Inês Cardoso | Jornal de Notícias
| opinião
No país das contas arrumadinhas e
de tricas políticas intermináveis, mas em que se discute muito pouco o
verdadeiro estado dos serviços públicos, há milhares de alunos que passam meses
sem aulas, à espera de professores substitutos que nunca chegam.
Na Escola Secundária D. Dinis,
por exemplo, duas turmas estão sem Física e Química há dois meses. Na
Secundária de Bocage, há turmas de 12.0º ano (e que, portanto, vão fazer exame)
sem professor de Matemática.
As duas escolas não ficam num
concelho isolado a um canto do território. Situam-se respetivamente em Lisboa e
Setúbal e são o produto de uma conjugação de fatores que mostra os equilíbrios
precários com que se iludem cenários macroeconómicos. Com um corpo docente
envelhecido, carreiras pouco atrativas e um sistema de colocações que obriga os
professores a passarem décadas de mala às costas antes de conseguirem
efetivar-se, as escolas recebem cada vez mais respostas negativas quando
precisam de fazer contratos de substituição.
Desde início do ano, o Ministério
da Educação já viu recusados 2530 horários. As rendas altas nos centros urbanos
são um dos obstáculos, mas além disso as reservas de recrutamento estão
praticamente vazias. O cenário irá agravar-se a médio prazo, não só porque 10 a 12 mil docentes desistiram
de concorrer nos últimos cinco anos, mas também porque não há novos candidatos
em formação.
Só este ano, o número de
inscritos nos cursos para o Ensino Básico caiu 30% e houve politécnicos que não
conseguiram colocar um único aluno. Dito de forma nua e crua, a carreira de
professor não é atrativa e as médias de colocação indicam que a via de ensino é
uma escolha de fim de linha. O sucesso na escola depende de muitos
ingredientes. Mas não se consegue, indiscutivelmente, sem professores motivados
e para quem dar aulas seja um prazer. Ainda não soaram os alarmes no Ministério
da Educação?
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