Sendo certo que a liberdade de
expressão faz parte dos imensos apêndices da democracia, não resistimos a usar
uma frase antiga que é tantas vezes pronunciada quando já estamos fartos e
refartos de banalidades, de enxurradas de sedes de protagonismos bacocos e
alienantes que tantas vezes são o que mantêm cadáveres a modos que vivos mas já
sem vida.
Está neste caso Cavaco Silva, que até, por sinal, sobre democracia e
liberdade de expressão terá os seus défices – atestados na sua escola de
elemento da PIDE/DGS do regime ditatorial que ele serviu com pundonor, como
prova a sua identificação de personalidade integrante daquela polícia política,
terrorista e fascista. E outras provas da sua vigência desastrosa e enfadonha nos poderes políticos a que se alapou doentiamente no pós-25 de Abril de 1974.
Anda agora Cavaco às “cabeçadas”
com Marcelo, seu sucessor na Presidência da República. Por coisa de lana
caprina, afinal só um mero e cimentado hábito de nepotismo, que é primo da corrupção. Oh, senhores. Mas
disso tudo já nós sabemos… Porque não te calas, Cavaco?
Redação PG
Da
"política-espetáculo" à obra de Saramago: as picardias entre Marcelo
e Cavaco
O atual e o ex-presidente da
República envolveram-se, esta semana, numa troca de palavras sobre a questão da
presença de familiares no Governo PS. Mas há um histórico anterior de picardias
entre ambos.
Marcelo Rebelo de Sousa diz que é
"um facto histórico" que foi Cavaco a dar posse ao Governo de António
Costa, que tem quatro membros com relações familiares - os ministros do Mar e
da Administração Interna, Ana Paula Vitorino e Eduardo Cabrita, casados, e o
ministro do Trabalho e da Solidariedade José António Vieira da Silva, cuja
filha, Mariana Vieira da Silva, subiu, na última remodelação governamental, de
secretária de Estado a ministra da Presidência.
O anterior presidente não gostou
de ver o seu nome chamado à liça por Marcelo e, na quarta-feira, disse que
"não há comparação possível" entre o Governo a que deu posse em 2015
e o atual executivo, no que concerne às relações familiares. Marcelo não se ficou
e, à noite, em Almada, voltou a responder a Cavaco: os nomes são os mesmos.
"Nomeou pensando, bem, que eram competentes e ninguém lhe perguntou nem
questionou na altura, como não o questionou até hoje. É um facto histórico,
nomeou, nomeou", salientou, quarta-feira à noite. Esta troca de palavras
não é inédita. O JN recorda-lhes outros episódios de picardias envolvendo
Marcelo e Cavaco, umas mais às claras do que outras.
A crítica à
"política-espetáculo"
No primeiro livro da biografia de
Cavaco Silva, "Quinta-feira e outros dias", lançado em fevereiro de
2017, o ex-presidente da República deixou algumas indiretas ao seu sucessor no
Palácio de Belém. "A política-espetáculo, tão cara a alguns políticos, por
proporcionar notícias e fotografias, não traz qualquer benefício",
escreveu Cavaco num dos 52 capítulos do livro de 592 páginas onde se propôs dar
"público testemunho de componentes relevantes" da sua magistratura -
desde que tomou posse como chefe do Estado, em 2006, ate ao dia em o
primeiro-ministro socialista José Sócrates deixou o Governo, em 2011.
A "verborreia
frenética" dos políticos
A 30 de agosto de 2017, numa
intervenção na Universidade de Verão do PSD em Castelo de Vide, Cavaco Silva
teve uma intervenção que foi interpretada como um recado à exposição frequente
do atual presidente, sempre bastante disponível para falar aos jornalistas, ao
contrário do estilo contido do anterior presidente. "Em França, não passa
pela cabeça de ninguém que Macron telefone a um jornalista para lhe passar uma
notícia ou uma informação", afirmou. O ex-presidente elogiou Macron por
entender que "a palavra presidencial deve ser escassa", uma
estratégia que "contrasta com a verborreia frenética da maioria dos
políticos europeus dos nossos dias, ainda que não digam nada de
relevante".
A estranheza de mudar a PGR
A 26 de setembro de 2018, Cavaco
Silva criticou a decisão de não recondução da ex-procuradora geral da
República, Joana Marques Vidal. "Sou levado a pensar que esta decisão
política de não recondução de Joana Marques Vidal é talvez a mais estranha
tomada no mandato do governo que geralmente é reconhecido como
geringonça", disse, citado pela Rádio Renascença. Falando à margem de um
congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações
(APDC), o ex-presidente da República considerou a não recondução de Joana
Marques Vidal algo "muito estranho, estranhíssimo, tendo em atenção a
forma competente como exerceu as suas funções e o seu contributo decisivo para
a credibilização do Ministério Público". Um dia depois, o atual presidente
não deixou passar essa declaração em branco. "Todos sabemos que quem
nomeia as procuradoras-gerais da República são os Presidentes, não são os
governos. Portanto, a nomeação da procuradora-geral da República foi minha e de
mais ninguém", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, à margem da IV Cimeira do
Turismo, deixando um claro reparo a Cavaco. "Entendo que não devo comentar
ex-presidentes, nem amanhã quando deixar de o ser, nem futuros Presidentes, por
uma questão de cortesia e de sentido de Estado", disse Marcelo.
Acordos escritos? "A
geringonça afirmou-se"
A 6 de agosto de 2018, numa
entrevista ao podcast de Daniel Oliveira "Perguntar não ofende", o
atual presidente da República afirmou que não vai exigir a assinatura de
acordos escritos entre partidos que, à esquerda ou à direita, possam no futuro
vir a apoiar uma solução de Governo, ao contrário do que exigiu Cavaco Silva
para dar posse ao Governo de António Costa em novembro de 2015. "Não me
parece essencial haver acordo escrito por uma questão de princípio, mas também
não me parece essencial haver acordo escrito porque as dúvidas que se poderiam
formular sobre o acordo escrito acabaram por ser resolvidas pela prática da fórmula
política." De acordo com o chefe de Estado, a atual solução, em que o
Governo minoritário do PS é suportado por acordos escritos -- designados de
posições conjuntas - com o BE, o PCP e o PEV - "afirmou-se" e
"sobreviveu".
A "falta de gosto" de
não apoiar Saramago
Nos 20 anos da entrega do prémio
Nobel a Saramago, o presidente da República classificou de "falta de senso
e falta de gosto" o veto governamental, em 1992, da candidatura da obra de
José Saramago "O Evangelho sobre Jesus Cristo" ao Prémio Literário Europeu,
recordando que selou as pazes com o escritor com um abraço numa praça de
Madrid. No congresso que celebrou os 20 anos de atribuição do Prémio Nobel da
Literatura, a 8 de outubro de 2018, em Coimbra, Marcelo lembrou que a decisão
do Governo de então, liderado por Cavaco Silva, foi o empurrão que faltava para
que Saramago decidisse zarpar de Portugal para Lanzarote.
Gina Pereira | Jornal de Notícias | Foto: Gerardo Santos /
Global Imagens
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