais de 2 bilhões de
pessoas não têm acesso a uma fonte adequada de água potável e que um número
ainda maior, 4,3 bilhões, não têm saneamento básico.
"Melhorar
a gestão dos recursos hídricos e fornecer a todos o acesso a água potável e
saneamento seguros e acessíveis financeiramente são ações essenciais para
erradicar a pobreza, construir sociedades pacíficas e prósperas e garantir
que 'ninguém seja deixado para trás' no caminho rumo ao desenvolvimento
sustentável", afirma o texto divulgado pela Unesco e intitulado Não
deixar ninguém para trás.
De
acordo com o documento, estudos internacionais mostram bons retornos sociais e
econômicos de investimentos em serviços de água, saneamento e higiene.
O
relatório alerta que um futuro de crescente escassez é previsível, o que trará
efeitos negativos para a economia global. Até o ano 2050, 45% do Produto
Interno Bruto (PIB) global e 40% da produção mundial de grãos serão ameaçados
por danos ambientais e falta de recursos hídricos.
O
uso de água tem aumentado cerca de 1% ao ano em todo o mundo. A taxa deve
se manter estável até 2050, quando a demanda representará um acréscimo de entre
20% e 30% em comparação aos níveis atuais, puxada pelos setores industrial e
doméstico. Hoje mais da metade da população mundial não tem acesso a água
limpa e saneamento.
Perspectiva
regional
Na
América Latina e Caribe, afirma o relatório, milhões ainda vivem sem fonte
adequada de água potável, enquanto um número ainda maior não dispõe de
saneamento. Esses grupos estão concentrados nos cinturões de pobreza das
periferias de muitas cidades.
Segundo
a Unesco, em muitos países da região, a descentralização deixou o setor de
abastecimento e saneamento fragmentado, "composto por inúmeros prestadores
de serviço, sem reais possibilidades de alcançar economias de escala ou
viabilidade econômica" e sob a responsabilidade de municípios sem recursos
e incentivos necessários para abordar a complexidade do problema de forma
efetiva.
Mesmo
na Europa e nos Estados Unidos, 57 milhões de pessoas não têm encanamento em
casa e 36 milhões não têm saneamento básico, afirmou a diretora-geral da
Unesco, Audrey Azoulay, na apresentação do estudo. Entre outros,
comunidades do Canadá e da Índia têm desvantagens severas, já que 40%
delas possuem apenas água potável de qualidade baixa, o que acarreta consequências
para a saúde.
Além
disso, mais de 2 bilhões de pessoas vivem em países com "alto estresse
hídrico" – onde mais de um quarto da água disponível é consumida. Estudos
recentes apontam que mais de 50 países são afetados por estresse hídrico e
que em alguns deles cerca de 70% dos recursos já estão sendo usados.
Assim,
grandes reservas são consumidas e a disponibilidade de água chega ao limite.
Mais de 20 países são afetados, incluindo Egito e Paquistão.
Um
fardo maior para os pobres
O
título do relatório da Unesco se refere a um aspecto chave do levantamento: a
desigualdade do acesso. Pessoas que são pobres ou sofrem discriminação
social têm maior probabilidade de ter acesso limitado a água e saneamento
adequados, observou o relatório.
Como
exemplo de grupos desfavorecidos e que experimentam desigualdades "na
garantia de seus direitos humanos a água potável e saneamento seguro", o
documento cita pessoas que sofrem discriminação por causa do sexo, idade,
etnia, religião, além de minorias de outra natureza, como indígenas, migrantes
e refugiados. No entanto, a pobreza é o fator de destaque.
Segundo
o editor-chefe do relatório, Rick Connor, casas urbanas ricas com água
encanada tendem a pagar muito menos por litro de água, enquanto pessoas pobres
que moram em favelas muitas vezes precisam comprar água de caminhões, quiosques
e outros fornecedores, gastando cerca de 10 a 20 vezes mais.
"A
percepção errada é que eles não têm água porque não podem pagar por ela — e
isso está completamente errado", disse Connor à Fundação Thomson Reuters.
Quase
metade da população que consome água potável de fontes desprotegidas no mundo
vive na África Subsaariana, onde apenas 24% dos habitantes têm acesso a água
potável segura.
Alemanha
pode fazer mais
Diante
dos resultados do relatório, Ulla Burchardt, do Partido Social-Democrata da
Alemanha (SPD) e membro da comissão alemã na Unesco, afirmou que a
Alemanha pode fazer mais.
Embora
o país esteja no caminho certo no âmbito da garantia dos direitos à água,
"somos parcialmente responsáveis pelos grandes problemas em outras regiões
do mundo, como a importação de algodão ou de carne bovina, cuja produção pode
demandar uso intensivo de água", declarou Burchardt.
"A
garantia de acesso à água e ao saneamento são direitos humanos", disse
ela. "Mas bilhões de pessoas não têm esses diretos concretizados",
completou.
MO/kna/rtr/epd/dpa
| Deutsche Welle
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